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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mudar os costumes e ser outro

O que seria de um ente maligno, perverso e cruel que se transformasse em um santo? Penso que seus costumes seriam trocados completamente e ele, se realmente abandonasse o mal, passaria para o outro lado.

Obviamente, tal ente, agora regenerado, deveria expiar seu karma por meio do sofrimento e de boas ações. Se ele cobrisse o mundo com suas boas ações, inevitavelmente deixaria de ser quem foi e seria outro. Onde estaria o antigo criminoso? Não existiria mais! As pessoas o procurariam, mas não o encontrariam.

Nunca é tarde demais para se deixar o mal. Por pior que tenhamos sido, podemos inverter os caminhos e trilhar em direção oposta. A estrada da vida pode ser trilhada para cima ou para baixo.

Dizem os V.V.M.M. Samael e Rabolú que Judas se dedica a instruir e resgatar almas do Abismo. Esta é uma prova de que é possível a regeneração mesmo em estágios avançados de degeneração. O V.M.Samael relata que os demônios Belzebu e Astaroth se arrependeram de seus caminhos malignos e buscaram a regeneração (Astaroth, para piorar, era o demônio da luxúria). Tais ensinamentos deveriam animar os estudantes pessimistas: se Astaroth e Belzebu foram aceitos na luz e trilharam a dissolução do Ego, se Judas tem discípulos no Abismo, por que nós, pessoas comuns, não poderíamos nos recuperar?

Nós, estudantes e aspirantes, temos sido muito pessimistas espiritualmente. Temos cristalizado crenças na impossibilidade do avanço espiritual, crenças sem fundamento algum e que podem nos estancar por toda uma existência.

O pessimismo é uma espécie de praga,que se arraiga na mente inconsciente e invalida todos os esforços de auto-superação.

Por piores que tenhamos sidos, por mais fornicários, depravados, mentirosos e cruéis, podemos perfeitamente nos converter em algo diferente se mudarmos nossos atos e costumes.

Se modifico minhas atitudes, deixo de ser aquele de antes e me transformo em outro, em alguém novo. Mas é preciso ação.

Antes de mais nada, temos que ter cuidado para não estagnarmos nos terríveis alertas e advertências dos mestres a respeito dos efeitos kármicos das más condutas. Tais alertas visam apenas orientar e auxiliar o estudante, jamais aprisioná-lo no medo. Pode dar-se o caso de um estudante tornar-se apavorado com tais alertas e cair imobilizado no pessimismo. Então, há que se trabalhar esses eus negativistas.

Uma prostituta pode regenerar-se, um homossexual (desde que realmente o queira), pode regenerar-se, um promíscuo pode regenerar-se.

Um caso particularmente grave parece ser o dos antigos gnósticos que não conseguiram a castidade e, em segredo, dão vazão aos seus vários impulsos luxuriosos. Esses irmãos sofrem muito, sentem vergonha e medo das consequências. Mas mesmo eles estão em melhores condições do que estavam Astaroth, Belzebu e os discípulos Judas no Abismo. Então, por que perdermos o tempo com prejuízos do passado? Por que nos mantermos aprisionados lá, naquilo que fizemos de ruim no passado, ao invés de nos ocuparmos com atos benevolentes no presente? E por que esperar para amanhã, se já podemos tomar as atitudes agora?

Quando acreditamos inconscientemente que já estamos condenados, fazemos esforços inúteis. Parece-me que muito estudantes caíram nesta armadilha. O discurso gnóstico muitas vezes deixa transparecer esse pessimismo. A ênfase é posta nas dificuldades e nos fracassos, não nas possibilidades e nos sucessos. E as repercursões inconscientes fazem seus estragos.

Por diversas razões, entre as quais, talvez, não permitir que o estudantado caísse na negligência, o V.M. Samael não aprofundou muito os aspectos otimistas do ensinamento. Ele pôs ênfase nos alertas e advertências, por uma questão de necessidade, e o estudantado se deixou levar pelo pessimismo, estagnando-se na idéia de que tudo é muito difícil ou impossível. Nossa mente negativista nos deixa quase insensíveis às mensagens de ânimo e força dos mestres. É como se eles nos dessem tais mensagens somente com o intuito de nos consolar e estivessem, na verdade, maquiando a terrível realidade. No fundo, a maioria de nós acredita que não há mais salvação e que a ascensão espiritual é impossível.

No entanto, há também uma parte dentro de nós que nos impulsiona, que nos diz que, sim, é possível revolucionar-se. Sem esta parte, há muito teríamos desistido de nossa revolução. Temos que dar-lhe voz, cultivá-la e alimentá-la mediante as práticas que nos dêem comprovações.

Que tenhamos sido fornicários, e daí? Deixemos de sê-lo. Que tenhamos adulterado, não importa! Paremos de adulterar. Que tenhamos sido promíscuos, não faz mal! Sejamos agora castos. E se não somos capazes de sê-lo agora, seremos daqui há pouco, desde que realmente comecemos a mudar e não esperemos que se opere alguma mágica em nossa vida.

Algumas pessoas esperam que uma mudança mágica se opere em suas vidas, em seus sentimentos e pensamentos, para então adotar novas atitudes. Esta é outra armadilha do Ego. Não temos que deixar as práticas e a nova conduta para amanhã. Temos que implementá-las agora.

Se eu ficar esperando o dia em que não sentir mais luxúria para praticar o arcano e deixar de adulterar, ficarei esperando eternamente sem resultado. Se quero mudar minha vida, tenho que implementar as mudanças já. Se não sou capaz de suprimir um ato em si, sou pelo menos capaz de retirar de minha vida tudo o que recorde tal ato.

A Morte do Ego não é um conflito, é a própria ausência dos conflitos. Não morreremos mediante conflitos íntimos e sim mediante a compreensão. Se não consigo compreender um desejo aqui, posso compreender uma de suas facetas ali. O que importa é ir avançando e retirando tudo o que esteja relacionado a ele.

Tudo o que nos recorde um desejo e a ele nossa mente relacione atua como forma de nutrição. Tudo o que nossa mente relacionar com a fornicação estará alimentando o defeito da fornicação. Tudo o que nos faz lembrar da lascívia, da luxúria é uma forma de nutri-la. Não é possível libertar-se de um defeito se não cortarmos os seus detalhes.