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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Morte do Ego: indo às causas

Na Morte do Ego é comum que cometamos muitos erros. Este blog foi aberto com a intenção de permitir a reflexão, e não a mera teorização ao ar, sobre os erros que nos deixam estancados. Por um erro não detectado, uma pessoa pode ter o seu passo espiritual travado por muitos anos.

Os erros que as pessoas cometem nem sempre são os mesmos, podem variar de uma pessoa para outra. Neste blog apontamos alguns, na esperança de alcançar as pessoas que precisam ser alcançadas. Pode ser que os erros que você cometa não estejam apontados em meus textos. 

De todas as maneiras, a Morte é algo que se aprende aos poucos e se aperfeiçoa com a prática. Se você tem recaídas aqui e ali, cometendo atos que não gostaria de cometer, não deve se preocupar muito com isso. As falhas de caráter, ainda que graves, não devem ser motivo para não continuarmos trabalhando. Por mais degenerado ou pecador que você se considere, não deve desistir. Se você não consegue deixar de ser "mau" por um lado, trabalhe outros lados de si mesmo, outros aspectos, mas não deixe de se aperfeiçoar. Suas piores fraquezas irão ceder cedo ou tarde, nesta ou em outra vida.

Os erros que cometemos na Morte são, entre outras coisas, artimanhas do Ego para sobreviver. Para permanecer vivo, o Ego nos engana. 

Lamentar-se e prender a atenção aos prejuízos ocasionados por um determinado defeito é um exemplo de erro. A lamentação não resolverá o problema, mas nos distrairá e desviará eficientemente a atenção de suas causas. Enquanto eu fico prestando atenção e pensando nos prejuízos de um ato de fornicação, por exemplo, não estou pondo cuidado em suas causas, nos fatos que o ocasionaram. Como consequência, serei incapaz de remover o problema da minha vida.

O que seria a "causa" da manifestação de um defeito? Seria aquilo que antecede e provoca a manifestação (1). Por definição, a causa é aquilo que antecede um efeito. Seria ilógico supor que a causa sucedesse ao efeito, ou seja, que o efeito antecedesse à causa. É óbvio que antes do efeito vem a causa e, no caso da manifestação de um ego, alguns fatos psicológicos ocorrem antes que o defeito venha à manifestação. Na linha do tempo, a causa vem antes e o efeito vem depois.

Sutis e leves alterações nos centros são o princípio de  manifestações violentas e as antecedem. Se as removemos, as manifestações violentas não ocorrem. Somos sacudidos por manifestações violentas porque não nos mantemos atentos às manifestações sutis, que são as leves alterações nos centros. Qualquer alteração sutil em algum centro da máquina deve ser resolvida ali mesmo onde estivermos, de imediato, sem postergação, de modo a desviar o rumo de nossas vidas, evitando as manifestações violentas posteriores. É claro que, uma vez removido o pequeno detalhe, também precisamos desviar os Indryas da situação exterior que provocou sua aparição, pois a mesma já não é mais necessária e pode fazê-lo ressurgir. Se você eliminou alguma emoção indesejável que sentia ao ver alguém, melhor é não ver mais essa pessoa dali em diante (ou pelos menos por um bom tempo, até que os novos samskaras se fixem) pois, se o fizer, poderá alimentar a emoção negativa novamente.

Portanto, as causas das manifestações do Ego apresentam dupla face, dois aspectos: um aspecto físico, exterior, correspondente às situações da vida que as evoca, e um aspecto psicológico, interior, correspondente às leves alterações nos centros, às manifestações sutis do Ego. A Morte só é possível quando, por meio da auto-observação, descobrimos as causas e as removemos. 

Quais são os fatos que antecedem a manifestação de um ego, provocando-a? São as sutis formas de pensar, sentir, falar e agir. Qualquer pensamento levemente pecaminoso, qualquer mínima atitude, por mais inocente que pareça, podem colher energia e ganhar força, tornando-se perigosos inimigos. Quando uma manifestação mínima ganha força, transforma-se em uma obsessão violenta e incontrolável. As manifestações mínimas são as causas que deveriam ser trabalhadas para que seus efeitos posteriores desastrosos fossem evitados. Ocupar o tempo com lamentações é, portanto, um erro muito comum que atrapalha a Morte do Ego. Poderíamos, porém, ir um pouco além na busca das causas e chegaríamos às situações exteriores (acontecimentos do ginásio) que provocaram tais manifestações psicológicas sutis. Se quiséssemos ir ainda mais além, teríamos que ir às dimensões superiores e ao abismo, mas não é disto que estou tratando agora. No momento, estou me referindo às causas "horizontais" de tais manifestações e as encontramos nas situações da vida às quais reagimos constantemente, na maior parte das vezes sem sequer nos darmos conta.

Um erro frequente que costumamos cometer é nos debatermos contra um desejo e reforçá-lo simultaneamente. Se me mantenho metido em situações que dão força aos desejos, não poderei me libertar dos mesmos. Não é possível enfraquecer o inimigo se o estamos reforçando ao mesmo tempo. Não poderei eliminar o que sinto por determinado objeto ou pessoa se me mantenho em constante contato com aquilo. Portanto, se quero morrer para determinado objeto ou situação, tenho que remover aquilo de minha vida. Não poderei dissolver o ódio que sinto por um inimigo se estiver constantemente me ocupando, pensando no mesmo ou vendo-o. Se realmente quero morrer psicologicamente para determinada situação, tenho que remover da minha vida o objeto que ocasiona a emoção negativa correspondente, pois é para isso que tal objeto existe! Esta é a função do ginásio psicológico: chamar nossa atenção para o que deve ser retirado de nossa vida, mostrar os elementos dos quais devemos nos desligar. Cada situação provocadora de reações negativas deve ser descoberta e removida. Manter tais situações em nossa vida, sob a desculpa de nos exercitarmos psicologicamente, equivale a manter uma relação equivocada com o ginásio psicológico. 

Muitas pessoas acreditam que devem se manter presas às adversidades da vida para que possam se desenvolver. Particularmente, considero que estão equivocadas completamente. As adversidades existem para que possamos superá-las, transcendê-las. Transcender uma adversidade é deixá-la para trás, desligar-se. Se fico prestando atenção, pensando e me ocupando com aquilo que me altera ou me perturba, estou identificado e jamais poderei me libertar. Se discuto com quem me irrita, jamais eliminarei a ira correspondente; se fico contemplando ou dialogando com a mulher que desejo, jamais eliminarei a luxúria correspondente; se fico abrindo e lendo cartas malcriadas que me escrevem, jamais dissolverei o mal estar que provocam; se fico olhando para a ameaça que me atemoriza, jamais dissolverei o temor. O motivo é simples: somos incapazes de ter contato com o objeto provocante sem nos identificarmos e sem sermos afetados.

Por outro lado, se as adversidades, os objetos provocantes, não existissem, não tomaríamos consciência da necessidade de removê-los. Portanto, as adversidades cumprem uma função em nosso trabalho espiritual, a qual consiste em serem descobertas e removidas. Obviamente, o que não existe não pode ser descoberto e nem tampouco removido. 

Vivemos e nos movemos em um universo composto por aquilo em que pensamos e no que prestamos atenção. Se nos ocuparmos e pensarmos nas adversidades, viveremos em um universo composto por adversidades. Importa, pois, deixar as adversidades para trás.

Quero enfatizar esse ponto pois me parece que são muitos os gnósticos que acreditam que irão eliminar a luxúria se continuarem olhando para as mulheres que desejam e esperam eliminar a ira ao continuarem se ocupando com os seus inimigos. Eles chegam mesmo a crer que se trata de uma necessidade para a Morte. Vejo-os como uns pobres infelizes que estão completamente equivocados. Como poderia alguém eliminar o ódio e auto-importância se ficasse remexendo as fofocas que dizem a seu respeito? Como poderia eliminar a fobia do sobrenatural alguém que fica assistindo a filmes de terror? Temos que aprender a selecionar os fatos com os quais ocupamos nossa consciência. Se você ficar contemplando garotas dançando "funk" nunca deixará de desejá-las. Temos que aprender a escolher e a selecionar criteriosamente aquilo que entra em nossa percepção. Isso, na ioga, se chama "controle dos Indryas" (sentidos). Se você abre as portas de sua percepção ao lixo, sua mente e seu psiquismo se encherão de lixo. Quem quer deixar de nutrir o Ego, tem que evitar as situações que lhe dão alimento, isto é, tem que aprender a controlar os sentidos, não abrindo suas portas ao que causa estrago. E mais: não ocupar-se com aquilo nem mesmo em pensamento. Nossos pensamentos e percepções devem ser elevados.

Porém, vocês poderiam me contestar, dizendo que existem situações negativas das quais não podemos escapar, tais como a doença, a morte, a velhice e os problemas econômicos da vida. Eu lhes responderia o seguinte: quando avançamos muito na Morte, somos capazes de desviar os pensamentos e os sentidos até mesmo de tais dificuldades. Um adepto desenvolvido seria capaz de enfrentar tais situações sem levar o pensamento ou os sentidos às mesmas. Como isso seria possível? Ocupando-os com outros elementos, mais elevados, que os anulassem. Porém, isso é para pessoas mais desenvolvidas e não para nós, meros principiantes.

Por hoje é só e espero que tenham compreendido.

(1) Não se confunda a causa aqui referida com as origens do Ego no mundo causal, ou seja, as causas que se encontram na sexta dimensão natural. Neste artigo, estou me referindo às causas detectáveis enquanto estamos neste mundo físico tridimensional. As origens causais da sexta dimensão não podem ser acessadas por pessoas comuns, enquanto que as causas aqui referidas podem ser detectadas por qualquer pessoa que preste um pouco de atenção em si mesma e em sua própria vida.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A concentração no cotidiano.

No dia a dia, quando você estiver trabalhando, caminhando, lendo, escrevendo, conversando ou fazendo qualquer outra coisa que não seja meditar, procure, na medida do possível, não pensar em nada, nem mesmo em outras coisas relacionadas ao que estiver fazendo. Ao invés de pensar em qualquer outra coisa, preste atenção no presente e perceba o que você está fazendo.

Concentre a atenção em sua tarefa no presente, se possível até o ponto de perder a noção de tudo o que não tenha nada a ver com aquilo. Procure o esquecimento total do que não esteja relacionado à realidade presente que você vivencia. Procedendo assim, você terá mais facilidade para, depois, prestar atenção no pensamento único quando se sentar ou deitar para meditar. Bastará então manter a atenção no ato de pensar no lakshya, tratando-o como mais uma tarefa real e presente.

Quando nos concentramos no que fazemos, vivenciamos o presente de forma realista e intensa, diminuindo os riscos de acidentes, por exemplo. Os acidentes estão, na maior parte das vezes, relacionados a distrações. Quem se concentra no instante presente, não está distraído.

O ato de estar presente ao que se faz inclui a percepção natural do ambiente envolvido. Partindo daí, sua consciência poderá se ampliar cada vez mais e você verá, escutará e sentirá o que ocorre à sua volta, pois não estará vivendo em um hipotético amanhã ou no que ocorreu ontem. 

Se queremos despertar consciência à nossa essência, temos que aprender a exercitá-la no cotidiano.  Então, transferimos esta prática de estar conscientes para o ato de meditar. 

Ao contrário do que todo mundo imagina, quem medita não está distraído, está plenamente lúcido e consciente em outro plano. Pode não estar com a consciência direcionada ao mundo físico exterior, mas onde quer que sua alma esteja, estará plenamente lúcida e consciente. É claro que o meditador, de olhos fechados, estará desligado do corpo físico e das percepções sensoriais externas, mas isso não significa que ele esteja distraído, que tenha perdido sua consciência e não saiba o que está fazendo. O meditador não está em eikásia, está em dharana e dhyana. Quando o meditador retorna do mundo espiritual e se levanta, está mais lúcido do que nunca, pois trouxe a lucidez consigo e a manterá.

As tarefas do cotidiano são ótimas para exercitar a consciência e a lucidez. Focando a percepção nas mesmas, vamos tornando a mente cada vez mais passiva.