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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Meditação e paralisia do sono


Quando estamos meditando, podemos ser assaltados pela paralisia do sono. A paralisia costuma aparecer quando, durante fase do relaxamento profundo, a pessoa tenta se mover por alguma razão.

O melhor a fazer quando somos assaltados pela paralisia é esquecê-la e continuarmos concentrados em nosso lakshya. Se a pessoa não tiver medo e prosseguir concentrada, terá logo experiências muito interessantes. A paralisia do sono indica que se está no limiar das experiências supra-sensoriais. As chamadas "alucinações hipnagógicas" são na verdade percepções do universo supra-sensorial.

sábado, 25 de agosto de 2012

Imaginação e emoção


Comportamento e imaginação estão diretamente vinculados. O comportamento costuma corresponder às emoções e as emoções são direcionadas pela imaginação.

Se me fizerem acreditar que estou em perigo, imaginarei mil riscos e ameaças, sentirei medo e agirei em consonância com tal emoção. Se me fizerem acreditar que estou em segurança, imaginarei que não há problema algum, ainda que eu esteja sob grande risco, e sentirei tranquilidade. Quando um homem aponta uma convincente arma de brinquedo para outro, fere sua imaginação, fazendo-o crer que a arma é real, e nele provoca emoções correspondentes, fazendo-o sentir medo, insegurança e vulnerabilidade. Quando um homem imagina que uma mulher lhe dará mil prazeres indescritíveis, sentirá desejo intenso. Uma pessoa que tenha uma grave doenças e não o saiba, não sentirá as emoções correspondentes, por não estar ferida em sua imaginação e não se imaginar sob risco. Uma pessoa saudável que, por um erro de exame, se acredite gravemente doente, sentirá as emoções negativas correspondentes, pois imaginará a si mesma piorando cada vez mais. Se um ladrão imaginar que há grande soma de dinheiro em uma casa, sentirá o desejo de invadi-la para roubá-lo.

Quando uma pessoa faz ameaças diretas a outra, o faz com o intuito de ferir sua imaginação, induzindo-a a imaginar-se em perigo. Se a imaginação da vítima for ferida como deseja o agressor, ela sentirá medo, ficará intimidada e retrocederá. Quando um homem exibe um carrão ou sinais de riquezas e poder para uma linda mulher, o faz com o intuito de ferir-lhe a imaginação, induzindo-a a imaginar que ele pode lhe dar conforto, segurança e proteção sem fim.

As diversas situações da vida provocam emoções em consonância qualitativa com as imaginações que provocam. Sentimos de acordo com o que imaginamos. Se eu imaginar que um homem é o meu pior inimigo, sentirei raiva, ódio, medo e tentarei prejudicá-lo, ainda que o infeliz nem sequer saiba de minha existência.

Quem tenta controlar as emoções diretamente, sem redirecionar o curso da imaginação, está cindindo-se interiormente e desencadeando uma neurose.  O elefante louco das emoções não se deixa dominar.

A emoção é rápida como um tiro, mas a imaginação é a mão que direciona o cano da arma. A mente não é mais rápida que a emoção, mas é o fator que a direciona. E não podemos controlar a mente entrando em conflito com os maus pensamentos e más imaginações, mas sim reforçando os seus contrários. Somente deixarei de pensar em um perigo se preencher minha mente com pensamentos e imaginações de segurança.
A concentração serve para preencher a mente com os pensamentos que queremos, redirecionando a imaginação. Ao imaginarmos algo em um rumo que desejamos, modificamos o funcionamento mental (sanskaras) e alteramos as emoções.

O Ego resulta da imaginação equivocada que vai se nutrindo e sendo reforçada ao longo de toda a vida desde a infância. Como Freud acertadamente se deu conta, é na infância que começa tudo. Os vícios e deformidades que temos hoje se originaram na infância e, indo além de Freud, em passadas existências. Quando, em um passado remoto, adquirimos a mente e o poder de imaginar, começamos a dar vida aos desejos.  

A imaginação não é ruim e nem boa, é dual. Podemos nos afundar ou nos salvar através da imaginação. Educar a imaginação é fundamental em toda disciplina espiritual.

Os corajosos que não temem o inimigo e se expõem no campo de batalha não se imaginam em risco, ainda que conscientemente saibam que estejam se arriscando. Os insensatos que se arriscam tolamente também não se imaginam em perigo, por falta de discernimento, e não sentem medo. São pessoas que não pensam na morte e nem na vulnerabilidade (aqueles por terem aprendido e estes por serem estúpidos). Os covardes que vivem intimidados com tudo possuem uma imaginação vulnerável ao perigo e se imaginam constantemente em risco.

Uma pessoa que sofra cronicamente com emoções ruins deverá procurar, dentro de si, as imaginações e pensamentos que as provocam.

Uma das funções da auto-observação é revelar as reações mentais (imaginativas) que vamos tendo aos diversos fatos que vamos presenciando, para que possamos eliminá-las. Os acontecimentos fazem a mente reagir de determinada maneira, ocasionando emoções inferiores. Temos que descobrir as imaginações equivocadas antes de corrigi-las. Como eu poderia corrigir algo cuja existência desconheço?

Um funcionamento imaginativo equivocado é nutrido e reforçado por falas e atitudes que desconhecemos e necessitamos descobrir ao vivo. Corrigindo a fala, os comportamentos e as imaginações que reforçam uma emoção ruim, a enfraqueceremos. 

Portanto, a correção da imaginação destrutiva se obtém por dois trabalhos simultâneos: a concentração/meditação e a auto-observação/Morte em Marcha.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Morte do Ego: a correta relação com o mundo exterior

Todos os defeitos e sofrimentos estão relacionados a algum tipo de desejo. A preguiça é o desejo de não fazer nada, de evadir-se do esforço, a ira resulta do desejo insatisfeito, o ódio é o desejo de que alguém seja prejudicado e arruinado, o medo relaciona-se com o desejo de sentir-se seguro, a salvo do perigo, a gula é o desejo de comer algo para sentir seu sabor, a inveja é o desejo de ter o mesmo que outra pessoa possui. Existem muitos tipos de desejo e não somente o desejo sexual.

Todas as formas de desejo provocam sofrimento. Quando o desejo morre, o sofrimento acaba. É muito importante entender como fazemos para enfraquecer gradativamente o poder do desejo.

Quem nunca tomou consciência da existência de algo desejável, não pode desejá-lo. Quem toma consciência da existência de algo desejável, passa a desejá-lo. Quem renuncia voluntariamente à percepção dos objetos de desejo, após ter consciência da existência dos mesmos, volta a não desejá-los mais. Há, portanto, três estágios no desenvolvimento da alma: 

1) inconsciência da existência do objeto; 
2) consciência da existência do objeto; 
3) esquecimento intencional da existência do objeto. 

Uma é a felicidade dos seres inocentes, que nunca se deram conta ou não compreendem a existência dos objetos de desejo. Outra é a felicidade daqueles que sofreram desejando os objetos mas conseguiram esquecê-los, renunciando aos mesmos. Tormentosa é a existência daqueles que estão na fase intermediária, percebendo os objetos e os desejando continuamente, afogando sua consciência na embriaguês da matéria. 

Quem nunca viu ouro ou jóias, não poderia desejá-los. As crianças não desejam dinheiro, porque neles não pensam e não “entendem” o seu valor. Alguém que tenha contato com ouro ou jóias, passará a entender, com o tempo, que os seres humanos os valorizam em demasia, desenvolverá um entendimento enviesado ou distorcido a respeito e então irá desejá-los. Porém, se tal pessoa decide aprofundar a compreensão a respeito do desejo que sente e, por extensão, do verdadeiro ou essencial valor do ouro e das jóias, chegará a compreender que o valor atribuído aos mesmos é tão somente uma ilusória criação mental, ou seja, o valor não existe objetivamente, somente subjetivamente (as pessoas o inventaram). Caso tal pessoa se divorcie do ouro e das jóias, os abandone, esqueça e deixe de percebê-los, estará, de certo modo e em um certo sentido, retornando ao estado inicial de desconhecimento. Após a compreensão, a pessoa estará “desconhecendo intencionalmente” o objeto de desejo. Para tanto, a pessoa terá que deixar de ocupar-se fisica e mentalmente com aquilo. 

Retornar conscientemente ao estado de inocência original ou à infância espiritual perdida é ocupar-se somente com as coisas do céu, renunciando às coisas da Terra. Entretanto, após estarmos aprisionados no mal, tal retorno não será possível senão após tomarmos consciência de cada prisão. Cada desejo é uma prisão que encarcera uma parte de nossa alma.

O esquecimento intencional daquilo cuja existência não temos consciência é um absurdo. Como eu poderia esquecer algo cuja existência me é desconhecida? O esquecimento intencional ou abandono voluntário requerem a consciência prévia daquilo que nos prende. Não é possível esquecer intencionalmente um objeto de desejo se não estamos conscientes de que o desejamos. E não estaremos conscientes se não nos observarmos em plena relação com o mundo. Portanto, tomamos consciência para nos desligarmos. Quem quer libertar-se do desejo por jóias, deve primeiro dar-se conta de que as deseja e tal consciência não ocorrerá senão pela auto-observação das próprias reações perante a percepção das jóias.

Mas se aquele que percebe que deseja as jóias, ao vê-las, as continua contemplando após tê-lo compreendido, estará, a partir deste ponto, alimentando seu desejo ao invés de enfraquecendo, por uma simples razão: o desejo se nutre pela fascinação, intencional ou não.  Estejamos ou não conscientes da fascinação, ela alimentará os desejos e os reforçará. Este é o motivo pelo qual aqueles que se entretém fascinando-se pelo que desejam jamais se libertam. Temos que descobrir os processos fascinatórios inconscientes e interrompê-los, caso queiramos nos libertar.

A finalidade da auto-observação é levar-nos a descobrir os infinitos processos fascinatórios que se processam inconscientemente durante o dia, enquanto estamos em contato com os objetos da vida. Os objetos desejáveis do mundo físico são uma faca de dois gumes: servem para descobrirmos nossas reações inconscientes a eles mas também promovem a fascinação e podem nos lançar mais profundamente no desejo. Tudo depende da forma como nos relacionamos. Quem se identifica com as coisas do mundo, ao invés de usá-las para o auto-descobrimento, fortifica suas próprias prisões interiores.

Temos que saber como nos relacionar com as coisas desejáveis da Terra. Podemos usá-las para tomarmos consciência de que as desejamos, mas também podemos, caso nos relacionemos equivocadamente, usá-las para nos prejudicarmos, alimentando os desejos que elas provocam e nos afundando cada vez mais no lodo da miséria espiritual.

O que se passa é que um certo fato exterior qualquer do mundo físico que provoca um dado desejo serve para que o mesmo desejo seja descoberto em plena ação. O mérito das almas vitoriosas consiste justamente em não se identificar com tais fatos mesmo que estejam se dando a seu redor a pleno vapor. Por esta via, as almas vitoriosas alcançaram uma pureza semelhante à das almas inocentes, com a diferença de que isto foi conquistado de forma consciente, intencional e voluntária. As almas vitoriosas são crianças porque querem sê-lo. 

As almas vitoriosas não se entretém contemplando  os fatos evocadores do desejo, evitam a fascinação, porém o fazem por vontade deliberada. Elas decidiram não mais olhar para o mal. Já as almas desgraçadas, por outro lado, estão aprisionadas pelo olhar fascinante da medusa, presas espiritualmente ao mal, porque não sabem ou não querem desviar o olhar, não querem abandonar os atrativos mundanos. 

Não podemos explorar o Ego senão através dos fatos que nos acontecem, nos acometem e nos ferem. Não é possível explorar o Ego através de teorizações, conjeturando a respeito do que somos ou sentimos. Temos que vê-lo em ação e tal percepção é possível exclusivamente em contato com os fatos da vida, do mundo exterior. É algo muito interessante: temos que aprender a nos isolar dos fatos do mundo, mesmo estando eles acontecendo ao nosso redor, e fazemos isso após percebermos as reações que provocam em nós. Se você percebeu que sua vizinha está dançando de calcinhas na laje, melhor é não ficar espiando porque senão ficará tomado por um desejo desesperador, se você percebeu que a carta ou mensagem enviada por alguém é negativa e malcriada, melhor é não abri-la e jogá-la na lixeira ou então ler somente as primeiras linhas para se certificar de que se trata de algo prejudicial. Assim vamos cortando os canais de alimentação dos desejos. Tudo isso, é claro, tem que ser realizado através da Morte em Marcha.

O que estamos aqui descrevendo vale para todos os tipos desejo, todos os tipos de defeitos, emoções inferiores ou negativas. Quem teme ser assassinado e fica contemplando assassinatos, seja em filmes ou livros, está alimentando o seu medo. Quem teme fantasmas e assiste a filmes de terror, ficará ainda mais atemorizado. Aquele que alimenta um defeito, torna-se incapaz de libertar-se do mesmo. 

O segredo, a chave da Morte, está no processo de nutrição dos egos. É o que diz aquele conto indígena dos dois cachorros em conflito que existem dentro do ser humano. Qual dos dois cães irá ganhar a luta? Aquele que alimentarmos.

Tenho medo de não estar sendo claro. O que quero transmitir neste texto é a necessidade de tomarmos consciência dos fatos físicos para, em seguida, nos isolarmos (psicologicamente) dos mesmos e não para nos fascinarmos ainda mais. Quero que compreendam que os mesmos fatos que servem para descobrir os defeitos podem servir para alimentá-los. Temos que saber usar esses fatos em nosso favor e não contra nós. Quero que compreendam que os fatos da vida são facas de dois gumes, podem servir para o nosso bem ou para o nosso mal, são males necessários. Não devemos fugir deles, nos isolando para sempre nas montanhas ou em cavernas, e nem tampouco mergulhar nos mesmos. Quem mergulha nos fatos da vida se afoga e é arrastado por suas correntezas. Os fatos da vida constituem um ginásio psicológico mas também uma porta para o abismo, tudo depende do modo como nos relacionamos.

Como nos isolamos psicologicamente dos fatos, de modo a não perdermos os resultados conquistados com a Morte em Marcha? Controlando os sentidos, evitando ver, ouvir e sentir aquilo que fortifica o mal em nós.  Aquilo que faz o mal aflorar também o alimenta. É importante que o mal aflore para que seja visto, mas alimentá-lo é desnecessário e prejudicial.

Quem quer realmente morrer deve evitar todos os estímulos externos e internos aos desejos. As situações exteriores que os evocam e excitam necessitam ser descobertas e evitadas, assim como os pensamentos, falas, recordações e atos. Toda excitação deve ser removida da vida. Isso se aplica à gula, à ira, ao ódio, ao medo, à luxúria, às preocupações e a quaisquer outros defeitos. A excitação passional deve ser substituída pelas emoções superiores e pelo êxtase espiritual.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Concentração: como lidar com os pensamentos indesejáveis

Em primeiro lugar, não se incomode com os pensamentos invasivos que surgem durante a prática, seja indiferente, de modo algum reaja contra e nem a favor. Não se identifique e nem corra atrás dos pensamentos para silenciá-los, seja neutro e volte-se para o lakshya.  Os pensamentos invasivos e desviantes são meras tentativas de atraí-lo. Lembre-se das tentações que Mara enviou ao Buddha Gautama para desviá-lo. Como o Buddha reagiu a elas? Ele não se deixou afetar, simplesmente continuou meditando embaixo da árvore.

Em segundo lugar, se um pensamento for muito insistente, aplique a dualidade: coloque um pensamento que lhe seja oposto e que o anule. Exemplo: se o pensamento for sobre algum mal que lhe fizeram, pense nos prejuízos físicos, psicológicos e espirituais que o ressentimento irá lhe causar, encontre algo que o anule.

Em terceiro lugar, interrompa por um instante sua concentração e analise o conteúdo do pensamento invasor, com a intenção compreendê-lo. Procure compreender, principalmente, qual é a (in)utilidade daquele pensamento para aquele momento, o que se consegue perguntando-se "para serve este pensamento?" e buscando sinceramente a resposta.

Em quarto lugar, aplique a Morte em Marcha no ego teimoso que está emitindo o pensamento intruso. 

Em quinto lugar, realize a Dança dos Derviches.

Se nada disso funcionar, deixe sua prática por um instante e a retome dali há pouco.

Aprenda com o Santo e Venerável Mestre Milarepa:

"A prática de segurar a mente é enganadora e leva a caminhos errados; então descanso no reino da Realidade." (Milarepa, A Canção dos Doze Enganos)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sobre a necessidade de controlar os sentidos

Gostamos de nos entreter prestando atenção naquilo que desejamos, detestamos, tememos ou simplesmente naquilo que nos altera ou perturba. Trata-se de um vício de má utilização dos sentidos. Temos que exercitar o controle dos sentidos. Permanecer vendo, ouvindo e percebendo aquilo que não presta é escravizar-se voluntariamente pelo mal.

Existem egos visíveis e egos ocultos. Há uma parte de nós que enxergamos e da qual temos consciência, porém há outras partes do Eu que não alcançamos enxergar e nem sequer suspeitamos que existem. Apesar de não serem percebidas conscientemente, a parte oculta do Ego está ativa, atua. O ego oculto atua na escuridão, sem ser visto, e em várias dimensões, não somente no mundo físico. Portanto, temos defeitos que atuam no mundo físico, nos centros da máquina, sem que o saibamos. São muitos os pensamentos, emoções, movimentos e ações que temos mas desconhecemos. Não percebemos a totalidade do que somos e do fazemos neste mundo e nem, muito menos, nos mundos paralelos. 

Não estamos conscientes da maior parte dos nossos defeitos, mas tal inconsciência não os impede de atuar livremente, de se alimentarem e colherem energia. Estamos constantemente criando e alimentando defeitos sem nos darmos conta.

A alimentação dos egos acontece por meio da identificação (fascinação). A identificação ocorre por via sensorial e extra-sensorial. Quando contemplamos fisicamente um objeto de desejo, estamos alimentando o desejo por via sensorial. Quando contemplamos mentalmente um objeto de desejo, estamos fortificando o desejo por via extra-sensorial (a extra-sensorialidade existe de forma germinal em todos os seres humanos).
Perceber o objeto de desejo é alimentar o desejo, perceber o objeto do ódio é alimentar o ódio, perceber o objeto do medo é alimentar o medo. 

Quando se tem o Ego vivo, não é possível olhar para uma linda mulher desejável sem desejá-la, não é possível olhar para o inimigo sem detestá-lo, não é possível olhar para o perigo sem sentir medo. Similarmente, não é possível pensar em tais objetos sem sentir as emoções correspondentes. Quem tenta eliminar os defeitos sem renunciar aos pensamentos que lhes correspondem, está se partindo, se despedaçando interiormente, pois fortifica o inimigo e ao mesmo tempo faz esforços para matá-lo. A pessoa, em tal caso, faz dois esforços contrários, que se anulam: esforço para matar e esforço para dar vida. A infeliz pessoa girará em círculos por tempo indefinido, a não ser que se dê conta do equívoco e se defina em uma única direção, em um único objetivo.

Por meio da auto-observação no ginásio psicológico, vamos descobrindo novas manifestações do Ego, antes desconhecidas. Cada manifestação descoberta é uma forma de alimentação, antes insuspeitada. Ao descobri-la e a eliminarmos, por meio da oração (Morte em Marcha), nos tornamos capazes de descobrir novas manifestações, ainda ocultas. Deste modo, descobrimos sucessivas manifestações dos egos e, portanto, sucessivas formas de alimentação dos mesmos. Como a manifestação se dá por meio da identificação, podemos dizer que a manifestação é a própria alimentação dos "eus". O "eus" se nutrem durante as manifestações. Descobrir uma manifestação é descobrir um canal de alimentação.

A todo momento os egos estão se nutrindo, colhendo energia de nosso corpo. Não percebemos o processo porque não nos mantemos receptivos ao mesmo. E não nos mantemos receptivos porque vivemos distraídos com os objetos do desejo.

O Ego é algo sensorial, busca as sensações. Qualquer ego se fundamenta nas sensações. O controle dos sentidos é indispensável pois os objetos exteriores provocam emoções negativas. Se me distraio percebendo os objetos evocadores das emoções inferiores, as fortifico e me torno mais e mais escravizado.
Contemplar os objetos evocadores das emoções causa um certo prazer mórbido. Isso vale para o medo, o ódio, a ira, a cobiça, a luxúria e tantos outros egos. Quando controlamos os sentidos, experimentamos um grande avanço.

O ginásio psicológico é faca de dois gumes: pode ser usado para enfraquecer os defeitos ou para fortificá-los. Quem se identifica, fortifica.

Conforme avançamos, vamos despertando consciência e nos tornando mais conscientes nos mundos parelelos. Então, praticamos a auto-observação durante os sonhos e descobrimos que também ali, nos outros mundos, temos o hábito de alimentar os defeitos. Também ali, nos envolvemos com os egos, tentamos controlá-los, nos identificamos, nos amarramos e perdemos tempo. Ao tomarmos consciência, temos a chance de superar aos poucos o problema. É assim que vamos despertando nos vários mundos.
Inconscientemente, olhamos para as mulheres, para alimentos saborosos, para pessoas antipáticas, ouvimos vozes e sons etc. Tudo isso alimenta vários defeitos sem que nos demos conta. 

Quando olhamos para nós mesmos e não vemos defeito algum, isso não significa que os egos não estejam atuando ou que a Morte tenha terminado, significa somente que os defeitos estão agindo fora do alcance de nossa consciência.

A auto-observação é para descobrir o novo. Controlar os sentidos, deixar de perceber os objetos que provocam emoções negativas, não é renunciar ao novo, não é esconder-se e nem enganar-se. É resolver um problema para ocupar-se com outros problemas que virão a ser detectados, pois há outras atuações do sentidos a serem descobertas. Aí reside um equívoco, pois muitas pessoas imaginam que devem cultivar a percepção dos objetos do desejo para descobrir os egos que evocam. Na verdade, tal cultivo prende a pessoa em um círculo vicioso, no qual ela fortifica os egos ao mesmo tempo em que tenta observá-los e compreendê-los. Se não resolvemos os problemas atuais, não podemos nos ocupar com problemas futuros.

A crença de que podemos "olhar sem nos identificarmos" com os objetos que desejamos é absurda. Se desejamos e olhamos, nos identificamos, obrigatoriamente. Somente quem está realmente morto pode olhar sem identificar-se. Quem está vivo, forçosamente se identifica.

Portanto, o Morrer equivale a ir retirando de nossa vida todas formas de identificação. E retirar as identificações é descobri-las e orar pela Morte. Eliminar um "eu" é eliminar uma forma de identificação.

Muitas formas de alimentação do Ego (detalhes) se apresentam sob uma aparência inofensiva e até virtuosa. Atitudes inocentes, desprovidas de qualquer sentido delituoso, podem estar nutrindo algum defeito. Atos comuns do dia a dia podem ser canais de nutrição dos defeitos. Mediante a auto-observação sincera e criteriosa, vamos aos poucos discernindo.


Sobre contemplar o objeto de desejo mentalmente e perceptualmente

Se não devemos contemplar mentalmente o objeto de desejos, porque desencadeia uma manifestação incontrolável do desejo correspondente, é muito claro que não devemos também contemplá-lo fisicamente, pois o efeito será o mesmo.

Pensar em algo é contemplar mentalmente. Pensar na imagem de uma linda mulher nua satisfazendo nossas fantasias sexuais é o mesmo que ver uma linda mulher fazendo o mesmo.  Pensar é ver na tela da mente.

Se fico contemplando objetos de desejo, estou fortificando o desejo do mesmo modo que se neles pensasse. 

Não contemple o objeto dos desejos fisicamente e nem mentalmente. Ainda que contemplemos o objeto dos desejos com os olhos físicos, o estaremos fazendo através de alguma forma mental.


A luxúria possui inevitavelmente um caráter imaginativo ou mental e se reforça pelos pensamentos e imaginações. É pela contemplação de imagens que a luxúria colhe força e se arraiga em nossa personalidade. Sempre que contemplamos um objeto de desejo, o desejo se torna mais forte. 


Quando imaginamos cenas eróticas, mulheres lindas, estamos contemplando o objeto de desejo mentalmente. Quando observamos as mesmas cenas no mundo físico, com os olhos físicos, o estamos fazendo fisicamente. Em ambos os casos, estamos fortificando a prisão da luxúria. A contemplação das imagens desejáveis, seja fisicamente ou imaginativamente, é o caminho para a escravização. 


Desejar algo corresponde a uma forma de entender e de perceber aquilo que desejamos. A forma de entender corresponde a um entendimento viciado, tendencioso. Quanto mais fortificamos o entendimento vicioso, mais fortificamos o desejo em nós.


O entendimento vicioso (equivocado) é reforçado por ações em todos os demais centros (que não o intelectual). As ações e reações mínimas de cada instante estão reforçando as equivocadas formas de perceber e compreender. Como resultado, desejamos o objeto por imaginarmos e acreditarmos milhares de coisas absurdas a respeito. Quando um homem deseja uma mulher, não a enxerga de forma objetiva, tal como é, mas sim através da lente da luxúria. O prisma do desejo o cega e todas as consequências indesejáveis de um relacionamento se tornam empalidecidas, apagadas. Quando removemos a lente luxuriosa, enxergamos o ser feminino com objetividade, sem exageros favoráveis ou desfavoráveis. 


O prisma do desejo é como uma lente colorida: se olhamos o mundo com uma lente vermelha ou azul, as cores dos objetos mudam. Sob a lente da luxúria, o mundo se torna repleto de erotismo e sensualidade, cada mulher passando a ser avaliada segundo seu potencial para o sexo. As mulheres se dividem entre as sexualmente desejáveis e as indesejáveis. O luxurioso não enxerga mais nada na vida. A Morte do Ego, no entanto, reverte tal situação miserável.


Três cuidados importantes na Morte

Três cuidados importantes a serem tomados na Morte são:

1. Não nos distrairmos prestando atenção ou pensando nos milhares de defeitos que temos mas sim nos mantermos atentos ao que estamos fazendo no momento;

2. Nunca "passar para o outro lado da margem", ou seja, nunca nos identificarmos com um desejo;

3. Não perder o tempo prestando atenção e/ou nos distraindo com os objetos que provocam desejo ou perturbação.

Portanto, temos que evitar o processo de identificação com os defeitos a todo custo. Identificar-se com um desejo é como passar para o outro lado da margem de um rio e transformar-se em algo completamente diferente. Quando você está identificado, você se torna outro.

Para não passar para o outro lado, temos que vigiar nossa conduta e deter as manifestações diminutas do desejo antes que cresçam. Quando as manifestações crescem, tomam conta do veículo físico e o comandam. Não basta somente resistir à identificação, é preciso evocar o poder superior da Mãe Divina e aplicar a Morte em Marcha.


Como fortificamos nossas prisões


O mal é o desejo, pois em todo sofrimento há desejo encarcerado. Os doentes desejam a cura, os famintos desejam comida, os sofredores desejam a felicidade. 

Não é possível desejar aquilo cuja existência jamais foi sequer cogitada. Essa é a felicidade dos inocentes.

Há uma diferença entre a felicidade daquele que nunca conheceu o mal e a felicidade daquele que experimentou o mal e o superou.

Uma coisa é não desejar algo cuja existência nem sequer suspeitamos, outra coisa é não desejar aquilo cuja existência já nos é conhecida.

Quando comemos do fruto proibido e tomamos consciência de sua natureza desejável, nos tornamos escravos do desejo. A superação do desejo após a consciência experiencial dos prazeres do fruto proibido nos lança em uma espiral superior de felicidade espiritual. Uma coisa são os seres inocentes que nunca saborearam a fruta e outra são as hierarquias que foram escravizadas pelo desejo no passado e o superaram. Tais seres divinos foram expulsos do Paraíso, cairam na escuridão do pecado, mas a venceram.

Retornar conscientemente ao estado paradisíaco e puro é deixar de ter consciência do mal após o mesmo ter invadido nossa consciência. Não tomamos consciência do mal (desejo) para aprisioná-lo em nossa consciência, mas para esquecê-lo, abandoná-lo com o discernimento de que o estamos fazendo. Quem retém o mal em sua consciência, permanece preso a ele por tempo indefinido. 

O mal não existe para os Budhas e os seres vitoriosos. Tais seres vivem sintonizados com frequências altíssimas, fora do alcance do mal sob todas as suas formas. O mal existe para as almas que com ele se sintonizam, por bom grado ou à força. Para a nossa infelicidade, o Ego nos aprisionou nas frequências malignas, vibramos em sintonia com o mal, queiramos ou não.

Quanto mais nos ocupamos com o mal, mais força lhe damos. O mal existe para que tomemos consciência de sua existência, nos ocupemos com ele e o abandonemos em seguida, de forma voluntária e intencional. O mal existe para ser abandonado conscientemente, para ser voluntariamente deixado para trás. Os esforços que fazemos para reprimir o mal no mundo o alimentam e o mantem vivo, torturando a humanidade.

As almas que se debatem contra o desejo, lutando pela libertação, ainda não compreenderam que o estão nutrindo por esta via. O desejo morre somente quando não é mais alimentado. De nada adianta a alma gritar, clamar, chorar, debater-se, sofrer e lutar se, ao mesmo tempo, continua ocupada com o mal, alimentando-o. A alma que pensa, fala e protesta contra aquilo que a oprime está se aprisionando ainda mais. 

As almas que se libertam do desejo são aquelas que renunciam completamente ao mundo, a todos os objetos sensíveis que evocam lembranças e pensamentos, acendendo dentro dela a chama das paixões. Libertar-se de um desejo não é possível quando não abrimos mão das formas sensíveis que o acordam e o nutrem. Enquanto o objeto evocador do desejo existir para mim, isto é, enquanto houver identificação minha com o objeto, enquanto eu o aprisionar em minha consciência, continuarei a desejá-lo, para deixar de desejá-lo, o mesmo não deve mais existir para mim.

Os objetos do desejo pertencem ao mundo das formas sensíveis: mulheres, dinheiro, bens materiais, beleza, prazeres e tudo aquilo que nos prenda ao mundo físico. Um objeto de desejo é algo sensorial, algo que se percebe, que se vê, que se toca. Uma coisa é nunca ter tido consciência de que um objeto desejável existe, outra é voluntariamente deixar de manter a consciência focada sobre a existência do objeto. Portanto, à medida que vamos morrendo, os objetos de desejo vão deixando de existir para nós, pelo simples fato de que vamos nos sintonizando com outras frequências. Em outras palavras: viramos as costas para o mal.

A auto-observação nos permite tomar consciência de facetas do Ego, não para aprisioná-las em nossa consciência, mas para eliminá-las e esquecê-las para sempre. Tomamos consciência dos detalhes para abandoná-los e não para mantê-los conosco. Quando um defeito morre, seu respectivo objeto de desejo deixa de existir para nós, sofre uma transformação. As palavras de um insultador, por exemplo, não existe mais, se transformam em algo distinto.

Desejamos por não compreender o mal que o desejo ocasiona. O desejo entorpece, confunde, engana.

O mal do qual temos que nos libertar possui dois aspectos: o interior e o exterior. Interiormente, o mal é o desejo, sob todas as suas formas. Exteriormente, o mal são os objetos sensíveis que evocam o desejo.

A alma que, uma e outra vez, cai em tentação, sofre tais derrotas porque, sem se dar conta, continua dando vida ao desejo dentro de si. Inconscientemente, aprisionamos os objetos do desejo dentro de nossa mente, não os largamos. Somente tomando consciência de tal erro é que alcançamos nos libertar. Daí a auto-observação. Dito de outra maneira: não permitimos que aquilo que provoca o desejo, o sofrimento e a dor deixem de existir para nós, mas não nos damos conta do erro. Cometemos o erro sem saber que o estamos cometendo. Acreditamos estar fazendo tudo corretamente e, no entanto, estamos fortificando as grades de nossa prisão, a mesma prisão contra a qual nos debatemos em vão tentando escapar.     

Efeitos indesejáveis dos pensamentos


O turbilhão das emoções, sentimentos e desejos humanos é um inferno que desconcerta filosófos, cientistas, médicos, psicólogos, psiquiatras, educadores e sacerdotes. Ninguém sabe, absolutamente, o que fazer com os impulsos. Todos dizem para sermos corretos e não fazermos coisas erradas, mas ninguém tem uma fórmula que realmente faça com que não desejemos aquilo que não é conveniente. Sem pretender ter a solução final, vamos tentar encontrar uma contribuição para a solucionar esse problema.

Analise a manifestação de qualquer desejo ou emoção intensos e você descobrirá os pensamentos como pano de fundo. Pensar em algo desejável equivale a dar o ponta-pé inicial para desencadear uma avalanche. Uma vez desencadeada a avalanche, não adianta correr atrás dos prejuízos, tentando reverter os resultados. 

Em questão de Morte do Ego, o trabalho sobre a mente (os pensamentos) é prioritário. Quem não prioriza o trabalho sobre a mente jamais avançará. A mente é o principal meio de alimentação dos defeitos e das emoções negativas. Não é possível livrar-se de uma emoção ou desejo inconvenientes se houver identificação com os pensamentos correspondentes. Todos os fracassos espirituais são devidos à mente. Obviamente, há outros centros através dos quais o Ego se manifesta e que não devem ser negligenciados, mas a mente possui prioridade. Quando me refiro à mente, estou me referindo a todas as funções do centro intelectual: pensamentos, raciocínios, análises, lembranças, imaginações.

Temos que aprender a lidar com a mente. Há duas formas de lidarmos com a mente, as quais devem ser conjugadas em nossa vida: a meditação e a Morte do Ego. Não podemos negligenciar nenhuma das duas.

Temos que meditar várias vezes por dia, o mais que pudermos, para que a mente fique domada. Ao mesmo tempo, fora das sessões de meditação, temos que eliminar os funcionamentos mentais viciosos (sanskaras) pela Morte em Marcha. Na meditação, escapamos dos sanskaras temporariamente e nos fixamos na Essência. Na Morte em Marcha, os dissolvemos. 
Um simples pensamento é suficiente para desencadear toda uma avalanche de desejos e emoções dos quais não seremos capazes de nos livrar. Melhor é não dar o primeiro passo, evitando entrar na "masmorra da identificação". 

Quem medita muito e pratica a Morte em Marcha, mantém sua mente ocupada e não dá espaço para pensamentos invasivos. Em momentos de desespero e intensa tentação, busquemos o vazio mental e o silêncio interior. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Morte do Ego: não distrair-se com os defeitos


Na auto-observação, a meta não é entreter-se contemplando os defeitos, nem tampouco procurá-los quando não estão se manifestando. O objetivo da prática é perceber as manifestações concretas que ocorrem espontaneamente, evocadas pelo ginásio da vida. O ginásio da vida são as diversas situações exteriores que nos alteram e afetam psicologicamente, provocando o afloramento dos defeitos que estão ocultos. 

Quem não observa a si mesmo, não percebe quando se identifica, não vê quando se altera e nem se dá conta das manifestações que vão ocorrendo. Esquecido de si mesmo, o pobre adormecido vegeta, sem ter consciência alguma dos processos psicológicos que lhe acometem, somente percebendo os frutos desastrosos da atuação do Ego, quando os desastres já estão consumados.

Portanto, observar a si mesmo é algo muito conveniente e indispensável para quem quer alcançar a Morte. Mas há que se entender corretamente como se faz tal observação.

Observar a si mesmo não é ficar recordando dos defeitos, pensando nos erros, procurando os desejos a toda hora. Não é ficar correndo atrás do Ego, ainda que com a boa intenção de compreendê-lo. Quem fica correndo atrás do Ego perde sua existência. 

Não corra atrás do Ego, deixe que ele venha até você e esqueça-o quando não estiver aparecendo. Não se preocupe, ele surgirá no seu devido tempo. Aprenda a olhar para si mesmo sem se recordar do mal. Preste atenção no presente, no que está fazendo aqui e agora, e se esqueça de tudo o mais. Em tal estado receptivo, você perceberá quando algum defeito invadir sua personalidade, estará consciente e poderá colocar a Morte em Marcha em ação. Um dos erros que nós cometemos no passado, quando estávamos na Nova Ordem, foi nos ocuparmos com o Ego em tempo integral, motivo pelo qual não morremos. Fomos vítimas da crença errônea de que deveríamos correr atrás do Ego para eliminá-lo e compreendê-lo.

Ocupar-se com os desejos é uma forma de fortalecê-los. Não se ocupe com as coisas feias e erradas que você fez ou faz, esqueça-as. Apénas observe-se no presente, o Ser proverá o resto.

Na didática gnóstica, a Morte ocorre por conscientização e enfraquecimento. A consciêntização não consiste em reter os defeitos na consciência, consiste somente em perceber sua manifestação concreta e em esquecê-la. O movimento é o de tocar e largar, não o de agarrar e prender. Apenas vemos, nos damos conta, e esquecemos em seguida. O enfraquecimento vem pela oração á Mãe Divina. Quando os detalhes são percebidos, mortes e esquecidos, o defeito que configuravam vai perdendo força, até desaparecer. O processo é o de tirar a força e não o de fazer força contra. Quanto mais tiramos a força de um defeito, menos nos ocupamos e nos preocupamos com ele.

Aprendamos a viver o esquecimento, o desprendimento. 

Enquanto alguém corre atrás de um defeito, não se dá conta das inumeráveis alterações psicológicas que invadem sutilmente sua personalidade. Se estivesse simplesmente observando-se aqui e agora, perceberia as nuances e detalhes dessas alterações psicológicas reais que lhe afetam a todo momento.

O que buscamos é penetrar na realidade do Ego por meio da observação direta do que acontece no presente e não por meio de elocubrações teóricas e imaginações absurdas. Queremos enxergar a realidade concreta dos egos e isso não é possível fora do terreno observacional do presente. Você não pode ver o Ego ontem, amanhã, lá ou acolá, somente agora e aqui. 

Observar a si mesmo significa observar a própria pessoa que somos, a pessoa concreta. Quem observa sua própria pessoa concreta, sem distrair-se pensando sobre seus defeitos e nem procurando-os onde não estã, verá claramente as alterações que vão ocorrendo nos centros e perceberá as nuvens que vão se formando quando a identificação com algo está em curso. Isso é o que necessitamos: ser perceptivos em relação a nós mesmos.

Quando uma pessoa está se observando corretamente, percebe detalhadamente todas as alterações psicológicas e comportamentais que lhe ocorrem. Quando está distraída com algum pensamento ou desejo, não percebe nada ou percebe muito vagamente.