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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pensar: grave erro que cometemos!

O V.M.R. orienta-nos a não "levar a mente ao sexo oposto" durante a prática do arcano (maithuna), caso contrário, será impossível evitarmos uma ejaculação. O que se entende por "levar a mente ao sexo oposto"? Pensar na mulher (ou no homem) e em tudo o que estiver direta ou indiretamente relacionado a ela, absolutamente tudo. E o que é pensar? Pensar é imaginar (mecanicamente), ver na tela da mente, lembrar, raciocinar, analisar, fantasiar e também duvidar. Tudo isso enquadra-se na expressão "levar a mente ao sexo oposto". Em outras palavras, no arcano, sentimos e praticamos, mas mantemos a mente parada, sem projetar.
Entendo que esta orientação pode ser estendida para todos os âmbitos do desenvolvimento espiritual.
Um dos vários erros que podemos cometer consiste em pensarmos nas práticas, na morte em marcha, nos problemas da vida e em tudo o mais. Pensamos em demasia e acreditamos que pensando poderemos resolver as situações. Pensamos buscando soluções, mas elas muitas vezes surgem de onde não estamos esperando e sem que houvesse necessidade alguma de pensarmos.
Quando temos um problemas, ficamos martelando-o mentalmente, em busca da soluções. Quando alguém que amamos falece, ficamos pensando, como se o pensamento resolvesse ou melhorasse a situação.
Observando os animais, me dei conta de que eles não sofrem tanto quanto nós por que não possuem a mesma capacidade de pensar. Isso lhes protege do sofrimento em grande medida.
Mesmo o sofrimento físico fica atenuado quando não se pensa nele e, após ter passado, não deixará sequelas ou, se as deixar, serão poucas. Não pensar é um dos segredos para libertar a alma do sofrimento, por isso é que costumo dizer que a morte do Eu é o esquecimento.
Entretanto, somos viciados no pensar. Acreditamos que o pensar é imprescindível. Nossa capacidade de pensar, indubitavelmente, nos conferiu o poder de manipular a matéria, desenvolver a ciência e a tecnologia, mas o preço que pagamos foi alto: nos tornamos criaturas sofredoras. Sofremos com o passado que se foi, com o futuro que tememos. Tudo porque somos muito mentais.
No que se refere às práticas que queremos tanto desenvolver (Morte do Ego, concentração, meditação, viagens astrais, magia sexual), podemos afirmar que o pensamento é absolutamente desnecessário e prejudicial. Ficar pensando no trabalho interior é não realizá-lo.
Não necessitamos pensar para nos observarmos, nem para levantar da cama e sair em astral. Tampouco necessitamos pensar para orar. A meditação é a busca do não-pensamento, pois Deus, a Grande Verdade, está muito além do corpo, dos afetos e... da mente!
Entendo que o desenvolvimento interior resulta, entre outras coisas interessantes, na capacidade de enfrentarmos as situações mais aterradoras da vida sem levarmos a mente ao negativo, ao desastre, sem pensarmos no pior. É uma capacidade que somente alguns poucos homens possuem e que se consegue somente com a morte do Ego. Por isso a Morte é tão importante.
Limpemos a mente continuamente, a todo momento. A auto-observação não pode ser realizada se a mente estiver suja. Se ficarmos pensando, como poderemos enxergar? Descobrir novas facetas do ego no cotidiano requer lucidez, observação atenta, as quais não são possíveis se estivermos pensando. O trabalho sobre a mente é, portanto, fundamental.
Na origem de todos os problemas psíquicos e emocionais está a mente. Na mente está a origem do ego. Se alguém quiser descobrir detalhes do Eu, terá que domar a mente para poder focar a atenção sobre si mesmo. Surge aqui então um problema: como silenciar a mente?
Todos temos uma capacidade relativa de silenciá-la pela vontade, de suspender o pensar, ainda que seja por alguns poucos instantes. A capacidade se desenvolve com o exercício. É esta capacidade que exercitaremos e, à medida que formos morrendo, a iremos aumentando. Aqui não se trata de silenciar todos os níveis subconscientes, como se busca na meditação, pois não estamos tentando dissociar a essência livre dos pensamentos e sim observar os defeitos que afloram durante as relações sociais ou mesmo quando estamos sós. A meta, aqui, não é meditar e sim morrer. Na meditação, esquecemos completamente do eu, nos dissociamos dele para mergulhar no real. Na morte, da qual trata esta explicação que estou dando, observamos o eu para conhecê-lo. Então são dois casos distintos: em um caso nos esquecemos do eu e no outro nos ocupamos com ele, em um caso viramos as costas ao eu e no outro nos voltamos para ele. Mas em ambos os casos a mente irá tentar atrapalhar e impedir.
Observemos a nós mesmos de fora, como observaríamos uma outra pessoa, buscando compreender o que fazemos cada vez com mais clareza.

Fiquem com Deus

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O erro de adotar posturas negativistas

Um erro cometido por muitos de nós, estudantes gnósticos, a meu ver, foi tomar o ensinamento de modo negativista. A Gnosis não é, de modo algum, algo negativo e não cultiva a negatividade. Entretanto, muitos estudantes a tomaram sob esta perspectiva, abordando-a de modo pessimista. Ao invés de se ocuparem com a castidade, se ocuparam com a luxúria, ao invés de se ocuparem com o despertar, ocuparam-se com a inconsciência. Criamos o vício de prestar atenção no mal, de nos ocuparmos com ele e, desta forma, o energizamos.
O ensinamento dos Veneráveis Mestres é um ensinamento de regeneração e não um ensinamento derrotista. Eles nos ensinaram que existe uma Mãe Divina que liberta nossa alma dos pecados, que há um Pai que nos guia e contra o qual a escuridão não tem poder, que existem hierarquias que nos defendem quando estamos trabalhando. Também ensinaram que o desenvolvimento espiritual é perfeitamente possível ao homem, mesmo que se tenha um carma grave, desde que se mude de conduta, o que é perfeitamente possível quando se quer e se conhece os meios.
Entendo que a Gnosis é algo positivo, superior e otimista, sem ser alienante. Uma das razões pelas quais não avançamos é porque focamos a atenção no que não queríamos, ao invés de focá-la no que queríamos. Sempre demos muita importância ao que não deveria e, assim, energizamos o indesejável. Ficar pensando nos defeitos, ainda que com a boa intenção de estudá-los, é atraí-los e dar-lhes força. Damos forças ao mal quando nos ocupamos desnecessariamente com ele.
A Gnosis ensina que existe um Deus Único (Unidade Absoluta), de onde se origina toda a criação, todos os mundos, todas as hierarquias e todos os Eons. Esta Grande Origem tem o nosso Real Ser como uma de suas múltiplas manifestações. O caminho para o retorno é amoroso: temos que amar a Deus sobre todas as coisas. O que é amar o Divino? É querer unir-se, estar junto, em comunhão, fazendo a Sua vontade. É querer fazer a vontade do Pai e não a nossa. Amar a Deus é chorar por Sua presença, é não aceitar Sua distância. É sentir com todo o coração e com toda a alma um ardente desejo de Ser. É o caminho da emoção superior. Amá-lo sobre todas as coisas é amá-lo mais do que amamos a este mundo de vãs ilusões que passam, é amá-lo em sua Eternidade, porque Ele é o Eterno, o Imutável, o Ser. Quem ama a Deus mais que a tudo, deseja ir embora deste mundo e viver com Ele para sempre. Estou usando termos masculinos (Deus, Ele), mas Deus está além dos gêneros, é Andrógino: Alfa e Ômega, duas polaridades em uma. Sua manifestação feminina é a Mãe Divina, que vemos em todos os cultos ancestrais da Terra.
Amar a Deus é também confiar, pedir e descansar na confiança. Se confiamos em nosso Pai Interno e em nossa Mãe Divina, não poderemos de modo algum ter uma visão pessimista da vida, não há espaço para o desespero, não importa o que esteja acontecendo. Se amarmos sinceramente nosso Ser, Ele nos salvará, resgatará nossa alma do pecado, a atração fatal da matéria, se comunicará conosco por diversos sinais e não seremos obrigados a acreditar nas pregações de líderes religiosos, pois estaremos bebendo da água da vida na fonte. Ele nos dará a comprovação e a experiência direta, e não teremos que acreditar em homens. Teremos uma fé verdadeira, apoiada na experiência espiritual direta, e não uma simples crença ou crendice.
O conhecimento espiritual e a fé verdadeira estão ao alcance de qualquer pessoa que os busque sincera e corretamente. Uma simples oração é respondida de diversas formas, mas, por sermos sempre tão negativos, pessimistas e céticos, simplesmente não vemos as respostas, já que focamos nossa atenção no mal e não no bem. É claro que aqui na Terra o mal existe e não podemos negligenciá-lo, mas tampouco devemos dar-lhe forças ocupando-nos com ele desnecessariamente.
Por muito tempo, cometi o erro de ser pessimista e ressaltar a negatividade, sob a justificativa de "tentar melhorar". Na verdade, tal postura tem o efeito de atrair e reforçar justamente o que não queremos.
Quanto mais exercitarmos a fé em Deus, mais ela se desenvolverá e é somente por meio da fé que podemos avançar espiritualmente.
Para sermos socorridos por nossa Mãe Divina e por nosso Pai que estão nos céus, é imprescindível amá-los e nEles confiar.
Os efeitos prejudiciais do derrotismo é bem apontado pelo V.M. Samael neste texto:
"O animal intelectual, falsamente chamado homem, tem a idéia fixa de que a aniquilação total do Ego, o domínio absoluto do sexo e a Auto-Realização Íntima do Ser são coisas fantásticas e impossíveis, e não se dá conta de que esse modo de pensar tão subjetivo é fruto de elementos psicológicos derrotistas que dirigem a mente e o corpo daqueles que não despertaram a consciência.
As pessoas desta época caduca e degenerada carregam em seu interior um agregado psíquico que é um grande estorvo no caminho da aniquilação do Ego: o Eu do derrotismo.
Os pensamentos derrotistas incapacitam as pessoas de elevar sua vida mecânica a estados superiores. A maioria das pessoas consideram-se vencidas já antes de iniciar a luta ou o trabalho esotérico gnóstico.
Temos que nos auto-observar e auto-analisar para descobrir dentro de nós mesmos, aqui e agora, essas facetas que constituem isso que se chama derrotismo.
Sintetizando, diremos que existem três atitudes derrotistas comuns:
1) Sentir-se incapacitado por falta de educação intelectual.
2) Não sentir-se capaz de iniciar a Transformação Radical.
3) Andar com a canção psicológica: nunca tenho oportunidades de mudar ou triunfar.

PRIMEIRA ATITUDE

Quanto a sentir-se incapacitado por uma falta de educação, temos de nos lembrar que todos os grandes sábios como Hermes Trimegisto, Paracelso, Platão, Sócrates, Jesus Cristo, Homero, etc, nunca foram à universidade. Na realidade e de verdade, cada pessoa tem seu próprio Mestre, sendo este seu próprio Ser, “isso” que está além da mente e do falso racionalismo. Não se confunda educação com sabedoria e conhecimentos.

O conhecimento específico dos mistérios da vida, do cosmos e da natureza é uma força extraordinária que nos permite conseguir a revolução integral.

SEGUNDA ATITUDE

Os robôs programados pelo anti-Cristo - a ciência materialista - sentem-se em desvantagem porque não se sentem capazes. Isto deve ser analisado. O animal intelectual, por influência de uma falsa educação acadêmica que adultera os valores do Ser, fez com que em sua mente sensorial existam dois terríveis eus que devem ser eliminados: a idéia fixa: “vou perder”, e a preguiça para praticar as técnicas gnósticas a fim de adquirir os conhecimentos necessários para emancipar-nos de toda a mecanicidade e sair, de uma vez por todas, dessa tendência derrotista.

TERCEIRA ATITUDE

O pensar do homem-máquina é: nunca me dão oportunidades...
As cenas da existência podem ser modificadas. É a pessoa mesmo que cria suas próprias circunstâncias. Tudo é resultado da Lei de ação e consequência, mas com a possibilidade de que uma lei superior transcenda uma lei inferior.
É urgente, é improrrogável, a eliminação do eu do derrotismo. Não é a quantidade de teorias o que conta e sim a quantidade de super-esforços que se façam no trabalho da Revolução da Consciência. O homem autêntico fabrica no momento que quiser as ocasiões propícias para o seu adiantamento espiritual ou psicológico."

(A Revolução da Dialética, cap. 7, "O derrotismo")

As experiências da vida condicionam o inconsciente. Se tenho pavor de batatas, imagino que sejam perigosas. Se imagino que sejam perigosas, sonho com batatas ameaçadoras e monstruosas. Se tenho tais sonhos, é porque me condicionei inconscientemente a vê-las de tal modo. E me condicionei porque tive experiências desagradáveis com batatas. Para descondicionar-me, tenho que repassar conscientemente todo o processo para resignificá-lo.
Se me considero um fracasso na meditação e na morte do Ego, minhas práticas não terão resultado algum devido a tal condicionamento inconsciente. Experiências passadas necessitam ser acessadas e corrigidas.
Nosso inconsciente foi programado para acreditar que o desenvolvimento espiritual é impossível, que não existem tais possibilidades no homem, que a realidade se limita ao sensorial etc.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Tarefas práticas

Para quem ainda não entendeu a morte do ego, algumas propostas práticas que podem ajudar:

1. Primeira proposta:

Observe-se durante um dia inteiro ou durante algumas horas, à procura dos pensamentos, atos, frases, movimentos etc. que de algum modo alimentarem um defeito (por exemplo, a ira). Anote-os e depois releia. Esses canais de alimentação que você descobriu são os detalhes ou facetas do defeito observado. Rasque ou queime as anotações depois, pois isso não é da conta de ninguém.

2. Segunda proposta:

Observe, durante outro dia, as pequenas reações de todo tipo que você tem perante as situações, pessoas etc. Anote essas reações e releia depois. Aí estão vários detalhes descobertos.

Entendeu? É simples assim: apenas olhar para si mesmo e ver.

O que se faz com esses detalhes, uma vez descobertos? Pede-se por sua morte à Mãe Divina. Você deve pedir instantaneamente, no mesmo instante em que os vê, e não esperar para depois. Peça pela morte deles em plena manifestação, sem reprimí-los mas também sem satisfazê-los.

3. Outra proposta: corte toda alimentação de um defeito por um tempo, com esse procedimento da Morte em Marcha, e observe os resultados. Você comprovará que ele se enfraquece, perde o poder sobre você.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ego e distorções cognitivas

Todo defeito corresponde a uma visão distorcida da realidade. Por isso se diz que os egs são "os elementos subjetivos das percepções" (V.M.S.).
Um defeito é uma cognição condicionada, distorcida, que resiste às simples tentativas voluntárias de corrigí-la. Um homem pode compreender intelectualmente que um vício o prejudica, mas ainda assim, este vício permanecerá atormentando-o, pois a porção de sua psique correspondente ao vício (a parte que sente o desejo) entende as coisas de modo diferente.
O ego correspondente a um vício considera este mesmo vício algo maravilhoso. Daí a necessidade de compreendermos o defeito, se quisermos eliminá-lo. Quando se trabalha com a morte em marcha, esta compreensão vai se configurando naturalmente, como resultado da observação constante.
Se prestarmos atenção, perceberemos que os defeitos distorcem nossa percepção da realidade. Por exemplo: um luxurioso não vê o sexo e nem as mulheres tal como são, de forma objetiva, mas sim de forma subjetiva e distorcida, os vê de acordo com a ótica do eu da luxúria. É uma visão condicionada da qual o luxurioso não escapará a menos que dissolva a causa do problema: o ego. O mesmo se passa com a ira, a inveja e os demais defeitos que tenhamos.
O Ego não permite ao ser humano enxergar a realidade, distorce tudo e faz com que vivamos em um mundo de ilusões e mentiras. Por isso é tão importante destruí-lo.

Um pouco sobre o medo

O medo é um sentimento/emoção poderoso que invade a alma e vincula-se, assim como os outros defeitos, a um condicionamento da cognição. A pessoa atemorizada está com o entendimento distorcido e não consegue recobrar a lucidez. No fundo, subconscientemente, acredita que o medo poderá alterar favoravelmente a situação, o que é falso.
A pessoa atemorizada não compreende, em profundidade, que o medo, em si mesmo, não a beneficia em nada e não melhora o problema que o origina. Mesmo que tente fazê-lo, não conseguirá, visto que seu entendimento está condicionado, ou seja, sua consciência está embotelhada. O medo não salva e nem transforma o problema para melhor. Ele é, portanto, inútil. Ainda assim, o atemorizado acredita inconscientemente na necessidade do medo. Essa crença é algo autônomo, não obedece à simples vontade e não adianta simplesmente determinar-se a não temer.
Explorando o medo, descobriremos vários canais que o alimentam: muitas atitudes, movimentos, falas, pensamentos etc.
A eliminação do medo requer a morte do defeito psicológico que o origina e a transmutação da energia sexual, visto que o descarregamento energético do corpo leva a pessoa a se sentir exposta, vulnerável.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Tranquilidade na concentração

O relaxamento é uma das partes mais importantes da meditação e não deve ser negligenciado. Aperfeiçoar a meditação não é somente aperfeiçoar a concentração, é também aperfeiçoar o relaxamento.

Por meio do relaxamento, damos início ao processo de "desligamento" do corpo físico e do mundo exterior. Ao aprofundá-lo, começamos a rumar em direção ao vazio.

A concentração/meditação não é algo que acontece pela oposição e nem pelo empenho de ser contrário ao seu oposto (a desconcentração e a atividade mental dispersa dos vários pensamentos). Não se trata de ir contra nada. A concentração é simplesmente uma continuidade do relaxamento, sua continuação além do nível muscular. Há, entre o relaxamento e a concentração, um continuum.

São palavras que exprimem mais ou menos a correta concentração: esvaziar, acabar, relaxar, desfazer, sumir, cair no vazio, tranqüilizar-se, morrer (por que não?) e sumir, sumir, sumir... Ainda assim a consciência é preservada, ela não se vai, a percepção continua. São palavras que exprimem o que se sente no processo: relaxar, desfazer-se, desprender-se, desaparecer, desligar-se de tudo, até o fim...

Concentrar-se não é criar conflitos com os pensamentos. A concentração não é uma oposição aos milhares de pensamentos que nos distraem, é uma continuidade do relaxamento, a qual nos faz cair ao pensamento único, nos leva para dentro dele. E a meditação não é nenhum trabalho de esforço mas, pelo contrário, um trabalho de não esforço, de entrega e de desprendimento total.

Concentrar-se é desprender-se da mente, dos milhares de pensamentos e distrações e não envolver-se com os mesmos em uma luta. É um abandono.

Quando os mestres se referem ao esforço, estão se referindo ao empenho e à dedicação, à disciplina de fazer algo sempre, com constância e continuidade, mas não, de modo algum, à tensão. Eles não se referem a nenhum tipo de tensão, portanto o esforço não deve ser entendido como sinônimo de tensão.

Concentrar-se não é forçar a atenção, é dirigi-la. Dirigir a atenção não é forçá-la, é escolher um alvo e voltá-la para o mesmo.

Quanto mais concentrados estivermos, mais soltos e vazios estaremos.

Concentração não é tensão mental de nenhum tipo, é uma questão de escolha. Escolher não é sinônimo de tensionar-se.

Conforme a concentração se aprofunda, o relaxamento atinge níveis sub/inconscientes. A concentração é acompanhada pelo descanso cada vez maior dos centros emocional e intelectual.

Um monge que atinge profunda e intensa concentração seguiu um caminho contrário ao do esforço e da tensão mental.

Não é correto falar de relaxamento mental porque temos muitas mentes. Mas podemos definir a concentração profunda como relaxamento, descanso e inatividade dos centros emocional e intelectual.

Não se consegue reduzir a atividade dos centros mediante o esforço, mas sim mediante o não-esforço. O trabalho de concentrar-se é o trabalho de acabar com os esforços para concentrar-se.

Direcionar a atenção é mantê-la de forma "plena, natural e espontânea em algo que nos interessa, sem artifício de espécie alguma"(1). O esforço e a tensão são artifícios que bloqueiam a concentração, por não permitirem que a atenção seja plena, natural e espontânea.

A palavra "esforço" tem duplo sentido. Em seu sentido usual no ocidente, evoca a idéia de tensão e ansiedade. Entretanto, há também outro significado: dedicação, empenho. Quando os V.V.M.M. se referem ao esforço e ao super-esforço, estão se referindo à dedicação, à constancia, à tenacidade e à disciplina e não à teimosia, à tensão, ao desespero por resultados, à ansiedade.

É necessário buscar a concentração de forma tranquila, intensificando a sensação de tranquilidade. Precisamos ter a tranquilidade como um caminho a ser seguido, como um guia: se a tranquilidade se perturba, estamos nos desviando do curso.

A concentração é a atenção plena, natural e espontânea (V.M.S.). O fio condutor desta atenção plena no objeto não é o esforço e sim a tranquilidade; quanto mais concentrados, mais calmos estaremos.

O esforço é perturbação. A mais leve perturbação ou ansiedade tem que ser evitada. Ansiedade por concentrar-se, por ter êxito na prática, é perturbação.

Nossa cultura ocidental, infelizmente, associa idéias de esforço, preocupação e tensão às palavras "alerta", "atenção" e "concentração". Isso conduz ao erro de acreditar que concentrar-se é fazer esforço e lutar contra os múltiplos pensamentos em favor de um só pensamento. A concentração que conduz à meditação, entretanto, é o aprofundamento do relaxamento.

Quando alguém vê um monge em concentração e meditação profundas, imagina que ela está fazendo intensos esforços. Na verdade é contrário: todo seu empenho é em não realizar esforço algum. Ele eliminou todos os esforços, todas as tensões, todas as preocupações, caiu no esquecimento.

O relaxamento é a soltura total no nível muscular. A concentração é a continuidade desta soltura no plano psíquico. É por isso que o V.M. Samael, referindo-se à concentração no mantram Fa - Ra - On, diz:

"Evitad toda la tensión mental y adormeèzcase" (2)

Portanto, concentrar-se é aprofundar a soltura, entregando-se ao pensamento único. É deixar-se levar, sumir-se, acabar-se naquele pensamento, viajar nele. Em tal processo não se perde a lucidez, muito pelo contrário: a lucidez aumenta.

Notas:

(1) V.M.Samael Aun Weor. O Mistério do Áureo Florescer
(2) V.M.Samael Aun Weor. Meditación y Gnosticismo Práctico. Conf. "Naturaleza practica del mensaje de acuario"