O relaxamento é uma das partes mais importantes da meditação e não deve ser negligenciado. Aperfeiçoar a meditação não é somente aperfeiçoar a concentração, é também aperfeiçoar o relaxamento.
Por meio do relaxamento, damos início ao processo de "desligamento" do corpo físico e do mundo exterior. Ao aprofundá-lo, começamos a rumar em direção ao vazio.
A concentração/meditação não é algo que acontece pela oposição e nem pelo empenho de ser contrário ao seu oposto (a desconcentração e a atividade mental dispersa dos vários pensamentos). Não se trata de ir contra nada. A concentração é simplesmente uma continuidade do relaxamento, sua continuação além do nível muscular. Há, entre o relaxamento e a concentração, um continuum.
São palavras que exprimem mais ou menos a correta concentração: esvaziar, acabar, relaxar, desfazer, sumir, cair no vazio, tranqüilizar-se, morrer (por que não?) e sumir, sumir, sumir... Ainda assim a consciência é preservada, ela não se vai, a percepção continua. São palavras que exprimem o que se sente no processo: relaxar, desfazer-se, desprender-se, desaparecer, desligar-se de tudo, até o fim...
Concentrar-se não é criar conflitos com os pensamentos. A concentração não é uma oposição aos milhares de pensamentos que nos distraem, é uma continuidade do relaxamento, a qual nos faz cair ao pensamento único, nos leva para dentro dele. E a meditação não é nenhum trabalho de esforço mas, pelo contrário, um trabalho de não esforço, de entrega e de desprendimento total.
Concentrar-se é desprender-se da mente, dos milhares de pensamentos e distrações e não envolver-se com os mesmos em uma luta. É um abandono.
Quando os mestres se referem ao esforço, estão se referindo ao empenho e à dedicação, à disciplina de fazer algo sempre, com constância e continuidade, mas não, de modo algum, à tensão. Eles não se referem a nenhum tipo de tensão, portanto o esforço não deve ser entendido como sinônimo de tensão.
Concentrar-se não é forçar a atenção, é dirigi-la. Dirigir a atenção não é forçá-la, é escolher um alvo e voltá-la para o mesmo.
Quanto mais concentrados estivermos, mais soltos e vazios estaremos.
Concentração não é tensão mental de nenhum tipo, é uma questão de escolha. Escolher não é sinônimo de tensionar-se.
Conforme a concentração se aprofunda, o relaxamento atinge níveis sub/inconscientes. A concentração é acompanhada pelo descanso cada vez maior dos centros emocional e intelectual.
Um monge que atinge profunda e intensa concentração seguiu um caminho contrário ao do esforço e da tensão mental.
Não é correto falar de relaxamento mental porque temos muitas mentes. Mas podemos definir a concentração profunda como relaxamento, descanso e inatividade dos centros emocional e intelectual.
Não se consegue reduzir a atividade dos centros mediante o esforço, mas sim mediante o não-esforço. O trabalho de concentrar-se é o trabalho de acabar com os esforços para concentrar-se.
Direcionar a atenção é mantê-la de forma "plena, natural e espontânea em algo que nos interessa, sem artifício de espécie alguma"(1). O esforço e a tensão são artifícios que bloqueiam a concentração, por não permitirem que a atenção seja plena, natural e espontânea.
A palavra "esforço" tem duplo sentido. Em seu sentido usual no ocidente, evoca a idéia de tensão e ansiedade. Entretanto, há também outro significado: dedicação, empenho. Quando os V.V.M.M. se referem ao esforço e ao super-esforço, estão se referindo à dedicação, à constancia, à tenacidade e à disciplina e não à teimosia, à tensão, ao desespero por resultados, à ansiedade.
É necessário buscar a concentração de forma tranquila, intensificando a sensação de tranquilidade. Precisamos ter a tranquilidade como um caminho a ser seguido, como um guia: se a tranquilidade se perturba, estamos nos desviando do curso.
A concentração é a atenção plena, natural e espontânea (V.M.S.). O fio condutor desta atenção plena no objeto não é o esforço e sim a tranquilidade; quanto mais concentrados, mais calmos estaremos.
O esforço é perturbação. A mais leve perturbação ou ansiedade tem que ser evitada. Ansiedade por concentrar-se, por ter êxito na prática, é perturbação.
Nossa cultura ocidental, infelizmente, associa idéias de esforço, preocupação e tensão às palavras "alerta", "atenção" e "concentração". Isso conduz ao erro de acreditar que concentrar-se é fazer esforço e lutar contra os múltiplos pensamentos em favor de um só pensamento. A concentração que conduz à meditação, entretanto, é o aprofundamento do relaxamento.
Quando alguém vê um monge em concentração e meditação profundas, imagina que ela está fazendo intensos esforços. Na verdade é contrário: todo seu empenho é em não realizar esforço algum. Ele eliminou todos os esforços, todas as tensões, todas as preocupações, caiu no esquecimento.
O relaxamento é a soltura total no nível muscular. A concentração é a continuidade desta soltura no plano psíquico. É por isso que o V.M. Samael, referindo-se à concentração no mantram Fa - Ra - On, diz:
"Evitad toda la tensión mental y adormeèzcase" (2)
Portanto, concentrar-se é aprofundar a soltura, entregando-se ao pensamento único. É deixar-se levar, sumir-se, acabar-se naquele pensamento, viajar nele. Em tal processo não se perde a lucidez, muito pelo contrário: a lucidez aumenta.
Notas:
(1) V.M.Samael Aun Weor. O Mistério do Áureo Florescer
(2) V.M.Samael Aun Weor. Meditación y Gnosticismo Práctico. Conf. "Naturaleza practica del mensaje de acuario"
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