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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Concentração: preenchendo a mente com conteúdos superiores


Vamos voltar um pouco ao assunto dos conteúdos mentais.

A mente pensa com facilidade no aspecto negativo e sinistro da vida, nele se concentrando com extrema facilidade. Qualquer pessoa que tenha um problema grave sabe do que estou falando. A concentração da mente nos problemas e desgraças faz com eles aumentem de forma espantosa, o que leva pensamentos e emoções ruins a tomarem conta do cérebro, do sistema nervoso e do corpo. Ocupar-se com os maus pensamentos para tentar erradicá-los não é um bom negócio. Melhor é ocupar-se com pensamentos elevados.

Um motivo pelo qual a mente se ocupa facilmente com o mal é a crença inconsciente de que se pode atenuá-lo através de tal procedimento.  A mente realmente acredita que é necessário pensar nas coisas ruins para melhorá-las. Quanto mais pensarmos no mal, mais afundaremos em pensamentos negativos.

Sintonizar-se com os aspectos superiores da vida e do universo é possível quando pensamos no que é superior ao invés de pensar no que é inferior e terrível.


A mente humana pode ser considerada como a substância ou matéria (manas) que compõe os pensamentos e imaginações. Os conteúdos dos pensamentos são adquiridos ao longo da vida, desde a infância. Isso significa que aquilo que se passa em nossa cabeça é resultado de múltiplas e infinitas combinações de elementos capturados sensorialmente e retidos na cabeça, sob a forma de representações.

Quem prestar atenção em seus próprios pensamentos perceberá que são constituídos principalmente por imagens de tipo visual e por representações de tipo sonoro. "Vemos" e "ouvimos" cenas e acontecimentos na tela da mente.

Se ficarmos um dia inteiro passeando em uma praia, à noite perceberemos imagens mentais da areia, das ondas. Se passarmos o dia em uma floresta, as imagens serão de árvores, de folhas e coisas assim. Quando algo nos impressiona muito, seja positivamente ou negativamente, imagens correspondentes ficarão em nossa mente. Basta fecharmos os olhos e as veremos, pois tais imagens podem ser vistas pela clarividência incipiente que todas as pessoas comuns possuem.

Algo similar acontece com os sons. Os sons que ouvimos na vida formarão pensamentos "sonoros", sendo sua principal forma a tagarelice interior. Nas cenas mentais, nós falamos e outras pessoas falam. A mente imagina milhares de situações em que discursamos, discutimos, conversamos, perguntamos, brigamos etc. Tais pensamentos usam o recurso do idioma (português, inglês, francês etc.) para se processarem. Um latino-americano pensará em espanhol ou português. Um oriental pensará em árabe, japonês, chinês ou sânscrito. O idioma aprendido desde a infância serve como base para a tagarelice inútil da mente.

Além das tagarelices internas, merecem destaque as músicas insistentes que invadem a mente e "ficam na cabeça". Às vezes tais músicas se repetem por dias a fio, sem dar descanso. Tais músicas entraram na mente no momento em que as ouvimos e nos identificamos. Em geral, são músicas que detestamos ou das quais gostamos muito. Uma música pela qual nutrimos indiferença dificilmente se fixará na cabeça. Um bom antídoto para o problema é ouvirmos os sons da natureza por um longo tempo, deixando que impregnem a mente. Mantrans vocalizados por longo período também costumam ajudar. O que importa é substituir os sons indesejáveis pelos desejáveis.

Os sons mentais são recordações de sons ouvidos ao longo da vida, sob múltiplas combinações. O silêncio mental é a ausência de sons mentais. Um surdo de nascimento não terá tagarelices interiores e nem ouvirá sons mentais, embora tenha muitas representações mentais de conteúdos visuais.

O silêncio absoluto da mente somente é alcançado no samadhi. Na concentração existe um silêncio relativo. Os sons mentais não são os autênticos sons dos mundos internos, são projeções. Os verdadeiros sons dos mundos internos estão além dos sons mentais e da tagarelice mental. No entanto, os sons e as imagens percebidos durante a fase da concentração servem como guia, como barco para atravessarmos o oceano da mente e depois descartá-lo. As imagens internas com sons não-verbais se convertem, após a fase da concentração, em visões.

Portanto, aquilo que nos impressiona se transforma em conteúdo mental e imaginativo. Convém prestarmos atenção e tomarmos cuidado com o que presenciamos, vemos e vivenciamos. Se queremos aprender a nos concentrar e a meditar, não podemos encher nossa mente com lixo.

Se eu passar um dia inteiro presenciando cenas inferiores e negativas, sejam ao vivo, no computador ou na televisão, à noite não poderei me concentrar em outras coisas. As cenas com que preenchi minha mente irão atormentar durante a prática. No entanto, se eu passar o dia andando em uma praia, à noite poderei me concentrar com certa facilidade em praias e até ter alguns sonhos relacionados. Tudo terá sido voltado para a mesma direção. Temos que aprender a direcionar a mente e parte deste trabalho consiste em cultivar nela aquilo que nos interessa espiritualmente.

Uma das chaves para a concentração é o esquecimento de tudo. Não poderemos esquecer algo se o ficamos cultivando durante a vida.

Sempre que alguém pensar muito em algo, sentirá emoções correspondentes. Se pensar em algo ruim, sentirá emoções e desejos ruins e baixos. Se pensar em algo bom e superior, sentirá emoções elevadas e superiores.

Quando aprendemos a pensar em uma só coisa por um tempo prolongado, o pensamento único toma conta da mente. Emoções correspondentes ao tema pensado são sentidas e, em etapas profundas, nos unimos ao objeto.

O tema da concentração pode e deve ser algo bom que nos interesse: o Senhor Jesus, o Senhor Buda, o Senhor Krishna, o sol, o céu. Podem também ser temas abstratos, como a nossa origem e destino.

Em uma primeira etapa, somente pensamos no tema. Posteriormente, percebemos imaginativamente o objeto de forma nítida e sentimos vivamente as emoções correspondentes. Por último, ultrapassamos a distinção que nos separa do objeto. Tudo é questão de aprender a deixar que um pensamento único tome conta da mente, a impregne. O pensamento único é como uma porta que é atravessada quando é alcançada.

A capacidade de concentrar o pensamento, uma vez desenvolvida, pode ser direcionada a qualquer objeto sensível ou lugar. Posteriormente, pode ser direcionada àquilo que nos parece abstrato: o Atman, Deus ou Espírito Divino no homem.

Enquanto estivermos presos à mente, haverá necessidade de algo em que pensar. Somente quando escapamos da mente é que tais conteúdos se tornam desnecessários. Escapamos da mente durante o samadhi.

Neste universo fenomênico e relativo no qual vivemos, temos que pensar em coisas boas ou então pensaremos em coisas ruins. No entanto, além dos bons pensamentos da concentração, está o não-pensamento do samadhi. O não-pensamento autêntico é a forma mais elevada de pensar que existe.

Concentração: a importância de escolher adequadamente o lakshya

Alguns temas são facilmente penetráveis pela mente, enquanto outros são de difícil penetração. Um tema facilmente penetrável é um tema no qual conseguimos pensar com facilidade durante um certo tempo, sem esforço. A mente flui com facilidade dentro do tema e seus vários aspectos vão se revelando progressivamente. Infelizmente, a maioria dos temas facilmente penetráveis são ruins, negativos e nos conduzem perigosamente a estados indesejáveis e prejudiciais.  As fantasias sexuais são um exemplo de tema facilmente penetrável porém destrutivo. 

Por que alguns temas são facilmente penetráveis? Porque neles pensamos há bastante tempo e deles gostamos. Quando estamos acostumados a pensar constantemente em um tema, a mente flui com facilidade devido aos sanskaras criados. A mente pensa com facilidade naquilo que está acostumada a pensar, mas empaca quando queremos que pense em algo fora dos seus trilhos. Além disso, é mais fácil pensar prolongadamente em um tema geral e amplo do que em um tema específico e singular. Por exemplo: é mais fácil pensar demoradamente em múltiplas técnicas de luta do que em uma certa luta específica de Yip Man. Quando pensamos em um tema geral e amplo, os diversos subtemas surgem por associação e a mente flui dentro do objeto com certa facilidade, por este não ser tão restrito. 

Por outro lado, há temas de difícil penetração: são, normalmente, os temas com os quais pouco nos ocupamos, que rejeitamos, que nos enfastiam, incomodam ou irritam. Podem também ser temas muito singulares e específicos. Quando tentamos nos concentrar, o fluxo de idéias rapidamente se esgota e experimentamos um fastio irritante. Se tentarmos forçar as coisas, obrigando a mente a pensar, podemos adquirir um pouco dor de cabeça. A dor de cabeça na concentração advém quando tentamos arrebentar violentamente os sanskaras (condicionamentos mentais). O ideal é descondicionar a mente gradativamente e não tentar fazê-lo com violência.

Os praticantes de concentração e meditação provavelmente estarão cientes do fato de que os pensamentos costumam se esgotar (sem que a mente esteja silenciada) quando tentamos concentrá-los em algo difícil. O fluxo dos pensamentos, que deveria fluir em torno do lakshya, deixa de correr e faltam-nos pensamentos sobre o assunto, apesar de sobrarem pensamentos a respeito do que não nos interessa no momento. 

Após alguns poucos pensamentos, nada mais nos ocorre sobre o tema, mas muitos pensamentos intrusos aparecem e nos desviam. A mente não silenciou de forma geral, não esgotou o processo do pensar, simplesmente se recusou a pensar no que havíamos escolhido. O asno está teimando: não quer pensar no assunto, mas pensa em muitíssimas coisas inúteis que não interessam no momento. A mente deixa de pensar no lakshya para pensar em outros temas, desviando-nos do objetivo. A mente atira para todo lado e não se fixa em um alvo. Não será possível escapar da mente e atingir o silêncio mental se antes não direcionarmos o fluxo dos pensamentos em uma só direção.

Nesses casos, a pessoa nem sequer começa a se concentrar direito e logo já lhe faltam conteúdos para prosseguir com a prática. A pessoa procura e procura, mas não lhe ocorre nada mais além do que já é conhecido a respeito. De tanto repassar as mesmas informações, o praticante termina desistindo e deixando a prática para depois. O motivo: ele não tinha muito o que pensar a respeito do objeto escolhido e isso facilitou a invasão por pensamentos intrusos.

Essa interrupção do fluxo mental nada tem a ver com o silêncio da mente, muito pelo contrário, trata-se de uma teimosia do asno, que quer insistentemente pensar em outras coisas. A mente não está em silêncio, somente se recusou a pensar no lakshya para poder pensar em milhares de besteiras.

Para minimizar esta sabotagem específica do asno (de recusar-se a pensar no lakshya), podemos nos valer dos seguintes meios:

1. escolher um tema a respeito do qual tenhamos muita informação;

2. escolher um tema que nos agrade ou interesse muito;

3. escolher um tema concreto que seja amplo, como o oceano, o céu, uma floresta, os Andes ou os Himalayas.

Temas concretos, amplos, familiares e/ou que nos interessem muito reduzem as chances do asno recusar-se a neles pensar. São temas adequados para aqueles que estão começando, cuja mente ainda não está disciplinada e pensa em demasia sobre o que não interessa (a maioria de nós). O principiante deve começar com temas de fácil penetração e, aos poucos, ir entrando em outros temas conforme seu poder de concentração se desenvolva. É claro que o ideal é atingir um estado em que pensemos pelo tempo que quisermos e sem esforço algum no Íntimo, no Atman, no Buddha, em Cristo ou em Deus, mas não podemos chegar ao objetivo de uma vez. Enquanto isso, nos contentemos em prolongar o pensamento nEles pelo tempo e com a profundidade que conseguirmos. 

O problema da falta de conteúdos a serem pensados sobre o objeto da concentração atrapalha muito. Se não tivermos pensamentos sobre o lakshya, milhares de pensamentos desvinculados e desviantes surgirão imediatamente. A mente trabalhará de forma subjetiva, sem meta, e não pensará profundamente em nada.

A forma usual da mente pensar é subjetiva: ela pensa um pouco sobre cada coisa e vai mudando de tema constantemente. O pensar profundo e direcionado é algo incomum, ao qual a mente não está acostumada. A mente pensa superficialmente e mariposeia sem parar. Parar em um tema para aprofundá-lo é algo novo e incomum para a mente. Ao longo da vida, nos acostumamos com o pensar superficial e subjetivo.

Entenda-se que por "pensar", neste texto, estou me referindo principalmente ao ato de imaginar. 

De acordo com o tema escolhido, experimentaremos imagens, recordações, conclusões e também emoções correspondentes. Por tal motivo, convém evitar pensar em temas inferiores, em assuntos negativos que nos arrastem para a degeneração, a depravação e a perdição. Temas sublimes, espirituais e relacionados com a natureza são recomendáveis. Temas prejudiciais podem ser de fácil penetração e permanência, mas os resultados não compensam. Muitas pessoas que cometeram crimes focaram o pensamento de forma destrutiva e se acostumaram tanto com aquilo, que não foram mais capazes de reverter o processo.

Assim como existe o êxtase espiritual sublime da alma, existe o transe obsessivo infernal da mente. Se cultivarmos os maus pensamentos, eles nos conduzirão ao abismo. Se cultivarmos o pensamento elevado, seremos conduzidos a vários céus. A queda no mal é uma espécie de concentração, realizado ao contrário, para a escuridão. Os vícios e falhas de caráter que todos temos são o resultado do cultivo dos maus pensamentos. A mente é como um cavalo: pode nos conduzir em várias direções. O que importa é aprender a pensar corretamente.

Quando avançamos um pouco na prática, não necessitamos de palavras ou idiomas para pensar, a mente flui com imagens e sons internos e intrínsecos ao objeto. Quando estivermos bem dentro do tema, completamente esquecidos de tudo o mais, estaremos em plena concentração.

Quando, de todas as maneiras, o Ego nos confunde e nos impede de escolher um lakshya, deixando-nos perdidos e indecisos, podemos resolver o problema simplesmente entregando a decisão ao Íntimo e escolhendo aleatoriamente qualquer um dos temas entre os quais estamos indecisos, sem raciocinar a respeito, escolhendo "como um louco escolheria". 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Amar a Deus e não ao mundo


O ser humano normalmente tem dificuldade para amar a Deus, pois ama muito a matéria. Estamos enamorados por maya, o mundo da ilusão. 

Em maya está a nossa fé: cremos cegamente que o mundo sensorial da matéria é a verdadeira realidade. Vemos os mundos espirituais como vagas possibilidades ou, quando muito, como mundos meio "vaporosos" ou "abstratos". Para a maior parte da humanidade, espiritual é sinônimo de não-concreto.  Por não termos experiência direta com os outros mundos, duvidamos, no fundo, de que possam ser reais. 

Quando estamos doentes, confiamos mais em uma intervenção física (cirurgia) ou química (remédios) do que em uma intervenção energética (orações e rituais). E como poderiam as orações dar resultado se a porta para o Espírito está bloqueada? A falta de resultados com as orações reforçam nossas crenças e afundamos mais ainda no materialismo.

A idéia de que a energia seja matéria em outro estado é professada por muitos intelectualmente, mas poucos a sentem profundamente no coração ao ponto de realizarem prodígios. No fundo, desconfiamos que a energia seja menos real e menos concreta que a matéria.   

Portanto, amamos e temos mais fé na matéria do que no espírito. Essa é a trágica situação da humanidade. Para revertemos a situação, o caminho é a experiência direta e consciente com os mundos espirituais e com as forças que atuam na natureza e no universo. Orações, rituais, auto-conhecimento, meditação e viagens astrais romperão com o unilateral ceticismo materialista.

Não poderá amar a Deus quem está apaixonado pela matéria. Não deixará de estar apaixonado pela matéria quem a considerar a essência da realidade. 

Amar a Deus é amar Àquilo que temos de melhor dentro, de mais elevado, de sublime, nosso próprio Espírito. Se o Espírito Divino do Homem emana de Deus, então é óbvio que possui Sua mesma Natureza Divina. Os impulsos elevados provém de Deus. Quem quer ser capaz de amar o Deus Universal e Cósmico, deve começar aprendendo a amar o seu próprio Íntimo, que é o próprio Deus Cósmico dentro do ser humano.

Se Deus é onipresente, então está em todos os lugares. Se está em todos os lugares, está em toda matéria. Isso significa que Deus jaz no homem, no animal, na planta, na pedra, nos ventos, nos rios, no raio, no trovão, nas estrelas, nos planetas e em tudo. O Deus Universal é o Deus da Criação. Como podem aqueles que se dizem seus servos não reconhecê-lo na natureza e até lhe lançarem anátemas?

Há, no ser humano, assim como no resto da criação, um aspecto superior que é o próprio Deus em manifestação. Temos que fazer uma opção: ou amamos o Ego e a matéria ou amamos o Espírito. Do Ego provém os impulsos de satisfação sensorial e o amor pela matéria. Do Espírito provém os impulsos de auto-superação, de elevação, de crescimento espiritual, de unir-se à criação, de conhecer e viver nos céus, de libertar a alma dos desejos, de libertar a humanidade do sofrimento. O Espírito impele para cima e para s união com o Todo. O Ego impele para baixo e para a separação do Todo. Acreditamos que somos diferentes dos demais seres por causa da ilusão de separatividade projetada pelo Ego.

As frequências de energia existentes no universo e em nosso corpo são infinitas e nem de longe os cientistas as conhecem. Muito acima dos raios ultravioleta e dos raios gama, existem as frequências energéticas que compõem os universos divinos. Os universos divinos são concretos e materiais, porém vibram em frequências altíssimas. Talvez um dia essa humanidade tenha algum vislumbre grosseiro desses mundos.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Concentração: as emoções e o fluxo dos pensamentos


A mente flutua e se ocupa com vários assuntos de acordo com os desejos e emoções que os mesmos proporcionam. Os pensamentos são acompanhados por emoções: ao pensarmos em algo, sentiremos emoções correspondentes. 

Quanto mais prazer ou emoção sentirmos ao pensarmos em algo, por mais tempo pensaremos naquilo. Quando algo não nos dá prazer ou emoção alguma, torna-se impossível pensarmos naquilo por tempo prolongado. 

Um aluno não pensará profundamente e por longo tempo em uma matéria escolar detestável. Ainda que seja obrigado àquilo, o fará de forma forçada e superficial. Uma mulher não pensará em um homem que lhe pareça desinteressante ou sem graça e jamais se apaixonará pelo infeliz. 

Quando um tema não desperta nenhuma emoção ou interesse, a mente se recusa a nele pensar. Se tentarmos forçá-la, o fará por apenas alguns instantes. Um praticante que queira desenvolver a concentração não pode negligenciar esse fato.

Considerando o que foi acima exposto, vemos que a concentração não é algo frio e sem emoção. A prática da concentração não se restringe ao mero intelecto. O intelecto é somente o ponto de partida, o salto inicial. 

Em uma fase muito inicial, pensamos no lakshya usando a linguagem interna de forma analítica. Em seguida, dispensamos a "vozinha" e deixamos de usar o nosso idioma nativo para pensar, valendo-nos tão somente de imagens mentais. Após isso, deixamos o caráter analítico da prática e passamos a receber as características do objeto de forma puramente perceptual e instintiva. Nesta fase, estaremos nos valendo somente da percepção interna por via imaginativa e os sentidos já deverão estar desligados ou se desligando. A recepção perceptiva do lakshya exige certa atividade do chakra ajña (entrecenho) e começa a exercitá-lo. Quando estivermos "vendo" as cenas com os olhos fechados, como se estivéssemos com os olhos abertos, o chácara estará trabalhando. A concentração desenvolve a visão espiritual (vidência consciente ou clarividência).

Nesse ínterim, não podemos negligenciar as emoções. Ao pensarmos no tema, devemos nos abrir às emoções provocadas. Cada tema provoca emoções correspondentes e por isso convém escolher temas sublimes que nos encham de emoções superiores. 

Se nos concentrarmos no mar, os pensamentos e imagens relacionados provocarão emoções específicas, tais como a de estarmos na praia, mergulharmos, velejarmos, observarmos as criaturas marinhas ou sobrevoarmos os oceanos. As emoções "oceânicas" são o caminho ou princípio que nos conduzirá a emoções cada vez mais espirituais e profundas a respeito do assunto. Se as emoções nos preencherem, estaremos realmente sentindo o oceano. O chakra do coração (anahata) estará sendo exercitado, puxado a trabalhar. Quanto mais o chakra anahata trabalhar, mais desenvolvido ficará, maior será a intuição e mais intensas as emoções superiores.

O coração se desenvolve com o cultivo de emoções superiores. Quem cultiva emoções inferiores e negativas, desenvolverá o coração de forma negativa, seu chakra ficará parado ou irá girar cada vez mais ao contrário do que deveria. Seu pobre coração será uma porta aberta para egos cada vez mais pesados e perigosos. Em certos casos, egos de outras pessoas, vivas ou desencarnadas, obsessionam a pessoa, pois a mesma se tornou uma porta completamente aberta para os defeitos.

Se você tem a porta aberta para as emoções negativas, sugiro que comece a cultivar as emoções superiores de forma cada vez mais intensa e abandone as emoções inferiores.

As emoções são o segredo do avanço nas práticas de concentração e meditação. Por isso, segundo Sivananda, Patanjali recomenda que a pessoa se concentre naquilo que considera agradável e interessante. O V.M. Samael também afirma que a concentração é "atenção, plena natural e espontânea em algo que nos interessa, sem artifício de espécie alguma" (vide O Mistério do Áureo Florescer). De fato, a concentração em algo que nos interessa é a atenção naquilo que evoca emoções e prazer. Não há sentido em tentar concentrar-se em algo que não desperta interesse algum, o asno da mente não se atém àquilo.

Quando elegemos um tema como lakshya, de nada adianta tentarmos nos concentrar se não nos abrirmos para as emoções correspondentes. Quanto mais intensa for a emoção que liberarmos, mais a mente se prenderá ao tema e nele pensará longamente, esquecendo tudo o mais. Ao mesmo tempo, a visão espiritual e as emoções superiores estarão sendo postas em atividade e se desenvolverão.

Inicialmente pensamos. Depois o pensar se transforma em imaginar. Em seguida, o imaginar se transforma em perceber e sentir, os quais vão se aprofundando gradativamente.

Se você tiver alguns sonhos lúcidos com o seu lakshya, isto será perfeitamente normal e um sinal de avanço, mas não se contente com eles, prossiga.

Se quisermos nos concentrar no Senhor Jesus ou no Senhor Budha, não nos esqueçamos de buscar sentir as emoções que a prática irá evocar. Se quisermos nos concentrar na 9ª Sinfonia de Beethoven, não nos esqueçamos das emoções. As emoções nos prenderão àquilo que nos interessa. 

O desenvolvimento espiritual é o desenvolvimento do coração. E o desenvolvimento do coração é o desenvolvimento das emoções superiores. Sem as emoções, não existirão concentração, meditação e nem nada.

Nossa capacidade de sentir o superior está atrofiada. Passamos a vida gozando com o que é baixo, infernal, tenebroso e negativo. O caminho para reverter esse quadro nefasto é o cultivo do contrário. De nada adianta perder o tempo tentando reprimir as emoções negativas, melhor é substituí-las pelas emoções superiores.

Ao pensarmos nas características do objeto, convém tocar suas características levemente, sem esforços. Somente dar-se conta dos múltiplos e infinitos aspectos é suficiente. Fazer esforços para aprofundar a concentração é contra-indicado. Os pensamentos e imaginações devem fluir com a mesma leveza e naturalidade com fazem quando estamos distraidos com devaneios, com a diferença de que se dão conscientemente e não se desviam. A atenção será plena (sem desvios), natural e espontânea (sem esforços e sem conflitos com a mente). 

domingo, 20 de maio de 2012

Transmutação: quebrando o círculo vicioso da energia sexual

A fornicação é um círculo vicioso (orgasmo → enfraquecimento → recuperação → orgasmo).  Quem quer sair do círculo vicioso da fornicação deve dar um choque consciente em si mesmo. Do contrário, não pulará para uma nova oitava.

Os egos da luxúria não nos atacam logo após o orgasmo, porque o corpo está descarregado e não dispõe de energia para sustentar os processos fisiológicos sexuais, tais como excitação, ereção e outros. É algo similar ao que acontece com quem está extremamente cansado por muito esforço físico: ele não conseguirá brigar com ninguém. 

Há uma contradição no sexo: quanto mais forte nos sentimos sexualmente, mais assaltados somos pelo desejo e mais propensos a uma descarga energética estamos. Esse processo pode ser comparado a encher uma vasilha com água: quanto mais cheia, mais próxima de derramar. Quem transmuta sua energia evita que a vasilha se encha.

Quanto mais antecipadamente percebermos a aproximação de um desejo na mente, tanto mais facilmente podemos enfraquecê-lo mediante a Morte em Marcha. Se permitimos que um desejo se arraigue nos centros, ficará mais difícil enfraquecê-lo depois.

Ficar passivo, sem nada fazer, enquanto o desejo se manifesta e se arraiga, é o mesmo que auto-acorrentar-se para depois tentar se libertar.

Buscamos a Morte para não termos que satisfazer e nem reprimir. Não satisfaça e nem reprima: descubra, suplique e esqueça. Não fique procurando os defeitos, deixe que eles apareçam.

Transmutar a energia sexual é modificá-la, tornando-a mais leve, sutil e refinada. A energia que não é transmutada é inevitavelmente ejaculada ou sofre uma deterioração dentro do organismo.

O procedimento para transmutar a energia consiste em três coisas: purificação do erotismo, ato sexual sem orgasmo e condução da energia para dentro e para cima, por meio da imaginação.

A purificação do erotismo é conseguida por meio da morte da luxúria, o que substitui o desejo animal pelo impulso erótico espiritual. O redirecionamento da energia é conseguido por meio da prática do coitus reservatus ou magia sexual (maithuna). A energia é conduzida para dentro e para o alto por meio da imaginação e da respiração. A imaginação e a respiração a desviam dos canais ou caminhos orgásmicos.

A transmutação sexual é o choque que nos permite sair do círculo vicioso da fornicação. Quem não pode transmutar (solteiros, viúvos, doentes e demais impossibilitados) deve pelo menos sublimar seu erotismo com mantrans, respiração, concentração e meditação. A sublimação é o princípio da transmutação. Quando o(a) parceiro(a) for impossibilitado sexualmente, a pessoa pode praticar a carezza (carícias sem penetração), que é uma forma de transmutação mais superficial. Quem tem duas ou três mulheres, deve definir sua situação, escolher uma delas e desligar-se sexualmente das demais. Se o desligamento sexual não for possível sem o afastamento total, deve finalizar os relacionamentos.

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Todo homem sabe que, após uma ejaculação, o desejo arrefece. 

Antes do orgasmo, o homem desfruta de uma sensação de intenso vigor no órgão sexual. Após o orgasmo, o que se sente no órgão sexual é fraqueza, vazio e debilidade. Por mais que estejamos empolgados e excitados com a mulher, por mais louca que seja a fantasia sexual que estiver sendo satisfeita, o "morbo" desaparecerá completamente após um ato de fornicação. Não importa se a mulher é a mais linda do mundo, após a ejaculação o homem é um trapo.

Tal fato demonstra a relação intrínseca entre desejo e esperma: ao perder o esperma, esvai-se o desejo. Portanto, o desejo vincula-se estreitamente a presença do esperma dentro do organismo do homem. 

Sem o esperma, não há como acender o desejo. Uma mulher poderá lançar mão de todos os recursos existentes e disponíveis para excitar um homem após o esgotamento sexual, mas não terá sucesso. A excitação do homem não é possível ou é muito fraca após o orgasmo, o que indica que o aparelho fisiológico sexual necessita do combustível espermático para repetir suas façanhas.

Algum tempo após o orgasmo, o macho começa a sentir leves impulsos: começa a sentir algo ao olhar para as fêmeas. Isso indica que a energia está sendo aos poucos reposta. Tempos depois, estará novamente em ponto de bala: sentirá ereções e fortes excitações sexuais, pois sua energia terá sido reposta. Neste ponto crítico, o homem se deixa levar pelo desejo e repete o ciclo, caindo novamente na fornicação. Vivendo neste círculo vicioso, o homem passa os seus dias, até a impotência sexual total. 

Fica evidente, pelos fatos mencionados, que há alguma força especial no esperma, alguma energia, algo que se perde com ejaculação. Esse algo é a força sexual ou energia criadora. Quanto maior a quantidade de energia sexual, maior a intensidade do impulso de relacionar-se sexualmente. O homem vive no círculo vicioso da fornicação. A energia possui um caráter contraditório: quanto mais energia, maior o vigor para exauri-la e enfraquecê-la.

Para sair do círculo vicioso, é necessário aprender a transmutar (redirecionar) a energia sexual. A força sexual é altamente explosiva e de difícil condução, sendo impossível simplesmente armazená-la. Quando tentamos armazenar a energia sexual, ela simplesmente explode na forma de ejaculações involuntárias. Quem quer livrar-se do vício da fornicação deve aprender a redirecionar a energia para dentro e para cima, redistribuindo-a pelo corpo físico e pelos corpos internos. Isso se chama transmutar. 

A energia ascenderá somente se for transformada. Caso não seja, não será possível seu ascenso. Mediante a concentração e a meditação nas glândulas sexuais, a energia se tornará mais leve, mais refinada e mais sutil (o que equivale a dizer que ela se tornrá mais espiritual e menos animal). A energia em estado comum é bruta, densa e pesada demais para subir, se comparada à energia transmutada. Apenas a energia transmutada pode ascender pela coluna. A luxúria deixa a energia pesada e não permite seu redirecionamento. 

Os momentos em que estamos mais carregados com a energia bruta são os que estamos mais expostos à sua perda. Sendo assim, quanto mais carregados estivermos, mais intensamente deveremos trabalhar na Morte em Marcha.

Alguns dias após o orgasmo, o macho se sente forte, poderoso. Pilatos diz em sua mente: "Tenho bastante energia agora, não haverá problema em perder só um pouco..." e ele então lava suas mãos e não se sente culpado. Este é o momento crucial para pularmos a oitava, por meio de um choque consciente adicional. Se intensificamos a Morte e as práticas nesses momentos, damos um salto para outro nível.

É difícil ver o sexo de forma espiritual: a luxúria nos arrasta à animalidade. No entanto, a transmutação da energia é, entre outras coisas, a transformação da forma de encarar o ato sexual.

Em suma, quanto mais fortes sexualmente estivermos, mais excitáveis estaremos. Quanto mais excitáveis, mais propensos a sermos invadidos pelo desejo. Quanto mais invadidos, mais próximos da perda da energia. A saída do círculo vicioso está na intensificação das práticas sempre que percebermos que o desejo se aproxima para tomar o controle.    

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Concentração: destravando o passo do asno empacado


A interrupção do fluxo mental pelo esgotamento de idéias

Às vezes, durante a concentração, o fluxo do pensamento único chega até um ponto e fica interrompido pela falta de idéias sobre o lakshya. Isso não significa que tenhamos atingido o não-pensamento, significa tão somente que estamos presos ao nível intelectual e não estamos conseguindo ir além, aprofundando a prática.

Quando faltarem idéias para compor o pensamento único durante a concentração, procure características intrínsecas ao lakshya que ainda não foram consideradas. Elas darão continuidade ao curso do pensamento.

Convém iniciar o aprendizado da concentração pensando em algo sobre o qual tenhamos bastante informação. Quanto mais informação tenhamos sobre algo, menos propensos seremos de sermos atingidos pela interrupção súbita do fluxo mental.

O que interessa é aprender a ultrapassar as barreiras da concepção superficial, extraindo informações da mente com crescente profundidade, de forma a compreender e conhecer cada vez mais o lakshya, até o momento em que o pensamento único se esgote.

Há uma diferença entre o fluxo mental que se esgota espontaneamente, dando lugar à meditação, e o fluxo que é interrompido bruscamente sem ter sido esgotado.



O pensamento concentrado em um tema é imaginação consciente, os pensamentos dispersos são  imaginações mecânicas.

É comum, durante a concentração, que nos faltem pensamentos (imaginações conscientes) sobre o lakshya e que sobrem pensamentos inúteis sobre o que não nos interessa. O asno da mente tenta sabotar a prática porque quer seguir seus erráticos caminhos subjetivos e inúteis.

Quando o asno da mente se recusa a prosseguir pensando no lakshya, temos que empurrá-lo para frente com pensamentos propositais e voluntários. Se, ainda assim, nada novo nos ocorrer sobre o assunto, podemos tentar "abrir a imagem mental".

Suponhamos que eu queira meditar na planta do bambu. O bambu será, então, o meu lakshya. Começo a concentrar meus pensamentos no bambu e, dali há instantes, o pensamento deixa de fluir, nada mais sobre o bambu me ocorre, mas também não recebo nenhuma revelação e, para piorar, pensamentos alheios ao tema começam a aparecer. Como eu daria um empurrão adicional à mente para que ela continuasse a pensar no bambu?

Primeiramente, traria minha imaginação de volta ao bambu (pois imaginar é uma forma de pensar). Em seguida, começaria a extrair da imagem mental seus detalhes. Perguntaria para mim mesmo: Qual é a cor do bambu imaginado? Qual é o seu estado? Em que ambiente está o bambu? O bambu está limpo ou está sujo de terra? Está empoeirado? Está seco ou verde? É a imagem de um bambu recentemente cortado ou de um bambu seco e envelhecido? O estou visualizando sob a luz do dia? Infinitas outras perguntas poderiam ser feitas. As respostas sinceras a tais perguntas fariam com que a mente retomasse novamente o seu fluxo. 

Eu poderia também, imaginativamente, partir o bambu ao meio e esquadrinhá-lo por dentro. O que há ali dentro? Como é esse bambu interiormente? Em seguida, posso imaginar mil e uma maneiras do bambu ser usado pelas pessoas: para levantar varais de roupas, como alimento, para construção de casas, para surrar alguém malcriado (risos), como uma vara de pesca.  Talvez me ocorra descobrir qual é a função do bambu na natureza e então me dê conta de que ele serve de alimento para certos animais ou algo assim.

O que importa, quando o asno empaca, é encontrar aquilo que ainda não foi cogitado, aspectos do lakshya que ainda não foram imaginados, questionados ou pensados. O passo do asno irá destravar quando descobrirmos algo novo sobre o tema. Qualquer conteúdo ou aspecto que estiver intrinsecamente ligado ao bambu será válido e poderá ser acolhido.

Caso as imagens do bambu estejam sendo visualizadas com certa nitidez, podemos experimentar entrar em seus detalhes morfológicos como se o observássemos com um microscópio. Escolhemos uma parte qualquer do bambu e tentamos "vê-la mais de perto", isto é, ampliá-la, com o intuito de descobrirmos o que há ali, quando observado a uma escala microscópica. Se a concentração estiver profunda, poderemos ver pequenos canais por onde circula sua seiva, talves vejamos suas células, partículas ou algo assim. Tudo isso imaginativamente.

Deixemos de lado a preocupação com o fato dos conteúdos imaginados corresponderem ou não com a realidade. Nossa preocupação agora é somente disciplinar a mente e atingir níveis profundos de concentração. Depois, caso queiramos, podemos confrontar o que imaginamos com fatos reais do mundo físico (abrindo um bambu fisicamente para ver se corresponde com o que imaginamos ou olhando seus pedaços em um microscópio, por exemplo). Ainda que não exista grande correspondência entre o que imaginamos durante a prática e aquilo que constatamos posteriormente, por meio do microscópio, não haverá problema algum, pois nossa meta é chegar ao pensamento único para descartá-lo em seguida. O bambu é apenas um ponto de apoio.

Enquanto estivermos com a imaginação direcionada sobre o lakshya, tudo o mais deve ser esquecido: o corpo físico, as doenças, as tristezas, os problemas, as preocupações da vida, o lugar onde estamos, a época ou data em que estamos, o passado, o futuro etc. O desprendimento deve ser total. Somente deve existir o alvo da imaginação, aqui e agora.

Em fases mais profundas da concentração, pode ser que sintamos uma indefinível sensação de podermos ir além do bambu para capturarmos algo que não conseguimos definir o que é, mas que pressentimos estar "depois" ou "além" dele. Se não tivermos medo, podemos transpor essa passagem e já estaremos no começo da meditação propriamente dita. Estaremos então meditando de fato no bambu e muitas coisas interessantes serão reveladas. As pessoas experientes permanecem por certo tempo neste estado, mas os principiantes experimentam apenas "flashes" momentâneos, pois retornam quase imediatamente após entrarem.     

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Transmutação: a imaginação que conduz a energia para cima


A imaginação pode conduzir o fluxo da energia sexual em duas direções: para fora ou para cima. A imaginação determina o rumo da energia.

Se a imaginação seguir os trilhos dos desejos e fantasias eróticas, conduzirá a energia ao orgasmo. Se a imaginação seguir os trilhos da transmutação, conduzirá a energia para o êxtase e a cura do corpo. A imaginação segue o caminho da transmutação quando, em plena excitação sexual, não nos deixamos arrastar mentalmente pelas fantasias e, ao invés disso, mantemos a mente ocupada com a imagem do fogo sendo conduzido pela coluna até o cérebro e dali se espalhando pelo coração. 

Este é o segredo da não-ejaculação: manter a mente ocupada com a idéia da transmutação e não permitir que nenhuma fantasia erótica se processe. A mente comanda o processo, mas a consciência deve comandar a mente. 

Quando um pensamento se apossa completamente de uma pessoa, interfere em sua fisiologia. Se os pensamentos luxuriosos e fantasias sexuais se apossam da mente, conduzem a fisiologia ao orgasmo. Se o pensamento concentrado na transmutação se apossa da mente, irá conduzir o fogo para o cérebro.

A fornicação é uma espécie de concentração que resulta em desgaste energético, motivo pelo qual não nos interessa. A transmutação sexual por meio da vontade e da imaginação é outra forma de concentração contrária à fornicação. A transmutação sexual exige ato sexual real, com intensa concentração transmutatória, e posterior complemento imaginativo, igualmente transmutatório.


A imaginação é a responsável pela condução da energia sexual. A imaginação morbosa produzirá orgasmo, a imaginação espiritual transmutará e conduzirá a energia pela coluna.

Sem as imaginações morbosas e fantasias sexuais não existiria a fornicação e nem o orgasmo. Um ser humano desprovido de imaginação seria inorgásmico. Similarmente, sem a imaginação espiritualizada correta durante o ato sexual não se pode modificar a energia para torná-la mais leve e fazê-la subir. O êxtase erótico espiritual será impossível para quem não houver desenvolvido a imaginação pura e a concentração. Não há saída: ou desenvolvemos a imaginação positiva e pura ou seremos tragados pelas imaginações negativas e morbosas.

Concentração: aquele que fala e aquele que observa


Dentro de você há aquele que pensa, que fala sem parar, e aquele que observa. Aquele, dentro de você, que observa é sua essência. Aquele que tagarela é sua mente. 

Quando nos dissociamos daquele que fala, experimentamos o silêncio. O silêncio interior provém do afastamento do ego tagarelante.

A mente é múltipla, a mente é um conjunto de muitas mentes. Não há portanto, um único pensador, mas milhares de pensadores dentro de nós, todos tagarelantes. 

Concentrar-se é esquecer: deixar para trás tudo o que não seja o lakshya, abandonar. 

Na concentração, não perdemos o tempo correndo atrás dos pensamentos e nem procurando-os para aquietá-los, simplesmente os deixamos de lado e permanecemos em nossa essência, contemplando o objeto que nos interessa. A essência presta atenção, recebe e não pensa.

O pensamento único não resulta da imposição de um pensamento sobre todos os outros, com o intuito de forçá-los a se aquietarem. O pensamento único é resultado do abandono dos múltiplos e variáveis pensamentos e da ocupação com apenas um único pensamento escolhido. Abandonamos os milhares de pensamentos quando deixamos de nos ocupar com eles, de nos entretermos prestando-lhes atenção.

Concentre-se com leveza, sem fazer esforços para concentrar-se. Apenas toque levemente os vários aspectos do tema. Não faça esforços para aprofundar a concentração, deixe que o aprofundamento ocorra por si mesmo.

Se a concentração atrapalhar o sono, isso indica que o praticante está ansioso por concentrar-se. A ansiedade por concentrar-se trava a prática.

Uma associação subconsciente entre concentração e contração provocará tensionamento. Veja a concentração como algo que tem a mesma natureza descontraída do relaxamento.

Concentrar a atenção e concentrar o pensamento não são a mesma coisa, mas são indissociáveis e intimamente relacionados. Não é possível concentrar o pensamento se a atenção não estiver focada. 

O observador silencioso (nossa alma ou essência) contempla aquilo que lhe interessa. O observador silencioso recebe e compreende. Em silêncio, o observardor contemplará o desenvolvimento do pensamento único, percebendo inclusive os sons internos que possam acompanhá-lo.