Os egos da luxúria não nos atacam logo após o orgasmo, porque o corpo está descarregado e não dispõe de energia para sustentar os processos fisiológicos sexuais, tais como excitação, ereção e outros. É algo similar ao que acontece com quem está extremamente cansado por muito esforço físico: ele não conseguirá brigar com ninguém.
Há uma contradição no sexo: quanto mais forte nos sentimos sexualmente, mais assaltados somos pelo desejo e mais propensos a uma descarga energética estamos. Esse processo pode ser comparado a encher uma vasilha com água: quanto mais cheia, mais próxima de derramar. Quem transmuta sua energia evita que a vasilha se encha.
Quanto mais antecipadamente percebermos a aproximação de um desejo na mente, tanto mais facilmente podemos enfraquecê-lo mediante a Morte em Marcha. Se permitimos que um desejo se arraigue nos centros, ficará mais difícil enfraquecê-lo depois.
Ficar passivo, sem nada fazer, enquanto o desejo se manifesta e se arraiga, é o mesmo que auto-acorrentar-se para depois tentar se libertar.
Buscamos a Morte para não termos que satisfazer e nem reprimir. Não satisfaça e nem reprima: descubra, suplique e esqueça. Não fique procurando os defeitos, deixe que eles apareçam.
Transmutar a energia sexual é modificá-la, tornando-a mais leve, sutil e refinada. A energia que não é transmutada é inevitavelmente ejaculada ou sofre uma deterioração dentro do organismo.
O procedimento para transmutar a energia consiste em três coisas: purificação do erotismo, ato sexual sem orgasmo e condução da energia para dentro e para cima, por meio da imaginação.
A purificação do erotismo é conseguida por meio da morte da luxúria, o que substitui o desejo animal pelo impulso erótico espiritual. O redirecionamento da energia é conseguido por meio da prática do coitus reservatus ou magia sexual (maithuna). A energia é conduzida para dentro e para o alto por meio da imaginação e da respiração. A imaginação e a respiração a desviam dos canais ou caminhos orgásmicos.
A transmutação sexual é o choque que nos permite sair do círculo vicioso da fornicação. Quem não pode transmutar (solteiros, viúvos, doentes e demais impossibilitados) deve pelo menos sublimar seu erotismo com mantrans, respiração, concentração e meditação. A sublimação é o princípio da transmutação. Quando o(a) parceiro(a) for impossibilitado sexualmente, a pessoa pode praticar a carezza (carícias sem penetração), que é uma forma de transmutação mais superficial. Quem tem duas ou três mulheres, deve definir sua situação, escolher uma delas e desligar-se sexualmente das demais. Se o desligamento sexual não for possível sem o afastamento total, deve finalizar os relacionamentos.
*****
Todo homem sabe que, após uma ejaculação, o desejo arrefece.
Antes do orgasmo, o homem desfruta de uma sensação de intenso vigor no órgão sexual. Após o orgasmo, o que se sente no órgão sexual é fraqueza, vazio e debilidade. Por mais que estejamos empolgados e excitados com a mulher, por mais louca que seja a fantasia sexual que estiver sendo satisfeita, o "morbo" desaparecerá completamente após um ato de fornicação. Não importa se a mulher é a mais linda do mundo, após a ejaculação o homem é um trapo.
Tal fato demonstra a relação intrínseca entre desejo e esperma: ao perder o esperma, esvai-se o desejo. Portanto, o desejo vincula-se estreitamente a presença do esperma dentro do organismo do homem.
Sem o esperma, não há como acender o desejo. Uma mulher poderá lançar mão de todos os recursos existentes e disponíveis para excitar um homem após o esgotamento sexual, mas não terá sucesso. A excitação do homem não é possível ou é muito fraca após o orgasmo, o que indica que o aparelho fisiológico sexual necessita do combustível espermático para repetir suas façanhas.
Algum tempo após o orgasmo, o macho começa a sentir leves impulsos: começa a sentir algo ao olhar para as fêmeas. Isso indica que a energia está sendo aos poucos reposta. Tempos depois, estará novamente em ponto de bala: sentirá ereções e fortes excitações sexuais, pois sua energia terá sido reposta. Neste ponto crítico, o homem se deixa levar pelo desejo e repete o ciclo, caindo novamente na fornicação. Vivendo neste círculo vicioso, o homem passa os seus dias, até a impotência sexual total.
Fica evidente, pelos fatos mencionados, que há alguma força especial no esperma, alguma energia, algo que se perde com ejaculação. Esse algo é a força sexual ou energia criadora. Quanto maior a quantidade de energia sexual, maior a intensidade do impulso de relacionar-se sexualmente. O homem vive no círculo vicioso da fornicação. A energia possui um caráter contraditório: quanto mais energia, maior o vigor para exauri-la e enfraquecê-la.
Para sair do círculo vicioso, é necessário aprender a transmutar (redirecionar) a energia sexual. A força sexual é altamente explosiva e de difícil condução, sendo impossível simplesmente armazená-la. Quando tentamos armazenar a energia sexual, ela simplesmente explode na forma de ejaculações involuntárias. Quem quer livrar-se do vício da fornicação deve aprender a redirecionar a energia para dentro e para cima, redistribuindo-a pelo corpo físico e pelos corpos internos. Isso se chama transmutar.
A energia ascenderá somente se for transformada. Caso não seja, não será possível seu ascenso. Mediante a concentração e a meditação nas glândulas sexuais, a energia se tornará mais leve, mais refinada e mais sutil (o que equivale a dizer que ela se tornrá mais espiritual e menos animal). A energia em estado comum é bruta, densa e pesada demais para subir, se comparada à energia transmutada. Apenas a energia transmutada pode ascender pela coluna. A luxúria deixa a energia pesada e não permite seu redirecionamento.
Os momentos em que estamos mais carregados com a energia bruta são os que estamos mais expostos à sua perda. Sendo assim, quanto mais carregados estivermos, mais intensamente deveremos trabalhar na Morte em Marcha.
Alguns dias após o orgasmo, o macho se sente forte, poderoso. Pilatos diz em sua mente: "Tenho bastante energia agora, não haverá problema em perder só um pouco..." e ele então lava suas mãos e não se sente culpado. Este é o momento crucial para pularmos a oitava, por meio de um choque consciente adicional. Se intensificamos a Morte e as práticas nesses momentos, damos um salto para outro nível.
É difícil ver o sexo de forma espiritual: a luxúria nos arrasta à animalidade. No entanto, a transmutação da energia é, entre outras coisas, a transformação da forma de encarar o ato sexual.
É difícil ver o sexo de forma espiritual: a luxúria nos arrasta à animalidade. No entanto, a transmutação da energia é, entre outras coisas, a transformação da forma de encarar o ato sexual.
Em suma, quanto mais fortes sexualmente estivermos, mais excitáveis estaremos. Quanto mais excitáveis, mais propensos a sermos invadidos pelo desejo. Quanto mais invadidos, mais próximos da perda da energia. A saída do círculo vicioso está na intensificação das práticas sempre que percebermos que o desejo se aproxima para tomar o controle.