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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Equilibrando os centros

Pensar em comidas saborosas é algo similar a pensar em mulheres. Em ambos os casos desfrutamos de um prazer mental na ausência do deleite sensorial concreto. Em ambos os casos gastamos energia dos centros da máquina.

O prazer através da imaginação de uma sensorialidade objetivamente inexistente rouba energia dos centros e os desequilibra. Se imagino prazeres sensoriais degustativos, ao invés de saborear o alimento fisicamente, estou malgastando energias do centro instintivo. Se imagino prazeres sensoriais eróticos, ao invés de desfrutar das sensações reais proporcionadas por uma mulher real, estou malgastando as energias do centro sexual.

O curioso é que tal desgaste se dá através do pensamento, ou seja, o centro intelectual vampiriza as energias dos outros centros por meio do processo imaginativo.

A imaginação mecânica promove o falseamento da energia dos centros porque é um processo através do qual os mesmos são postos em atividade por meio de situações irreais, imaginárias. Ao serem postos em atividade por tal meio, suas energias são gastas intensamente, mas não são empregadas em atividades reais necessárias ao corpo físico. Os centros passam a ter uma sobrecarga extra, além do encargo de trabalho natural que já possuem com as necessidades reais de manutenção do corpo físico.

Se fico pensando em mulheres, desfrutando deste prazer mental, terei ereções. Meu órgão sexual entrará em atividade e começará a trabalhar, empregando suas energias sem que haja necessidade real de e sem estar realizando um ato sexual concreto e verdadeiro. Portanto, além do uso normal e cotidiano do aparelho sexual, estarei forçando-o a entrar em atividade sem que haja necessidade, além da conta, sobrecarregando-o. Estarei desrespeitando sua necessidade de repouso (se houver o vício da masturbação, será ainda pior). Além disso, e para piorar tudo, estarei também malgastando energias do centro intelectual, pois o estarei ocupando com tais pensamentos. Resultado: ao faltar energia ao centro intelectual, porque o desgastei, ele começará a roubar a energia do centro sexual, pois os pensamentos serão de tipo erótico, e, ao faltar a energia ao centro sexual, porque igualmente o desgastei, ele começará a usar a energia do centro intelectual, pois forcei sua atividade através do pensamento.

Sempre que colocamos algum centro em atividade, estamos utilizando sua energia. Após um certo tempo, esse centro dará sinais de cansaço e deve entrar em repouso. Caso não seja posto em repouso, começará a usar a energia do centro que estiver mais próximo, isto é, mais à mão. E o que estará mais à mão será aquele segundo centro que estiver em atividade diretamente relacionada ao primeiro (se estou pensando em sexo, ambos os centros estão em atividade interativa).

O ideal seria que os centros fossem usados somente até um nível que antecedesse ao cansaço. Evitar o cansaço, a sensação de estresse no centro, é o ideal. Colocar em repouso um centro após o uso, muito antes que o mesmo se estresse, evita o falseamento de suas energias.

Infelizmente, o Ego força os centros a trabalharem além do limite. A todo momento estamos pensando, sentindo e fazendo coisas inúteis, que somente servem para desgastar e falsear os centros da máquina. Utilizamos todos os centros em demasia, sem necessidade e sem sequer termos consciência disso. O desgaste dos centros acontecem sem que os vejamos, pois não praticamos a auto-observação. Vivemos distraídos e fascinados, não nos damos conta do que se passa conosco. Os centros entram em atividade e não os vemos.

Muitos processos orgánicos desnecessários acontecem sem serem vistos e porque o centro instintivo entra em ação sem que haja real necessidade. O mesmo vale para processos relacionados às emoções e aos demais centros. O Ego, ao atuar, força a ação dos mesmos.

É precisamente nos centros da máquina que iremos descobrir as diversas manifestações dos egos. Os detalhes estão nos centros e temos que aprender a observar os centros, contemplá-los conscientemente, sem reprimí-los e sem nos identificarmos, apenas compreendendo-os. Descobrir um detalhe é descobrir uma leve alteração ou manifestação em algum centro. Reprimir um detalhe é tentar "segurá-lo" enquanto nos mantemos identificados, ou seja, tentar amarrá-lo ao invés de observá-lo em ação. Quem imobiliza um centro à força, amarrando, pelo mero esforço, o "eu" ou detalhe que estiver se manifestando, não o verá em ação e não compreenderá nada. O que enfraquece um ego é a compreensão e não o mero esforço imobilizante, o qual não passa de uma forma de auto-engano.

O que interessa é dissolver os egos para que os centros trabalhem menos e possam descansar. Quem não morre em si mesmo, não dá uma trégua aos seus centros e destrói sua máquina orgânica, apressa o envelhecimento.

Já viram pessoas que envelhecem rapidamente? O envelhecimento precoce ocorre por uma atividade exagerada dos centros, a qual se deve ao domínio exagerado dos agregados psíquicos. Pessoas que não sabem lidar corretamente com o Ego sofrem todos os tipos de desgraças e precisam ser auxiliadas com urgência, ao invés de serem desprezadas e abandonadas. Temos que procurar em tais pessoas uma mínima abertura, por menor que seja, para lhes dar alguma orientação, alguma informação ou instrução que lhes seja útil. O ideal é acender nelas um impulso de se libertarem do despotismo dos desejos.

Quando o ego morre, deixa de sobrecarregar os centros, lhes permite descansar. Então os centros atuam somente o necessário, nem um miligrama a mais. Vocês já perceberam aqueles momentos em que a mente nos dá uma trégua momentânea e espontânea, por poucos segundos? Observem o alívio que se sente. Este é o alívio da ausência do peso do Ego sobre o centro intelectual. Já viram como acordam de manhã, bem descansados, depois de uma boa noite tranquila de sono? Essa é a sensação de alívio da ausência do peso do Ego sobre os centros, sobre o corpo físico. De nada adianta tentar forçar o alívio ou preservá-lo à força após nos levantarmos. O alívio resulta da compreensão.

Quando compreendemos um defeito, sentimos um grande alívio. É o alívio da ausência do peso que o defeito exercia sobre os centros. Na psicoterapia é muito comum e esperado que os pacientes se sintam aliviados à medida que reconheçam e compreendam as várias facetas de si mesmos, de seu Ego. Enquanto não se compreende um defeito, o mesmo exerce um peso sobre os centros. Imaginem a totalidade dos egos que possuímos! Quantas toneladas não estarão oprimindo nosso coração e pesando sobre nossa pobre máquina? Não obstante, os retrógrados materialistas acreditam que tudo isso seja bobagem, que o único peso preocupante seja o do chumbo ou o das sacolas de viagens...

No cotidiano, convém não fixar-se em uma só atividade por muito tempo. O ideal é dar pausas: ler um pouco, depois caminhar, depois ouvir música, depois praticar magia sexual, depois descansar, meditar, depois consertar a cerca quebrada, depois, contemplar um quadro etc. A fixação em uma só atividade por muito tempo desgastará e desequilibrirá os centros, nos deixando pesados ao invés de leves.

O momento em que a máquina desfruta do maior alívio são os momentos da meditação. Meditar é zerar os esforços e não acrescentar mais esforços aos já existentes. A meditação é uma prática paradoxal, pois os esforços que se realiza são negativos. Meditar é buscar o desligamento, por isso se relaxa profundamente e não se pode prescindir do sono. Concentrar-se é entregar-se a algo, acabar-se, e não colocar travas. Quem quer aprender a relaxar, concentrar-se e meditar, precisa entender tais práticas como uma entrega (consciente) e não como um desesperado esforço ansioso. Meditar não é forçar a barra e nem forçar contra nada. Meditar não é imobilizar os centros à força e sim dar-lhes um descanso.

Se alguém quiser guiar-se corretamente na meditação, a melhor descrição do que fazer seria: não fazer nada, esquecer, desligar-se, abandonar-se, dormir, entregar-se, sumir, acabar-se, desaparecer...conscientemente!

Um dos grandes equívocos nossos é acreditar que a meditação se consegue mediante o acréscimo do que fazer. Na verdade, o estado buscado já existe, temos somente que remover o que atrapalha e deixá-lo se expressar. Ao invés de acrescentarmos mais preocupações, empenhos etc. aos já existentes, fazemos o contrário: removemos os existentes, como faz o escultor que remove partes da pedra ou da madeira até que a estátua apareça. A estátua já existia anteriormente mas estava oculta! Acrescentar mais problemas aos já existentes é sobrecarregar ainda mais os centros. Quem transforma a meditação em problema não medita. Quando ficamos procurando o que fazer para meditar corretamente, estamos nos afastando da meditação e não nos aproximando.

Portanto, foram explicadas aqui duas medidas a tomar para equilibrar os centros: a morte do Ego e a meditação. A magia sexual, a terceira medida, não foi explicada neste texto.

Até logo!