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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Os Mestres da Medicina são Devas


Os Devas da natureza


Os mestres da medicina são Devas, hierarquias da natureza. Comandam os elementais e conhecem a fundo o funcionamento do corpo físico. Podem, por tal razão, curar doenças incuráveis que não estejam sob o jugo fatal do karma ou que sejam negociáveis. Não há porque duvidar deles, uma vez que comandam os elementos e, portanto, a forma como os mesmos se organizam dentro do corpo físico.
O corpo físico é composto pelos quatro elementos. Há em nossos tecidos e fluídos: terra (elementos minerais e substâncias químicas), água (também ela uma substância química), ar (oxigênio e outras moléculas de gases) e fogo (energia calorífica).
As partículas subatômicas, atômicas e moleculares que formam as células são partes dos quatro elementos. O fogo também é um elemento e é composto por partículas. As partículas se arranjam sob a direção dos elementais e estes são conduzidos pelos Devas (hierarquias da natureza).
Os Devas podem possuir ou não corpo físico. Emanam de si uma essência que tomará corpo da sexta dimensão para baixo. A parte superior do homem sempre estará situada em algum grau hierárquico dentro da natureza, com o poder de conduzir forças elementais.
A atuação não-usual das forças que comandam as partículas componentes dos corpos pode promover curas incompreensíveis e constitui os chamados milagres.

Os espíritos da natureza atuam no interior do homem


Sob as ordens dos Devas da natureza, os elementais atuam sobre a matéria física a partir do mundo subatômico(1), que é o seu mundo. Modificam as partículas subatômicas de modo a produzirem rearranjos nos níveis atômico, molecular e celular, dando origem a fenômenos naturais visíveis, meteorológicos, elétricos, térmicos, luminosos, químicos, sismológicos, ígneos, eólicos e a muitos outros. Atuam sobre os tecidos vivos, originando doenças ou curas, de acordo com a lei kármica.
No caso das curas, os elementais não interferem somente no corpo físico, mas também no corpo vital e nos demais corpos internos, afetando o psiquismo humano. Operam de dentro para fora, da alma para o corpo. As plantas medicinais modificam o padrão vibratório anímico do doente.
Os processos biológicos e fisiológicos não se resumem ao que os cientistas vêem, possuem uma contraparte interna com infinitos estratos dimensionais.

Curas que provém do mundo espiritual

As forças para a cura e para as doenças provém do inconsciente. No inconsciente atua o corpo astral e os demais corpos que estão dentro dele.
Dentro do corpo físico está o corpo vital, constituído por partículas menores do que as que constituem o primeiro. Dentro do corpo vital está o corpo astral, constituído por partículas ainda menores. Dentro do corpo astral está o corpo mental, ainda mais sutil e assim sucessivamente, até o último dos corpos.
Ao analisar a evolução de uma doença no microscópio, os biólogos são capazes de enxergar somente até o nível biomolecular. O aspecto infinitamente pequeno do mundo subatômico, que também afeta o mundo celular, lhes permanece inacessível. É por isso que tratam das doenças e concebem suas causas somente até este nível.
Um mundo composto por partículas muito menores do que os átomos conhecidos pelos cientistas compenetra o mundo visível. Estas partículas ínfimas se associam para formar corpos de extensões variáveis, maiores ou menores do que o corpo humano. Podem formar planetas e galáxias. São estas partículas que compõem a mente, os sentimentos e a consciência. Além das partículas ínfimas conhecidas (neutrinos, fótons etc.) há uma infinidade de outras partículas ainda menores. Não há um limite para as suas existências.
Aquilo que fazemos psiquicamente atinge as profundidades de nosso psiquismo, o que equivale a dizer que atinge os corpos internos. As conseqüências de nossos atos podem ser transferidas de uma existência para outra, uma vez que os mesmos imprimem marcas em nossos veículos sutis. O resultado desta matemática resultará em saúde ou doença. Em outras palavras: a alma pode ferir ou curar o corpo. Por isso é que as orações e os placebos curam, enquanto os nocebos inutilizam agressões. Do mesmo modo, os maus pensamentos e maus atos provocam doenças nesta ou em futuras existências.
Os elementais podem alterar o funcionamento de nossa alma, alterando assim sua relação com a matéria densa.

A fé

Ocorrem no corpo humano processos naturais de cura. A fé pode desencadeá-los sob a forma de placebos e nocebos, mas também pode criar doenças sob a forma de sugestões ou induções. O efeito placebo é tão poderoso que chega a atrapalhar os experimentos e pesquisas científicas com medicamentos.
Quando aprendemos a ter fé, desencadeamos os processos naturais de cura dirigidos pelo Ser.
O corpo sempre tende a buscar a cura e o equilíbrio. A doença resulta da obstrução desta tendência.



Nota:

(1)Este mundo subatômico não se restringe às partículas detectadas pelos físicos. Abrange o abismo do infinitamente pequeno, cujo limite nunca será atingido, e envolve partículas que nunca serão conhecidas pelos estudiosos do átomo. Tais partículas, em união, formam arranjos de extensões variáveis, algumas das quais podem se estender muito além das dimensões de uma galáxia, formando mundos e universos paralelos habitados. A matéria física tem origem em seus próprios transfundos subatômicos (energia, do nosso ponto de vista humano), motivo pelo qual as religiões afirmam que o universo foi criado pela Inteligência Divina .

Karma e sofrimento

Quando sofremos, estamos pagando karma e, portanto, estamos nos livrando de dívidas. Por isso devemos nos alegrar.
Entendo que os sofrimentos voluntários, principalmente se forem sacrifícios pelo próximo, podem ser oferecidos a Deus e às Hierarquias Divinas como uma forma de pagamento antecipado pelos muitos pecados que cometemos. Se isso for assim, é também possível que as promessas sejam um meio de se conseguir “crédito”. Entretanto, se não as pagarmos, o peso do karma será ainda pior por termos trapaceado.
Seja qual for a sua religião, eu sugiro que, se você está sofrendo, se sacrifique voluntariamente por seus semelhantes e ofereça este sacrifício Àquele que você acredita ser o Deus Supremo. Deste modo, é possível que seu sofrimento seja aliviado e sua existência na Terra seja prolongada para que você possa se libertar um pouco mais dos seus pecados.
Os incrédulos não admitem que existam pecados porque não conhecem a lei de causa e efeito. Supõem que não exista nenhuma inteligência acima do homem que regule os efeitos de suas ações. Tal equívoco se deve à crença de que o animal racional é a criatura mais elevada e inteligente do universo, nada mais existindo acima dele.

Não há porque esperar mais.

O momento de iniciar a santificação é aqui e agora. Não podemos deixar para mais tarde. Não importa quanto tempo ainda tenhamos ou o que tenhamos feito, nem quão terrível deve ser o nosso karma. Todo empenho em santificar-se é válido e útil.
Se estamos errando e fracassando, isso se deve principalmente ao fato de não dedicarmos tempo à oração e à comunhão com o Divino. Por mais que aperfeiçoemos as estratégias, por mais corretos que sejam os esforços, tudo será inútil se tentarmos trilhar sozinhos o caminho da purificação. Este caminho somente pode ser trilhado se nos voltarmos a Deus e buscarmos a comunhão com Ele. Os monges cristãos que oram sem cessar e devotam toda a sua vida a Deus estão no caminho correto. O mesmo fazem os iogues que concentram sua vida na busca de Atman.
Não importa se acreditamos que Deus tenha este ou aquele nome ou seja assim ou assado: o que importa é o fato de que Ele é o criador de tudo e, portanto, emanamos dEle. Ora, se Ele criou o nosso Espírito, então o nosso Espírito herdou dEle o caráter divino. Se Deus é onipresente e está em toda a criação, então toda a criação tem um aspecto divino. Daí resulta que a incompatibilidade entre os ensinamentos das várias religiões é aparente e que não devemos nos atormentar com dúvidas.
Sucumbimos repentinamente às piores tentações porque negligenciamos à comunhão com o Pai (Origem ou Fonte), porque preferimos nos distrair com os tesouros atraentes deste mundo. O corpo e a matéria em si não são maus, mas a submissão da alma aos mesmos é ruim por ser uma forma de idolatria. Pistis Sophia sofre por ser forçada a adorar a escuridão e é forçada ao ser enganada. Nossa alma acredita que a felicidade está neste mundo e não compreende que há infinitos esplendores além dele. Este é o engano que sofre Pistis Sophia, pobre vítima da ilusão de Mara. O mundo da matéria é maya e inclui: desejos sensuais, prazeres sensoriais, corporalidade, matéria, luxúria, gula.
É um grande erro adiar purificação, acreditando-se que ainda se tem muito tempo. É também um erro renunciar à mesma por acreditar que não se tem mais tempo. Ainda que o tempo que nos resta seja curto, pode e deve ser vivido como santificação máxima. Mesmo que não sejamos capazes de viver mil dias na perfeição, se formos capazes de fazê-lo por um dia já é um bom começo. O que importa é começar e é isso o que não fazemos. Aí está um dos nossos erros.
Se você está desesperado, aconselho, humildemente, que inicie seu desprendimento agora, dentro de suas capacidades. Viva em santidade e devoção, nem que seja por um minuto, mas faça-o. Inicie, aja e não adie.
A morte do eu, a auto-observação, a concentração e a meditação não serão um fato se você tentar alcançá-los sozinho. Tentar trabalhar sem devoção caminhar para o fracasso.
Aqueles que cometeram muitos e graves erros acreditam-se condenados definitivamente. Penso que, enquanto se tenha anelos superiores, existe a possibilidade de transcender o passado. Pode ser que tenhamos que pagar karmas gravíssimos e inegociáveis, aqui ou em outros mundos, mas, ainda assim, podemos buscar a Deus em meio às dificuldades. Entendo que não existe dificuldade que nos impeça de tentar buscar a Deus. Até no abismo existem mestres lutando por resgatar almas perdidas. Então isso significa que sempre há uma porta aberta.
Todos teremos que enfrentar a desencarnação cedo ou tarde, então é melhor nos desapegarmos do mundo material e ajudar a humanidade agora. Nada de deixar para depois. Amanhã poderá ser tarde. Se você quer a bem-aventurança da alma, deve trabalhar por isso o mais que puder. Desligue-se dos atrativos do mundo, liberte sua alma da fascinação pelas chamada “coisas boas da vida”. Viva somente para o Ser (O Espírito Divino).

Indisciplina e excesso de compromissos

Excesso de compromissos nos impede de adotar rigorosas disciplinas. A disciplina de fazer práticas de concentração todos os dias, por exemplo, fica grandemente prejudicada se lançarmos sobre nossas costas muitos compromissos. Convém, portanto, minimizarmos ao máximo os vínculos com o mundo material se quisermos ascender espiritualmente.

Desejar é sintonizar

Quando desejamos, entramos em uma certa sintonia com o objeto de desejo. É uma forma de harmonia, mas que pode ser destrutiva. Ao desejar qualquer coisa, estou afinando meus sentimentos com aquilo.

A Retenção da Força-Semente – textos adicionais

Duas dificuldades

Após aprender a se manter distante do orgasmo, o praticante terá que desenvolver a capacidade de interromper o ato sexual. Esta é uma segunda dificuldade.
É mais fácil prolongar o ato, mantendo-se afastado da ejaculação, do que interrompê-lo antes de havê-lo concluído. A tentação para prolongá-lo infinitamente é muito grande.
Assim, há duas dificuldades: 1. Evitar a ejaculação; 2. Abandonar o ato sexual sem concluí-lo.

Similaridade da magia sexual com outras formas de temperança

Os escravos do prazer sensorial, aqueles que não são capazes de deterem a si mesmos durante um ato prazeiroso qualquer, como o ato de comer, por exemplo, serão incapazes de praticar a magia sexual por não conseguirem interromper e mudar o curso de suas ações.

Antecipando-se ao desejo onanista

Os masturbadores conseguirão muitas vitórias sobre seu vício se aplicarem a morte às primeiras recordações distantes do desejo, isto é, muito antes de serem tomados pelo desejo propriamente dito.

Magia sexual - alguns cuidados

Aprender a concentrar a mente no que está fazendo, mantendo-a constantemente apartada de toda luxúria;
Não criar o mau costume de excitar-se sexualmente com pensamentos, imaginações e imagens mentais, aprender a excitar-se com uma mulher real, de carne e osso;
Manter a excitação sexual em um nível médio, suficiente para manter a ereção e lubrificação do phalus, bem como para a realização eficiente do coito, mas insuficiente para a ejaculação;
Acostumar-se a preservar a excitação sexual em um nível médio de intensidade, porém prolongando-a sem interrupções por um longo período;
Aprender a encontrar satisfação na ereção e no coito, mas não na ejaculação;
Manter o nível de excitação baixo, somente o necessário para realização do ato;
Retirar-se do maithuna sem dó, após o tempo adequado;
Não prolongar o maithuna mais que o indicado, a despeito de todo desejo;
Aquecer a caldeira no nível de temperatura adequado, sem aquecê-la demais. A caldeira que se aquece exageradamente sai do controle;
Manter a mente constantemente limpa da luxúria, não aceitar sequer manifestações fugazes;
Remover dos atos cotidianos todos os traços indiretos de luxúria.

Concentração e meditação - reflexões

Pensamentos insistentes que atrapalham a meditação

O pensamento insiste porque o consideramos importante. Nos livramos de um pensamento insistente quando compreendemos sua inutilidade, sua total desimportância para o presente. Como não é a realidade, o pensamento é desnecessário e chega mesmo a ser prejudicial. O conteúdo de um pensamento não é a realidade presente, é tão somente um conjunto de representações visuais e sonoras do passado e de um possível futuro, com variações ficcionais em diversos graus. Não é, portanto, útil para o momento da concentração.

Além do corpo, dos afetos e da mente

Separar a alma do corpo físico é desvincular a consciência de todos os cinco sentidos que nos dão acesso ao mundo material exterior.
Separar a essência do ego (ou da mente) é esquecer todas as preocupações, desejos, pensamentos, sentimentos etc. tornando a alma temporariamente pura, ou seja, livre. A alma é nossa essência, o que somos verdadeiramente.
Desvincular-se totalmente dos sentidos físicos, dos sentimentos e dos pensamentos é estar “além do corpo, dos afetos e da mente”.

Acalmar primeiro

É útil acalmar a mente antes de iniciarmos uma prática de concentração.

A disciplina para desenvolver a concentração

Uma das coisas que importa nas disciplinas para concentração não é a prática ininterrupta mas a continuidade após os intervalos. Cada prática somente pode ser prolongada conforme nossa capacidade de suportá-las.

Concentração e meditação - dicas

Dicas que podem ajudar na concentração:

Buscar o silêncio da mente.

Ouvir o som interno emanado pelo objeto da concentração. Não ouvir nenhum outro som.

Ver a imagem interna emanada do objeto de concentração. Não ver nenhuma outra imagem.

Focalizar a atenção e dirigir conscientemente a imaginação. Não permitir que nenhuma imaginação mecânica tome conta.

Direcionar conscientemente o fluxo dos pensamentos, fazendo-o fluir em torno do objeto.

Capturar todas as imagens que trouxerem alguma informação a respeito, provindas do inconsciente e que correspondem a sabedoria interior, adquirida através da experiêcia.

Separar-se dos pensamentos e não lutar com eles. Deixá-los, abandoná-los, esquecê-los.

Compreender a inutilidade dos pensamentos (V.M. Samael em "A Segunda Jóia do Dragão Amarelo").

Manter os olhos fechados. Permitir que o sono tome conta do corpo físico.

Adormecer fisicamente e, ao mesmo tempo, despertar interiormente mais e mais.

Tentar visualizar a imagem com a visão interior (clarividência).

Esquecer o corpo físico: coceiras, dores etc. Esquecer tudo: problemas, amigos, coisas boas e ruins. Buscar o alvo da concentração e o Nada que está além.

Penetrar sem medo, cair no infinito, entregar-se.

Pedir e confiar no Íntimo e na Mãe Divina.

Despojar a atençâo de toda tensão e esforço, entregando-se à pura e plena percepção interior.

A percepção interior pura contínua, desprovida de preocupações de quaisquer espécie, é a concentração plena.

O frescor mental, a sensação de leveza na cabeça, é um ótimo indicador da correta concentração. Trata-se de um critério que permite distinguir se estamos no caminho correto. Se o frescor é perdido, então há tensão e a prática está se desviando.

Para se prestar atenção em algo, não é necessário esforço algum e nem, muito menos, qualquer espécie de ansiedade, preocupação, tensão, desespero ou algo assim. Apenas se faz necessário um cuidado: o de não permitir nenhuma intranquilidade.

A essência do que se faz na meditação e como se a atinge é indescritível. As descrições e orientações visam somente auxiliar um pouco.

Busque a tranquilidade aliada à lucidez, na ausência total do esforço.

Busque o silêncio mesmo enquanto estiver concentrando o pensamento.

Procure ver com o terceiro olho aquilo que estiver imaginando conscientemente. O terceiro olho é a visão espiritual, clarividência ou endopercepção.

Observando o "desimportante"

Compreendemos um defeito quando, dirigindo conscientemente a atenção sobre nós mesmos, buscamos: quais pensamentos o alimentam? Quais sentimentos? Que atitudes o reforçam? Quais movimentos? Que formas de falar, agir, andar, formas de vestir-se, e muitíssimo mais, estão a ele relacionadas e o nutrem? Que traços comportamentais o favorecem ou estão a ele diretamente relacionados?

Suponhamos que tenhamos medo da morte. Vários pensamentos relacionados a tal medo passarão por nossa cabeça e vários sentimentos os acompanharão. Poderemos ser assaltados por sentimentos aparentemente desconectados dos pensamentos, mas de algum modo vinculados ao defeito em si. Nossa mente poderá disparar e imaginaremos mil coisas. Teremos atitudes e falas direcionadas para o reforço deste defeito. Todo defeito é um universo imenso a ser explorado de muitas maneiras, isto é, conhecido por muitas vias.

A todo momento estamos nutrindo nossos defeitos sem perceber. Existem múltiplos canais de nutrição que atuam fora do holofote de nossa consciência. São canais normalmente invisíveis, mas que se tornam visíveis quando passamos a buscá-los intencionalmente no cotidiano por meio da auto-observação. O motivo pelo qual não os percebemos é porque os consideramos desimportantes e inofensivos. Negligenciamos muitos elementos por os concebermos como desvinculados dos defeitos que nos prejudicam. Então a compreensão não avança.

Vejamos um exemplo. Incorrem em erro aqueles que tentam eliminar somente a luxúria e deixam de lado os demais egos. Se o fizermos, estaremos renunciando à oportunidade de resgatar porções de essência e ampliar a consciência, o que nos daria mais força para enfrentar o inimigo maior.

Recusar-se a resgatar a essência engarrafada nos defeitos distintos da luxúria é recusar-se a aumentar a força espiritual que permitiria enfrentá-la com eficiência. Uma comparação: seria como um general que se limita a combater somente o inimigo maior e se recusa a combater inimigos muito mais fracos e fáceis de serem vencidos, o que lhe permitiria preender armas e mantimentos com os quais se tornaria mais forte. Ao combatermos "eus" não luxuriosos, adquirimos mais força, pois resgatamos essência engarrafada.

Na Morte em Marcha, não há nada depreciável: tristezas, frustrações, empolgações, receios, irritações etc. são defeitos que podem e devem ser dissolvidos.

Nossos defeitos se alimentam por comportamentos inofensivos, que nos parecem absolutamente normais e aceitáveis. Comportamentos que acreditamos ser desimportantes ou até benéficos podem estar nutrindo eus perigosos. Temos, então, que aprender a observar nossos atos em busca de facetas inofensivas que nutrem os egos.
Diante de um ato comum, temos que nos perguntar: "Estará este ato nutrindo algum defeito? Estará ele vinculado a algum ego prejudicial?" Atos aos quais não damos importância não podem passar desapercebidos.

É justamente por não percebermos os atos que consideramos sem importância que os mesmos prosseguem vivendo livremente e reforçando egos despóticos que tanto nos atormentam e nos fazem sofrer.

Temos que aprender a observar o "desimportante", aquilo que acreditamos que não é defeito, os atos comuns, que todos aceitam. Ali se esconde o delito.
Sobre este pormenor, diz o V.M. Rabolú:

"Como se compreende a ira, o orgulho, se tem milhares de manifestações diminutas que se crê que não é nada? E, sim, é, porque daí se está alimentando o ego." (A Águia Rebelde, cap. II, p. 32, 1ª edição, São Paulo: Movimento Gnóstico Cristão Univesal do Brasil na Nova Ordem, julho de 1995)

Cremos que as várias manifestações da ira não são nada, ou seja, acreditamos que não possuem importância. O ego nos engana, age livremente fora do campo de nossa consciência. Comportamentos inofensivos podem ser defeitos disfarçados.

Isso não significa que tenhamos que ficar neuróticos com todas as coisas inocentes que fazemos. Temos que combater somente os comportamentos inofensivos que nutrem os egos e não todos os comportamentos inofensivos que existem. Se você não percebe vínculo algum de um comportamento com um ego, não tem porque pedir por sua eliminação.

Um comportamento "desimportante" será um delito somente se nutrir algum defeito, caso contrário não.

Os atos, frases, pensamentos e emoções podem nos parecer completamente aceitáveis, inofensivos, desimportantes, comuns e, não obstante, estarem reforçando um defeito. Até o inofensivo ato de beber água poderá estar reforçando algum defeito, dependendo da situação em que aconteça (Ex. suponhamos que você escolha para beber água, tendo outras opções, exatamente o lugar ou momento em que esteja uma pessoa com quem você queira fornicar) .

Temos, assim, que explorar a nossa vida. Mas isso não o faremos teorizando, elocubrando ou pensando a respeito. Temos que aprender a fazê-lo praticamente, por meio da observação. A observação será educada neste sentido, por meio da prática, e se desenvolverá, refinará e se tornará altamente sensível. Quanto mais a utilizarmos, mais sensível se tornará, captando rapidamente sutis manifestações e identificando o que nutre os defeitos. Falas, palavras, frases, olhares, movimentos, emoções tênues, recordações, sorrisos, gargalhadas etc. serão facilmente percebidos pela consciência. É importantíssimo não descuidarmos da fala, pois a palavra alimenta muitos erros.

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Quando nosso sentido de auto-observação ainda não está desenvolvido, não percebemos as sutis e refinadas manifestações do Ego, percebemos somente as manifestações mais grosseiras. As manifestações sutis, que são as que nutrem as manifestações grosseiras, ocorrem sem que as percebamos. Temos que aprender a dirigir a atenção para o sutil, o leve, o imperceptível.

Se começamos a prestar atenção no sutil, nos daremos conta de que estamos nutrindo as manifestações grosseiras a todo momento, por todos os centros. Então podemos retirar tais manifestações, mediante a Morte em Marcha, e constataremos que as manifestações grosseiras perderão o vigor.

Vencendo o inimigo

O maior inimigo de um homem é ele mesmo. Devemos observar o nosso inimigo, que é o nosso próprio Eu(s).
Tentarei descrever um pouco a correta observação do Ego. Não pretendo suplantar as orientações de um mestre, somente contribuir com as mesmas.
Na correta auto-observação, a sinceridade é completa. Não tememos as revelações. Temos coragem de encarar a realidade a respeito do que somos. Não resistimos ao impulso do ego e nem nos entregamos: nos separamos e o observamos de fora. Resistimos à sua fascinação para enfraquecer o seu poder. Cortamos sua alimentação para que definhe. De modo algum permitimos que tome conta. Não tememos sua aproximação, mas a vencemos quase antes que comece a brotar.
Nos adiantamos ao seu ataque: o esperamos. Não esperamos que o impulso cresça e tome conta de tudo: o derrubamos muito antes. Tomamos a dianteira porque estamos vigilantes. Somos sentinelas em tempo de guerra.
A observação é penetrante, não deprecia nada. Priorizamos a mente (centro intelectual) mas não negligenciamos os movimentos, os sentimentos, os instintos (manifestações corporais ligadas à preservação da vida e da espécie) e o sexo. Todo detalhe é percebido e assimilado. A observação visa principalmente os detalhes. Comportamentos inocentes vinculados aos desejos não passam de modo algum desapercebidos. Tudo o que reforce o defeito, direta ou indiretamente, é observado e retirado assim que descoberto.
Transformamos nossa pessoa em objeto de estudo observacional. O estudo é cada vez mais profundo. Nos enchemos de compreensão.

Reflexão introspectiva

Quando há oportunidade, podemos nos deter para refletir sobre nosso múltiplo Eu. Porém a correta reflexão, que estou mencionando, não é um devaneio teórico. Tentarei descrevê-la.
Na correta auto-reflexão, não teorizamos sobre nós mesmos: trazemos à consciência fatos psicológicos concretos. Buscamos, com base na auto-observação detalhista realizada, formas e causas das manifestações, até onde alcancemos. Nos interessam apenas fatos psicológicos reais: o que concretamente falamos, pensamos, imaginamos, lembramos, planejamos, tentamos, sentimos, fizemos etc. em suas múltiplas nuances sutis, porém concretas, e em seus múltiplos encadeamentos sequenciais.
Esta reflexão aprofunda ainda mais a compreensão conseguida com a observação direta, mas o ponto de apoio é sempre esta última.
Aqueles que cometem erros na vida, atos reprováveis etc. não compreendem o que estão fazendo ou o compreendem apenas parcialmente. Se compreendessem de fato a ridicularia inerente ao que fazem, deixariam de fazê-lo.Mas para tanto, necessitariam conhecer a si mesmos e isso não seria possível sem auto-observação e auto-reflexão. Temos que nos compreender, pois, ainda que pareça absurdo, não nos compreendemos, as pessoas não compreendem a si mesmas, não se conhecem.

Dois dentro de nós

Quando iniciamos o trabalho da Morte, evidenciamos a existência de dois homens distintos dentro de nós: um que tenta subir aos céus e outro que quer nos arrastar ao abismo. Um deles está enamorado pelo pecado e o outro anseia pela libertação. Não devemos oscilar entre ambos, temos que optar por um deles. Que a opção seja pelo homem superior que tenta se libertar do pecado para ascender aos céus.

Como sair de uma possessão

Quando uma pessoa está tomada por um desejo, dizemos que ela está possessa por um eu-diabo.
O ideal é não chagarmos ao extremo da possessão, trabalhando na morte dos detalhes e evitando-a muito antes que aconteça. Entretanto, se, por descuido, caímos nesse extremo, só nos resta sair de tão lamentável estado.
Nos livramos da possessão quando substituímos a repressão do desejo pela observação sem identificação associada à petição por sua morte. Em lugar de resistir ao desejo, devemos observá-lo e orar por sua dissolução.
Temos que ter o cuidado de não substituir a repressão pela satisfação. O correto é deixamos de resistir ao defeito para observá-lo em ação e não para fortificá-lo satisfazendo-o. Trata-se de substituir mecanismos de contenção: em lugar de reprimir (resistir), observamos e oramos. A observação com oração é um meio de contenção do desejo muito mais eficiente do que a repressão. Esta o represa, aquelas o enfraquecem e o tranformam até sua extinção completa.
Satanás é o Eu e atua na primeira pessoa. Ele sopra pensamentos em nossa mente. Se nos identificamos com os pensamentos, somos invadidos e ficamos obsessionados. Daí o silêncio mental cultivado pelos budistas.
Quando estamos obsessionados, devemos observar a obsessão de fora, tratando-a como algo estranho. Embora o Ego esteja dentro de nós, deve, ainda assim, ser abordado como um sujeito distinto, como alguém ou algo que não é o Ser. Observar esse invasor como se observa uma outra pessoa nos conduzirá à compreensão de suas atitudes. Quanto mais dados descobrimos sobre o elemento psíquico obsessionante, mais alívio e liberdade sentimos. Conforme a compreensão se aprofunda, o alívio se intensifica.
Não conseguirá ser desobsessionado aquele que não for absolutamente sincero consigo mesmo. A auto-sinceridade é requisito fundamental para a desobsessão.
Quando a obsessão é mais forte, a auto-reflexão a respeito do defeito obsessor é altamente eficaz. Neste caso, transformamos nosso sofrimento, desejo, sentimento, compulsão, ou o que seja, em objeto de estudo meditativo. Refletimos a respeito do mesmo reunindo toda informação possível. O resultado será a compreensão. Quanto mais informações reunirmos, mais compreensão teremos. O que importa é "dar-se conta", tomar ciência daquilo que desconhecíamos sobre nós mesmos.
Não é demais lembrar mais uma vez que quem nos livra da possessão é nossa Mãe Divina. Todo o trabalho aqui descrito será inútil se não for acompanhado por orações sinceras à Ela para que dissolva o eu-demônio obsessor e liberte a nossa alma.

Distorção da realidade pela luxúria

A percepção sob o viés luxurioso é uma visão distorcida da realidade. O corpo feminino, o orgasmo e o sexo são percebidos, sob a ótica dos egos, de forma alterada, tendenciosa e muito distante do que realmente são. O fornicário é um ignorante: ignora o que a mulher, o sexo, o orgasmo e a ejaculação são de fato, pois sua percepção é subjetiva e está alterada.
A alteração da percepção tem como uma de suas origens as formas mentais. Formas enviesadas e mecânicas de pensar e imaginar originam o desespero passional pelo orgasmo. Como se trata de uma maneira peculiar de ignorância, combate-se a percepção equivocada com discernimento e compreensão. Mas, devido a um condicionamento existencial, jogar luz nas trevas para inverter o funcionamento psíquico não é tão fácil como parece. A mente se condicionou ao longo de várias existências a funcionar sempre da mesma forma e descondicioná-la exige tempo e trabalho. Leva-se tempo até dar-se conta da nulidade e do caráter ilusório da luxúria. A humanidade está presa nas teias da ilusão. O entendimento está embotelhado. A consciência está aprisionada.
À medida em que a consciência se aperfeiçoa e desperta, vai-se compreendendo que é uma perda de tempo viver correndo atrás de mulheres e de sexo. Compreende-se que o sexo é importante mas não é a meta existencial dos homens sensatos.
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sábado, 18 de julho de 2009

A Região da Compreensão Avassaladora

Há uma região no interior do homem, na qual nenhuma ilusão resiste. É a região da verdade e da compreensão destruidoras e terríveis, onde são varridas como folhas todas as mentiras que contamos para nós mesmos e todos os auto-enganos. Ali reina a morte de Maya, e é onde compreendemos a nulidade de nossa existência. Ali entendemos que não somos nada, que tudo é uma gigantesca mentira que nos contaram e que contamos para nós mesmos desde o nascimento. Ali entendemos que sempre invertemos tudo, confundindo o real com o ilusório. É uma região avassaladora.
Não é muito fácil chegar lá. Não sei indicar sua localização, sei somente que está dentro do homem, em algum lugar da Alma ou do Espírito.
Quando entramos nesta parte de nós mesmos, nos damos conta de que tudo o que amamos neste mundo nos é emprestado, que nada nos pertence. O que ficaria de nós se nos tirassem tudo? O que sobraria se fôssemos arrancados daquilo que mais amamos? Restaria somente a miséria interior!
Não há sentido algum em prender-se ao passado ou ao material: a morte arrasa com tudo! É melhor e mais sensato, portanto, antecipar-se a ela, não querer corrigir a natureza e romper todas as ligações voluntariamente, antes que a natureza nos force a fazê-lo.
O problema está em nós, não nas leis naturais. É absurdo querer inverter as leis naturais da morte, da impermanência e da transitoriedade. Temos que nos aliar a elas e caminhar lado a lado, o que é possível quando alcançamos a Região da Compreensão Avassaladora. É lá que reside a transformação do homem, a nossa salvação. Entendo que ali reside o nosso Verdadeiro Ser.
Ali compreendemos que luxúria, fornicação, mulheres, apegos, poder, riquezas etc. não são o que parecem e que os perseguimos por pura ignorância, por não sermos capazes de enxergá-los como são. Tal incapacidade se deve a um condicionamento ou subjetivação mental: a mente, condicionada, não é capaz de ver as coisas de outro modo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Morte do Eu é o Esquecimento

O esquecimento na Morte do Ego

A morte do Eu é o esquecimento. Mesmo recordações boas relacionadas com o desejo, incluindo a curiosidade em analisá-lo, podem atraí-lo ao espaço psicológico. Quando não estamos identificados com um defeito, devemos esquecê-lo completamente, evitando evocar lembranças, ainda que altruístas e positivas, que lhes estejam vinculadas de qualquer forma, mesmo que pareçam muito necessárias. As possessões se iniciam por recordações sutis. A simples cogitação da possibilidade de retorno do desejo expulso (enfraquecido) inicia o processo de atração. A vigilância dos atos visa eliminar as recordações, principalmente as sutis. Até mesmo dúvidas, curiosidades e indagações a respeito do defeito podem atraí-lo à possessão.

É melhor e muito mais fácil evitar a possessão do que tentar revertê-la após ter se instalado. A análise de um eu se justifica apenas quando a possessão já está instalada, caso em que se faz premente a necessidade de expulsar o elemento psíquico invasor. A expulsão se dá em proporção direta ao enfraquecimento. A debilitação do poder despótico de um agregado psíquico (complexo autônomo ou defeito) se verifica à medida em que se aprofunda a compreensão de suas múltiplas facetas ou aspectos. Compreender as múltiplas facetas é tomar consciência de todos os mecanismos de operação, bem como de todas as características do eu analisado: absolutamente tudo o que se relacione aquele defeito, até onde alcancemos.

Acredito que um dos pontos-chave da obsessão psíquica é a crença de que o desejo é necessário por proporcionar prazer e satisfação. Em tal estado, todos os inúmeros, imensos e graves danos que o desejo ocasiona às nossas vidas são desconsiderados. Consequentemente, a expulsão do invasor requer a tomada de consciência dos inúmeros prejuízos, desgraças e catástrofes ocasionados e por ocasionar. A conscientização dos danos é a conscientização dos aspectos negativos, dos problemas trazidos, e desenvolve sentimentos de revolta contra o despotismo. A revolta contra o despotismo interior de um eu-defeito resultará na vontade cada vez maior de expulsá-lo de dentro de nós. A vontade de nos livrarmos não resulta do nada: provém da conscientização dos danos e prejuízos, os quais estão excluídos do processo cognitivo durante a possessão. O possuído está louco e não julga com sensatez, chegando muitas vezes a arriscar a própria vida para satisfazer um impulso.

A intenção da análise é percorrer conscientemente, sem identificação alguma, o processo experiencial do eu obsessor para enxergar e esquecer suas múltiplas facetas nesse transcurso. Dar-se conta e esquecer são o caminho da desobsessão. Esquecer é abandonar. Morrer é ser esquecido.

O trabalho de análise se justifica plenamente quando há possessão, mas me parece prejudicial se for realizado quando não houver necessidade. Se eu começar analisar um defeito do qual já me libertei, o estarei alimentando e o trarei de volta. Neste caso, o indicado é a vigilância constante e profilática, principalmente sobre os pensamentos, e a reação imediata mais adequada à aproximação de um eu invasor é a súplica à Mãe Divina. A Morte em Marcha (V.M. Rabolú) é, entre outras coisas, uma profilaxia contra a possessão.

A invasão por um ego ocorre principalmente pelo centro intelectual, embora não apenas por ele, porque somos animais pensantes. Assim, importa vigiar prioritariamente os pensamentos, sem abandonarmos a vigilância sobre os outros centros da máquina.

Em todo o desenvolvimento espiritual, a mente é sempre o maior obstáculo. É na mente que estão as deformidades do entendimento, as crenças defeituosas que correspondem à destrutiva idiossincrassia egóica. Então, é pela mente que temos que começar e é sobre a mente que temos que trabalhar continuamente, dando-lhe atenção especial sempre. Trabalhar sobre a mente não é raciocinar: é, ao contrário, buscar o silêncio. As recordações, embasamentos para os desejos, estão na mente. Lembrar é pensar. Morrer é silenciar e esquecer. No esquecimento há alívio e libertação.

Morte em marcha no centro intelectual

Há certos instantes em que o desejo nos deixa em paz como, por exemplo, os minutos ou horas que se seguem após sua satisfação, ou então os momentos em que algo nos impacta e afasta nossas preocupações de um desejo específico. Observe-se nesses momentos, quando estiver completamente livre de um desejo atormentador. Você constatará que nesses instantes não há traços de sofrimento ou insatisfação, mas sim um estado interior de calma, serenidade, traquilidade: é o esquecimento da maravilhosa morte. O objeto do desejo está esquecido e não nos preocupamos com ele. É esse o estado ideal que deveríamos perpetuar.

Infelizmente, não conseguimos perpetuar este estado simplesmente tentando “segurá-lo” em nós, sem estratégia alguma. É preciso uma estratégia correta. E a estratégia correta consiste em vigiarmos a nós mesmos contra os pensamentos de todo e qualquer tipo que se relacionem com aquele objeto de desejo. Importa por cuidado principalmente nos pensamentos cuja relação com o objeto de desejo é sutil, ou seja, pensamentos cujo caráter prejudicial é tênue, vago e não muito claro. Esses pensamentos também ocasionam dano porque reforçam o desejo. A atenção não pode ser posta somente nos pensamentos que explicitamente reforçam o que não queremos mas também, e principalmente, nos pensamentos que parecem ser inocentes. Essa é a morte em marcha no centro intelectual e inclui: pensamentos, lembranças, recordações, imaginações, raciocínios e análises, os quais não passam de manifestações intelectuais de caráter delituoso sutil mas, por isso mesmo, enganador e perigoso. O V.M. Rabolú os chama de “detalhes”. Sugiro o estudo dos mesmos em duas de suas obras: “A Águia Rebelde” e “Hercólubus ou Planeta Vermelho”.

Os detalhes, ou comportamentos que parecem inocentes à primeira vista, também se expressam nos outros centros (emocional, motor, instintivo e sexual) e neles devem ser igualmente vigiados. Tudo isso está bem explicado nestes dois livros.

A mente deve estar fechada à invasão dos pensamentos. Por isso diz o V.M. Samael em “Kabala e Eons” para uma mulher que havia sido desobsessionada mas estava curiosa por saber mais a respeito da entidade tenebrosa que a havia possuído: “No te preocupes ni piense mas eso, porque estás atrayéndola.” Esta resposta foi dada porque a mulher o havia interrogado, querendo saber se a entidade tenebrosa obsessora era um defeito seu ou pertencia a outra pessoa. A mulher contesta: “Lo mejor es olvidar?” E o V.M. responde-lhe: “Olvídate de eso, no pienses mas en eso!...” Em outras palavras: se pensarmos no defeito, ainda que com boas intenções, o atrairemos. O melhor é esquecê-lo. Um defeito é uma entidade obsessora, um ego invasor.

A limpeza dos pensamentos deve ser diária e constante, assim nos polarizamos no lado da morte, ou seja, da pureza da essência. Todo pensamento reforça algum defeito ou impede a sua observação. A partir da limpeza do pensamento, podemos limpar também os sentimentos (centro emocional) e as ações (centro motor-instintivo-sexual), mas primeiro temos que limpar os pensamentos. A mente é sempre o grande e contínuo obstáculo, durante toda a vida.

Importa ainda não permitir que os maus pensamentos prossigam nos instantes imediatamente seguintes à sua irrupção na mente.

Fortificação da fé

A fé fortifica-se com comprovações. Coletemos fatos e experiências para nos convencermos e eliminarmos todas as dúvidas. A fé não é a crença cega e nem a convicção gratuita, é a certeza e esta somente pode ser conseguida mediante a experiência e a comprovação.

Deus e o Diabo

Deus e o Diabo “falam” ao homem na alma, interiormente. A voz de Deus e a inspiração divina podem ser identificados mediante os preceitos de nossa religião. É assim que diferenciamos inspirações divinas das inspirações diabólicas. Deus é o Ser e o Diabo é o Eu. O desejo é diabólico e a vontade é divina. Entretanto, a má-vontade, que é a determinação para fazer o mal, é também diabólica por ser o próprio desejo concentrado.

Os religiosos realizam o contato com o mundo espiritual por meio dos sentidos internos, ainda que não tenham consciência dos nomes “clarividência”, “clariaudiência” e outros similares.

Impulsos para fazer o mal ao próximo ou a si mesmo são malignos. Impulsos para fazer o bem tanto ao próximo como a si mesmo são benditos. As hierarquias divinas nos julgam e medem pelo bem que realizamos ao próximo e a nós mesmos.

Os pecados são os defeitos. Quando prestamos atenção ao coração, podemos perceber impulsos para satisfação dos pecados e impulsos para superação dos pecados. Os primeiros nos arrastam para baixo, para a perdição, e os segundos nos arrastam para cima, para a bem-aventurança. Deus e o Diabo travam combate no interior do homem por sua alma. Quando Deus vence o Diabo, então o assimila e o destrói, dissolvendo-o.

Auto-prejuízo

O ato ejaculatório é um ato de auto-agressão sob disfarce prazeiroso. Ao orgasmo se sucede a sensação de morte. Quando fornicamos, estamos fazendo mal a nós mesmos sem termos consciência disso. A ilusão do ego nos engana.

O homem comum não vive sem o orgasmo. Concebe a vida sem ele como doentia, triste e sem gosto por ignorar as felicidades que existem nos céus, que são muito maiores.

A disciplina

A disciplina deve passar por cima de tudo, sem que se espere pela compreensão correspondente ao ato disciplinado. Esperar desapegar-se para somente então disciplinar-se é rumar diretamente ao fracasso. A disciplina não se sucede à morte: a antecede.

Eus muito fortes que levam a vontade a desfalecer

Se sua vontade desfalece e você fraqueja ao tentar suplicar contra um Eu muito poderoso que te domina, tal fato se deve à tentativa equivocada de opor-se diretamente ao núcleo do defeito em questão ao invés de retirar os detalhes gradativamente.

Eus muito poderosos não podem ser eliminados imediatamente. São enfraquecidos quando começamos a eliminar suas partes sutis, seus pequenos detalhes, um após o outro, dia após dia. Então observamos um curioso processo: a desidentificação da alma com o agregado psíquico acompanhada pela diminuição progressiva de sua força.

À medida que os detalhes do eu poderoso são descobertos e eliminados no cotidiano, vamos nos tornando cada vez mais separados do mesmo e passamos a vê-lo cada vez mais como algo estranho, intruso e alheio. Tal visão se deve à ruptura com a identificação. O defeito já não é mais visto como algo que nos pertence e ao qual estamos unidos, como antes era considerado, mas como uma deformidade invasora. Seus desejos e pensamentos não são mais considerados como partes de nós. É um avanço de compreensão.

É por este meio que aos poucos vencemos estes eus, os quais costumam provocar sensações de impotência.



Esquecimento como indicador

Um sinal de que um defeito está começando a ser enfraquecido é o esquecimento. Se, por exemplo, um homem apaixonado por uma mulher pensa nela todos os dias, aos poucos começará a esquecê-la se aplicar corretamente a morte em marcha sobre todos os detalhes de sua paixão. Começará a ficar longos períodos sem pensar em sua amada e, com o avanço da morte, se esquecerá completamente. O mesmo vale para qualquer outro ego.

O vício de "checar" a morte

O hábito de checar constantemente se um defeito foi realmente eliminado constitui uma forma de recordação do mesmo e um meio de fortificá-lo. É um indicador de desconfiança em relação ao poder da Mãe Divina.
Se um defeito não está mais se fazendo sentir ou perceber, temos que nos ocupar com outros ao invés de checar ou fazer pequenos "testes" para se o mesmo realmente enfraqueceu. Quando um defeito não dá sinais de atividade, temos que nos esquecer completamente dele.

A interrupção dos pensamentos na prática da morte mística

A batalha contra a luxúria e os demais defeitos é principalmente uma batalha mental. Embora se dê também em outros níveis ou centros, os fundamentos dos egos são mentais.

Evitamos a possessão nos desviando das situações que as provocam e também trabalhando diretamente com os detalhes. O trabalho com os detalhes evita que os defeitos se alimentem porque os abatemos quando começam a surgir e ainda são fracos em suas manifestações.

É sempre melhor prevenir do que remediar, mas há casos em que a prevenção não é possível. Quanto se dão tais casos, necessitamos de ferramentas que nos possibilitem sair do horrível estado alterado negativo e recuperar o estado ideal de normalidade.

O primeiro a fazer, quando se está sob a possessão de um desejo, é parar a mente. Após deter os cursos dos pensamentos, recordações e imaginações mecânicas, o aspirante inicia sua auto-observação. Não me parece coerente tentar observar o ego em manifestação através dos cinco centros ao mesmo tempo em que se dá asas à mente. Se damos passe livre aos pensamentos, perceberemos somente os pensamentos. Os pensamentos e imaginações mecânicas são escórias da memória. Apesar de parecerem muito úteis, não passam de lixo psíquico. Como poderíamos ver aquilo que está oculto se nos detemos distraídos com as escórias da memória? Temos que limpar nosso psiquismo, jogar todo o entulho fora e esvaziar nossa casa interior. A limpeza começa pelo lixo mental.

Geralmente nós, aspirantes, caímos no erro de tentar sair do estado de possessão sem deter a mente. O resultado é um conflito infrutífero em que nos debatemos em vão contra os desejos. De modo que a seqüência de atos é:

1) Parar a mente (é o primeiro passo);

2) Observar os detalhes do ego através dos centros (é o segundo);

3) Suplicar por sua desintegração (é o terceiro).

Temos que saber que a luxúria é o defeito capital mas não é o único. Para ampliar a captação de defeitos, temos que nos observar também sob outros parâmetros, mas sem nunca negligenciarmos este defeito fundamental.

Ceticismo Dialético Espiritualista - Explodindo as Objeções ao Cinturão de Fótons

Por Pedro de Oliveira

Outro dia li uma interessante objeção à existência do Cinturão de Fótons publicada no site Ceticismo Aberto. Trata-se de um artigo de autoria anônima e de origem norte-americana, cujo título traduzido para o português era: “Explodindo o mito do cinturão de fótons”. O artigo está publicado neste endereço:

http://www.ceticismoaberto.com/referencias/cintfotons.htm.

Como os argumentos do autor me pareceram muito úteis para ilustrar sofismas, resolvi dissecá-los. Peço para que divulguem minha rápida análise, principalmente entre os céticos quanto ao Cinturão de Fótons. Podem publicar onde quiserem. Aí vai:

[A hipótese da existência do cinturão de fótons] É alimentada por uma desconfiança geral de nossa comunidade científica e uma má interpretação do pensamento científico moderno.”

Segundo o autor, não se poderia desconfiar da comunidade científica, ela estaria, portanto, acima de suspeitas. Mas os representantes e simpatizantes desta mesma comunidade poderiam desconfiar dos outros, tal como o autor faz. A desconfiança correta seria, portanto, unilateral. Eles poderiam desconfiar de todo mundo, nós não poderíamos desconfiar deles.

“Bem, para começar, eu não pude achar qualquer evidência de um satélite em 1961 levando os instrumentos exigidos (?) descobrir uma FAIXA DE FÓTONS como descrito. Satélites da época eram primitivos pelos padrões de hoje e estavam mais preocupados com telecomunicações, operando principalmente nos comprimentos de onda de rádio.”

Aqui o raciocínio é bem infantil: os satélites capazes de detectar fótons não existiriam porque o autor não os viu e também porque os satélites da época estariam preocupados com telecomunicações. Como tais satélites estavam preocupados com telecomunicações e operavam nas frequências de rádio, não poderiam existir outros satélites preocupados com outras coisas (que lógica impecável para um materialista!). Ou seja, a ausência de evidências seria prova de inexistência. O autor pressupõe, portanto, que é onisciente e que nenhum satélite existente escaparia ao alcance de sua percepção.

“Satélites e sondas subseqüentes, com sua instrumentação sofisticada, seriam certamente capazes de descobrir a FAIXA DE FÓTONS, porém, nenhuma coisa assim foi relatada em qualquer lugar. Este não é um caso de cientistas mantendo segredos, é simplesmente porque nunca foi descoberto.”

Aqui há uma sugestão sutil de que tais satélites e sondas não deixariam escapar nada e captariam todas as coisas existentes no espaço. Eles seriam capazes de revelar tudo sobre o espaço e o conhecimento a respeito do céu estaria, portanto, inacabado.

“De acordo com outra informação que recebi, supõe-se que este CINTURÃO DE FÓTONS é precedido por uma ZONA ELETROMAGNÉTICA NULA. É dito que esta zona é um vácuo de energia, com um ausência completa de campos eletromagnéticos. Se existisse, esta ZONA NULA certamente teria aparecido nas muitas pesquisas do céu feitas durante anos recentes na Radiação Cósmica de Fundo em Microondas.”

Aqui a afirmação da onipotência e onisciência das pesquisas em microondas é explícita: se a zona nula existisse, teria sido captada e, se não foi captada, é porque não existe. Ou seja: somente existe aquilo que foi captado. Não haveria, portanto, limites para a capacidade de captação das pesquisas com radiação em microondas.

“Esta radiação de fundo é notável porque está distribuída uniformemente por todo o céu. Não há nenhuma falha em sua distribuição. A ZONA ELETROMAGNÉTICA NULA não existe!”

Ao afirmar que a radiação em microondas está distribuída por todo o céu, o autor está afirmando que conhece o céu inteiro e que não há recanto do céu que lhe seja desconhecido. Mais uma vez ele demonstra que acredita que é onisciente, um ser divino. E, como este deusinho conhece TODO o céu, ele pode afirmar que não há falha alguma em nenhum ponto, já que não há ponto algum que lhe seja desconhecido. Das duas uma: ou o céu não é infinito ou a consciência do autor se expande por toda a infinitude de céu, abarcando-o completamente e dando-lhe autoridade para afirmar a inexistência da zona eletromagnética nula. O autor não apresenta provas da inexistência de tal zona, mas, ao que parece, tais provas não seriam necessárias, uma vez que o autor seria uma divindade.

“O Cinturão de Fótons também foi descrito como um ANEL MANÁSICO, um "fenômeno que os cientistas não puderam reproduzir em experiências em laboratório". Eu não pude determinar o significado da palavra "manásico". Só posso imaginar que é derivada da palavra MANA. É dificilmente surpreendente que isto realmente não foi recriado em laboratório já que ninguém parece saber o que MANA é, além de sua definição de dicionário como uma força misteriosa.”

O autor ignora que Manas é um tipo de matéria real e concreta, composta por partículas ínfimas da natureza, entre as quais os fótons e muitas outras ainda desconhecidas pelos cientistas atuais. Manas é a luz astral, a matéria componente de alguns universos paralelos e também do psiquismo humano. É uma matéria sutil (por ser composta por partículas ínfimas) que se desprende das estrelas e se projeta no espaço, adentrando aos planetas. Informem o coitado.

“E chegamos às próprias Plêiades. Jose Comas Sola, seja ele quem for, estava ou bastante errado ou foi citado erroneamente. Nosso Sol não faz parte do sistema de Plêiades, nem orbita as Plêiades a cada 24,000 anos.

As Plêiades estão a aproximadamente 125 parsecs ou 407.5 anos luz de nosso sistema solar. Um cálculo rápido mostra que se nosso Sol estivesse nesta órbita, então sua velocidade orbital seria de 0.107C ou pouco mais de um décimo da velocidade da luz. Isto é aproximadamente 32,000 Km/seg. Esta velocidade seria aparente, não só para astrônomos, mas para todas pessoas, já que as constelações mudariam dramaticamente no curso de uma única vida se isto fosse verdade.

As Plêiades são um agrupamento de aproximadamente 100 estrelas com uma idade média estimada em 78 milhões de anos. Estas são estrelas muito jovens, muito mais jovens que nosso próprio Sol, que se estima ter 5 bilhões de anos, muito mais jovens até mesmo que nosso próprio planeta, a Terra.”

Aqui o argumento foi recheado com cálculos matemáticos pressupostos como absolutos. Ao que parece, o divino autor pressupõe, que os cálculos astronômicos citados sejam infalíveis, já que ele os utiliza como prova incontestável da veracidade de duas idéias: a de que o nosso sol não orbita ao redor de Alcione e de que Jose Coma Solas estaria errado. Não haveria possibilidade de engano e nem grandes margens de erro em tais cálculos, ou seja, os cientistas do futuro, daqui há 10 ou 20 mil anos, não considerariam de modo algum tais cálculos obsoletos e chegariam a resultados, senão idênticos, ao menos muito parecidos com os dele. Não haveria possibilidade alguma de tais cálculos estarem errados, já que aqueles que os realizam são deuses. Desde este remoto ponto da periferia da galáxia em que vivemos, o autor, que já mostrou ser um ser divino, poderia fazer cálculos perfeitos sobre a imensidão dos céus, sem ao menos ser afetado pela relatividade do tempo-espaço-velocidade. As imensas distâncias astronômicas seriam facilmente acessíveis aos cálculos feitos pela mente dos terrícolas (usar números para esconder a deficiência de raciocínios qualitativos é uma artimanha comum entre esses sofistas), os quais nunca necessitariam corrigí-los.

“Estas são estrelas muito quentes e luminosas do tipo espectral B, muito mais quentes e aproximadamente 10 vezes mais volumosas que nosso Sol, do tipo espectral G. Elas ainda não se afastaram da nuvem de gás inter-estelar ou nebulosa da qual elas se formaram. Remanescentes desta nebulosa podem ser vistos prontamente em fotografias do grupo. Foi sugerido que esta nebulosidade, brilhando com a luz das estrelas em seu interior, é o que deu origem ao mito do CINTURÃO DE FÓTONS.”

O mito teria sua origem em nuvens de gás iluminadas pelas estrelas. Sinto aqui que o nosso divino sabichão pressupõe que tais regiões não esconderiam nada mais além de nuvens de gás e luz. O conhecimento do autor sobre estas regiões remotas do universo seria, ao que parece, absoluto, já que ele pressupõe que não haveria mais nada além do que ele apontou.

“Estudos dos movimentos próprios destas estrelas, ou de seu movimento pelo espaço, mostraram que elas estão no processo de dispersão. Não há nenhuma evidência que estas estrelas orbitem Alcyone como descrito no diagrama. Também deve ser dito que não há nenhuma evidência de planetas ao redor de quaisquer destas estrelas. Pode muito bem ser que sistemas planetários possam evoluir em algumas destas estrelas, porém deve-se lembrar que estas são estrelas muito jovens e a formação planetária pode levar um tempo muito mais longo que o de formação estelar. Parece improvável que planetas habitáveis tenham tido tempo bastante para evoluir lá. 78 milhões de anos é um período muito curto na escala de tempo cosmológica ou geológica.”

Mais uma vez, a ausência de evidências seria uma prova da inexistência: se não há evidências de planetas orbitando as estrelas, é porque os mesmos não existem. Há um nome específico, do qual não me recordo agora, para este tipo de falácia.

“É muito confortante pensar em nosso planeta saindo da escuridão em direção à luz, embora eu não ache que nossa fauna noturna fosse concordar. É muito melhor que cada um de nós busque iluminação dentro de si mesmo. Este esclarecimento não pode ser imposto por forças externas. Um dilúvio de fótons das Plêiades não salvará o planeta, nem transformará seus habitantes em Atmosféreos iluminados. Nós teremos que resolver nossos problemas por nós mesmos.”

Para o autor do artigo, os proponentes da teoria do cinturão de fótons seriam pessoas que buscam a iluminação fora de si mesmas, acreditando que a luz física poderia iluminar suas almas. Muito provavelmente seriam pessoas que gostam de andar em praias e ficar nuas embaixo do sol, ao mesmo tempo em que dormem sempre com a luz acesa em casa. Para tais pessoas, o exterior seria mais importante que o interior. Elas seriam, portanto, materialistas!

Há ainda interessantes observações na nota do editor do artigo:

Nota do editor CA: O artigo original sobre o Cinturão de Fótons, que iniciou todas estas lendas, foi publicado em 1981. Foi sua reprodução em 1991 pela revista Nexus que causou uma maior divulgação e interesse, talvez porque a data para a passagem pelo cinturão fosse dada como Julho de 1992.

Mas, como bem sabemos, a noite continuou a cair depois de julho/92. Este pequeno detalhe não abalou o mito: a data simplesmente foi movida para a frente, no caso maio de 1997. Outra vez, a predição falhou miseravelmente.

Sem surpresa, isto abalou muito menos a lenda e agora a data é dada como em algum ano entre 2010 e 2015. Acho que não é preciso ser um gênio para saber o que NÃO vai acontecer entre 2010 e 2015.”

Ou seja: os proponentes do Cinturão não teriam o direito de errar em seus cálculos, já que os contrários também nunca erram. Seus cálculos teriam que ser exatos, sem margem de erro alguma, uma vez que os cálculos em tempo cósmico (astronômico) são muito fáceis, visto este ser muito curto e muito próximo à escala temporal da vida humana. Os astrônomos que acreditam na inexistência dos anéis, ao que parece, jamais errariam e nunca necessitariam corrigir cálculo algum.

Realmente o autor do artigo “Explodindo o Mito do Cinturão de Fótons” é um homem razoável e muito cuidadoso em suas análises!

Outro artigo reacionário que me chamou a atenção também não estava assinado por ninguém e se encontra neste endereço:

http://www.silvestre.eng.br/astronomia/polemicas/alcyone/

O artigo se intitula “Alcione e o Cinturão de Fótons”. Reproduzirei aqui a parte mais importante da argumentação do autor:

“A profecia é assustadora mas, pelo que sei, o Sistema Solar afasta-se das Plêiades a uma velocidade acima de sete quilômetros por segundo, o que parece ser motivo suficiente para não nos preocuparmos com a desintegração de nossos elétrons. Assim mesmo, supondo que eu possa estar enganado, vejamos o que aconteceria se, em vez de nos afastarmos de Alcyone, caminhássemos a seu encontro, não a sete, mas a sete mil quilômetros por segundo. Em quanto tempo chegaríamos à metade da distância que nos separa dela agora? A resposta ultrapassa os oito mil anos, mas as pessoas sofredoras deste mundo nem podem pensar em dar atenção ao resultado dessas continhas difíceis de entender, feitas por pseudo-cientistas ateus e metidos a sabichões, porque é mais fácil, mais agradável e mais emocionante acreditar que estamos na iminência de virar seres de luz e parar de sofrer, porque de pensar muitos já pararam. Freud ainda explica muito bem.”

Aqui, o argumento escondido do autor é o seguinte: se não estamos nos aproximando de Alcione, isso significa que não estamos nos aproximando de seus anéis.

Segundo este autor sofista, os proponentes do cinturão de fótons defenderiam a tese de que o sistema solar estaria “caindo” para dentro de Alcione, o que é falso e, além disso calunioso. Ele deve ter se inspirado nas afirmações de algum adolescente novato que tenha omitido sua opinião na web sobre o assunto ou algo assim. O que os verdadeiros proponentes da existência dos anéis afirmam é que o sistema solar caminha em direção aos mesmos e não em direção a Alcione. Portanto, ou o autor sabichão é um desconhecedor do assunto sobre o qual emite opinião ou então é um simples charlatão. Quem foi que disse que nosso sistema solar está caindo pra dentro de Alcione? O que afirmamos é que caminhamos rumo aos seus anéis e estes não estão, de modo algum, localizados na mesma porção de espaço em que Alcione encontra. Os anéis estão ao redor de Alcione, estendendo-se por imensas distâncias ao longo da galáxia, e não dentro de Alcione, como ele finge achar que acreditamos.

“Posso ser considerado cego para o mundo espiritual, mas tento escutar os privilegiados que, por experiência direta própria, afirmam que ele existe. O problema é que as evidências continuam contrárias, porque as "revelações" do astral raramente fazem sentido, como no caso de estarmos ameaçados por uma estrela muito distante, que se afasta de nós, em torno da qual o Sistema Solar jamais girou e onde nunca existiu um cinturão de fótons. Então, se o astral é real, aqueles ainda encarnados que o visitam de forma consciente andam conversando com as entidades erradas, que nunca estudaram Astronomia ou estão se referindo a objetos cósmicos sutis, não relacionados com a dimensão física densa do Universo.

Se alguém ler o que estou escrevendo aqui e achar que não passo de um materialista iludido pelo fascínio do mundo físico e que as Plêiades estão de fato se aproximando muito rapidamente de nós, que vá lá fora, olhe para elas todas as noites e verifique se estão aumentando de tamanho, porque tudo o que se aproxima parece aumentar de tamanho, ou será que também conseguiram revogar as leis da perspectiva e esse efeito não vale mais hoje em dia?”

Todo o argumento do autor foi construído em cima da falsa idéia de aproximação das plêiades. É uma interessante artimanha sofista: atribui-se caluniosamente uma afirmação evidentemente falsa ao oponente para, em seguida, acusá-lo de defender uma mentira. Então temos que informar a todos que não defendemos esta idéia ridícula de que as plêiades se aproximam de nosso sistema mas sim que nosso sol também faz parte delas e gira ao redor de Alcione. Sua idéia é: as plêiades não estão se aproximando e sim se afastando, portanto, não estamos nos aproximando de anel nenhum. Será que ele considera que nosso afastamento das plêiades é uma prova de que não fazemos parte dela? Nesse caso, ele estaria negando que, em distâncias astronômicas, poderia haver variação na distância entre uma estrela e os corpos que orbitam ao seu redor, ou seja, não existiriam afélios e nem periélios.

Continuemos esquadrinhando seu estilo de raciocínio:

“Por que uma quantidade enorme de pessoas acredita que algo diferente do normal esteja ocorrendo no céu? Se estivesse, os astrônomos não seriam os primeiros a perceber? Ocultação intencional da terrível verdade? Por que os cientistas não divulgariam essas informações? Todos são mentirosos e participam de conspirações governamentais? Não faz sentido. Eles não estão nos prevenindo sobre nossa entrada no cinturão de fótons porque nada semelhante está acontecendo.”

Não existiriam cientistas dissidentes, defensores da existência dos anéis, e nem tampouco comunidades de astrônomos independentes. Todos os cientistas seriam, segundo ele, pessoas idôneas que jamais mentiriam. Não teriam compromissos com governos e nem seriam afetados por interesses políticos. Deveríamos confiar inteiramente na comunidade científica internacional, a qual, além de infalível, não seria influenciada por interesses econômicos. Ela não seria bancada por grandes empresas ou estas não teriam motivo algum para esconder verdades terríveis da população. O mesmo valeria para os governos, principalmente o dos EUA. A NASA não teria tecnologia de ponta e não restringiria o acesso de ninguém a informações. Ela não teria sequer informações confidenciais.

Mais um pouco, para nos divertir:

“Astronomicamente falando, tudo continua se comportando exatamente do modo normal e previsto, como as pessoas mais observadoras e acostumadas com o céu podem notar. O Sol não alterou seu brilho e continua girando em torno do centro da Via Láctea, que fica no sentido oposto ao das Plêiades, o eixo da Terra continua inclinado como sempre, os períodos diurno e noturno se mantêm normais, as Plêiades continuam muito distantes, nenhum cinturão de fótons está à vista e nenhum Planeta Vermelho está invadindo o Sistema Solar. Basta olhar um pouco para cima à noite para perceber a habitual serenidade transmitida pelo Cosmos.”

A Terra não estaria recebendo mais insolação. O brilho do sol não estaria sendo alterado e todos os cientistas que defenderam isso no IPCC estariam mentindo ou seriam uns completos idiotas. A normalidade no céu seria uma prova de que também não estamos nos aproximando de anel algum, já que nós, humanos, perceberíamos qualquer aproximação por meio de anormalidades no firmamento. A aproximação não poderia ser silenciosa e nem passar desapercebida para nós. Teríamos, assim, onisciência na percepção dos fatos astronômicos. A posição do centro da Via Láctea, por ser vista daqui da Terra como estando em sentido oposto ao das Plêiades, seria uma prova de que não haveria anel algum para dele nos aproximarmos ou, talvez, de que não fizéssemos parte das Plêiades. Ou seja: a existência do anel somente seria verídica se a posição do centro da Via Láctea fosse outra. Esta última falácia é muito curiosa e bem montada.

O que tenho observado em todos esses artigos de reacionários contra Hercólubus e Alcione, é que é recorrente a afirmação da inexistência com base na falta de evidências. O raciocínio vicioso é sempre o mesmo: se não há evidências, é porque a coisa não existe. Trata-se de um raciocínio defeituoso que corresponde a formas bem primárias de sofismas.