Comportamento e imaginação estão
diretamente vinculados. O comportamento costuma corresponder às emoções e as
emoções são direcionadas pela imaginação.
Se me fizerem acreditar que estou
em perigo, imaginarei mil riscos e ameaças, sentirei medo e agirei em
consonância com tal emoção. Se me fizerem acreditar que estou em segurança, imaginarei
que não há problema algum, ainda que eu esteja sob grande risco, e sentirei
tranquilidade. Quando um homem aponta uma convincente arma de brinquedo para
outro, fere sua imaginação, fazendo-o crer que a arma é real, e nele provoca emoções
correspondentes, fazendo-o sentir medo, insegurança e vulnerabilidade. Quando
um homem imagina que uma mulher lhe dará mil prazeres indescritíveis, sentirá
desejo intenso. Uma pessoa que tenha uma grave doenças e não o saiba, não
sentirá as emoções correspondentes, por não estar ferida em sua imaginação e
não se imaginar sob risco. Uma pessoa saudável que, por um erro de exame, se
acredite gravemente doente, sentirá as emoções negativas correspondentes, pois
imaginará a si mesma piorando cada vez mais. Se um ladrão imaginar que há
grande soma de dinheiro em uma casa, sentirá o desejo de invadi-la para
roubá-lo.
Quando uma pessoa faz ameaças diretas
a outra, o faz com o intuito de ferir sua imaginação, induzindo-a a imaginar-se
em perigo. Se a imaginação da vítima for ferida como deseja o agressor, ela
sentirá medo, ficará intimidada e retrocederá. Quando um homem exibe um carrão
ou sinais de riquezas e poder para uma linda mulher, o faz com o intuito de
ferir-lhe a imaginação, induzindo-a a imaginar que ele pode lhe dar conforto,
segurança e proteção sem fim.
As diversas situações da vida
provocam emoções em consonância qualitativa com as imaginações que provocam.
Sentimos de acordo com o que imaginamos. Se eu imaginar que um homem é o meu
pior inimigo, sentirei raiva, ódio, medo e tentarei prejudicá-lo, ainda que o
infeliz nem sequer saiba de minha existência.
Quem tenta controlar as emoções
diretamente, sem redirecionar o curso da imaginação, está cindindo-se interiormente
e desencadeando uma neurose. O elefante
louco das emoções não se deixa dominar.
A emoção é rápida como um tiro, mas
a imaginação é a mão que direciona o cano da arma. A mente não é mais rápida
que a emoção, mas é o fator que a direciona. E não podemos controlar a mente
entrando em conflito com os maus pensamentos e más imaginações, mas sim
reforçando os seus contrários. Somente deixarei de pensar em um perigo se
preencher minha mente com pensamentos e imaginações de segurança.
A concentração serve para
preencher a mente com os pensamentos que queremos, redirecionando a imaginação.
Ao imaginarmos algo em um rumo que desejamos, modificamos o funcionamento
mental (sanskaras) e alteramos as emoções.
O Ego resulta da imaginação
equivocada que vai se nutrindo e sendo reforçada ao longo de toda a vida desde
a infância. Como Freud acertadamente se deu conta, é na infância que começa
tudo. Os vícios e deformidades que temos hoje se originaram na infância e, indo
além de Freud, em passadas existências. Quando, em um passado remoto, adquirimos
a mente e o poder de imaginar, começamos a dar vida aos desejos.
A imaginação não é ruim e nem
boa, é dual. Podemos nos afundar ou nos salvar através da imaginação. Educar a
imaginação é fundamental em toda disciplina espiritual.
Os corajosos que não temem o
inimigo e se expõem no campo de batalha não se imaginam em risco, ainda que conscientemente
saibam que estejam se arriscando. Os insensatos que se arriscam tolamente
também não se imaginam em perigo, por falta de discernimento, e não sentem medo.
São pessoas que não pensam na morte e nem na vulnerabilidade (aqueles por terem
aprendido e estes por serem estúpidos). Os covardes que vivem intimidados com
tudo possuem uma imaginação vulnerável ao perigo e se imaginam constantemente
em risco.
Uma pessoa que sofra cronicamente
com emoções ruins deverá procurar, dentro de si, as imaginações e pensamentos
que as provocam.
Uma das funções da auto-observação
é revelar as reações mentais (imaginativas) que vamos tendo aos diversos fatos
que vamos presenciando, para que possamos eliminá-las. Os acontecimentos fazem
a mente reagir de determinada maneira, ocasionando emoções inferiores. Temos
que descobrir as imaginações equivocadas antes de corrigi-las. Como eu poderia
corrigir algo cuja existência desconheço?
Um funcionamento imaginativo equivocado
é nutrido e reforçado por falas e atitudes que desconhecemos e necessitamos
descobrir ao vivo. Corrigindo a fala, os comportamentos e as imaginações que
reforçam uma emoção ruim, a enfraqueceremos.
Portanto, a correção da imaginação destrutiva se obtém por dois trabalhos simultâneos: a concentração/meditação e a auto-observação/Morte em Marcha.