Blog destinado a temas de interesse de gnósticos e simpatizantes. Se você sofre por não ter sucesso na Morte do Ego e se preocupa porque o tempo está passando, ou se é simplesmente alguém que quer se livrar de problemas emocionais e desejos prejudiciais que te afligem, você veio ao lugar certo. As idéias aqui contidas expressam apenas a opinião pessoal do autor e não substituem de modo algum a orientação de um mestre de consciência desperta.
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quarta-feira, 19 de agosto de 2009
O eixo central da luxúria
Um fornicário é alguém que goza sentindo o sêmen fluir pelos canais nervosos de seu aparelho sexual até a ejaculação. Um luxurioso é alguém que está apegado a este prazer. O apego a tal sensação constitui o eixo central da luxúria, sendo secundárias todas as formas restantes de apego ao feminino. Se o removêssemos, a luxúria perderia todo o seu sentido. Os prazeres sensoriais proporcionados pelas formas femininas, pela delicadeza, pelo perfume, pela voz doce e pelas feições delicadas, embora sejam muito fortes, são secundários em relação ao prazer do ato ejaculatório em si.
Tornar-se casto é dissolver o eixo central da luxúria, sua manifestação ou raiz principal, e também suas manifestações secundárias. Dissolvemos o eixo central cortando os sutis canais de nutrição que lhe levam energia e o fortificam. As armas são auto-observação detalhista e oração contínua. Tanto o eixo central quanto as manifestações secundárias necessitam ser enfraquecidos até a morte.
Ao percorrer o caminho para fora do corpo, o sêmen contata canais nervosos no aparelho sexual. Este contato satura os nervos com a refinadíssima energia seminal. É esta energia que proporciona o prazer orgásmico, o qual é totalmente animal. É ela também que proporciona o prazer espiritual sentido na coluna daqueles que transmutam sua energia. Há, portanto, dois tipos de prazer: o espiritual e o animal. Um é experimentado quando a energia sobe e entra no corpo. O outro é sentido quando a energia desce e sai. O primeiro revigora e regenera o homem, o segundo o enfraquece e o degenera.
Os viciados na sexualidade animal (a maioria de nós, seres humanos) se condicionam desesperadamente à sensação da energia percorrendo o caminho animal: para baixo e para fora. Se quisermos inverter nosso funcionamento, teremos que compreender e dissolver o apego a tais sensações, incluindo todas as lembranças, imaginações etc.
Quando a energia percorre o caminho animal, proporciona prazer intenso e rápido, sentido em uma parte localizada e específica da anatomia: o órgão sexual. Este prazer se deve ao caráter divino da energia, que neste caso está sendo desperdiçada para passar por um processo involucionante que se concluirá quando a mesma for ejaculada. Ao ser ejaculada, a energia sexual sofre uma involução.
A energia sexual deve ser transmutada dentro do organismo humano e não fora dele, mas isso não será possível enquanto o homem se manter apegado aos prazeres do trajeto involucionante do sêmen. O apego ao prazer da intensa, porém breve, sensação do sêmen em contato com os nervos durante sua saída do corpo físico deve ser sacrificado sem piedade.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Repressão: um erro a ser evitado
Um incauto poderia concluir que defendemos a satisfação dos desejos como forma de dissolvê-los. Tal idéia nos parece absurda pois a satisfação os fortifica, ao invés de enfraquecê-los. A satisfação ocorre via identificação e afasta o defeito somente temporariamente, tornando-o ainda mais despótico em momentos seguintes.
Aquele que remove os mecanismos de repressão do ego cairá sob seu domínio, caso não lance mão imediatamente de outras armas para contê-lo de forma eficiente. Importa entender que não estamos sugerindo a entrega ao desenfreio dos desejos sob a desculpa de observá-los. Estamos propondo a substituição do mecanismo repressivo por meios realmente funcionais de transmutação do desejo em neutralidade (liberdade da alma). Os meios consistem, primeiramente, em manter-se alerta em tempo integral para não nutrir os defeitos e, secundariamente (isto é, quando falhamos na adoção do primeiro), na ruptura da identificação com o elemento obsessor. Em ambos os casos, a observação de si e a oração às partes superiores do Ser são imprescindíveis.
Propomos, portanto, a substituição da repressão por um meio muito mais eficiente para a transformação e o resultante domínio de si.
É uma perda total de tempo analisar e refletir sobre um defeito se o estamos reforçando no dia a dia. Importa, então, encontrar os caminhos insuspeitados pelos quais os reforçamos, para assim dissolvê-los. A mera recordação de um impulso compulsivo leva-lhe energia e resulta posteriormente em obsessão.
Combate-se a obsessão combatendo-se os comportamentos que a nutrem. De nada adianta debater-se uma vez que esteja instalada se logo em seguida a reforçarmos novamente. O caminho começa, portanto, pelo cuidado em não as alimentarmos (daí a auto-observação e a morte em marcha). No entanto, aqueles que estão tomados por um agregado psíquico devem também dispor de um meio que lhes permita sair de tão horrível estado. Aqui entra em ação a auto-reflexão, a qual somente será funcional se a pessoa não voltar a nutrir o defeito obsessor tão logo se veja livre dele. É desnecessário dizer que somente a Mãe Divina tem o poder de dissolver o elemento obsessor, transformando-o o em virtude. Não menciono isto todo o tempo para não ser repetitivo, mas o leitor deve considerar que estamos pressupondo o apelo à Ela todo o tempo.
Relacionar-se com a Mãe Divina é uma questão de amá-la,assim como a outras partes do Ser. O amor a Deus é fundamental para a evolução espiritual. Temos que chegar a amar a Deus mais do que ao mundo, ao corpo e a nós mesmos, somente assim nos unimos a Ele para sempre. Em nosso atual estado, amamos muito mais ao mundo, à matéria, do que ao Ser.
Aceitação
Temos que trabalhar a aceitação da realidade. Não adianta nos pressionarmos contra aquilo que somos. Ao invés disso, é melhor nos compreendermos. Há uma diferença entre compreender o ego para dissolvê-lo e tentar sufocá-lo.
Eus bons
A tentativa de sufocação dos defeitos (recalque) é realizada por eus bons que cobiçam virtudes. São esses eus que originam neuroses através da auto-cobrança, auto-pressionamento, auto-condenação, auto-depreciação e auto-exigência. Os eus bons são, portanto, extremamente perigosos e podem ocasionar doenças. Por trás da virtude aparente de tais eus podem existir objetivos egoístas. A morte deve também se efetuar sobre tais elementos daninhos.
Delegar à Mãe Divina
Deixemos a responsabilidade da morte com a Mãe Divina. Façamos a nossa parte: vigiar e orar.
Essas palavras do V.M. Samael ilustram bem a idéia deste post sobre o vício de resistir aos desejos e tentar reprimi-los:
"A resistência é a força opositora. A resistência é a arma secreta do ego.
A resistência é a força psíquica do Ego, que se opõe à que tomemos consciência de todos os nossos defeitos psicológicos.
Com a resistência, o Ego tende a sair pela tangente, postulando desculpas para calar ou tapar o erro.
Por causa da resistência, os sonhos tornam-se difíceis de interpretar e o conhecimento que se quer ter sobre si mesmo torna-se nebuloso.
A resistência atua como um mecanismo de defesa, que trata de omitir erros psicológicos desagradáveis, para que não se tenha consciência deles e se continue na escravidão psicológica.
Mas, na realidade e de verdade, tenho de declarar que existem mecanismos para vencer a resistência e são os seguintes:
1- Reconhecê-la.
2- Defini-la.
3- Compreendê-la.
4- Trabalhar sobre ela.
5- Vencê-la e desintegrá-la por meio da super-dinâmica sexual.
Mas o Ego lutará durante a análise de resistência para que não sejam descobertas suas falácias, o que põe em perigo o domínio que ele tem sobre a nossa mente.
Nos momentos de luta com o Ego, há que apelar a um poder superior à mente: o fogo da serpente Kundalini dos hindus."
(Samael Aun Weor - A Revolução da Dialética, cap. 4)
A questão da resistência ao ego é da maior importância. Muitos estudantes adquirem o vício de simplesmente resistir aos desejos ao invés de estudá-los. Tentam, por meio do simples esforço sem critério, “não sentir o desejo”. Esta é uma forma de auto-agressão, de um equivocado esforço contra si mesmo, cujos resultados são as neuroses e doenças emocionais mais graves. Esse não é o caminho da morte do ego.
Ao invés de perdermos o tempo nos auto-agredindo com esforços indevidos e com o inútil hábito de resistir aos desejos, é melhor nos separarmos dos defeitos, observá-los em ação e suplicar por sua morte à Mãe Divina.
O mecanismo da resistência ao desejo está ligado à culpa e a culpa está relacionada com o medo. Diante do temor das consequências da satisfação de um desejo avassalador que não é aceito socialmente, a pessoa imediatamente faz esforços para sufocá-lo, bloqueá-lo, pois não conhece a didática para correta para a sua morte. A pessoa que não conhece a didática da Morte está à mercê dos defeitos.
Há em qualquer um de nós (inclunido os moralistas politicamente corretos que vivem criticando o próximo ao invés de criticarem a si mesmos) egos perigosíssimos, que podem destruir completamente a nossa vida e a vida de outras pessoas. São desejos intensos que podem nos levar a cometer crimes, atos socialmente reprováveis e punidos com medidas cruéis e severas. Diante de um tal perigo, é normal que as pessoas optem pelo caminho mais curto da repressão ou recalque, aperfeiçoando sua capacidade de simplesmente resistir e sufocar as paixões e emoções.
No entanto, o hábito de resistir aos defeitos é também um defeito, corresponde a uma forma encontrada pelo ego para evitar ser alvo da análise consciente. Se prestarmos atenção, veremos que, quando resistimos a um desejo, não fazemos mais nada, não o observamos e nem tampouco pedimos. Como poderíamos observar aquilo que banimos da nossa vista? Resistir a um desejo é “empurrá-lo para dentro”, de volta ao inconsciente, retirando-o de nosso campo de visão, expulsando-o do campo da consciência.
Expulsar um desejo do campo de visão não é matá-lo. O inimigo continua vivo e ativo dentro de nós, agora por baixo de nossa zona de auto-percepção consciente, não sendo captado pela auto-observação. Se eu expulso meu inimigo do meu campo de visão, jamais poderei estudá-lo e compreendê-lo. Não se mata um defeito através de resistências. A resistência é a opção por um pólo em detrimento do outro, é a opção por um desejo, socialmente aceitável e louvável, em detrimento de outro desejo, socialmente reprovável e condenável.
Ocorre, entretanto, que o ego jamais poderá matar o ego. De nada adianta optar por um pólo (um desejo) porque o outro pólo (o desejo contrário), continuará existindo. Muitos religiosos contemporâneos, desesperados para se livrarem do pecado, optam por pela via nefasta da resistência e vemos como eles sofrem, tentando resistir aos desejos e sendo por eles atormentados durante toda a vida, chegando algumas vezes a cometerem aberrações.
Se você faz muitas “coisas feias” e tem uma grande besta escondida no armário, não perca o seu tempo se sentindo culpado por tais monstruosidades. Isso nada tem a ver com o verdadeiro arrependimento (se fosse arrependimento verdadeiro, você nunca voltaria a fazer aquilo) e é, na verdade, um mecanismo dos egos para te enganarem e continuarem existindo. Aproveite o seu tempo observando e pedindo para a Divina Mãe a morte dos milhares de detalhes. Observe os resultados, você verá que as coisas mudam. Lembre-se que o trabalho de Morte é Ela quem realiza e não você, mero mortal do lodo da terra.
A Morte é tarefa da Mãe Divina. Devemos deixar essa tarefa com Ela e não tentar usurpá-la. Nos mantenhamos em nosso posto, no posto que nos corresponde, e façamos a nossa parte.
A Mãe Divina é o apoio e a arma do estudando, do neófito. Sem Ela, nenhum progresso é possível na Morte do Ego. Aquele que quer morrer deve apoiar-se na Mãe Divina. Não apoiar-se nEla, não rogar-Lhe, é ser ingrato.
O ato de delegar a morte de um defeito à Mãe Divina é o único ato que pode substituir o vício da resistência. Tentar a morte por si só, sozinho, é começar fracassando.
Os mecanismos de resistência são defeitos que devem ter seus detalhes observados e eliminados. Devem ser tratados como quaisquer outros defeitos.
Os mecanismos de resistência são muito queridos pelas pessoas que tiveram uma educação dentro das religiões confessionais. Se não forem compreendidos e dissolvidos, a Morte não avança. As pessoas temem eliminar seus mecanismos de resistência, pois acreditam que, se o fizessem, se tornariam vulneráveis a possessões. O medo é injustificado, pois a invasão violenta de paixões apenas ocorrerá se a pessoa optar pelo pólo contrário (buscando satisfazer o desejo contido) e não é, de modo algum, isso o que estamos defendendo. Não defendemos a opção por nenhum dos lados: nem pelo lado da resistência e nem tampouco pelo lado contrário à resistência, que é o da satisfação do desejo ao qual se resiste. Propomos uma terceira via: renunciar à batalha de opostos, esquecer o processo de opção, e nos ocuparmos em observar receptivamente, sem emitir juízos, conceitos, condenações ou absolvições apriorísticas. Quem alimenta um desejo está tão equivocado quanto quem resiste a ele. Em ambos os casos, o ego sobrevive.
Devemos dar tempo ao tempo e não nos pressionarmos para resistir. Quem reprime não observa. Se eu reprimo alguém, como poderei observá-lo em ação?
Dialogando com a mente
Durante a meditação, surgem dúvidas na mente, relacionadas com os mais variados assuntos. Estão ligadas a problemas cotidianos que enfrentamos, a desejos que queremos satisfazer etc. As dúvidas estimulam o raciocínio com o intuito de compreender o problema ao qual se referem e assim resolvê-las.
A tendência comum do praticante novato é identificar-se com tais dúvidas, desviando-se da concentração, ou rejeitá-las sem compreender seu conteúdo (reprimí-las) criando um conflito. Ambas as coisas estancam a prática e a fazem retroceder. Obtemos o avanço quando não rejeitamos e nem tampouco nos identificamos com as dúvidas, mas as dissecamos e compreendemos seu conteúdo.
Compreender o conteúdo de uma dúvida é descobrir o que contém, ou seja, é tomarmos consciência do que a consiste. Em que consiste esta dúvida que me assalta neste momento? A que se refere esta dúvida? O que há nela? De que se trata?
Não basta apenas auto-inquirir, temos que buscar a resposta. A resposta já existe dentro de nós mesmos, na própria dúvida. A própria dúvida traz seu conteúdo e o expõe à nossa consciência ao se manifestar na mente. Fazer-se consciente desse conteúdo é o indicado. Não é criando um conflito que a superamos, mas sim "dissecando-a para ver o que escondem de real", como disse o V.M.Samael:
"Durante a meditação, devemos dialogar com a mente. Se alguma dúvida surge, temos de fazer a dissecação dessa dúvida. Quando uma dúvida foi devidamente estudada, quando a dissecamos, não deixa em nossa memória rastro algum, desaparece. Mas quando uma dúvida persiste, quando pretendemos combatê-la incessantemente, forma-se o conflito. Toda dúvida é um obstáculo para a meditação. Mas não será rejeitando as dúvidas que iremos eliminá-las. Ao contrário, é fazendo a sua dissecação para ver o que é que escondem de real." (V.M. Samael Aun Weor, A Revolução da Dialética, cap. 16)
Não avançamos na viagem da meditação se não transcendermos as dúvidas:
"Qualquer dúvida que persiste na mente converte-se numa trava para a meditação." (idem)
À medida em que as dúvidas vão sendo ultrapassadas, a prática vai se aprofundando. Uma dúvida é transformada "em pó" quando é compreendida, mas resiste fortemente quando é simplesmente rejeitada sem compreensão:
"Temos que analisá-la, esquadrinhá-la, reduzi-la a pó... Não será combatendo-a, mas sim abrindo-a com o bisturi da autocrítica, fazendo uma rigorosa e implacável dissecação, que iremos descobrir o que havia nela de importante, o que havia nela de real e o que havia de irreal. Assim, as dúvidas, às vezes, servem para esclarecer conceitos. Quando alguém elimina uma dúvida mediante uma análise rigorosa, quando a disseca, descobre alguma verdade. De tal verdade vem algo mais profundo, mais sabedoria, mais experiência." (ibidem)
Analisá-la é transformá-la em objeto de escrutínio, em alvo de compreensão. Nos ocupamos com ela apenas enquanto existir, mas a largamos tão logo se aquiete por ter sido compreendida. Abrí-la com o bisturi da auto-crítica é questionar-se a respeito. Quando nos questionamos acerca do conteúdo de uma dúvida, e buscamos sinceramente a resposta ao nosso questionamento, a estamos abrindo para que revele o que há dentro. Descobrimos que traz algo de real mesclado a algo de irreal. Este trabalho cognitivo a elimina por meio da transformação. A dúvida se transforma em experiência e nos deixa em paz para prosseguir.
Auto-crítica é o auto-questionamento, a postura crítica em relação a si mesmo. Uma postura crítica é uma postura ativa, em que não se aceita passivamente idéias dadas. A auto-crítica é um bisturi porque nos permite duvidar das próprias convicções, de crenças ancestrais e de paradigmas, abrindo-os para verificar o que escondem. Aplicada às dúvidas interferentes, tem o saudável resultado de transformá-las "em pó", isto é, em nada, no vazio e no silêncio.
O diálogo com a mente
Quando a mente não se aquieta e insiste com alguns pensamentos, temos que dialogar com ela. Temos que interrogá-la sinceramente e deixar que fale. Interrogar sinceramente é perguntar tentando buscar a resposta em nós mesmos, sem evasivas ou justificativas. Trata-se de um auto-diálogo em que somos o inquiridor e a mente é tratada como o sujeito estranho a ser inquirido, embora esteja dentro de nós e seja uma parte de nós (mas não o Real Ser e sim um veículo). Quando interrogamos sinceramente a mente, a resposta para a pergunta surge do inconsciente, pois ali jazia antes do ato da interrogação. Todos temos conhecimento inconsciente, para o bem ou para o mal,e é este conhecimento que fornece a resposta.
Interrogar a mente é o indicado quando ela insiste com algum palavrório inútil. A indagação é referente ao conteúdo do pensamento insistente.
"Elabora-se a sabedoria à base da experimentação direta, na própria experimentação, à base da meditação profunda. Há vezes em que precisamos, repito, dialogar com a mente, porque muitas vezes queremos que a mente fique quieta, fique em silêncio, e ela insiste em suas tolices, em seu palavrório inútil, em continuar a luta das antíteses. É quando se faz necessário interrogar a mente: 'Muito bem, mente, mas o que é que queres? Me responda!' Se a meditação for profunda, poderá surgir em nós alguma representação. Nessa figura, nessa representação, nessa imagem, está a resposta. Temos então de dialogar com a mente e fazê-la ver a realidade das coisas, fazê-la ver que sua resposta está errada, fazê-la ver que suas preocupações são inúteis e que os motivos pelos quais se agita também são inúteis. Por fim, a mente fica quieta e em silêncio." (ibidem)
A mente deve compreender que seu falatório é inutil. O trecho acima me recorda o que disse o V.M.Samael certa vez em uma entrevista, quando o interrogaram a respeito de como silenciar um pensamento que estivesse atrapalhando a meditação. Sua resposta foi: "Compreendendo a inutilidade deste pensamento". É exatamente o mesmo que está sendo dito agora.
Ocorre que nossa cultura mentalista nos ensinou que os pensamentos são importantes e úteis. Tal crença arraigada nos leva a dar extrema importância às bobagens que pensamos. Dos milhões de pensamentos que temos em um dia, menos de 1 por cento servem para alguma coisa. Por considerá-los importantes, os alimentamos e os mantemos ativos o tempo todo. É esta inutilidade que necessitamos compreender durante a meditação.
Quando interrogamos a mente, somos o sujeito que pergunta e somos também o elemento que fornece a resposta. Entretanto, elemento que fornece a resposta deve ser tratado como um sujeito estranho, como algo que não é o Ser: um estranho dentro de nós que, não obstante, é nós mesmos. Há, portanto, uma dissociação. A resposta não virá se não a buscarmos. Qualquer pessoa pode realizar a experiência de dialogar consigo mesma, buscando dentro de si respostas pertinentes a questões pessoais. Um pessoa dividida entre dois amores poderá se perguntar: qual das duas pessoas me agrada mais? Em seguida, ela mesma, se tiver ser perguntado sinceramente, descobrirá a resposta. A resposta já existia dentro dela e ela simplesmente tomou consciência. Entendo que é a este tipo de indagação a que se refere o V.M., porém direcionadas às dúvidas que surgem e aos pensamentos mais renitentes, que insistem e não nos deixam continuar a prática.
Quando dialogamos conosco a respeito de uma dúvida, ela normalmente nos deixa após ser compreendida. Mas há casos em que a mente insiste em pensar, por considerar tais pensamentos importantes. É a inutilidade deste processo que precisa ser compreendida para que a mente silencie. É assim que adentramos ao nosso mundo interior.
Caso ainda assim a atividade mental persista, temos que interrogar a mente ainda mais profundamente, com mais força:
"Mas se notamos que a iluminação ainda não surge, que ainda persiste em nós o estado caótico, a confusão incoerente do palavrório incessante com sua luta de opostos, temos que chamar de novo a atenção mente, interrogando-a: O que queres, mente? O que estás procurando? Por que não me deixas em paz? Há que falar claro e dialogar com a mente, como se ela fosse um sujeito estranho, já que ela não é o Ser. Temos de tratá-la como se fosse uma pessoa estranha. Temos de recriminá-la e de repreendê-la." (ibidem)
É óbvio que os pensamentos, embora inúteis, possuem suas metas. A atividade mental tem seus objetivos, equivocadamente considerados úteis e importantes. É a essas metas que se referem as perguntas do tipo: "O que queres, mente? O que estás procurando?" Quanto mais enérgica e incisiva for a pergunta em sua sinceridade, tanto mais profundamente nos chegará a resposta. A resposta não nos chega por um passivo ato de mágica, mas nos cai se nos tornamos receptivos a ela, como no mencionao exemplo da pessoa dividida entre dois amores. A própria pessoa que está meditando sabe quais são as metas (inúteis) do seu pensamento insistente, de sua mente, mas não se torna plenamente consciente delas até o momento que se auto-questiona.
Sintetizemos, então. 1) Quando os pensamentos interferem, os dissecamos pela auto-crítica; 2) Quanto mais teimosa for a insistência da mente, mais enérgica deve ser a auto-indagação; 3) A auto-indagação deve girar em torno do conteúdo das dúvidas e das intenções da mente pensante; 4) A dúvida nos deixa e a mente silencia quando compreende o caráter inútil de sua atividade.
Quando estamos pensando, não compreendemos a inutilidade dos pensamentos. A mente pensa tanto porque crê que os múltiplos pensamentos são importantes e úteis.
Há situações em que é importante pensar de forma concentrada, quando não se possui outras faculdades superiores ao intelecto (ex. quando temos que encontrar a solução para um problema grave e urgente), mas, via de regra, o pensar disperso e desatento não nos traz vantagem alguma.
Quando tomados por pensamentos insistentes, podemos atenuá-los em grande medida se nos questionarmos com toda a sinceridade: Para que servem estes pensamentos? Quais são as suas utilidades? Em que podem me ajudar a resolver o problema que me incomoda? Se buscarmos as respostas com toda a sinceridade, chegaremos à conclusão de que os pensamentos são, não só desnecessários, mas também um estorvo prejudicial. Estas perguntas, quando dirigidas para a própria mente, terminam por convencê-la de que seus pensamentos são inúteis. O motivo básico pelo qual pensamos tanto é este: nossa mente (uma parte de nós, mas que não é o Ser e nem a Essência ou Alma) acredita que os pensamentos são importantes.
Paralelamente a tais perguntas, podemos também aplicar a dualidade: recordarmos ou pensarmos em algo que torna o pensamento em algo sem importância, alterando seu significado (ex. se estamos pensando em dinheiro para comprar um lindo carro, nos recordarmos de que iremos morrer fisicamente um dia). Assim como certas situações alteram o significado de outras, certos pensamentos também alteram o significado de outros pensamentos. Quando opomos a um pensamento um outro pensamento oposto, que o inutilize, podemos descartar ambos.
De modo que há dois procedimentos para aquietar pensamentos:
- questionar-se sinceramente a respeito de suas importâncias (questionar a própria mente);
- opor aos pensamentos outros pensamentos opostos que os anulem.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Os Mestres da Medicina são Devas
Os Devas da natureza
Os mestres da medicina são Devas, hierarquias da natureza. Comandam os elementais e conhecem a fundo o funcionamento do corpo físico. Podem, por tal razão, curar doenças incuráveis que não estejam sob o jugo fatal do karma ou que sejam negociáveis. Não há porque duvidar deles, uma vez que comandam os elementos e, portanto, a forma como os mesmos se organizam dentro do corpo físico.
O corpo físico é composto pelos quatro elementos. Há em nossos tecidos e fluídos: terra (elementos minerais e substâncias químicas), água (também ela uma substância química), ar (oxigênio e outras moléculas de gases) e fogo (energia calorífica).
As partículas subatômicas, atômicas e moleculares que formam as células são partes dos quatro elementos. O fogo também é um elemento e é composto por partículas. As partículas se arranjam sob a direção dos elementais e estes são conduzidos pelos Devas (hierarquias da natureza).
Os Devas podem possuir ou não corpo físico. Emanam de si uma essência que tomará corpo da sexta dimensão para baixo. A parte superior do homem sempre estará situada em algum grau hierárquico dentro da natureza, com o poder de conduzir forças elementais.
A atuação não-usual das forças que comandam as partículas componentes dos corpos pode promover curas incompreensíveis e constitui os chamados milagres.
Os espíritos da natureza atuam no interior do homem
Sob as ordens dos Devas da natureza, os elementais atuam sobre a matéria física a partir do mundo subatômico(1), que é o seu mundo. Modificam as partículas subatômicas de modo a produzirem rearranjos nos níveis atômico, molecular e celular, dando origem a fenômenos naturais visíveis, meteorológicos, elétricos, térmicos, luminosos, químicos, sismológicos, ígneos, eólicos e a muitos outros. Atuam sobre os tecidos vivos, originando doenças ou curas, de acordo com a lei kármica.
No caso das curas, os elementais não interferem somente no corpo físico, mas também no corpo vital e nos demais corpos internos, afetando o psiquismo humano. Operam de dentro para fora, da alma para o corpo. As plantas medicinais modificam o padrão vibratório anímico do doente.
Os processos biológicos e fisiológicos não se resumem ao que os cientistas vêem, possuem uma contraparte interna com infinitos estratos dimensionais.
Curas que provém do mundo espiritual
As forças para a cura e para as doenças provém do inconsciente. No inconsciente atua o corpo astral e os demais corpos que estão dentro dele.
Dentro do corpo físico está o corpo vital, constituído por partículas menores do que as que constituem o primeiro. Dentro do corpo vital está o corpo astral, constituído por partículas ainda menores. Dentro do corpo astral está o corpo mental, ainda mais sutil e assim sucessivamente, até o último dos corpos.
Ao analisar a evolução de uma doença no microscópio, os biólogos são capazes de enxergar somente até o nível biomolecular. O aspecto infinitamente pequeno do mundo subatômico, que também afeta o mundo celular, lhes permanece inacessível. É por isso que tratam das doenças e concebem suas causas somente até este nível.
Um mundo composto por partículas muito menores do que os átomos conhecidos pelos cientistas compenetra o mundo visível. Estas partículas ínfimas se associam para formar corpos de extensões variáveis, maiores ou menores do que o corpo humano. Podem formar planetas e galáxias. São estas partículas que compõem a mente, os sentimentos e a consciência. Além das partículas ínfimas conhecidas (neutrinos, fótons etc.) há uma infinidade de outras partículas ainda menores. Não há um limite para as suas existências.
Aquilo que fazemos psiquicamente atinge as profundidades de nosso psiquismo, o que equivale a dizer que atinge os corpos internos. As conseqüências de nossos atos podem ser transferidas de uma existência para outra, uma vez que os mesmos imprimem marcas em nossos veículos sutis. O resultado desta matemática resultará em saúde ou doença. Em outras palavras: a alma pode ferir ou curar o corpo. Por isso é que as orações e os placebos curam, enquanto os nocebos inutilizam agressões. Do mesmo modo, os maus pensamentos e maus atos provocam doenças nesta ou em futuras existências.
Os elementais podem alterar o funcionamento de nossa alma, alterando assim sua relação com a matéria densa.
A fé
Ocorrem no corpo humano processos naturais de cura. A fé pode desencadeá-los sob a forma de placebos e nocebos, mas também pode criar doenças sob a forma de sugestões ou induções. O efeito placebo é tão poderoso que chega a atrapalhar os experimentos e pesquisas científicas com medicamentos.
Quando aprendemos a ter fé, desencadeamos os processos naturais de cura dirigidos pelo Ser.
O corpo sempre tende a buscar a cura e o equilíbrio. A doença resulta da obstrução desta tendência.
Nota:
(1)Este mundo subatômico não se restringe às partículas detectadas pelos físicos. Abrange o abismo do infinitamente pequeno, cujo limite nunca será atingido, e envolve partículas que nunca serão conhecidas pelos estudiosos do átomo. Tais partículas, em união, formam arranjos de extensões variáveis, algumas das quais podem se estender muito além das dimensões de uma galáxia, formando mundos e universos paralelos habitados. A matéria física tem origem em seus próprios transfundos subatômicos (energia, do nosso ponto de vista humano), motivo pelo qual as religiões afirmam que o universo foi criado pela Inteligência Divina .
Karma e sofrimento
Entendo que os sofrimentos voluntários, principalmente se forem sacrifícios pelo próximo, podem ser oferecidos a Deus e às Hierarquias Divinas como uma forma de pagamento antecipado pelos muitos pecados que cometemos. Se isso for assim, é também possível que as promessas sejam um meio de se conseguir “crédito”. Entretanto, se não as pagarmos, o peso do karma será ainda pior por termos trapaceado.
Seja qual for a sua religião, eu sugiro que, se você está sofrendo, se sacrifique voluntariamente por seus semelhantes e ofereça este sacrifício Àquele que você acredita ser o Deus Supremo. Deste modo, é possível que seu sofrimento seja aliviado e sua existência na Terra seja prolongada para que você possa se libertar um pouco mais dos seus pecados.
Os incrédulos não admitem que existam pecados porque não conhecem a lei de causa e efeito. Supõem que não exista nenhuma inteligência acima do homem que regule os efeitos de suas ações. Tal equívoco se deve à crença de que o animal racional é a criatura mais elevada e inteligente do universo, nada mais existindo acima dele.
Não há porque esperar mais.
Se estamos errando e fracassando, isso se deve principalmente ao fato de não dedicarmos tempo à oração e à comunhão com o Divino. Por mais que aperfeiçoemos as estratégias, por mais corretos que sejam os esforços, tudo será inútil se tentarmos trilhar sozinhos o caminho da purificação. Este caminho somente pode ser trilhado se nos voltarmos a Deus e buscarmos a comunhão com Ele. Os monges cristãos que oram sem cessar e devotam toda a sua vida a Deus estão no caminho correto. O mesmo fazem os iogues que concentram sua vida na busca de Atman.
Não importa se acreditamos que Deus tenha este ou aquele nome ou seja assim ou assado: o que importa é o fato de que Ele é o criador de tudo e, portanto, emanamos dEle. Ora, se Ele criou o nosso Espírito, então o nosso Espírito herdou dEle o caráter divino. Se Deus é onipresente e está em toda a criação, então toda a criação tem um aspecto divino. Daí resulta que a incompatibilidade entre os ensinamentos das várias religiões é aparente e que não devemos nos atormentar com dúvidas.
Sucumbimos repentinamente às piores tentações porque negligenciamos à comunhão com o Pai (Origem ou Fonte), porque preferimos nos distrair com os tesouros atraentes deste mundo. O corpo e a matéria em si não são maus, mas a submissão da alma aos mesmos é ruim por ser uma forma de idolatria. Pistis Sophia sofre por ser forçada a adorar a escuridão e é forçada ao ser enganada. Nossa alma acredita que a felicidade está neste mundo e não compreende que há infinitos esplendores além dele. Este é o engano que sofre Pistis Sophia, pobre vítima da ilusão de Mara. O mundo da matéria é maya e inclui: desejos sensuais, prazeres sensoriais, corporalidade, matéria, luxúria, gula.
É um grande erro adiar purificação, acreditando-se que ainda se tem muito tempo. É também um erro renunciar à mesma por acreditar que não se tem mais tempo. Ainda que o tempo que nos resta seja curto, pode e deve ser vivido como santificação máxima. Mesmo que não sejamos capazes de viver mil dias na perfeição, se formos capazes de fazê-lo por um dia já é um bom começo. O que importa é começar e é isso o que não fazemos. Aí está um dos nossos erros.
Se você está desesperado, aconselho, humildemente, que inicie seu desprendimento agora, dentro de suas capacidades. Viva em santidade e devoção, nem que seja por um minuto, mas faça-o. Inicie, aja e não adie.
A morte do eu, a auto-observação, a concentração e a meditação não serão um fato se você tentar alcançá-los sozinho. Tentar trabalhar sem devoção caminhar para o fracasso.
Aqueles que cometeram muitos e graves erros acreditam-se condenados definitivamente. Penso que, enquanto se tenha anelos superiores, existe a possibilidade de transcender o passado. Pode ser que tenhamos que pagar karmas gravíssimos e inegociáveis, aqui ou em outros mundos, mas, ainda assim, podemos buscar a Deus em meio às dificuldades. Entendo que não existe dificuldade que nos impeça de tentar buscar a Deus. Até no abismo existem mestres lutando por resgatar almas perdidas. Então isso significa que sempre há uma porta aberta.
Todos teremos que enfrentar a desencarnação cedo ou tarde, então é melhor nos desapegarmos do mundo material e ajudar a humanidade agora. Nada de deixar para depois. Amanhã poderá ser tarde. Se você quer a bem-aventurança da alma, deve trabalhar por isso o mais que puder. Desligue-se dos atrativos do mundo, liberte sua alma da fascinação pelas chamada “coisas boas da vida”. Viva somente para o Ser (O Espírito Divino).
Indisciplina e excesso de compromissos
Desejar é sintonizar
A Retenção da Força-Semente – textos adicionais
Concentração e meditação - reflexões
O pensamento insiste porque o consideramos importante. Nos livramos de um pensamento insistente quando compreendemos sua inutilidade, sua total desimportância para o presente. Como não é a realidade, o pensamento é desnecessário e chega mesmo a ser prejudicial. O conteúdo de um pensamento não é a realidade presente, é tão somente um conjunto de representações visuais e sonoras do passado e de um possível futuro, com variações ficcionais em diversos graus. Não é, portanto, útil para o momento da concentração.
Além do corpo, dos afetos e da mente
Separar a alma do corpo físico é desvincular a consciência de todos os cinco sentidos que nos dão acesso ao mundo material exterior.
Separar a essência do ego (ou da mente) é esquecer todas as preocupações, desejos, pensamentos, sentimentos etc. tornando a alma temporariamente pura, ou seja, livre. A alma é nossa essência, o que somos verdadeiramente.
Desvincular-se totalmente dos sentidos físicos, dos sentimentos e dos pensamentos é estar “além do corpo, dos afetos e da mente”.
Acalmar primeiro
É útil acalmar a mente antes de iniciarmos uma prática de concentração.
A disciplina para desenvolver a concentração
Uma das coisas que importa nas disciplinas para concentração não é a prática ininterrupta mas a continuidade após os intervalos. Cada prática somente pode ser prolongada conforme nossa capacidade de suportá-las.
Concentração e meditação - dicas
Capturar todas as imagens que trouxerem alguma informação a respeito, provindas do inconsciente e que correspondem a sabedoria interior, adquirida através da experiêcia.
Observando o "desimportante"
Quando nosso sentido de auto-observação ainda não está desenvolvido, não percebemos as sutis e refinadas manifestações do Ego, percebemos somente as manifestações mais grosseiras. As manifestações sutis, que são as que nutrem as manifestações grosseiras, ocorrem sem que as percebamos. Temos que aprender a dirigir a atenção para o sutil, o leve, o imperceptível.
Se começamos a prestar atenção no sutil, nos daremos conta de que estamos nutrindo as manifestações grosseiras a todo momento, por todos os centros. Então podemos retirar tais manifestações, mediante a Morte em Marcha, e constataremos que as manifestações grosseiras perderão o vigor.
Vencendo o inimigo
Tentarei descrever um pouco a correta observação do Ego. Não pretendo suplantar as orientações de um mestre, somente contribuir com as mesmas.
Na correta auto-observação, a sinceridade é completa. Não tememos as revelações. Temos coragem de encarar a realidade a respeito do que somos. Não resistimos ao impulso do ego e nem nos entregamos: nos separamos e o observamos de fora. Resistimos à sua fascinação para enfraquecer o seu poder. Cortamos sua alimentação para que definhe. De modo algum permitimos que tome conta. Não tememos sua aproximação, mas a vencemos quase antes que comece a brotar.
Nos adiantamos ao seu ataque: o esperamos. Não esperamos que o impulso cresça e tome conta de tudo: o derrubamos muito antes. Tomamos a dianteira porque estamos vigilantes. Somos sentinelas em tempo de guerra.
A observação é penetrante, não deprecia nada. Priorizamos a mente (centro intelectual) mas não negligenciamos os movimentos, os sentimentos, os instintos (manifestações corporais ligadas à preservação da vida e da espécie) e o sexo. Todo detalhe é percebido e assimilado. A observação visa principalmente os detalhes. Comportamentos inocentes vinculados aos desejos não passam de modo algum desapercebidos. Tudo o que reforce o defeito, direta ou indiretamente, é observado e retirado assim que descoberto.
Transformamos nossa pessoa em objeto de estudo observacional. O estudo é cada vez mais profundo. Nos enchemos de compreensão.
Reflexão introspectiva
Quando há oportunidade, podemos nos deter para refletir sobre nosso múltiplo Eu. Porém a correta reflexão, que estou mencionando, não é um devaneio teórico. Tentarei descrevê-la.
Na correta auto-reflexão, não teorizamos sobre nós mesmos: trazemos à consciência fatos psicológicos concretos. Buscamos, com base na auto-observação detalhista realizada, formas e causas das manifestações, até onde alcancemos. Nos interessam apenas fatos psicológicos reais: o que concretamente falamos, pensamos, imaginamos, lembramos, planejamos, tentamos, sentimos, fizemos etc. em suas múltiplas nuances sutis, porém concretas, e em seus múltiplos encadeamentos sequenciais.
Esta reflexão aprofunda ainda mais a compreensão conseguida com a observação direta, mas o ponto de apoio é sempre esta última.
Aqueles que cometem erros na vida, atos reprováveis etc. não compreendem o que estão fazendo ou o compreendem apenas parcialmente. Se compreendessem de fato a ridicularia inerente ao que fazem, deixariam de fazê-lo.Mas para tanto, necessitariam conhecer a si mesmos e isso não seria possível sem auto-observação e auto-reflexão. Temos que nos compreender, pois, ainda que pareça absurdo, não nos compreendemos, as pessoas não compreendem a si mesmas, não se conhecem.
Dois dentro de nós
Quando iniciamos o trabalho da Morte, evidenciamos a existência de dois homens distintos dentro de nós: um que tenta subir aos céus e outro que quer nos arrastar ao abismo. Um deles está enamorado pelo pecado e o outro anseia pela libertação. Não devemos oscilar entre ambos, temos que optar por um deles. Que a opção seja pelo homem superior que tenta se libertar do pecado para ascender aos céus.
Como sair de uma possessão
O ideal é não chagarmos ao extremo da possessão, trabalhando na morte dos detalhes e evitando-a muito antes que aconteça. Entretanto, se, por descuido, caímos nesse extremo, só nos resta sair de tão lamentável estado.
Nos livramos da possessão quando substituímos a repressão do desejo pela observação sem identificação associada à petição por sua morte. Em lugar de resistir ao desejo, devemos observá-lo e orar por sua dissolução.
Temos que ter o cuidado de não substituir a repressão pela satisfação. O correto é deixamos de resistir ao defeito para observá-lo em ação e não para fortificá-lo satisfazendo-o. Trata-se de substituir mecanismos de contenção: em lugar de reprimir (resistir), observamos e oramos. A observação com oração é um meio de contenção do desejo muito mais eficiente do que a repressão. Esta o represa, aquelas o enfraquecem e o tranformam até sua extinção completa.
Satanás é o Eu e atua na primeira pessoa. Ele sopra pensamentos em nossa mente. Se nos identificamos com os pensamentos, somos invadidos e ficamos obsessionados. Daí o silêncio mental cultivado pelos budistas.
Quando estamos obsessionados, devemos observar a obsessão de fora, tratando-a como algo estranho. Embora o Ego esteja dentro de nós, deve, ainda assim, ser abordado como um sujeito distinto, como alguém ou algo que não é o Ser. Observar esse invasor como se observa uma outra pessoa nos conduzirá à compreensão de suas atitudes. Quanto mais dados descobrimos sobre o elemento psíquico obsessionante, mais alívio e liberdade sentimos. Conforme a compreensão se aprofunda, o alívio se intensifica.
Não conseguirá ser desobsessionado aquele que não for absolutamente sincero consigo mesmo. A auto-sinceridade é requisito fundamental para a desobsessão.
Quando a obsessão é mais forte, a auto-reflexão a respeito do defeito obsessor é altamente eficaz. Neste caso, transformamos nosso sofrimento, desejo, sentimento, compulsão, ou o que seja, em objeto de estudo meditativo. Refletimos a respeito do mesmo reunindo toda informação possível. O resultado será a compreensão. Quanto mais informações reunirmos, mais compreensão teremos. O que importa é "dar-se conta", tomar ciência daquilo que desconhecíamos sobre nós mesmos.
Não é demais lembrar mais uma vez que quem nos livra da possessão é nossa Mãe Divina. Todo o trabalho aqui descrito será inútil se não for acompanhado por orações sinceras à Ela para que dissolva o eu-demônio obsessor e liberte a nossa alma.
Distorção da realidade pela luxúria
A alteração da percepção tem como uma de suas origens as formas mentais. Formas enviesadas e mecânicas de pensar e imaginar originam o desespero passional pelo orgasmo. Como se trata de uma maneira peculiar de ignorância, combate-se a percepção equivocada com discernimento e compreensão. Mas, devido a um condicionamento existencial, jogar luz nas trevas para inverter o funcionamento psíquico não é tão fácil como parece. A mente se condicionou ao longo de várias existências a funcionar sempre da mesma forma e descondicioná-la exige tempo e trabalho. Leva-se tempo até dar-se conta da nulidade e do caráter ilusório da luxúria. A humanidade está presa nas teias da ilusão. O entendimento está embotelhado. A consciência está aprisionada.
À medida em que a consciência se aperfeiçoa e desperta, vai-se compreendendo que é uma perda de tempo viver correndo atrás de mulheres e de sexo. Compreende-se que o sexo é importante mas não é a meta existencial dos homens sensatos.
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