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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Alguns cuidados psicológicos na prática do coitus reservatus ou maithuna

A melhor parte do ato sexual é aquela em que estamos dentro da mulher mas ainda distantes do orgasmo. Podemos nos manter em tal fase e prolongá-la quando refreamos a empolgação, o entusiasmo e a excitação, o que é possível por meio do controle da mente. É a mente que dispara a ejaculação, através da excitação progressiva que culmina em estados de entusiasmo e empolgação incontroláveis.  

Todo orgasmo, seja no ato da fornicação ou no ato vicioso da masturbação, provém da hiperexcitação sexual. Toda hiperexcitação sexual, por sua vez, provém das fantasias sexuais. Daí se depreende que a imaginação é o agente desencadeador do processo orgásmico, o qual é uma espécie de curto-circuito que nos descarrega energeticamente. Quem controla a mente, os pensamentos, é capaz de suprimir o orgasmo. 

O mecanismo de atuação da mente luxuriosa consiste principalmente em recordações de imagens eróticas idealizadas, de acordo com as fantasias sexuais que cada um possua. O segredo fundamental para manter a excitação sob controle, portanto, consiste em não fantasiar durante o ato, em não levar a mente ao sexo oposto.

O nível de excitação adequado é somente o necessário para a realização e prolongamento do ato, não mais que isso. O que passar deste nível estará sobrando.

É fundamental preservar calma e manter-se relaxado, profundamente concentrado na transmutação e distribuição da força através da coluna e do corpo. Por meio da concentração, buscamos provocar uma espécie de êxtase anti-orgásmico, um orgasmo ao contrário, totalmente espiritual, devocional e erótico ao mesmo tempo. Assim como o orgasmo resulta da concentração da mente em fantasias eróticas, o êxtase sexual sublime resulta da concentração da mente em imagens opostas, o que provoca um movimento interiorizante das energias. No sexo animal, a energia flui para fora. No sexo espiritual, a energia flui para dentro e para cima. Conseguimos fazer a energia refluir e redirecionar-se quando sentimos a força erótica como algo divino que não pode ser profanado e a associamos a imagens de devoção religiosa. Não é muito fácil descrever isso.

Ao invés de nos concentrarmos em cenas que ascendem o desejo e o descontrolam, nos concentramos em imagens da energia sendo transmutada, conduzida, elevada pela medula vertebral e distribuída através do corpo físico a partir do coração. Ao nos concentrarmos em tais cenas, opostas às cenas luxuriosas, é claro que diversas emoções distintas, superiores, vão acompanhando o processo. É importante sentir que se está dando à força sexual um sentido que agrada a Deus. Se tais emoções se tornarem intensas, não haverá problema, pois são opostas às emoções animalescas que conduzem à ejaculação.

Praticar o coitus reservatus corretamente é vibrar sexualmente em uma sintonia espiritual com os céus, elevando a frequência de nossas vibrações.  

No ser humano, o orgasmo é algo aprendido. Do mesmo modo, o anti-orgasmo é algo que  aprendemos, quando mudamos as correntes da força erótica. A sensualidade não é ruim em si mesma e pode sempre se desenvolver por dois caminhos. Se, por um lado, a fornicação nos sintoniza com o abismo, a transmutação nos sintoniza com os céus. 

A transmutação, e não os esforços para levar uma vida assexuada, é o antídoto para a luxúria,a promiscuidade e a depravação compulsivas. Mas a transmutação não ocorrerá se não houver uma mudança na mente.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os níveis de excitação

A cultura atual é marcada pelo cultivo da excitação intensa e violenta. Todos vivem excitados em níveis extremos e se tornam desequilibrados. Em todos os lugares vemos o apelo para a excitação extrema. Só faltam cartazes com os dizeres: "excite-se ao máximo".

Há três tipos básicos de excitação: a sexual, a emocional e a intelectual. Há também a excitação do centro motor quando, por exemplo, ficamos com muitas tensões musculares e movimentos inúteis, e a excitação do centro instintivo, verificável em quem come demais ou força exageradamente tal centro de outras maneiras. Excitar um centro é estimulá-lo a trabalhar em demasia, o que ocasiona vários desequilíbrios na máquina.

Quem quer desenvolver-se espiritualmente, necessita aprender a manter seus níveis de excitação baixos, tão baixos quanto puder. Não será possível sublimar e transmutar a energia sexual se vivermos nos excitando com fantasias eróticas e pensamentos morbosos, tampouco será possível a serenidade se não abandonarmos o hábito de nos excitarmos emocionalmente ou mentalmente o dia inteiro com tolices. 

A Morte do Ego e a meditação são, entre outras coisas, formas de reduzir os níveis de excitação. Obviamente, um nível mínimo é necessário para a sobrevivência do corpo físico, mas tal nível não será determinado pelo Ego.

A excitação em qualquer centro pode ser controlada por meio da diminuição da excitação correspondente no centro respectivo. Se você não pensar em um perigo, a excitação emocional e instintiva correspondentes ao medo serão diminuidas. Se você não pensar em fantasias sexuais, a excitação sexual correspondente a elas será diminuída.

Morte do Ego: descansando o centro emocional

Nos dias atuais, não há quem não tenha um ou outro problema emocional. O coração está sobrecarregado com emoções negativas e inferiores, emoções brutais e destrutivas, que algumas vezes se manifestam de forma sutil e outras vezes de forma grosseira.

Muitas pessoas sedentárias quase não utilizam o centro motor mas, em contrapartida, desgastam o centro intelectual com pensamentos inúteis e o centro emocional com emoções inferiores constantes.

A negatividade, a pressa, a impaciência, o medo constante de tudo são apenas alguns poucos exemplos da imensa legião de emoções inferiores que nos estão assaltando a todo momento. A maioria de nós sente certo "peso" no coração, resultante dos milhares de problemas nos quais nos metemos. Quase não há quem sinta a leveza típica do coração tranquilo. O coração humano está oprimido, sente o peso da opressão dos milhares de problemas, que não são mais que formas mentais ou valorizações infernais de acontecimentos externos. Os problemas são significados atribuídos e não existem na ausência de quem os sente. Na ausência do sofredor, o problema não é um problema, mas somente um fato natural. É a mente humana que atribui aos fatos naturais o significado de problema.

O estresse está matando muitas pessoas e isso é a prova de que o coração humano está sendo oprimido.

Observando o centro emocional podemos perceber o efeito opressor dos acontecimentos: reveses amorosos, traumas, trapaças econômicas e sentimentais, conflitos no trânsito, brigas no lar, violência doméstica, culpas, desejos incontroláveis, perversões, medo da condenação eterna, medo de ir preso, nervosismo, irritações, impaciência, violência na televisão e muitíssimo mais.

Há necessidade urgente de darmos um descanso ao centro emocional. O coração descansa quando tudo está tranquilo e não existe temor algum e nem o menor desejo de nada. A forma mais rápida de chegarmos a tal estado e por meio da meditação. A forma mais duradoura de enraizarmos tal estado em nossa natureza é a Morte do Ego. 

Se prestarmos atenção cuidadosa e constante, perceberemos que o desequilíbrio emocional nos afeta de forma sutil durante todo o dia: uma simples olhada em um jornal pode nos alterar levemente. Temos que detectar os desequilíbrios emocionais em ação e eliminá-los de nossa vida mediante a Morte em Marcha. Obviamente, não devemos retornar às situações que os alimentam ou o trabalho ficará inutilizado. 

Quem quer o equilíbrio emocional, necessita retirar imediatamente de sua vida todos os atos e fatos que alimentem o desequilíbrio. Isso implica em isolar-se das situações estressantes após descobri-las, até onde se consiga. Reduzindo ao máximo as situações estressantes inúteis em que costumamos nos meter, iremos adquirir resistência para as situações estressantes inevitáveis da vida, àquelas que não podem ser abandonadas. Somente quem reduz o estresse ao mínimo terá reservas de hidrogênio para transmutação.

Uma noção clara do que são as emoções inferiores é muito importante. Quem não tem o discernimento do que é uma emoção inferior, não tem a capacidade de descobri-la em ação. O que são emoções inferiores? Todas as emoções dos egos, todas emoções ligadas ao material, desvinculadas do espiritual. Emoções inferiores são o oposto das emoções superiores. As emoções superiores são as emoções ligadas ao Ser. 

São exemplos de emoções superiores: amor a Deus, voluptuosidade espiritual, emoção intensa pela beleza da criação, emoção intensa por unir-se ao Íntimo. Não é muito fácil definir as emoções superiores porque estão muito deslocadas da experiência comum da humanidade. Em uma palavra, poderíamos definí-las como êxtase. Quando sentimos uma forte emoção espiritual ao contemplar a glória da natureza, as nuvens, as estrelas, o por do sol, uma floresta, uma cachoeira ou um pássaro cantando, estamos sentindo a emoção superior. Quando sentimos um intenso desejo de nos unirmos ao Ser, ao Ìntimo, de abandonarmos os desejos mundanos, quando sentimos intenso amor e gratidão a Deus, estamos sentindo emoções superiores. A emoção superior é desenvolvida durante a meditação. Quanto mais emoções superiores sentirmos, mais o chakra do coração estará girando corretamente. A emoção superior e a atividade do chakra anahata são interdepentes e simultâneos.

São exemplos de emoções inferiores: as emoções que se tem em brigas, o nervosismo, a irritação, a vingança, o apaixonamento, a pressa, a impaciência, a preocupação com os problemas, a tristeza, as emoções que acompanham a excitação sexual brutal, as emoções dos jogos de futebol, emoções em polêmicas acaloradas, emoções em discussões e em tudo o que esteja relacionado ao Ego. Em uma palavra: emoções egóicas. O medo é uma das principais e mais terríveis formas de emoção inferior. 

O amor é duplo, possui um aspecto superior e outro inferior. O amor apaixonado, aquele que causa sofrimento emocional, é uma emoção inferior. O amor consciente, aquele em que se sente intensa vontade desinteressada de ajudar o próximo, é uma emoção superior. 

As emoções inferiores provocam uma espécie de transe, de rebaixamento da consciência. As emoções superiores, ao contrário, provocam o êxtase, um estado de superconsciência. Êxtase e transe são completamente diferentes.

É inútil debater-se contra as emoções inferiores e negativas enquanto não se corrige as imaginações mecânicas equivocadas que as sustentam. A imaginação é o sustento da emoção. Se me sinto inseguro, é porque imagino que estou exposto a algum risco, se sinto raiva, é porque imagino que está me prejudicando ou frustrando. A imaginação mecânica é o carro-chefe da sustentação das emoções negativas e de todo o Ego.

O equilibrista que passeia sobre a corda bamba nas alturas necessita imaginar-se andando sobre uma linha desenhada no chão para sentir-se seguro ou,caso se imagine em risco, cairá. Se o equilibrista tentasse não sentir medo mas ao mesmo tempo se imaginasse sob risco,fracassaria. Se você, ou qualquer um de nós, tentar "ir contra" uma emoção negativa.mas continuar nutrindo as imaginações mecânicas que a sustentam, conseguirá apenas uma cisão interna, uma neurose, mas não se livrará da emoção infernal. O elefante louco da emoção somente se aquieta se o centro intelectual e os demais centros se aquietarem. As emoções obedecem ao fluxo imaginativo: se eu me imaginar em risco, sentirei medo; se imaginar que algo é urgente, sentirei pressa; se imaginar que sou inferior às pessoas, sentirei vergonha; se imaginar que uma mulher proporciona mil prazeres ocultos, sentirei desejo e assim por diante. Podemos perder uma existência inteira lutando em vão pela Morte do Ego simplesmente por nos imaginarmos incapazes de realizá-la. Temos que transformar os fluxos imaginativos mecânicos através da imaginação consciente. Ao invés de digladiar-se com a teimosa imaginação mecânica, substitua-a pela imaginação consciente.

Modificar a forma de imaginar as coisas é mudar a forma de pensar. Mudar a forma de pensar é um dos primeiros passos para a extinção das emoções negativas.

domingo, 8 de julho de 2012

Sexualidade superior: alguns aspectos emocionais

O amor e a vontade de se unir a Deus, ao Íntimo e à Mãe Divina é algo erótico, sexual em um sentido amplo. O sexo é sempre a união, a fusão. Toda união é um ato sexual, no sentido amplo da palavra. Os sufis compunham versos eróticos para Deus.

O sexo não é maligno em si mesmo, como sempre acreditaram os fanáticos religiosos. Muito pelo contrário, o sexo é sagrado em essência. Malignos são a luxúria e a fornicação, os quais são infelizes desvios da função sexual natural e original. Se o sexo fosse maligno, não existiria na natureza como meio de perpetuação da vida. A união criadora existe entre as plantas, entre os animais, entre as galáxias e entre as estrelas. Os rios penetram outros rios que, no final, penetram o oceano. O céu fecunda a terra através da chuva. Os raios penetram a atmosfera e o solo. Tudo isso é sexo como parte da natureza e da criação.

A sexualidade humana é indissociável do sentido do tato. Nela intervém também os demais sentidos. Há duas formas básicas de sentirmos uma pessoa: uma é a forma animal e a outra é uma forma avançada, espiritual. 

A sexualidade animal é aquela que objetiva o orgasmo. Tal modalidade de sexo teve sua função no passado, quando éramos somente animais. Hoje somos em parte animais e semi-humanos, necessitando de uma sexualidade espiritual para nos humanizarmos completamente.

O que diferencia a sexualidade espiritual da sexualidade animal é, principalmente, o estado interior, isto é, as emoções e pensamentos que acompanham o ato. Há uma forma de sexualidade completamente pura, elevada, na qual inexiste qualquer ansiedade orgásmica, pressa ou conflito. A supra-sexualidade é marcada pelo relaxamento, concentração e meditação, é o ato de meditar dentro do ato sexual, abrindo-se para o sublime, entregando-se para o Espírito. A supra-sexualidade é o sexo inocente (mas não ingênuo), puro e livre de qualquer mácula. Não tem nada a ver com passionalismos amorosos e românticos, tipicamente femininos, e nem tampouco com a brutalidade da luxúria, tipicamente masculina. É algo incompreensível para os ateus e fanáticos religiosos ocidentais.

Não há como suprimir o sexo de nossa natureza ou detê-lo. Quem quer a purificação da alma, tem que direcionar seu erotismo para o alto, sublimando-o. O luxurioso e o passional não são capazes de elevar a energia sexual, estão aprisionados na cadeia dos impulsos violentos que arrastam para baixo.

Os religiosos que tentam purificar a alma por meio da supressão ou contenção do sexo caem nos sofrimentos emocionais mais horríveis. Há pessoas sinceras que tentam se livrar da luxúria reprimindo suas funções sexuais e não compreendem porque caem cada vez mais profundamente na promiscuidade e na depravação. O motivo é uma idéia equivocada de que o sexo é mau por si mesmo, é a tentativa de ser uma criatura "sem sexo". O brahmacharya é algo muito bom quando tomado como caminho para a sexualidade superior, mas é algo prejudicial quando se limita à absurda tentativa de manter uma abstinência eterna.

Não é muito fácil descrever o estado interior correspondente à supra-sexualidade. Temo estar falhando em minha descrição.

Se queremos nos livrar do inferno da luxúria, temos que aprender a perceber o corpo da mulher da forma mais espiritual possível. Temos que alcançar sentir no ato sexual as mesmas emoções devocionais da oração intensa, transformando o ato sexual em um ato religioso. Trata-se de uma inversão completa da sexualidade, um giro de 180 graus em direção oposta à sexualidade comum. 

De nada adianta tentarmos inverter a sexualidade animal se não modificarmos os estados internos. A chave está justamente na mudança dos estados interiores. O sexo bruto, no entanto, é o ponto de partida. Não permanecemos no sexo bruto, apenas partimos dele rumo ao sexo espiritual. Quanto mais purificarmos os pensamentos e as emoções, mais elevada será a sexualidade. 

Os luxuriosos, depravados e promíscuos estão aprisionados na sexualidade animal. No entanto, por uma curiosa contradição da realidade, estão também com a possibilidade de transformação à mão, bastando, para tanto, que se purifiquem espiritualmente.

O sexo espiritual e puro que estou tentando descrever neste post não tem nada a ver com o passionalismo romântico, o qual é egoísta e possessivo. Não há nenhum tipo de orgasmo em tal modalidade de sexo. Há, ao contrário, um anti-orgasmo, que é o êxtase espiritual da alma.

O nível de excitação adequado é moderado, apenas o suficiente para que se consume o ato. Excitação sexual ou emocional intensas inevitavelmente resultam em descontrole (esse princípio vale para todas as situações da vida). A mente não é levada para a mulher e nem para quaisquer fantasias eróticas. Quando pensamos na mulher ou em fantasias sexuais, a excitação imediatamente se descontrola.  O ideal é aprendermos a nos excitar sem fantasia mental alguma, ou seja, somente com a percepção sensorial real do corpo feminino. Ver e tocar o corpo feminino é o suficiente. Se, por acaso, não formos capazes de nos excitarmos sem imaginações eróticas, tal fato estará indicando que nos viciamos no prazer mental.

A magia sexual requer ausência completa de empolgação e de entusiasmo. Os centros emocional e sexual são mantidos em níveis baixos de excitação (apenas o necessário para a realização e continuidade do ato). Toda fantasia erótica é excluída da mente.

Quando o centro emocional se torna excitado pela empolgação e pelo entusiasmo, a lucidez e a calma são perdidos, o corpo inteiro vibra em sintonia com a luxúria e o orgasmo, com a consequente perda de esperma, se torna um resultado inevitável. Manter-se calmo, tranquilo e profundamente relaxado, tanto física quanto psicologicamente, é imprescindível.

Quem tentar praticar o coitus reservatus sem renunciar à excitação e à empolgação inevitavelmente perderá o controle de si mesmo e terminará fornicando. Não é possível conciliar a prática com exaltações passionais de quaisquer tipos.

Para o desenvolvimento da sexualidade superior, é imprescindível observar as seguintes orientações:

  • não excitar-se através de mente (ou seja, de pensamentos e imaginações morbosas);
  • excitar-se apenas fisicamente e no momento da transmutação;
  • excitar-se somente o estritamente necessário para a conexão sexual (não exagerar na excitação, mantê-la dentro do controle);
  • evitar excitar-se através da visão (não ficar olhando para o corpo das mulheres).

Os pontos acima servem como referenciais do que seria uma prática e conduta ideais, mas nada do que tentei descrever acima será possível sem a Morte do Ego.