sábado, 25 de agosto de 2012

Imaginação e emoção


Comportamento e imaginação estão diretamente vinculados. O comportamento costuma corresponder às emoções e as emoções são direcionadas pela imaginação.

Se me fizerem acreditar que estou em perigo, imaginarei mil riscos e ameaças, sentirei medo e agirei em consonância com tal emoção. Se me fizerem acreditar que estou em segurança, imaginarei que não há problema algum, ainda que eu esteja sob grande risco, e sentirei tranquilidade. Quando um homem aponta uma convincente arma de brinquedo para outro, fere sua imaginação, fazendo-o crer que a arma é real, e nele provoca emoções correspondentes, fazendo-o sentir medo, insegurança e vulnerabilidade. Quando um homem imagina que uma mulher lhe dará mil prazeres indescritíveis, sentirá desejo intenso. Uma pessoa que tenha uma grave doenças e não o saiba, não sentirá as emoções correspondentes, por não estar ferida em sua imaginação e não se imaginar sob risco. Uma pessoa saudável que, por um erro de exame, se acredite gravemente doente, sentirá as emoções negativas correspondentes, pois imaginará a si mesma piorando cada vez mais. Se um ladrão imaginar que há grande soma de dinheiro em uma casa, sentirá o desejo de invadi-la para roubá-lo.

Quando uma pessoa faz ameaças diretas a outra, o faz com o intuito de ferir sua imaginação, induzindo-a a imaginar-se em perigo. Se a imaginação da vítima for ferida como deseja o agressor, ela sentirá medo, ficará intimidada e retrocederá. Quando um homem exibe um carrão ou sinais de riquezas e poder para uma linda mulher, o faz com o intuito de ferir-lhe a imaginação, induzindo-a a imaginar que ele pode lhe dar conforto, segurança e proteção sem fim.

As diversas situações da vida provocam emoções em consonância qualitativa com as imaginações que provocam. Sentimos de acordo com o que imaginamos. Se eu imaginar que um homem é o meu pior inimigo, sentirei raiva, ódio, medo e tentarei prejudicá-lo, ainda que o infeliz nem sequer saiba de minha existência.

Quem tenta controlar as emoções diretamente, sem redirecionar o curso da imaginação, está cindindo-se interiormente e desencadeando uma neurose.  O elefante louco das emoções não se deixa dominar.

A emoção é rápida como um tiro, mas a imaginação é a mão que direciona o cano da arma. A mente não é mais rápida que a emoção, mas é o fator que a direciona. E não podemos controlar a mente entrando em conflito com os maus pensamentos e más imaginações, mas sim reforçando os seus contrários. Somente deixarei de pensar em um perigo se preencher minha mente com pensamentos e imaginações de segurança.
A concentração serve para preencher a mente com os pensamentos que queremos, redirecionando a imaginação. Ao imaginarmos algo em um rumo que desejamos, modificamos o funcionamento mental (sanskaras) e alteramos as emoções.

O Ego resulta da imaginação equivocada que vai se nutrindo e sendo reforçada ao longo de toda a vida desde a infância. Como Freud acertadamente se deu conta, é na infância que começa tudo. Os vícios e deformidades que temos hoje se originaram na infância e, indo além de Freud, em passadas existências. Quando, em um passado remoto, adquirimos a mente e o poder de imaginar, começamos a dar vida aos desejos.  

A imaginação não é ruim e nem boa, é dual. Podemos nos afundar ou nos salvar através da imaginação. Educar a imaginação é fundamental em toda disciplina espiritual.

Os corajosos que não temem o inimigo e se expõem no campo de batalha não se imaginam em risco, ainda que conscientemente saibam que estejam se arriscando. Os insensatos que se arriscam tolamente também não se imaginam em perigo, por falta de discernimento, e não sentem medo. São pessoas que não pensam na morte e nem na vulnerabilidade (aqueles por terem aprendido e estes por serem estúpidos). Os covardes que vivem intimidados com tudo possuem uma imaginação vulnerável ao perigo e se imaginam constantemente em risco.

Uma pessoa que sofra cronicamente com emoções ruins deverá procurar, dentro de si, as imaginações e pensamentos que as provocam.

Uma das funções da auto-observação é revelar as reações mentais (imaginativas) que vamos tendo aos diversos fatos que vamos presenciando, para que possamos eliminá-las. Os acontecimentos fazem a mente reagir de determinada maneira, ocasionando emoções inferiores. Temos que descobrir as imaginações equivocadas antes de corrigi-las. Como eu poderia corrigir algo cuja existência desconheço?

Um funcionamento imaginativo equivocado é nutrido e reforçado por falas e atitudes que desconhecemos e necessitamos descobrir ao vivo. Corrigindo a fala, os comportamentos e as imaginações que reforçam uma emoção ruim, a enfraqueceremos. 

Portanto, a correção da imaginação destrutiva se obtém por dois trabalhos simultâneos: a concentração/meditação e a auto-observação/Morte em Marcha.