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quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre o silêncio mental

No capítulo 3 do livro "A Revolução da Dialética", o V.M. Samael nos dá preciosas informações a respeito dos pensamentos que atrapalham a meditação. Informações sobre este mesmo tema também estão dispersas em outros capítulos do mesmo livro e em outras obras.

No capítulo em questão, intitulado "Mo Chao", nos é ensinado que a mente não se aquieta pela força e sim pela compreensão. Tentarei aprofundar alguns pontos do capítulo aqui. Não tratarei agora da concentração, da meditação. Estarei me referindo aos pensamentos invasivos que atrapalham tais práticas e insistentemente voltam mesmo quando nos desviamos deles e focamos a atenção em nosso lakhsya (o alvo da concentração).

Tentar aquietar a mente violentamente, arbitrariamente, origina conflito interior. A quietude da mente não resulta do conflito mas da aplicação do correto procedimento silenciador. Aquele que tenta silenciar os pensamentos pelo mero esforço bruto, está entrando em conflito com a mente e, havendo conflito, não haverá paz. Buscamos a paz mental e não o conflito com a mente. Não queremos um aumento dos conflitos interiores.

Buscamos a paz interior e o silêncio mental. O silêncio resulta espontaneamente da aplicação do procedimento correto e é possível somente quando o Ego se ausenta. O silêncio não resulta de um esforço repressor sobre os pensamentos, como muitos principiantes acreditam.

Normalmente, o primeiro impulso daquele que se dá conta da necessidade de acalmar os pensamentos é tentar amarrá-los arbitrariamente. Este é um procedimento equivocado porque é repressor. Reprimindo-se a mente não se consegue aquietá-la. O procedimento correto e silenciador é outro, totalmente distinto. O caminho para a quietude é completamente diferente da mera e arbitrária repressão.

Reiteradas vezes o V.M. nos diz que os pensamentos silenciam quando os compreendemos. E o que é compreender um pensamento? Compreender um pensamento é, entre outras coisas, compreender o seu conteúdo e suas metas.

Cada pensamento possui uma meta própria (carga de libido), sendo, portanto, tendencioso. Se analisarmos a meta de cada pensamento, vemos que aponta para um lado, para uma direção específica. Como a toda direção existe uma direção oposta, resulta então que o processar dos pensamentos é um batalhar de antîteses. Todo pensamento tem o seu contrário e o silêncio advém quando nos damos conta de ambos os lados.

Se estudarmos o conteúdo e as metas de um pensamento, chegaremos inevitavelmente à conclusão de que o mesmo, no fundo, é absolutamente desnecessário. O pensamento desaparece quando compreendemos sua inutilidade.

Conforme os pensamentos vão surgindo, devemos contemplá-los, empenhando-nos por compreendê-los. Compreender um pensamento não é raciocinar a respeito do mesmo, é simplesmente fazer-se consciente do que ele traz, do que contém, do que quer, do que almeja, do que deseja e muito mais. É recolher informações sobre o mesmo. Quanto mais informações se tenha, maior compreensão se conseguirá. Quando se compreende profundamente um pensamento, conclui-se que o mesmo é inútil, desnecessário. Neste momento, o pensamento nos abandona.

Ao invés de rechaçarmos o pensamento, temos que recebê-lo, porém sem identificação. Se ficarmos identificados com o pensamento, saboreando-o e curtindo-o, o fortificaremos ainda mais.

A postura diante dos pensamentos deve ser imparcial: nem os rechaçamos e nem nos identificamos. Temos que alcançar uma postura neutra, em que não os rejeitamos e nem os adotamos, simplesmente os observamos enquanto fluem e os vamos compreendendo.

Esta é a prática do pratyara, que conduz à total abstração dos sentidos, ao desligamento sensorial. Aplicar um pratyara é praticar a auto-observação sobre o centro intelectual.

Uma vez em postura correta (asana) e profundamente relaxados, passamos a contemplar os pensamentos e a nos fazermos conscientes de cada um. Os pensamentos passam em procissão, um após o outro. À medida que desfilam, simplesmente nos damos conta dos mesmos: em que estamos pensando? Após um pensamento passar, virá outro e depois outro, todos encadeados.

Os pensamentos formam cadeias, por associação. Se os vamos compreendendo, começam a surgir rupturas momentâneas em tais cadeias, até um momento em que o desfile das formas mentais se esgota.

O silêncio interior que buscamos é o esgotamento do processo racional e não a paralisação mental pela força.

O hábito de rechaçar e reprimir os pensamentos não conduz à compreensão e nem ao silêncio, simplesmente oculta e submerge a atividade mental nas profundidades do inconsciente. Melhor que isso é tomarmos consciência do que estamos pensando. Durante a prática, temos que descobrir em que é que estamos pensando, perguntar-nos: "Em que estou pensando agora? Em minha irmã? Em minha noiva? Em meu carro? Em meu trabalho?"

Saber em que se está pensando é fundamental para se conseguir alcançar a quietude.

Não se compreende algo quando se o rechaça. Quem quer compreender um pensamento rechaçando-o, está cometendo auto-sabotagem.

Todo pensamento é dualista, pois é tendencioso. Se é tendencioso, opta por um polo, por um lado de um par de opostos. Se penso em minha noiva, meu pensamento com certeza estará carregado de valor, positivo ou negativo. Pode ser que eu sinta raiva, ciúmes, saudades, desejo, orgulho ou vergonha. O que essa noiva está significando para mim neste momento? Seja qual for o sentimento embutido no pensamento, será uma polarização. E o seu contrário será o seu pólo oposto. À medida que compreendo um pólo, o ultrapasso e minha compreensão chega ao pólo oposto. Quando compreendo ambos os pólos, chego à síntese e me liberto da tendenciosidade. Então, o pensamento se esgota, se retira, pois o ego que o emitia se aquietou.