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quarta-feira, 14 de março de 2012

O que é "identificar-se"?

Os Veneráveis Mestres Samael e Rabolú nos falam constantemente sobre o problema da identificação. Ensinam que não devemos nos identificar com as coisas da vida e nem tampouco com os egos. É um tema que merece maior explicação pois muitas pessoas não o compreendem bem.

O que é "identificar-se com algo"? Temos que analisar a questão etimologicamente. A palavra "identificar" significa "encontrar". Portanto, "identificar-se" significa "encontrar-se" e "identificar-se com algo" significa "encontrar-se naquilo". Ora, "encontrar-se em algo" significa perder a noção da distinção entre sujeito e objeto, significa confundir-se com o objeto. Quando nos identificamos com alguma coisa, deixamos de perceber o que somos e não nos separamos do objeto da identificação. Quem está identificado, está unido. Quem não está identificado, está separado, dissociado. Identificar-se é misturar-se, confundir-se. Identificar-se é, também, entrar em sintonia, entrar na frequência, sintonizar-se, vibrar em consonância com algo.

Podemos nos identificar com objetos externos (pessoas, fatos, problemas, corpo físico, doenças etc.) ou com objetos internos (pensamentos e emoções), podemos nos identificar com objetos físicos ou psicológicos.

A identificação ocorre sempre pela fascinação. O que é fascinação? É o sono hipnótico da consciência. Fascinar-se é deixar-se hipnotizar, ficar deslumbrado, atraído irresistivelmente por algo a ponto de esquecer-se de si mesmo. Quando nos esquecemos de nós mesmos, nos identificamos com o objeto.

Nos identificamos com as coisas da vida porque nos deixamos fascinar. A fascinação e a identificação estão intimamente relacionadas mas não são a mesma coisa. A fascinação provém da força hipnótica emanada do órgão kundartiguador e que confere um caráter atraente e irresistível aos objetos. A identificação é a indistinção, a perda da noção de diferença entre o que somos e aquilo que nos fascina. A fascinação é o deslumbramento e a identificação é a indistinção. Ambos coexistem intimamente o tempo todo.

O meio de resistir à fascinação é a prática da recordação de si. A recordação de si rompe a identificação entre sujeito e objeto. Quando nos recordamos de nós mesmos, recuperamos a compreensão da diferença entre o que somos e o que é o objeto da fascinação. Quem está identificado, está obrigatoriamente esquecido de si mesmo, não se recorda da distinção. Recordar-se de si é romper os fios de fascinação que nos mantém unidos aos objetos.

Recordar-se de si não é recordar-se do Ego e sim recordar-se da Essência (e, por extensão, do Ser), é sentir o que temos de mais elevado dentro.

A recordação de si é indispensável para a auto-observação pois, se não nos recordamos de nós mesmos, não conseguimos nos dissociar dos fatos fascinantes para observá-los. Observar é contemplar, como poderíamos contemplar o que vai se processando dentro de nós se nos mantivéssemos distraídos, fascinados, com os fatos da vida ou com nossas emoções e pensamentos? Quem está distraído não está observando, a observação requer que não haja distração.

Passamos os dias fascinados e esquecidos de nós mesmos. Vemos algo interessante e deixamos que arraste nossa atenção para aquilo. Esse é o sono da consciência. Nosso percentual de essência livre está passivo, sujeito aos 97 por cento de Ego, devido à fascinação. Conforme aperfeiçoamos a prática da recordação de nós mesmos, vamos recolhendo os percentuais dispersos de essência livre para utilizá-los nas práticas de meditação e de Morte do Ego. Na meditação, os reunimos e exercitamos, para que se tornem mais resistentes, robustos e eficientes.

Podemos nos identificar com uma briga, com pessoas sexualmente atraentes, com alimentos saborosos, com roupas caras, com programas de televisão, com filmes etc. Podemos nos identificar também com nossos defeitos, com os pensamentos, com os desejos, com os impulsos, com lembranças, com fantasias, com medos etc. O ideal seria que nos separássemos de tudo isso e os percebêssemos de fora, com algo distinto de nós e alheio ao Ser.

Não estamos conscientes da maior parte das fascinações que sofremos. Percebemos, conscientemente, apenas uma pequena fração das identificações. Vivemos identificados com as coisas de dentro e de fora e não sabemos disso. Acreditamos, em nossa ingenuidade, que estamos despertos.

Quem se identifica com o Ego não pode eliminá-lo porque está lhe fornecendo energia. O Ego colhe energia dos centros da máquina por meio das identificações. Os detalhes do Ego são milhares de identificações pequenas e sutis, às quais não conferimos importância por nos parecerem inocentes, inofensivas e até necessárias.

Sintonizar-se com um defeito é algo parecido com sintonizar uma estação de rádio. Aquele que entra na frequência dos seus defeitos não consegue livrar-se dos nefastos resultados. Uma vez sintonizados, o defeito nos "prende" à sua forma de ver o mundo, nosso ponto de vista adquire um colorido específico que condiciona nossa consciência.

Tenho visto alguns psicólogos sugerirem às pessoas que se identifiquem "um pouco" com seus desejos, com o intuito de "conhecê-los melhor". A pessoa deveria "deixar-se atingir" pelos desejos sem deixar-se dominar por eles. O pressuposto equivocado nessa idéia é o de que é possível identificar-se sem perder a consciência, o que é totalmente falso. Remover a repressão não é mesmo que deixar-se tomar pelo desejo. 

Esses conceitos não devem nos confundir e nem perturbar nossa prática, destinam-se apenas a um melhor entendimento e visualização concreta do que é ensinado.