Concentrar a mente em algo é, entre outras coisas, aprender a
respeito daquilo. Aprender algo pela concentração da mente inclui extrair
informações do inconsciente, trazendo-as à consciência.
Quando queremos muito resolver um problema importante,
pensamos nele constantemente. Isso é uma forma de concentração da mente, a qual
se ocupa com a questão problemática, procurando saída. Embora nem sempre seja
algo saudável, pois a mente, em tais casos pode ficar obsessionada pelo
problema e provoca um sem número de reações emocionais e corporais negativas,
além de nos distrair no cotidiano, tal ocupação mental contínua serve como
exemplo para entendermos melhor o que é a concentração do pensamento.
Concentrar a mente é pensar continuamente em algo, sem interrupção, pelo que
tempo que dispormos para nos dedicarmos exclusivamente a essa tarefa, sem nos
desviarmos e nem nos distrairmos com outras coisas.
Podemos dizer, portanto, que existe uma forma de concentração
boa e outra má ou prejudicial. Quando você está obsecado por algo, está
concentrado naquilo, embora tal concentração possa ser prejudicial. O ideal
proposto pelo ensinamento espiritual é que nos concentremos em temas
edificantes, que nos façam bem, estimulem emoções superiores e nos deixem
absolutamente em paz. Usei, portanto, o exemplo da má concentração da mente
apenas como um exemplo para melhor entendimento do que é uma boa concentração
da mente, pois ambos os tipos de concentração, embora sejam contrários, são
também similares.
Quando nos concentramos em um koan, é recomendável que
tentemos compreender profundamente aquela frase propositalmente sem sentido,
até que possamos “atravessá-la” e cair do outro lado, no reino onde a lógica
que conhecemos não funciona. Se tivermos uma questão filosófica ou um problema
que nos importuna, podemos usá-lo como lakshya em nossas sessões de meditação,
desde que os mesmos não provoquem emoções negativas. Se uma pessoa se
concentrasse em cenas pornográficas ou de terror, por exemplo, é claro que
seria assaltado pelas emoções inferiores correspondentes, as quais seriam
qualitativamente muito diferentes das emoções estimuladas pela concentração nos
céus, nas nuvens, em uma cachoeira, em uma floresta, na Mãe Divina, no Cristo
ou no Senhor Buda.
É de grande valia, durante o exercício da concentração
(dharana), pensarmos para aprender. Aprender é descobrir o que não sabíamos,
aprofundando-nos no tema. Sivananda chama esse tipo de prática de meditação
analítica.
Em dharana, a mente, isto é, os pensamentos e a imaginação,
devem fluir com a mesma naturalidade com que fluem quando a mente está
dispersa, com a diferença de que seu fluxo ocorre dentro de um tema,
aprofundando-o, ao contrário do funcionamento comum da mente, em que seu fluxo
abrange muitos temas infinitamente, passando de um para outro, e não se
aprofundando em nenhum. Em dharana, a infinitude do funcionamento mental se dá
em profundidade, não em abrangência.
Quando você estiver muito preocupado com um problema grave,
sua mente se concentrará com facilidade naquilo que está lhe causando
preocupação, mas você não deve fazê-lo, pois o seu sofrimento aumentará até
níveis insuportáveis. Ao invés disso, procure um tema contrário que lhe seja
muito atraente e lhe faça bem, proporcione emoções superiores, e concentre-se
profundamente nele. Deste modo, através da dualidade, o tema superior
suplantará os efeitos do tema inferior. Caso sua concentração seja profunda,
você se libertará completamente do sofrimento emocional ocasionado pelo
problema. O ideal é atingir um estado em que o problema não exista para você.
Se, no entanto, o problema não for algo que provoque emoções
inferiores e violentas, você pode usá-lo como objeto de sua concentração. Neste
caso, simplesmente pense e pense naquilo pelo tempo disponível para a sua
prática, mas não o faça fora das sessões de meditação, quando estiver
trabalhando, dirigindo ou andando na rua, pois nessas situações a sua atenção
deve estar naquilo que você está fazendo e não e um tema abstrato fora da
realidade presente.
Se você se concentrar em um problema, por exemplo, em uma
questão filosófica ou científica, muitas idéias e insights surgirão, e sua
compreensão sobre o assunto será cada vez mais profunda. Sua mente fluirá e
você construirá cada vez mais associações de idéias direcionadas dentro do tema
proposto. Uma questão estratégica relacionada a algum tipo de trabalho também
pode ter o mesmo resultado. Suponhamos que você tenha que consertar uma parte
difícil do telhado de sua casa e não saiba como. Você poderá dedicar alguns
minutos para pensar naquilo e aprender algo a respeito. Assim você poderá
aprender melhor o que é a concentração e como aplicá-la na resolução de
problemas do cotidiano.
A concentração analítica é especialmente útil na análise de nós
mesmos, de nossas emoções e problemas psicológicos, promovendo a melhor compreensão
dos nossos egos.
A prática da concentração em plantas, por outro lado, serve
mais para desenvolvermos a capacidade de penetrá-las com a imaginação, mas não
tanto para desenvolvermos a capacidade analítica, pois costuma haver um ponto
além do qual a imaginação se esgota e não conseguimos extrair mais informações
sobre a planta com que nos ocupamos. No entanto, quando plenamente
desenvolvida, também termina resultando em aprofundamento da compreensão pois,
em última instância, imaginação e cognição são interdependentes e não se
dissociam.
O aprender e o compreender se dão pela concentração da
atenção e do pensamento. Isso deveria ser levado em conta pelas ciências da
educação.