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quinta-feira, 5 de maio de 2011

O erro de focar somente os defeitos mais graves

Todos temos alguns defeitos que são maiores, mais fortes e mais perigosos e outros mais fracos, menores, menos perigosos e até inofensivos. De acordo com nossa personalidade, poderão ressaltar mais certos defeitos (ex. ira, cobiça, luxúria) , enquanto outros se manifestarão muito pouco e nos perturbarão. Essa é uma das razões pelas quais nos parece tão fácil julgar e condenar os outros, mas não a nós mesmos.

Um erro que podemos cometer é o de não darmos atenção aos defeitos que causam pouco prejuízo, manifestam-se raramente ou apresentam fraco poder sobre nós, priorizando exclusivamente os defeitos piores e mais perigosos. Motivados pela justa necessidade de nos livrarmos de tais defeitos, que configuram uma linha psicológica principal em nossa personalidade, podemos cair no erro de nos dedicarmos exclusivamente à morte dos mesmos, engajando-nos em uma luta sem fim em que não há vencedor e nem vencido. O motivo? Não se pode matar tiranossauros antes de se ter aprendido a matar lagartixas. Exercite-se matando lagartixas, depois lagartos, depois jacarés, depois crocodilos e por fim será capaz de matar o tiranossauro. É uma questão de lógica: ninguém pode começar pelo pior, embora seja natural que sintamos certa urgência em derrubar o inimigo principal

Os defeitos secundários (que não abrem tanta passagem através de nossa personalidade) fornecem um valioso material experiencial. Aprendendo a matá-los, desenvolvemos a fé, comprovamos a eficácia dos métodos da morte, exercitamos a auto-observação e entendemos de forma ampla o que é a morte do ego e como se morre de verdade. Aprendemos também a superar a tendência comum de fingir a morte para nós mesmos, por meio de comporamentos simulados e resistências inúteis.

Focar exclusivamente a a luxúria, ignorando outros defeitos mais fáceis de eliminar, é rejeitar experiências e comprovações importantes e imprescindíveis para o avanço.

Não é demais lembrar que, quando falo de "matar o defeito" e menciono sua eliminação, não estou me referindo a nenhuma forma de repressão, recalque, bloqueio ou resistência aos desejos e impulsos, os quais são meros comportamentos fingidos. Por "matar" estou me referindo à assimilação e a consequente dissolução dos nossos defeitos.

Portanto, aprendamos a trabalhar também os defeitos que não incomodam muito, adquirindo experiência e comprovação, e teremos, assim, armas para direcionar aos piores inimigos futuramente.

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