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domingo, 15 de novembro de 2009

Rompendo a cadeia de manifestações

Antes que um defeito "se carregue" (V.M.R.) sobre algo ou alguém (uma dama, por exemplo), outras manifestações, com menor gravidade, o antecederam e se encadearam em uma sequência que conduziu até aquele estado. A partir de manifestações sem gravidade alguma, originam-se outras manifestações, com gravidade maior. As várias manifestações, em sequência, formam uma cadeia cujo término é a manifestação do defeito propriamente dito (obsessão), cuja gravidade pode ser alta e do qual almejamos nos livrar. Um erro comum que nós, estudantes e aspirantes, cometemos consiste em não darmos importância às manifestações antecedentes e em tentar enfrentar o defeito "já carregado", isto é, já fortificado e em plena manifestação. Tal erro se deve à ausência de gravidade das manifestações comuns, do ponto de vista kármico. Como essas manifestações não nos parecem tão graves e não nos preocupam, não lhes damos importância e lhes damos curso livre. O resultado é, então, a fortificação dos defeitos considerados "perigosos" e nossa consequente impotência ao tentar enfrentá-los.Comportamentos que consideramos inocentes, inócuos e desprovidos de quaisquer relações com os defeitos propriamente ditos podem, na verdade, ser facetas pelas quais os mesmos se nutrem. A estratégia correta consiste em identificar essas múltiplas facetas, flagrando-as em plena manifestação. Ignorá-las e tentar enfrentar diretamente o defeito poderoso é um erro estratégico pois isso seria o mesmo que tentar enfrentar um inimigo sitiado que está recebendo munições e provisões diariamente. O que pensaríamos de um estrategista de guerra que quisesse tomar uma fortaleza, mas permitisse que seu inimigo recebesse provisões, armas e homens constantemente, não dando importância para tal fato por considerá-lo de "pouca gravidade"? Certamente, o consideraríamos estúpido. Ao permitir que armas, provisões e guerreiros entrassem constantemente na fortaleza, o desventurado estrategista estaria fortificando o inimigo que almejaria combater. Seus esforços seriam inúteis. E é exatamente isso o que muitos de nós fazemos quando queremos tomar posse de nossa fortaleza, isto é, de nossa casa interior. Tentamos desalojar os invasores, mas permitimos que eles recebam reforços.Uma coisa é a gravidade kármica de um ato. Outra coisa, completamente distinta, é a estratégia para dissolver um defeito. Atos sem nenhuma gravidade kármica aparente podem ser o caminho para fortificação e manifestação de atos de altíssima gravidade. Tentar reprimir os atos graves, quando já estão "carregados" de energia, é anti-estratégico. O que se deve fazer é despotenciá-los ou, melhor ainda, evitar que se "carreguem", dissolvendo os comportamentos inocentes que os energizam.Evitamos que um defeito altamente prejudicial e perigoso se carregue com energia quando dissolvemos os atos inocentes e inócuos que lhe abrem caminho. É sobre tais atos que a auto-observação deve se dar rigorosamente.Tudo aquilo que fazemos, pensamos e sentimos deve ser vigiado rigorosamente. Entendo que nos comportamentos inócuos está a chave. Comportamentos inócuos podem consistir em canais de reforço energético que fortificam comportamentos perigosos e indesejáveis. E tais canais são insuspeitados, motivo pelo qual os V.M.s os qualificam acertadamente como "sutis". Por isso dizem que "o mal se refina". Os comportamentos inócuos, isto é, aparentemente inocentes, devem ser alvo de um escrutínio rigorosamente sincero que nos permita descobrir se os mesmos fortificam comportamentos perigosos. Por "comportamento", estou me referindo à manifestação do ego em todos os cinco centros, pois quem não o observa em todos os cinco centro não descobre nada ou descobre muito pouco.Dissolvendo os comportamentos inócuos condutores de reforço, rompemos a cadeia de manifestações que vai abrindo passagem para a invasão dos defeitos perigosos.Um exemplo específico ajudaria muito aqui. O desejo violento de um homem por uma mulher (ou por todas as mulheres bonitas que lhe passem na frente!) possui um núcleo, constituido pelo desejo de fornicar propriamente dito, e algo que poderíamos comparar a uma "periferia", constituída por múltiplas manifestações, aparentemente não luxuriosas ou pouco luxuriosas, que energizam o núcleo. Os psicólogos chamam a este conjunto de "complexo", por ser um amplo sistema, ou de "agregado psíquico", por constituir um agregado de energias. Embora pareçam não causar prejuízo algum, as manifestações não luxuriosas estão voltadas para o núcleo e para ele conduzem suas forças, robustecendo-o cada vez mais. Debater-se contra o núcleo é uma perda de tempo porque, ao fazê-lo, deixamos de nos ocupar com a periferia, que é por onde realmente fluem as forças que o robustecem. No caso específico da luxúria, que é o nosso exemplo, do núcleo poderiam fazer parte: o desejo de copular, de beijar, de pegar nos cabelos e também tudo aquilo que a imaginação morbosa for capaz de conceber. Da periferia poderiam fazer parte: atos amistosos, elogios, gentilezas e tudo o que, aparentemente, for desprovido de sentido luxurioso, mas que se revelam voltados para a luxúria quando examinados mais de perto. A gama destes últimos comportamentos é quase infinita. O interessante é que os mesmos não opõem muita resistência ao poder da Mãe Divina, sendo rapidamente incinerados por Ela, às vezes imediatamente. Em alguns casos, entretanto, requerem um fogo mais poderoso: a petição durante o maithuna.
A morte de um defeito é, portanto, a resultante natural (e não forçada) da adoção de uma linha de trabalho correta. É por isso que se diz que morrer não é reprimir. Como posso reprimir aquilo que está morrendo? Se algo está morrendo, não se faz necessário reprimir.
Imaginemos que você, leitor, esteja agora mesmo com uma mulher para fornicar. Como as coisas chegaram até este ponto? Se você revisar os acontecimentos, verá que houve uma sequência de atos que se associaram no tempo, um após o outro, até você chegar ao deplorável ponto em que está. Se retroceder bastante, constatará que os "primeiros passos" que o conduziram a esta situação eram desprovidos de caráter delituoso ou luxurioso. Os atos, pensamentos e sentimentos vão se sucedendo e se articulando em uma corrente temporal, até culminarem no problema propriamente dito. Evitamos o problema evitando os fatos que o antecedem, cortando o mal pela raiz.

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