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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Morte do Ego: corrigindo impressões equivocadas

Você está andando na rua e de repente alguém ri da sua cara. Você então fica bravo. O que isso indica? Entre outras coisas, que você não enxergou a realidade do riso. Sua visão está "enviesada" pelo eu da ira. A ira está "colorindo" e subjetivando sua percepção do fato.

Em si mesmo, como coisa em si, nenhum riso é irritante. No entanto, nós atribuímos ao riso significados variados, conforme os contextos em que ele se dá. Se possuíssemos uma percepção absolutamente objetiva, não consideraríamos o riso como uma provocação, mas apenas como um som, pois é isso o que ele é. Nossa mente, então, não reagiria. Teríamos o estado mental dos budas, os quais são impenetráveis ao escárnio e não necessitam "resistir" à ira, pois não a possuem, a desarmaram dentro de si mesmos. 

Portanto, nossa percepção do riso como escárnio é equivocada, é uma percepção falsa, pois o riso, em si mesmo, é apenas um som. Por mais escarnecedora que seja a intenção de quem ri, seu riso será somente um som, ainda que com intenções de provocar. No entanto, as tentativas de provocação se tornam vazias quando não temos a ira, pois é a ira que faz a provocação ressoar em nosso interior como ofensa. Em outras palavras, a provocação não existe para aquele que eliminou a ira de si mesmo pois sua visão do mundo, da realidade, é distinta da visão que seria proporcionada pela ira.

Ao andar na rua e perceber o riso, você se enfureceu porque não transformou a impressão, permitiu que a impressão entrasse em seu psiquismo sem ser transformada. A visão errônea do riso teve livre curso e se cristalizou em sua psique sob a forma de ira, raiva ou algo assim. Por mais estranho que pareça, você não percebeu o riso de forma objetiva e exata, mas de forma equivocada e tendenciosa. Você não percebeu o riso em si mesmo, mas sim uma imagem do riso, moldada por suas imaginações e crenças. Sua mente atribuiu ao riso o significado de uma provocação ou desafio, o rotulou como tal, por ter sido condicionada a isso no passado. O riso causou uma impressão de ira por não ter sido compreendido tal como é. Ao permitir que a impressão ocorresse sem participação da consciência, houve um impacto inconsciente do riso em seu psiquismo. Se houvesse um impacto ou choque consciente, o riso teria deixado uma impressão distinta. Se você pensasse a respeito e imaginasse o riso de outra maneira, uma impressão ou marca distinta teria sido deixada em seu interior, mas você o recebeu como provocação. 

Para modificar a impressão que os acontecimentos deixam em nós, temos que refletir sobre os mesmos até o ponto em que a reflexão modifique a forma como os encaramos. Tentando olhá-los de forma cada vez mais objetiva, exata e profunda, vamos corrigindo os equívocos e recebendo as impressões de outro modo. 

Transformar as impressões que os acontecimentos nos causam é algo muito bom e útil, mas requer sinceridade absoluta. Transformar as impressões é corrigir as impressões equivocadas que entram e causam desastres e prejuízos em nosso interior a todo momento. Não é demais dizer que tudo isso precisa ser feito em sintonia com a Morte em Marcha sobre cada detalhe ou faceta dos defeitos. Os detalhes ou facetas não são outra coisa senão impressões equivocadas que estão vibrando e necessitam ser desarmados pela compreensão. A compreensão corrige as impressões equivocadas, restabelecendo uma melhor conexão com a realidade.

Ampliação em 21/05/2014

Cada objeto que percebemos nos impressiona de uma forma específica, ou seja, fere o nosso psiquismo e deixa uma impressão. A impressão corresponde ao viés pelo qual tomamos o fato.

Transformamos a impressão quando refletimos sobre o objeto que nos impressiona. Ao fazê-lo, mudamos nossa forma de pensar a respeito e, consequentemente, nossa forma de percebê-lo e senti-lo. 

Portanto, no trabalho de Transformação das Impressões, refletimos sobre o objeto e, no trabalho de Morte do Ego, refletimos sobre o sujeito. O objeto é aquilo que percebemos (o fato que nos impressiona, qualquer que seja) e o sujeito somos nós mesmos.