Translate

sábado, 27 de abril de 2013

Concentrar-se é também aprender


Concentrar a mente em algo é, entre outras coisas, aprender a respeito daquilo. Aprender algo pela concentração da mente inclui extrair informações do inconsciente, trazendo-as à consciência.

Quando queremos muito resolver um problema importante, pensamos nele constantemente. Isso é uma forma de concentração da mente, a qual se ocupa com a questão problemática, procurando saída. Embora nem sempre seja algo saudável, pois a mente, em tais casos pode ficar obsessionada pelo problema e provoca um sem número de reações emocionais e corporais negativas, além de nos distrair no cotidiano, tal ocupação mental contínua serve como exemplo para entendermos melhor o que é a concentração do pensamento. Concentrar a mente é pensar continuamente em algo, sem interrupção, pelo que tempo que dispormos para nos dedicarmos exclusivamente a essa tarefa, sem nos desviarmos e nem nos distrairmos com outras coisas. 

Podemos dizer, portanto, que existe uma forma de concentração boa e outra má ou prejudicial. Quando você está obsecado por algo, está concentrado naquilo, embora tal concentração possa ser prejudicial. O ideal proposto pelo ensinamento espiritual é que nos concentremos em temas edificantes, que nos façam bem, estimulem emoções superiores e nos deixem absolutamente em paz. Usei, portanto, o exemplo da má concentração da mente apenas como um exemplo para melhor entendimento do que é uma boa concentração da mente, pois ambos os tipos de concentração, embora sejam contrários, são também similares.

Quando nos concentramos em um koan, é recomendável que tentemos compreender profundamente aquela frase propositalmente sem sentido, até que possamos “atravessá-la” e cair do outro lado, no reino onde a lógica que conhecemos não funciona. Se tivermos uma questão filosófica ou um problema que nos importuna, podemos usá-lo como lakshya em nossas sessões de meditação, desde que os mesmos não provoquem emoções negativas. Se uma pessoa se concentrasse em cenas pornográficas ou de terror, por exemplo, é claro que seria assaltado pelas emoções inferiores correspondentes, as quais seriam qualitativamente muito diferentes das emoções estimuladas pela concentração nos céus, nas nuvens, em uma cachoeira, em uma floresta, na Mãe Divina, no Cristo ou no Senhor Buda.

É de grande valia, durante o exercício da concentração (dharana), pensarmos para aprender. Aprender é descobrir o que não sabíamos, aprofundando-nos no tema. Sivananda chama esse tipo de prática de meditação analítica.

Em dharana, a mente, isto é, os pensamentos e a imaginação, devem fluir com a mesma naturalidade com que fluem quando a mente está dispersa, com a diferença de que seu fluxo ocorre dentro de um tema, aprofundando-o, ao contrário do funcionamento comum da mente, em que seu fluxo abrange muitos temas infinitamente, passando de um para outro, e não se aprofundando em nenhum. Em dharana, a infinitude do funcionamento mental se dá em profundidade, não em abrangência.

Quando você estiver muito preocupado com um problema grave, sua mente se concentrará com facilidade naquilo que está lhe causando preocupação, mas você não deve fazê-lo, pois o seu sofrimento aumentará até níveis insuportáveis. Ao invés disso, procure um tema contrário que lhe seja muito atraente e lhe faça bem, proporcione emoções superiores, e concentre-se profundamente nele. Deste modo, através da dualidade, o tema superior suplantará os efeitos do tema inferior. Caso sua concentração seja profunda, você se libertará completamente do sofrimento emocional ocasionado pelo problema. O ideal é atingir um estado em que o problema não exista para você.

Se, no entanto, o problema não for algo que provoque emoções inferiores e violentas, você pode usá-lo como objeto de sua concentração. Neste caso, simplesmente pense e pense naquilo pelo tempo disponível para a sua prática, mas não o faça fora das sessões de meditação, quando estiver trabalhando, dirigindo ou andando na rua, pois nessas situações a sua atenção deve estar naquilo que você está fazendo e não e um tema abstrato fora da realidade presente.

Se você se concentrar em um problema, por exemplo, em uma questão filosófica ou científica, muitas idéias e insights surgirão, e sua compreensão sobre o assunto será cada vez mais profunda. Sua mente fluirá e você construirá cada vez mais associações de idéias direcionadas dentro do tema proposto. Uma questão estratégica relacionada a algum tipo de trabalho também pode ter o mesmo resultado. Suponhamos que você tenha que consertar uma parte difícil do telhado de sua casa e não saiba como. Você poderá dedicar alguns minutos para pensar naquilo e aprender algo a respeito. Assim você poderá aprender melhor o que é a concentração e como aplicá-la na resolução de problemas do cotidiano.

A concentração analítica é especialmente útil na análise de nós mesmos, de nossas emoções e problemas psicológicos, promovendo a melhor compreensão dos nossos egos.

A prática da concentração em plantas, por outro lado, serve mais para desenvolvermos a capacidade de penetrá-las com a imaginação, mas não tanto para desenvolvermos a capacidade analítica, pois costuma haver um ponto além do qual a imaginação se esgota e não conseguimos extrair mais informações sobre a planta com que nos ocupamos. No entanto, quando plenamente desenvolvida, também termina resultando em aprofundamento da compreensão pois, em última instância, imaginação e cognição são interdependentes e não se dissociam.

O aprender e o compreender se dão pela concentração da atenção e do pensamento. Isso deveria ser levado em conta pelas ciências da educação.