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sábado, 3 de novembro de 2012

Concentração: contentar-se com a simplicidade


Quando você (ou eu ou qualquer um de nós, mas vamos usar o "você" agora) estiver tentando se concentrar, não busque nada além de simplesmente perceber e pensar no objeto. Não busque manifestações extraordinárias, experiências espantosas. Não force nada em nenhum sentido, simplesmente se contente em estar ali. O simples fato de estar percebendo o lakshya já é uma concentração. 

Não se pergunte: "Será que 'ainda' ou 'já' estou concentrado?" Tal pergunta conduz a mente a analisar e a pensar fora do lakshya. Essa é uma má dúvida (existem as dúvidas boas e as más). Não tema o desvio da mente e não fique checando se você já se desviou ou não. Entregue-se ao seu Deus e confie. Não tema o fracasso na prática, tal temor leva a mente a pensar fora do tema. Deixe que as coisas aconteçam.

Durante a prática, a mente tende a criar problemas e obstáculos. Checar é um obstáculo, ficar esperando acontecimentos espantosos é outro, criar idéias falsas e tentar encaixar a concentração nas mesmas é outro.

Para a correta prática, é necessário saber apenas isso: concentrar-se em algo é pensar e perceber aquilo, nada mais.

Não faça esforços inúteis para "aprofundar" ou "concentrar-se mais". Saiba que o aprofundamento ocorrerá por si mesmo com o simples ato de ocupar a mente e a atenção com o lakshya. Descomplique e simplifique a prática ao máximo.

Se você pensa ou percebe conscientemente algo por apenas alguns segundos, esses poucos segundos são o princípio de sua concentração. A breve concentração foi verdadeira, embora curta. Só o que você precisa é prolongá-la. Para prolongá-la, você precisa somente compreender bem a qualidade deste estado e mantê-lo. O prolongamento promoverá naturalmente o aprofundamento. 

Se algo estiver sequestrando teimosamente sua atenção e seus pensamentos¹ não perca tempo lutando com eles e nem fique tentando imaginar mil formas de se livrar. Simplesmente se ocupe conscientemente com o lakshya escolhido. Caso sua consciência "se apague" e você o perca por alguns instantes, não desanime, retome e continue. Faça isso quantas vezes forem necessárias. Se você se distrair mil vezes, retorne ao objeto mil vezes, caso se distraia dez mil, retorne dez mil vezes. 

Mantenha o frescor dos instantes iniciais durante toda a prática. Não fique tenso, preocupado em ter sucesso. Abra mão até mesmo do sucesso. O sucesso na prática é também uma forma de desviar a mente do lakshya.

Nota:

1.  Sintomas de doenças ou problemas graves, por exemplo, podem fazer isso. O sequestro ocorre devido a uma supervalorização involuntária do fato. O fato passa a exercer um poder despótico e violento sobre a pessoa, que se mantém presa ao mesmo, não conseguindo deixar de pensar ou de prestar atenção naquilo. Por mais que queira, a consciência não consegue direcionar a atenção para outras coisas. Esse é um problema para concentração porque aquilo em que pensamos e com o que nos ocupamos tende a se ampliar em nosso campo de consciência e a ser percebido de forma cada vez mais intensa. O sequestro da consciência é um processo hipnótico e pode ser revertido mediante o emprego crescente da atenção em um objeto distinto e também por meio do trabalho de morte dos eus que supervalorizam o fato hipnótico.