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domingo, 14 de outubro de 2012

Concentração: duas condições a serem desenvolvidas


A capacidade de concentrar o pensamento requer o amadurecimento de algumas condições sem as quais a prática não é possível.

Visualizar com nitidez o pensamento escolhido é uma das condições requeridas. Outra condição importante é pensar no lakshya sem tensão ou ansiedade por êxito.

Mantendo os olhos fechados, convém "ver" com clareza aquilo em que queremos nos concentrar. Um praticante avançado, verá o objeto imaginado com a mesma nitidez com que o veria com os olhos abertos, caso estivesse em sua frente. Um principiante, não verá, no sentido literal da palavra, o objeto, mas o perceberá imaginativamente de forma tênue. Por mais vaga e tênue que seja a forma imaginada, marca o princípio do desenvolvimento da clarividência, que não é outra coisa senão a faculdade imaginativa desenvolvida e objetivada. Trabalhar o poder imaginativo é importante. Uma prática de meditação, como a da Deusa Kakini, requer um mínimo de poder imaginativo para ser iniciada. Convém, portanto, trabalhar bastante o poder de ver imaginativamente aquilo que escolhemos como objeto de nossa concentração. Também podemos exercitar o "ouvir" imaginativamente, como no caso da pronúncia mental dos mantrans, e o resultado é o desenvolvimento do ouvido mágico.

Paralelamente ao exercício do poder imaginativo, convém trabalharmos em nós a tranquilidade durante a prática. Quem quer demais obter resultados, sente muita pressa e torna-se ansioso por progredir rápido. O resultado é uma tensão durante o exercício da imaginação, pois a pessoa está ávida por obter logo as experiências espirituais. A tensão das pessoas ávidas costuma provocar dores de cabeça. Assim, é importante também exercitarmos a capacidade de pensar com suavidade e levemente no lakshya. Principalmente quando o fluxo de idéias se esgota ou quando a mente teima em pensar milhares de bobagens inúteis que não nos interessam no momento, costumamos tentar forçar as coisas. O ideal é praticar várias vezes por dia, mas sem tensões de nenhuma espécie. Aprendamos a ficar cada vez mais desinteressados, à medida que o pensamento único se desenvolve. Quanto mais concentrado estiver o pensamento, mais desinteressados e calmos devemos estar. Que haja,durante a prática, um progresso paralelo das duas coisas: da capacidade de pensarmos demoradamente em um mesmo tema e da capacidade de nos desligarmos de qualquer preocupação com o sucesso da prática. Conforme o pensamento vai fluindo no que nos interessa, mais calmos, tranquilos, esquecidos e desligados de tudo devemos ir nos tornando. Nesse ínterim, vamos deixando de perceber e de recordar tudo o que não seja o lakshya. É assim que vamos nos desligando dos pensamentos. 

Não brigue com as recordações e percepções teimosas, deixe-as lá. Ao invés disso, torne-se mais e mais consciente do objeto de sua concentração. Vivencie seu objeto e não o que há fora dele. O desligamento ocorrerá por si mesmo. Se as gargalhadas do vizinho estão se intrometendo e você não consegue deixar de ouvi-las, não se importe. Empenhe-se em tomar mais consciência do objeto de sua concentração. Com o tempo, você aprenderá a ficar "surdo" àquilo que não interessa.

Se as imagens sobre o objeto faltarem e a mente teimosamente não quiser mais fluir dentro do tema, não tente obrigá-la. Interrogue-se a respeito do que você ainda não sabe a respeito daquilo e use suas indagações como um koan. Se ainda assim a mente obstinadamente se recusar a cooperar, retome a prática mais tarde.