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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Perguntas importantes


1. O que é uma concentração intensa?

Quando ouvimos a expressão "concentração profunda" ou "concentração intensa", imaginamos imediatamente alguém franzindo o entrecenho enquanto faz um terrível esforço para concentrar-se. A palavra "intensa" é equivocadamente associada à palavra "tensa" e a palavra "concentração" é erroneamente associada à palavra "contração". Ao ser traduzida para o português e línguas próximas, a palavra original "dharana" perde seu sentido verdadeiro e suas traduções originam confusões. Na verdade, "dharana" deveria ser traduzida por uma expressão composta, algo assim como "atenção contemplativa ininterrupta", e não por uma palavra simples. Por pertencerem a culturas muito materialistas, as línguas ocidentais não possuem palavras simples que equivalham exatamente a "dharana".

Particularmente, defino a concentração intensa como sendo um fluxo de pensamentos que não sofre interrupção por um tempo prolongado e é contemplado conscientemente, acompanhado com atenção tranquila. A intensidade é definida pela ininterrupção do fluxo.

Sabemos que atingimos o pensamento único e a concentração intensa quando formos capazes de pensar longamente, de forma livre e profunda sobre o objeto, sem nos desviarmos. O pensamento prolongado, livre, ininterrupto, contínuo dentro do tema proposto é o que buscamos. Almejamos a fluidez do pensamento. 

2. Por que um perigo ameaçador não existe?

Porque o perigo ameaçador que tememos existe somente dentro de nossa cabeça e não fora de nós. Se deixássemos de existir, o perigo deixaria de existir para nós, "escaparíamos" do perigo. Um mesmo fato que ameaça uma pessoa pode ser visto como inofensivo ou até um fator de proteção para outra. Portanto, o caráter ameaçador de algo é uma qualidade que lhe atribuímos mentalmente. Mesmo os perigos universalmente ameaçadores não meterão medo em ninguém se não houver ninguém para ser ameaçado. Não estou dizendo que o fato da ameaça, em si mesmo, não existe, mas sim que seu caráter terrível é subjetivo, atribuído pela mente. Uma barata, por exemplo, pode amendrotar uma pessoa e não despertar medo algum em outra.

3. Por que uma bela e desejável mulher não existe?

Porque a linda imagem de uma fêmea humana desesperadamente desejável é uma criação da mente do macho. Prova disso é que esta mesma mulher não desperta desejo algum em outra mulher heterossexual ou em um animal cuja espécie seja muito distante da espécie humana. Em si mesmas, as criaturas não são belas ou feias, apenas existem. Você, muito provavelmente, não sente atração alguma pela fêmea de um lagarto, apesar dela ser sexualmente atrativa para ele, concorda?

Não estou afirmando que as mulheres em si não existam, mas sim que a beleza/fealdade são atributos mentais que estão na mente de quem as contempla. Uma mulher não é bonita "em si mesma", mas sim aos nossos olhos.

Toda excitação, seja sexual, nervosa ou de outra índole, é algo mental. Se retirássemos a mente de um ser humano, não haveria excitação de espécie alguma. Nos excitamos porque imaginamos mil coisas relacionadas ao objeto excitante. Até mesmo o orgasmo é algo mental, que não pode ocorrer sem a excitação correspondente.

4. Por que os problemas não existem?

Porque estão dentro da mente e não fora dela. Não estou afirmando, com isso, que o mundo exterior seja mais real que o mente e sim que ambos, mente e matéria, não correspondem à realidade última das coisas. Os problemas não existem objetivamente, mas sim subjetivamente. O que existe objetivamente são alguns fatos que em essência são neutros mas aos quais atribuímos um caráter problemático. Um problema é um problema porque assim o entendemos e assim o entendemos porque nele pensamos deste modo. As coisas, em si mesmas, não são boas e nem más, apenas existem, se processam na natureza rumo a determinados fins, às vezes inevitáveis, mas, ainda assim, naturais.

5. Se todas as coisas que vemos não existem, por que acreditamos e sentimos tão fortemente que existam tal como as percebemos?

Porque cristalizamos solidamente formas tendenciosas e parciais de entendê-las e, por extensão, de percebê-las. Aprendemos a pensar obstinadamente nas coisas de determinadas maneiras e tais formas se consolidaram em nossa percepção. Por tais razões, mesmo que queiramos entendê-las de outras maneiras não somos capazes. Para recebermos o mundo de outra maneira, teríamos primeiramente que destruir as formas mentais condensadas e cristalizadas que criamos ao longo de várias existências. A Morte do Ego tem justamente esse resultado. 

6. Por que a mente costuma não fluir quando tentamos concentrá-la em algo superior?

Por que a acostumamos excessivamente a pensar somente dentro de determinados eixos ou trilhos. Se você focar sua mente em algo imprestável (não faça isso!) ela rapidamente se concentrará naquilo e te levará aos nefastos resultados. Mas se você focá-la em algo superior, ela imediatamente tentará se desviar. Temos que acostumar a mente a pensar nas coisas superiores e desacostumá-la de pensar no que é mundano. 

Passamos a vida toda pensando no que não presta, por isso é tão fácil concentrar o pensamento negativo e prejudicial. Os pensamentos prejudiciais fluem com facilidade e levam muita gente à desgraça e ao crime. Não flerte com os pensamentos maus, mas também não conflite com eles, simplesmente abandone-os, substituindo-os por pensamentos elevados.

Quando um pensamento maligno e vergonhoso te assaltar, não se assuste e nem se preocupe, mantenha-se neutro e simplesmente aplique a Morte em Marcha ao ego que o emitiu.

7. Se todas as coisas não existem, então não há perigo algum em jogar-se de um prédio?

Sim, há. Eu não faria isso...As coisas não existem tal como as percebemos (tal como nos parecem ou se nos afiguram), mas isto não significa que não possuam realidade em si mesmas. Quando digo que as coisas não existem, estou me referindo à aparência que assumem ante nossos olhos (não existem da maneira como as imaginamos ou entendemos) e não ao aspecto absoluto que as permeia. Elas existem como coisas em si, inacessíveis aos nossos sentidos. A rocha que você vê na sua frente não existe, o que existe é outra coisa distinta do que você vê, mais completa. A rocha que você vê é uma imagem parcial (e portanto falsa, pois não corresponde à realidade). Por outro lado, a rocha completa (absoluta) é invisível, mas pode perfeitamente ferir o crânio de alguém, por isso...não a jogue em ninguém!

8. Quem são os inimigos da Gnosis?

Os inimigos do conhecimento espiritual gnóstico pertencem a várias correntes de pensamento. Entre os principais difamadores existem espiritualistas, ateus, materialistas e religiosos (embora nem sempre os representantes desses grupos sejam anti-gnósticos). De um modo geral, os detratores se incomodam com a idéia de uma ciência espiritual que faça alegações passíveis de comprovação. Neste sentido, embora existam entre eles grandes divergências, os anti-gnósticos estão em acordo em um ponto: negam a possibilidade de se conhecer os mistérios espirituais de forma objetiva e comprovável, sem o recurso das crenças e teorias. Esses grupos sentem-se ameaçados pela possibilidade das massas chegarem conhecer o Além de forma direta.