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domingo, 8 de julho de 2012

Sexualidade superior: alguns aspectos emocionais

O amor e a vontade de se unir a Deus, ao Íntimo e à Mãe Divina é algo erótico, sexual em um sentido amplo. O sexo é sempre a união, a fusão. Toda união é um ato sexual, no sentido amplo da palavra. Os sufis compunham versos eróticos para Deus.

O sexo não é maligno em si mesmo, como sempre acreditaram os fanáticos religiosos. Muito pelo contrário, o sexo é sagrado em essência. Malignos são a luxúria e a fornicação, os quais são infelizes desvios da função sexual natural e original. Se o sexo fosse maligno, não existiria na natureza como meio de perpetuação da vida. A união criadora existe entre as plantas, entre os animais, entre as galáxias e entre as estrelas. Os rios penetram outros rios que, no final, penetram o oceano. O céu fecunda a terra através da chuva. Os raios penetram a atmosfera e o solo. Tudo isso é sexo como parte da natureza e da criação.

A sexualidade humana é indissociável do sentido do tato. Nela intervém também os demais sentidos. Há duas formas básicas de sentirmos uma pessoa: uma é a forma animal e a outra é uma forma avançada, espiritual. 

A sexualidade animal é aquela que objetiva o orgasmo. Tal modalidade de sexo teve sua função no passado, quando éramos somente animais. Hoje somos em parte animais e semi-humanos, necessitando de uma sexualidade espiritual para nos humanizarmos completamente.

O que diferencia a sexualidade espiritual da sexualidade animal é, principalmente, o estado interior, isto é, as emoções e pensamentos que acompanham o ato. Há uma forma de sexualidade completamente pura, elevada, na qual inexiste qualquer ansiedade orgásmica, pressa ou conflito. A supra-sexualidade é marcada pelo relaxamento, concentração e meditação, é o ato de meditar dentro do ato sexual, abrindo-se para o sublime, entregando-se para o Espírito. A supra-sexualidade é o sexo inocente (mas não ingênuo), puro e livre de qualquer mácula. Não tem nada a ver com passionalismos amorosos e românticos, tipicamente femininos, e nem tampouco com a brutalidade da luxúria, tipicamente masculina. É algo incompreensível para os ateus e fanáticos religiosos ocidentais.

Não há como suprimir o sexo de nossa natureza ou detê-lo. Quem quer a purificação da alma, tem que direcionar seu erotismo para o alto, sublimando-o. O luxurioso e o passional não são capazes de elevar a energia sexual, estão aprisionados na cadeia dos impulsos violentos que arrastam para baixo.

Os religiosos que tentam purificar a alma por meio da supressão ou contenção do sexo caem nos sofrimentos emocionais mais horríveis. Há pessoas sinceras que tentam se livrar da luxúria reprimindo suas funções sexuais e não compreendem porque caem cada vez mais profundamente na promiscuidade e na depravação. O motivo é uma idéia equivocada de que o sexo é mau por si mesmo, é a tentativa de ser uma criatura "sem sexo". O brahmacharya é algo muito bom quando tomado como caminho para a sexualidade superior, mas é algo prejudicial quando se limita à absurda tentativa de manter uma abstinência eterna.

Não é muito fácil descrever o estado interior correspondente à supra-sexualidade. Temo estar falhando em minha descrição.

Se queremos nos livrar do inferno da luxúria, temos que aprender a perceber o corpo da mulher da forma mais espiritual possível. Temos que alcançar sentir no ato sexual as mesmas emoções devocionais da oração intensa, transformando o ato sexual em um ato religioso. Trata-se de uma inversão completa da sexualidade, um giro de 180 graus em direção oposta à sexualidade comum. 

De nada adianta tentarmos inverter a sexualidade animal se não modificarmos os estados internos. A chave está justamente na mudança dos estados interiores. O sexo bruto, no entanto, é o ponto de partida. Não permanecemos no sexo bruto, apenas partimos dele rumo ao sexo espiritual. Quanto mais purificarmos os pensamentos e as emoções, mais elevada será a sexualidade. 

Os luxuriosos, depravados e promíscuos estão aprisionados na sexualidade animal. No entanto, por uma curiosa contradição da realidade, estão também com a possibilidade de transformação à mão, bastando, para tanto, que se purifiquem espiritualmente.

O sexo espiritual e puro que estou tentando descrever neste post não tem nada a ver com o passionalismo romântico, o qual é egoísta e possessivo. Não há nenhum tipo de orgasmo em tal modalidade de sexo. Há, ao contrário, um anti-orgasmo, que é o êxtase espiritual da alma.

O nível de excitação adequado é moderado, apenas o suficiente para que se consume o ato. Excitação sexual ou emocional intensas inevitavelmente resultam em descontrole (esse princípio vale para todas as situações da vida). A mente não é levada para a mulher e nem para quaisquer fantasias eróticas. Quando pensamos na mulher ou em fantasias sexuais, a excitação imediatamente se descontrola.  O ideal é aprendermos a nos excitar sem fantasia mental alguma, ou seja, somente com a percepção sensorial real do corpo feminino. Ver e tocar o corpo feminino é o suficiente. Se, por acaso, não formos capazes de nos excitarmos sem imaginações eróticas, tal fato estará indicando que nos viciamos no prazer mental.

A magia sexual requer ausência completa de empolgação e de entusiasmo. Os centros emocional e sexual são mantidos em níveis baixos de excitação (apenas o necessário para a realização e continuidade do ato). Toda fantasia erótica é excluída da mente.

Quando o centro emocional se torna excitado pela empolgação e pelo entusiasmo, a lucidez e a calma são perdidos, o corpo inteiro vibra em sintonia com a luxúria e o orgasmo, com a consequente perda de esperma, se torna um resultado inevitável. Manter-se calmo, tranquilo e profundamente relaxado, tanto física quanto psicologicamente, é imprescindível.

Quem tentar praticar o coitus reservatus sem renunciar à excitação e à empolgação inevitavelmente perderá o controle de si mesmo e terminará fornicando. Não é possível conciliar a prática com exaltações passionais de quaisquer tipos.

Para o desenvolvimento da sexualidade superior, é imprescindível observar as seguintes orientações:

  • não excitar-se através de mente (ou seja, de pensamentos e imaginações morbosas);
  • excitar-se apenas fisicamente e no momento da transmutação;
  • excitar-se somente o estritamente necessário para a conexão sexual (não exagerar na excitação, mantê-la dentro do controle);
  • evitar excitar-se através da visão (não ficar olhando para o corpo das mulheres).

Os pontos acima servem como referenciais do que seria uma prática e conduta ideais, mas nada do que tentei descrever acima será possível sem a Morte do Ego.