Translate

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Desenvolvendo a contemplação

Desenvolvemos a concentração quando aprendemos a contemplar. Aprender a contemplar é aprender a estudar algo, a observá-lo.

Há várias formas de observar. Podemos observar um objeto físico ou psíquico, estático ou móvel. Não é possível uma observação consciente sem concentração. A concentração é a própria observação, o próprio ato de observar. Se estou observando algo detidamente, sem deixar de observá-lo e sem desviar minha atenção, estou me concentrando.

Se contemplo um objeto material, exterior, estou focando a atenção e a percepção, mantendo-o em meu campo de consciência. Se o objeto material em questão for móvel (ex. as ondas do mar batendo nas rochas), poderei observar seus movimentos, acompanhá-lo para ver onde irá, em que resultará, não importando se o mesmo seja animado ou inanimado. Se o objeto for fixo, porém mutável, posso acompanhar suas mutações para descobrir em que resultarão, como às vezes fazemos com as mirações da ayahuasca. Se, entretanto, o objeto for imóvel e, além disso, não apresentar mutações perceptíveis, resta-nos somente analisar suas múltiplas características ou facetas inerentes, caso queiramos utilizá-lo como alvo de nossa concentração.

As múltiplas facetas de um objeto material fixo e imutável englobam seus detalhes anatômicos, funções, empregos, material constitutivo, entre outras. Dar-se conta de tais características, fazer-se consciente das mesmas, equivale a concentrar-se no objeto e tal tarefa pode nos ocupar por vários minutos. De todas as maneiras, trata-se de um trabalho perceptual, pois estamos nos ocupando sensorialmente com o objeto e não supra-sensorialmente.

Ocupar a atenção com um objeto exterior é ocupar-se sensorialmente, uma vez que o objeto é acessado pelos sentidos.

Podemos, ainda, nos ocuparmos com objetos internos, imaginais. Neste caso, estaremos exercitando a supra-sensorialidade. Se vocalizo um mantram mentalmente, estou exercitando a clariaudiência e a concentração. Se me concentro na imagem de uma cachoeira, estou exercitando a clarividência, embora aí exista também um menor emprego e ativação da clariaudiência. Em todo caso, contemplar uma imagem mental é trazer à consciência informações sobre o objeto correspondente.

Quando um objeto fere nossos olhos físicos, sua correspondente contraparte interna nos atinge supra-sensorialmente, criando uma imagem mental correspondente ao mesmo. Ao fecharmos os olhos, podemos prosseguir concentrados na imagem mental, desligando-nos dos sentidos físicos e apreendendo informações sobre a mesma, informações antes inconscientes. Assim, contemplar uma imagem interna é recebê-la supra-sensorialmente, compreendendo-a. A recepção compreensiva do conteúdo de uma imagem pode ser facilmente conseguida quando se aprende a observar as coisas discernindo em silêncio, sem o recurso da tagarelice interior.

Se experimentarmos observar um pássaro em ação por alguns minutos, constatamos que somos capazes de receber várias informações a respeito do mesmo sem necessidade de usar o palavreado interno. Podemos "sentir" sua cor, seu tamanho, seus movimentos etc. em silêncio. Somos capazes de perceber o pássaro sob vários aspectos ou perspectivas, de forma direta ,sem necessidade de raciocinarmos e nem sequer de analisarmos. Essa percepção direta é a contemplação. E assim como podemos contemplar um pássaro físico exterior, podemos igualmente contemplar um pássaro imaginativo ou o aspecto interior do pássaro. O pássaro que saltita aqui e ali à procura de alimento, bisbilhotando as folhas etc. existe fora de nós, mas existe também dentro de nós, sob a forma de uma imagem interior. Temos, em nosso interior, uma imagem do pássaro que pode ser recebida e observada pela consciência. Se a concentração for profunda e houver sonolência, o pássaro interior será percebido objetivamente e com um impacto realístico idêntico ao de um pássaro exterior ou até mais intenso (o que corrobora a afirmação de certos físicos de que as imagens do mundo exterior existem dentro de nós mesmos). A imagem interior corresponderá à realidade do pássaro exterior na mesma proporção em que nossa consciência estiver objetivada pela Morte do Eu. Quanto mais o Ego estiver vivo, tanto mais subjetiva será nossa percepção do pássaro (lembrando que o pássaro em si mesmo não é exterior e nem interior, pois transcende este par de opostos - o pássaro absoluto está além das percepções e conceitos).

Conclui-se, até aqui, que podemos observar objetos exteriores e interiores, fixos e móveis, mutáveis ou imutáveis (cuja mutação não pode ser percebida na escala espaço-temporal em que atua nossa consciência); que a partir da observação de um objeto exterior, podemos fechar os olhos e prosseguir observando-o interiormente, imaginativamente; e que a observação é um ato receptivo que pode ser realizado sob silêncio mental.

O principiante não consegue receber silenciosamente o objeto observado, necessita falar consigo mesmo interiormente, para capturar as características ou informações do objeto. Pode, entretanto, exercitar a receptividade silenciosa e desenvolvê-la rapidamente, caso comece a utilizar tal faculdade.

O poder de receber informações de forma silenciosa e exclusivamente perceptual é o estágio embrionário da faculdade conhecida como Percepção Instintiva das Verdades Cósmicas. Seu desenvolvimento não possui um limite conhecido. É uma faculdade da consciência.

Para ser contemplado, um objeto qualquer necessita ser acessado pela consciência, seja por via sensorial ou supra-sensorial. A contemplação por via sensorial objetiva a atenção mas não exercita os sentidos internos. Se quisermos exercitar os chakras e desenvolver os sentidos internos, temos que usá-los e os usamos quando contemplamos um objeto supra-sensorialmente.

A contemplação supra-sensorial requer desligamento das faculdades sensoriais, o que se consegue por meio do sono. O sono é o caminho através do qual ocorre o desligamento dos sentidos e a imersão da consciência nos mundos internos, os quais existem paralelamente ao físico.