Nós, os aspirantes espiritualistas, temos sofrido muito com os defeitos, principalmente com a luxúria em suas muitas variações (adultério, fornicação, masturbação, promiscuidade etc.), às quais podem chegar até mesmo a perversões e aberrações. O vazio que se sente após as caídas é terrível e costuma ser acompanhado por medo e preocupação a respeito de nosso destino e futuro no campo espiritual.
Pensemos agora especificamente na luxúria. A luxúria, tal como costumamos concebê-la,isto é, como um "Eu" único ou defeito único, não existe. O que existem são milhões e milhões de facetas luxuriosas que se associam formando um gigantesco bloco composto por partes diminutas e ao qual chamamos de "defeito da luxúria". Por uma simples questão de comodidade e facilidade de expressão, dizemos "o eu da luxúria", mas em verdade não há tal coisa, não há um "eu da luxúria" e sim muitíssimos "eus da luxúria".
O motivo pelo qual não conseguimos nos livrar deste defeito terrível é exatamente este: porque o alimentamos a todo momento sem nos darmos conta. Reforçamos a luxúria ao longo de todo o dia através de pensamentos, falas, atitudes e olhares. Se nos observarmos= em plena relação com as pessoas, perceberemos atos, falas, olhares, pensamentos, movimentos etc. aparentemente inocentes mas que, em realidade, fortificam este defeito.
A interrelação com os semelhantes é imprescindível para que haja este descobrimento. Embora também possamos alimentar a luxúria sozinhos, através da imaginação morbosa, em contato com o sexo oposto muitas outras manifestações surgem e podem ser flagradas. É um erro, portanto, evitar o contato social. E é outro erro identificar-nos com as mulheres enquanto travamos o contato social. O ideal é: travar o contato social com mulheres sem nos identificarmos com elas para que possamos nos observar e descobrir as muitas facetas da luxúria em plena atividade. Se não for por este caminho, não conseguiremos nos livrar.
Outro erro consiste em tentar aplicar a Morte em Marcha nos defeitos já "carregados" (reforçados com energia), sem deixar de alimentá-los. Isso equivale a pisar no freio e no acelerador: por um lado os enfraquecemos mas por outro os reforçamos. Muitas pessoas sinceras aplicam a Morte nos desejos intensos, mas não prestam atenção nas muitas maneiras pelas quais os alimentam. Por exemplo: o estudante reforça a luxúria o dia todo e, à noite, tentar conter os impulsos fornicadores/ejaculatórios. Preocupam-se, sinceramente, em combater tais impulsos, mas não se preocupam em retirar os comportamentos que os reforçam. É por isso que não avançam.
A libertação da luxúria e a conquista da castidade resultam naturalmente da eliminação das pequenas facetas detectáveis no dia. Não é algo que se conquiste diretamente pela força, mas sim pela estratégia. A castidade é um resultado e não propriamente uma meta, pois a meta é enfraquecer o impulso sexual irrefletido e despótico. Não se preocupe, você não ficará eunuco e nem perderá o instinto ou potência, apenas irá adquirir maior controle sobre si mesmo e aumentará a margem do seu livre arbítrio nesse campo.
O fundamental é aprender a nos vermos enquanto estamos em contato com elas, em plena relação social com o sexo oposto. Na presença delas, evitemos os identificar e olhemos para nós mesmos, verificando se o que estamos fazendo ou dizendo, num dado momento, está ou não reforçando este nefasto defeito. Em outras palavras, temos que vigiar o que estamos fazendo, buscando em nosso comportamento as formas de reforço.
O que tenho feito, seguindo as diretrizes deixadas pelos V.M.s em seus livros, é o que explicarei a seguir.
Observando-me em plena presença de mulheres, costumo me perguntar: "Isto que estou fazendo agora, neste momento, está reforçando a luxúria ou não?". Faço a pergunta sinceramente e busco a resposta com mais sinceramente ainda através da observação direta, sem teorizar. Deixo a mente passiva, procuro não pensar e nem raciocinar a respeito, e vou observando e me dando conta. É claro que um principiante raciocinará um pouco, mas com a prática ele aprenderá que não precisa pensar na questão, bastando apenas olhar.
Essa indagação pode ser aplicada a qualquer outro defeito. Funciona com a ira, com a gula e com todos os outros egos. O que importa é vigiar, buscando detectar qualquer coisa que possa reforçar o defeito. Durante a vigilância, temos que buscar o que está por trás dos comportamentos, atos, diálogos, formas de se vestir etc.
Nossos comportamentos, por mais comuns que nos pareçam, podem ter consequências psicológicas. Temos que nos inquirir a respeito dessas consequências psicológicas do que fazemos. Nesse sentido, podemos dizer que nossa forma de agir, pensar e sentir constituem "causas" (no nível tridimensional) cujas consequências são a fortificação dos agregados psíquicos, defeitos ou complexos.
Suponhamos, por exemplo, que você esteja segurando um livro com a mão direita. Será que por trás deste ato há alguma intenção excusa escondida? Observe-se sinceramente. Caso você detecte alguma intenção secundária vinculada a algum defeito, você o estará alimentando.
Se quisermos eliminar a luxúria, nenhuma frase, pensamento ou expressão deve passar "em branco". Todas devem ser percebidas em flagrante e eliminadas no mesmo instante.
O trabalho de morte em marcha resolve o problema da compreensão, pois nos fornece um entendimento progressivamente mais profundo dos defeitos, e também impede que defeitos enfraquecidos ressucitem.
Todos temos, com certeza, muitas dificuldades nesse campo específico, por isso, sugiro a leitura do livro "A Prática do Brahmacharia", de Sri Swami Sivananda. É um livro com muitas orientações esclarecedoras e pode ser obtido aqui:
Olá amigo poderia tirar dúvidas em particular? meu e-mail é kbu@ig.com.br. caso positivo me envie um e-mail.
ResponderExcluirDesde já agradeço
R. Os casos particulares, por serem muito delicados, requerem a orientação de alguém de consciência desperta, o que não é o meu caso. Sugiro,entretanto, que poste os seus problemas de uma forma geral e como anônimo ou então com outro perfil, para não se comprometer. Se o problema for muito grave e até comprometedor, fale de uma forma geral, escrevendo algo assim: "Que orientação deveríamos dar para a pessoa que sente tal e tal desejo" Isso poderia ajudá-lo.
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