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domingo, 8 de novembro de 2009

Reprimir não é eliminar e é desnecessário

Quando se trabalha com a oração e a dissociação (não-identificação), a repressão dos desejos se torna desnecessária porque a Mâe Divina corta a ação dos defeitos, sem necessidade de que o reprimamos. Reprimir é, portanto, um sintoma de que a prática da morte não está correta. Se você necessita se reprimir e resistir aos seus desejos, isso indica que sua prática de Morte está errada e necessita ser corrigida.

Quando o V.M.S. e o V.M.R. usam as expressões "combater os defeitos", "estar em alerta contra si mesmo", "disciplinar-se", "não alimentar os defeitos", "matar o desejo e a sombra do desejo" etc. não estão se referindo a nenhuma forma de repressão e sim ao trabalho de não nos identificarmos e de apelar ao poder da Mãe Divina. Os V.M.s jamais ensinaram que o estudante deveria resistir aos desejos e sim que deveriam enfraquecê-los e matá-los por meio do poder da Mãe Divina. A tarefa de enfraquecer e matar não é nossa, pertence à Mãe Divina. Fazer esforços para "não sentir o que se sente" é tentar usurpar a função dEla. Suspeito que os gnósticos entenderam a morte do ego de forma errônea neste pormenor.

Quando deixamos de nos reprimir e observamos a nós mesmos (em nossos centros) como a um sujeito estranho, os egos começam a ser percebidos aos montes. E se pedimos à Mãe Divina, mantendo a recordação de nós mesmos e evitando a identificação com esses defeitos, vemos que rapidamente eles perdem força como por um passe de mágica, sem que necessitemos fazer mais nada. Nenhum esforço para reprimí-los é necessário pois a Mãe toma a dianteira e os mata. Os defeitos gradualmente perdem força, se enfraquecem por si mesmos sob a atuação dEla.

Embora necessários para quem não conhece a dissolução do Ego, os mecanismos repressivos atrapalham a prática da Morte.

Entendamos que o Ego a ser morto e´a nossa própria pessoa, com tudo o que nos é querido. Esta pessoa , que nos é tão cara, é múltipla e se manifesta através dos cinco centros da máquina. A transformação virá quando observarmos esta pessoa em ação, admitindo e aceitando aquilo que resistimos em admitir. Ex. um homem pode resistir teimosamente em admitir para si mesmo que possui medo de algo por ser o medo uma característica feminina e, portanto, algo vergonhoso. Quando for assaltado pelo medo, tal homem tentará sufocá-lo dentro de si, tentará resistir ao sentimento invasivo e sofrerá. Mas, se tiver coragem de admitir este sentimento indesejável, poderá imediatamente observá-lo sem identificar-se e pedir por sua morte. O resultado será um alívio que se aprofundará se ele insistir nessa prática. Uma parte dele mesmo terá sido morta, isto é, transformada pois a morte é a transformação.

Aquele que reprime seus defeitos não crê que sua Mãe Divina os está desintegrando. Se peço e tenho fé, não tenho necessidade de recalcar nada. Ao contrário: removo minhas resistências ao desejo e observo seu progressivo enfraquecimento e diminuição á medida em que suplico por sua morte.

Remover a resistência ao desejo não é o mesmo que identificar-se. Remover a resistência é tão somente não opor ao desejo um contra-desejo (o desejo de não desejar).

Aquele que remove a resistência e, ao mesmo tempo, não se identifica, protege-se da obsessão. Aquele que remove a resistência e se identifica, torna-se incapaz de livrar-se do desejo. Observar, não se identificar e orar são peças fundamentais na Morte do Ego.

A identificação fortifica o defeito, escravizando-nos mais e mais.

Os mecanismos de repressão consistem em se fazer um esforço de vontade para não desejar quando se está desejando. É uma tentativa de não sentir o que se está sentindo. Indica desconfiança em relação ao poder da Mãe Divina. Aqueles que reprimem sentimentos e desejos costumam sentir um aperto ou sensação de mal estar no peito. Impulsos reprimidos geram doenças, pois os egos recalcados não desistem de buscar suas passagens para manifestação.

Os mecanismos de repressão foram desenvolvidos por nossa cultura ocidental como forma de conter os efeitos destrutivos dos desejos que conflitam com os valores morais e regras de conduta. Entretanto, tais valores e regras também são outras formas de desejo. Os mecanismos de repressão são forjados por eus bons. São úteis para quem não trabalha na Morte e prejudiciais para quem a realiza, por não permitirem a observação dos defeitos em ação.

Se não permito a manifestação de um defeito, como irei observar sua manifestação? E se não observo sua manifestação, como irei compreendê-lo?

É correto cortar a ação de um ego mediante a não-identificação e à oração. É incorreto tentar cortar-lhe a ação mediante um esforço de resistência ou simples tentativa de "não sentir nada". Temos que diferenciar ambas as coisas. Resistir aos defeitos foi o que sempre fizemos até hoje, sem resultado algum para a Morte. Temos que ir além da resistência inútil. Pedir, observar, orar e romper com a identificação não são o mesmo que resistir e não exigem nenhum tipo de recalque.

Importante: temos que refinar a observação e cortar a ação dos defeitos muito antes que aumentem sua ação sobre nós e nos obsessionem, temos que nos antecipar às obsessões, observando-nos de instante à instante.

Esclarecimento adicional

Como deve ter ficado claro, por "reprimir" devemos entender: sufocar, bloquear, simplesmente tentar não sentir, "forçar a barra" contra as próprias emoções. O desbloqueio à repressão a que nos referimos é o desbloqueio emocional. O bloqueio a ser removido é o bloqueio das emoções e não a relutância em cometer atos. É importante que isso fique claro. Evitar reprimir não é satisfazer o desejo, pois isso nos escraviza ainda mais, é somente remover o bloqueio das emoções, para que possams vê-las com mais clareza.

Este ponto tem gerado muita confusão entre os estudantes do gnosticismo. Entendo que o auto-controle por meio da vontade somente pode e deve ser exercido nos campos em que já se conquistou o livre arbitrio, sendo uma perda total de tempo tentar exercê-lo nos campos em que ainda não se o conquistou. Neste último caso, o poder da vontade deve ser empregado de outra maneira.

Deixemos as tarefas do enfraquecimento progressivo e da morte dos defeitos com a Mâe Divina e nos ocupemos unicamente com a observação e súplica. O defeito não morre por nosso próprio esforço, mas pela atuação de um poder superior a nós. Nos limitemos a cumprir bem nossa parte: observar, encontrar, compreender, pedir com fé, sem dúvida. Deixemos para a Mãe o esforço para deter os "eus".

A verdadeira morte do Ego não é o aumento dos conflitos internos, mas sim sua diminuição. Morrer não é agredir a si mesmo, nem violentar as próprias emoções e nem entrar em conflito com os desejos.

Reprimir é bloquear, não reprimir é desbloquear. O desbloqueio não deve servir de desculpa para nos identificarmos e nem para satisfazer e alimentar os desejos.

Não reprimir significa simplesmente desbloquear as emoções para observá-las, não significa satisfazer os desejos, nem fazer o que dá vontade, sem freios.

Deixe a força avassaladora do instinto em seu curso, não se ocupe com ela, não tente revertê-la. Ocupe-se com a tarefa de retirar-lhe o alimento.
Você deseja algo proibido e moralmente reprovável? Não se ocupe com esse desejo em si, deixe-o de lado e se ocupe com seus detalhes ou facetas. Observe as formas sutis de manifestação desse desejo, as coisas pequenas que você faz, pensa, sente e que dão força ao defeito em questão. Não reprima as manifestações sutis, observe-as, descubra-as e ore pela eliminação. Ao mesmo tempo, mantenha-os separados de si mesmo e não se identifique. Delegue o trabalho da morte dos elementos descobertos a uma força maior.

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