Quando tentamos direcionar o fluxo do pensamento em torno de um único tema, nos deparamos com o problema da inibição. O fluxo mental fica inibido quando tentamos direcioná-lo, os pensamentos não fluem. Este é um dos obstáculos no desenvolvimento da concentração.
Se queremos realmente "viajar" conscientemente dentro do tema que nos interessa, necessitamos soltar as amarras do pensamento, do contrário, não haverá desligamento completo de tudo o mais. No entanto, quando nos concentramos, pensamentos sobre o lakshya nos faltam, ao mesmo tempo em que pensamentos sobre o que não nos interessa aparecem aos montes. A mente se recusa a pensar naquilo que escolhemos, sabotando nossa prática como um asno teimoso que de repente empaca e deixa de caminhar. A mente quer pensar em seus temas, suas bobagens, e se recusa a pensar no que escolhemos. O asno teimoso quer andar por seus próprios caminhos, dispersos e sem metas, recusando-se a seguir pelo caminho que necessitamos.
No devaneio, ao contrário, a mente não experimenta empecilhos em seu fluxo, mas também não vai por onde queremos. O asno não se fixa em nenhuma direção, troca constantemente de tema, mariposeia e não se aprofunda em nada. O pensamento disperso é superficial, toca em cada tema somente de leve, sem aprofundar-se em nenhum, pois não se dá à continuidade e nem ao prologamento.
Fazer a mente fluir dentro do lakshya é uma dificuldade. A mente flui somente enquanto lhe damos alguns empurrões, mas em seguida empaca, deixa de pensar no objeto e tenta desviar-se para outras coisas.
No fundo, há um impulso volitivo por trás da teimosia da mente: gostamos de pensar naquilo que é desejável. Se nos pusermos a tentar concentrá-la em imagens pornográficas ou em desgraças que nos afetaram ao longo da vida, a mente prontamente aceitará (embora isso não seja recomendável e tenha efeitos destrutivos sobre nós), mas se tratarmos de concentrá-la no que é superior, ela resistirá. "Para baixo todo santo ajuda", diz o ditado. É muito fácil usar a concentração para o que não presta, mas é difícil direcioná-la para o alto. O asno quer teimosamente seguir os velhos sanskaras aos quais está acostumado, sente-se bem neles.
A mente se concentra e flui facilmente naquilo que não presta porque os pensamentos correspondentes são prazeirosos. É prazeiroso pensar em coisas mundanas: em vingança, em comidas, em pornografia etc. Em contrapartida, o asno empaca e não quer caminhar quando o lakshya é algo sublime e espiritual.
Uma forma de superar essa teimosia mental é escolhermos como alvo de nossa concentração a solução de algum problema no qual valha a pena pensar. Relaxamos, nos concentramos buscando a solução até que ela "nos caia", sob a forma de um insight ou uma revelação. Perguntas relacionadas ao tema ("como resolver isso?) podem ser usadas sob a forma de um koan. Tudo o mais deve ser esquecido e abandonado. É importante focar naquilo que queremos (a solução) e não naquilo que nos incomoda (o problema) pois, uma vez que uma idéia prevaleça na mente de forma completa, o corpo físico reagirá em consonância com a mesma. Se o problema tomar conta da mente, o corpo reagirá com estresse, mas se a solução tomar conta, o corpo reagirá com alívio.
Existem infinitas coisas para se pensar sobre o lakshya, mas a mente não quer saber delas. Ela prefere saborear seus próprios objetos e temas.
Quando concentramos a atenção em um lakshya exterior animado (ex. o comportamento de um esquilo), não experimentamos tal teimosia, porque o lakshya é externo a nós e continua a se movimentar e a agir de forma independente de nossa observação. Mas quando fechamos os olhos e tentamos concentrar o pensamento em um lakshya interno, experimentamos a resistência.
Até o momento, não vejo outra solução além de dar pequenos empurrões no asno para que ele continue a pensar no que queremos. Sivananda aconselha que tentemos inicialmente concentrar o pensamento em algo que nos interessa muito, pois isso desobstruirá o fluxo mental (haverá uma junção entre nossa meta e um sanskara específico da mente). No entanto, há que se ter cuidado pois, se escolhermos como lakshya algo que pode nos prejudicar espiritualmente, não conseguiremos nos livrar dos nefastos resultados. Se eu me entreter pensando detidamente em alguma fantasia sexual, serei escravizado por tal fantasia e não serei capaz de preservar meu virya. De todas as maneiras, quando mais interesse o objeto despertar em nós, mais facilmente conseguiremos pensar nele.
Sivananda aconselha que, inicialmente, nos concentremos em um tema bem amplo, como o céu, o oceano ou uma cordilheira. Assim, fica mais difícil que faltem os pensamentos sobre o lakshya. Sempre há muito o que pensar sobre um tema amplo. Duas coisas ainda podem ajudar nos casos em que faltam pensamentos sobre o lakshya: manter a mente focada mesmo assim, à espera de insights a respeito, e fazer perguntas a si mesmo sobre o tema. Como as perguntas que podem ser feitas sobre algo são infinitas, ajudam a dar "empurrões" no asno da mente. Questionar-se a respeito do objeto é uma forma de continuarmos pensando nele quando nenhum pensamento a respeito nos ocorre. São infinitos os questionamentos que podemos realizar sobre um dado tema. Escolher um tema amplo, manter-se focado mesmo sem que nada nos ocorra e perguntar-se infinitamente sobre aquilo são, portanto, meios de transcender a interrupção do fluxo mental desejado.
Suponhamos que você (ou eu ou qualquer outra pessoa) esteja procurando se concentrar em um coco. Não se limite a explorar somente o interior do coco, sua constituição e estrutura, inclua também as infinitas cenas da vida em que um coco pode estar presente e pelas quais pode passar. Você pode imaginar, por exemplo, o coco caindo na areia da praia, enchendo-se de areia, estragando-se, abrindo, ficando cheio da água da chuva e de insetos, moleques brincando de jogar o coco para longe, as ondas o arrastando e o devolvendo, um cachorro o mordendo para estimular os dentes e outras infinitas situações. Assim, você abrirá um veio em que as possibilidades imaginativas não se esgotam. Se você não consegue imaginar as cenas organizadas coerentemente de forma temporal (desde o nascimento da fruta até a sua destruição total), não importa: contente-se em explorar tudo o que for possível, com a máxima profundidade e até onde alcançar. Imagine tudo o que você consiga sobre o coco. Com o desenvolver das práticas, você organizará os processos antes imaginados de forma desorganizada. O que interessa é criar uma espécie de "devaneio consciente e prolongado" em que o coco esteja continuamente presente, de um modo ou de outro. Cenas não intencionais, espontâneas, mas que não se desviem do tema, assim como sonhos, lúcidos ou não, a respeito do assunto, são produto da prática e indicam que os resultados estão começando a aparecer.
Não raciocine analisando se as cenas estão ou não se desviando do propósito, aprenda a simplesmente acompanhar a cena sem receio de que haja desvios, deixe que as cenas fluam. Não se recorde, não se ocupe e nem se preocupe com o desvios, esqueça-os, não os procure. O que interessa não são os desvios e sim o lakshya, não são os erros e sim o acerto. Quando você se perceber desviado, simplesmente volte ao tema e continue.
Pela Lei das Associações, a mente tentará trazer outras cenas relacionadas ao objeto, das quais ele próprio estará ausente. Vejamos um exemplo: você está imaginando uma cena em que um coco está sendo vendido e, repentinamente, passa a imaginar coisas sobre o vendedor ao invés de acompanhar o que aconteceu com a fruta ao ser adquirida pelo cliente. Nesse caso, a imaginação foi transferida de um objeto (o coco) para outro objeto relacionado (o vendedor), tal como ocorre no pensamento comum desconcentrado ou imaginação mecânica. É a Lei das Associações que provoca os desvios da imaginação e nos faz cair na atividade mental comum. A Lei das Associações faz com que a imaginação passe de um tema a outro tema relacionado, formando uma corrente de temas que se prolonga infinitamente, fascinando e adormecendo a consciência. O pensar em muitos temas provoca excesso de atividade mental e nos afasta do nosso objetivo, que é reduzir os pensamentos para, no final, escaparmos da mente. Aconteça o que acontecer, observe e acompanhe o seu objeto e não outras coisas.
Sivananda aconselha que, inicialmente, nos concentremos em um tema bem amplo, como o céu, o oceano ou uma cordilheira. Assim, fica mais difícil que faltem os pensamentos sobre o lakshya. Sempre há muito o que pensar sobre um tema amplo. Duas coisas ainda podem ajudar nos casos em que faltam pensamentos sobre o lakshya: manter a mente focada mesmo assim, à espera de insights a respeito, e fazer perguntas a si mesmo sobre o tema. Como as perguntas que podem ser feitas sobre algo são infinitas, ajudam a dar "empurrões" no asno da mente. Questionar-se a respeito do objeto é uma forma de continuarmos pensando nele quando nenhum pensamento a respeito nos ocorre. São infinitos os questionamentos que podemos realizar sobre um dado tema. Escolher um tema amplo, manter-se focado mesmo sem que nada nos ocorra e perguntar-se infinitamente sobre aquilo são, portanto, meios de transcender a interrupção do fluxo mental desejado.
Suponhamos que você (ou eu ou qualquer outra pessoa) esteja procurando se concentrar em um coco. Não se limite a explorar somente o interior do coco, sua constituição e estrutura, inclua também as infinitas cenas da vida em que um coco pode estar presente e pelas quais pode passar. Você pode imaginar, por exemplo, o coco caindo na areia da praia, enchendo-se de areia, estragando-se, abrindo, ficando cheio da água da chuva e de insetos, moleques brincando de jogar o coco para longe, as ondas o arrastando e o devolvendo, um cachorro o mordendo para estimular os dentes e outras infinitas situações. Assim, você abrirá um veio em que as possibilidades imaginativas não se esgotam. Se você não consegue imaginar as cenas organizadas coerentemente de forma temporal (desde o nascimento da fruta até a sua destruição total), não importa: contente-se em explorar tudo o que for possível, com a máxima profundidade e até onde alcançar. Imagine tudo o que você consiga sobre o coco. Com o desenvolver das práticas, você organizará os processos antes imaginados de forma desorganizada. O que interessa é criar uma espécie de "devaneio consciente e prolongado" em que o coco esteja continuamente presente, de um modo ou de outro. Cenas não intencionais, espontâneas, mas que não se desviem do tema, assim como sonhos, lúcidos ou não, a respeito do assunto, são produto da prática e indicam que os resultados estão começando a aparecer.
Não raciocine analisando se as cenas estão ou não se desviando do propósito, aprenda a simplesmente acompanhar a cena sem receio de que haja desvios, deixe que as cenas fluam. Não se recorde, não se ocupe e nem se preocupe com o desvios, esqueça-os, não os procure. O que interessa não são os desvios e sim o lakshya, não são os erros e sim o acerto. Quando você se perceber desviado, simplesmente volte ao tema e continue.
Pela Lei das Associações, a mente tentará trazer outras cenas relacionadas ao objeto, das quais ele próprio estará ausente. Vejamos um exemplo: você está imaginando uma cena em que um coco está sendo vendido e, repentinamente, passa a imaginar coisas sobre o vendedor ao invés de acompanhar o que aconteceu com a fruta ao ser adquirida pelo cliente. Nesse caso, a imaginação foi transferida de um objeto (o coco) para outro objeto relacionado (o vendedor), tal como ocorre no pensamento comum desconcentrado ou imaginação mecânica. É a Lei das Associações que provoca os desvios da imaginação e nos faz cair na atividade mental comum. A Lei das Associações faz com que a imaginação passe de um tema a outro tema relacionado, formando uma corrente de temas que se prolonga infinitamente, fascinando e adormecendo a consciência. O pensar em muitos temas provoca excesso de atividade mental e nos afasta do nosso objetivo, que é reduzir os pensamentos para, no final, escaparmos da mente. Aconteça o que acontecer, observe e acompanhe o seu objeto e não outras coisas.
A domesticação do asno da mente é algo progressivo, não adianta ter pressa. A cada dia amansamos mais o asno, até o momento em que se torne obediente.
Não force sua mente a pensar sobre o lakshya, simplesmente focalize-a no objeto e deixe que o pensamento surja e flua. Se forçar, terá dores de cabeça. Ao invés de forçar, prefira conferir bastante importância ao objeto e nenhuma importância a outras coisas. Não brigue com os pensamentos indesejáveis, vire-lhes as costas. Confira importância e valor ao que interessa. Pratique a concentração repetidamente em um mesmo tema durante vários dias, até que não seja mais preciso "procurar" idéias sobre ele. Quando somos principiantes na prática da concentração, a mente não flui continuamente, constantemente falha e se desvia.
Conscientemente, estamos em contato muito limitado com a realidade, porém, inconscientemente, estamos em contato com o Todo. Isso significa que estamos em contato com a intimidade dos objetos sem o saber. Temos conhecimento armazenado no inconsciente mas não sabemos disso. É nesse sentido que Sócrates afirmava que "conhecer é recordar".
Nós, seres humanos, não somos somente aquilo que percebemos de nós mesmos, somos muito mais do que achamos que somos.
Mediante a concentração e a meditação, o conhecimento oculto em nós mesmos se manifesta à consciência. Então nos damos conta de que sabíamos mais sobre o objeto do que acreditávamos inicialmente.
Ampliação em 12/12/2013
Quando você estiver tentando pensar em um tema e os pensamentos esgotarem, não fique se pressionando para ir além e nem forçando a mente para encontrar mais o que pensar a respeito. Simplesmente conclua sua prática, troque de tema ou volte mais tarde. Forçar a mente não adianta e somente dá dores de cabeça. A prática constante, ao longo do tempo, irá gradativamente "abrir o tema" e revelar coisas novas a respeito. Se um tema se tornou "batido" ou "enjoativo", não insista, adote outro tema e prossiga sua prática. É importante ter regularidade nos lakshyas, não ficar trocando à toa, mas também é importante não forçar violentamente o entendimento.
O fluir do pensamento concentrado deve ser algo leve e agradável.
Não force sua mente a pensar sobre o lakshya, simplesmente focalize-a no objeto e deixe que o pensamento surja e flua. Se forçar, terá dores de cabeça. Ao invés de forçar, prefira conferir bastante importância ao objeto e nenhuma importância a outras coisas. Não brigue com os pensamentos indesejáveis, vire-lhes as costas. Confira importância e valor ao que interessa. Pratique a concentração repetidamente em um mesmo tema durante vários dias, até que não seja mais preciso "procurar" idéias sobre ele. Quando somos principiantes na prática da concentração, a mente não flui continuamente, constantemente falha e se desvia.
Conscientemente, estamos em contato muito limitado com a realidade, porém, inconscientemente, estamos em contato com o Todo. Isso significa que estamos em contato com a intimidade dos objetos sem o saber. Temos conhecimento armazenado no inconsciente mas não sabemos disso. É nesse sentido que Sócrates afirmava que "conhecer é recordar".
Nós, seres humanos, não somos somente aquilo que percebemos de nós mesmos, somos muito mais do que achamos que somos.
Mediante a concentração e a meditação, o conhecimento oculto em nós mesmos se manifesta à consciência. Então nos damos conta de que sabíamos mais sobre o objeto do que acreditávamos inicialmente.
Ampliação em 12/12/2013
Quando você estiver tentando pensar em um tema e os pensamentos esgotarem, não fique se pressionando para ir além e nem forçando a mente para encontrar mais o que pensar a respeito. Simplesmente conclua sua prática, troque de tema ou volte mais tarde. Forçar a mente não adianta e somente dá dores de cabeça. A prática constante, ao longo do tempo, irá gradativamente "abrir o tema" e revelar coisas novas a respeito. Se um tema se tornou "batido" ou "enjoativo", não insista, adote outro tema e prossiga sua prática. É importante ter regularidade nos lakshyas, não ficar trocando à toa, mas também é importante não forçar violentamente o entendimento.
O fluir do pensamento concentrado deve ser algo leve e agradável.