Alguns temas são facilmente penetráveis pela mente, enquanto outros são de difícil penetração. Um tema facilmente penetrável é um tema no qual conseguimos pensar com facilidade durante um certo tempo, sem esforço. A mente flui com facilidade dentro do tema e seus vários aspectos vão se revelando progressivamente. Infelizmente, a maioria dos temas facilmente penetráveis são ruins, negativos e nos conduzem perigosamente a estados indesejáveis e prejudiciais. As fantasias sexuais são um exemplo de tema facilmente penetrável porém destrutivo.
Por que alguns temas são facilmente penetráveis? Porque neles pensamos há bastante tempo e deles gostamos. Quando estamos acostumados a pensar constantemente em um tema, a mente flui com facilidade devido aos sanskaras criados. A mente pensa com facilidade naquilo que está acostumada a pensar, mas empaca quando queremos que pense em algo fora dos seus trilhos. Além disso, é mais fácil pensar prolongadamente em um tema geral e amplo do que em um tema específico e singular. Por exemplo: é mais fácil pensar demoradamente em múltiplas técnicas de luta do que em uma certa luta específica de Yip Man. Quando pensamos em um tema geral e amplo, os diversos subtemas surgem por associação e a mente flui dentro do objeto com certa facilidade, por este não ser tão restrito.
Por outro lado, há temas de difícil penetração: são, normalmente, os temas com os quais pouco nos ocupamos, que rejeitamos, que nos enfastiam, incomodam ou irritam. Podem também ser temas muito singulares e específicos. Quando tentamos nos concentrar, o fluxo de idéias rapidamente se esgota e experimentamos um fastio irritante. Se tentarmos forçar as coisas, obrigando a mente a pensar, podemos adquirir um pouco dor de cabeça. A dor de cabeça na concentração advém quando tentamos arrebentar violentamente os sanskaras (condicionamentos mentais). O ideal é descondicionar a mente gradativamente e não tentar fazê-lo com violência.
Os praticantes de concentração e meditação provavelmente estarão cientes do fato de que os pensamentos costumam se esgotar (sem que a mente esteja silenciada) quando tentamos concentrá-los em algo difícil. O fluxo dos pensamentos, que deveria fluir em torno do lakshya, deixa de correr e faltam-nos pensamentos sobre o assunto, apesar de sobrarem pensamentos a respeito do que não nos interessa no momento.
Após alguns poucos pensamentos, nada mais nos ocorre sobre o tema, mas muitos pensamentos intrusos aparecem e nos desviam. A mente não silenciou de forma geral, não esgotou o processo do pensar, simplesmente se recusou a pensar no que havíamos escolhido. O asno está teimando: não quer pensar no assunto, mas pensa em muitíssimas coisas inúteis que não interessam no momento. A mente deixa de pensar no lakshya para pensar em outros temas, desviando-nos do objetivo. A mente atira para todo lado e não se fixa em um alvo. Não será possível escapar da mente e atingir o silêncio mental se antes não direcionarmos o fluxo dos pensamentos em uma só direção.
Nesses casos, a pessoa nem sequer começa a se concentrar direito e logo já lhe faltam conteúdos para prosseguir com a prática. A pessoa procura e procura, mas não lhe ocorre nada mais além do que já é conhecido a respeito. De tanto repassar as mesmas informações, o praticante termina desistindo e deixando a prática para depois. O motivo: ele não tinha muito o que pensar a respeito do objeto escolhido e isso facilitou a invasão por pensamentos intrusos.
Essa interrupção do fluxo mental nada tem a ver com o silêncio da mente, muito pelo contrário, trata-se de uma teimosia do asno, que quer insistentemente pensar em outras coisas. A mente não está em silêncio, somente se recusou a pensar no lakshya para poder pensar em milhares de besteiras.
Para minimizar esta sabotagem específica do asno (de recusar-se a pensar no lakshya), podemos nos valer dos seguintes meios:
1. escolher um tema a respeito do qual tenhamos muita informação;
2. escolher um tema que nos agrade ou interesse muito;
3. escolher um tema concreto que seja amplo, como o oceano, o céu, uma floresta, os Andes ou os Himalayas.
Temas concretos, amplos, familiares e/ou que nos interessem muito reduzem as chances do asno recusar-se a neles pensar. São temas adequados para aqueles que estão começando, cuja mente ainda não está disciplinada e pensa em demasia sobre o que não interessa (a maioria de nós). O principiante deve começar com temas de fácil penetração e, aos poucos, ir entrando em outros temas conforme seu poder de concentração se desenvolva. É claro que o ideal é atingir um estado em que pensemos pelo tempo que quisermos e sem esforço algum no Íntimo, no Atman, no Buddha, em Cristo ou em Deus, mas não podemos chegar ao objetivo de uma vez. Enquanto isso, nos contentemos em prolongar o pensamento nEles pelo tempo e com a profundidade que conseguirmos.
O problema da falta de conteúdos a serem pensados sobre o objeto da concentração atrapalha muito. Se não tivermos pensamentos sobre o lakshya, milhares de pensamentos desvinculados e desviantes surgirão imediatamente. A mente trabalhará de forma subjetiva, sem meta, e não pensará profundamente em nada.
A forma usual da mente pensar é subjetiva: ela pensa um pouco sobre cada coisa e vai mudando de tema constantemente. O pensar profundo e direcionado é algo incomum, ao qual a mente não está acostumada. A mente pensa superficialmente e mariposeia sem parar. Parar em um tema para aprofundá-lo é algo novo e incomum para a mente. Ao longo da vida, nos acostumamos com o pensar superficial e subjetivo.
Entenda-se que por "pensar", neste texto, estou me referindo principalmente ao ato de imaginar.
De acordo com o tema escolhido, experimentaremos imagens, recordações, conclusões e também emoções correspondentes. Por tal motivo, convém evitar pensar em temas inferiores, em assuntos negativos que nos arrastem para a degeneração, a depravação e a perdição. Temas sublimes, espirituais e relacionados com a natureza são recomendáveis. Temas prejudiciais podem ser de fácil penetração e permanência, mas os resultados não compensam. Muitas pessoas que cometeram crimes focaram o pensamento de forma destrutiva e se acostumaram tanto com aquilo, que não foram mais capazes de reverter o processo.
Assim como existe o êxtase espiritual sublime da alma, existe o transe obsessivo infernal da mente. Se cultivarmos os maus pensamentos, eles nos conduzirão ao abismo. Se cultivarmos o pensamento elevado, seremos conduzidos a vários céus. A queda no mal é uma espécie de concentração, realizado ao contrário, para a escuridão. Os vícios e falhas de caráter que todos temos são o resultado do cultivo dos maus pensamentos. A mente é como um cavalo: pode nos conduzir em várias direções. O que importa é aprender a pensar corretamente.
Assim como existe o êxtase espiritual sublime da alma, existe o transe obsessivo infernal da mente. Se cultivarmos os maus pensamentos, eles nos conduzirão ao abismo. Se cultivarmos o pensamento elevado, seremos conduzidos a vários céus. A queda no mal é uma espécie de concentração, realizado ao contrário, para a escuridão. Os vícios e falhas de caráter que todos temos são o resultado do cultivo dos maus pensamentos. A mente é como um cavalo: pode nos conduzir em várias direções. O que importa é aprender a pensar corretamente.
Quando avançamos um pouco na prática, não necessitamos de palavras ou idiomas para pensar, a mente flui com imagens e sons internos e intrínsecos ao objeto. Quando estivermos bem dentro do tema, completamente esquecidos de tudo o mais, estaremos em plena concentração.
Quando, de todas as maneiras, o Ego nos confunde e nos impede de escolher um lakshya, deixando-nos perdidos e indecisos, podemos resolver o problema simplesmente entregando a decisão ao Íntimo e escolhendo aleatoriamente qualquer um dos temas entre os quais estamos indecisos, sem raciocinar a respeito, escolhendo "como um louco escolheria".
Quando, de todas as maneiras, o Ego nos confunde e nos impede de escolher um lakshya, deixando-nos perdidos e indecisos, podemos resolver o problema simplesmente entregando a decisão ao Íntimo e escolhendo aleatoriamente qualquer um dos temas entre os quais estamos indecisos, sem raciocinar a respeito, escolhendo "como um louco escolheria".