terça-feira, 22 de maio de 2012

Concentração: as emoções e o fluxo dos pensamentos


A mente flutua e se ocupa com vários assuntos de acordo com os desejos e emoções que os mesmos proporcionam. Os pensamentos são acompanhados por emoções: ao pensarmos em algo, sentiremos emoções correspondentes. 

Quanto mais prazer ou emoção sentirmos ao pensarmos em algo, por mais tempo pensaremos naquilo. Quando algo não nos dá prazer ou emoção alguma, torna-se impossível pensarmos naquilo por tempo prolongado. 

Um aluno não pensará profundamente e por longo tempo em uma matéria escolar detestável. Ainda que seja obrigado àquilo, o fará de forma forçada e superficial. Uma mulher não pensará em um homem que lhe pareça desinteressante ou sem graça e jamais se apaixonará pelo infeliz. 

Quando um tema não desperta nenhuma emoção ou interesse, a mente se recusa a nele pensar. Se tentarmos forçá-la, o fará por apenas alguns instantes. Um praticante que queira desenvolver a concentração não pode negligenciar esse fato.

Considerando o que foi acima exposto, vemos que a concentração não é algo frio e sem emoção. A prática da concentração não se restringe ao mero intelecto. O intelecto é somente o ponto de partida, o salto inicial. 

Em uma fase muito inicial, pensamos no lakshya usando a linguagem interna de forma analítica. Em seguida, dispensamos a "vozinha" e deixamos de usar o nosso idioma nativo para pensar, valendo-nos tão somente de imagens mentais. Após isso, deixamos o caráter analítico da prática e passamos a receber as características do objeto de forma puramente perceptual e instintiva. Nesta fase, estaremos nos valendo somente da percepção interna por via imaginativa e os sentidos já deverão estar desligados ou se desligando. A recepção perceptiva do lakshya exige certa atividade do chakra ajña (entrecenho) e começa a exercitá-lo. Quando estivermos "vendo" as cenas com os olhos fechados, como se estivéssemos com os olhos abertos, o chácara estará trabalhando. A concentração desenvolve a visão espiritual (vidência consciente ou clarividência).

Nesse ínterim, não podemos negligenciar as emoções. Ao pensarmos no tema, devemos nos abrir às emoções provocadas. Cada tema provoca emoções correspondentes e por isso convém escolher temas sublimes que nos encham de emoções superiores. 

Se nos concentrarmos no mar, os pensamentos e imagens relacionados provocarão emoções específicas, tais como a de estarmos na praia, mergulharmos, velejarmos, observarmos as criaturas marinhas ou sobrevoarmos os oceanos. As emoções "oceânicas" são o caminho ou princípio que nos conduzirá a emoções cada vez mais espirituais e profundas a respeito do assunto. Se as emoções nos preencherem, estaremos realmente sentindo o oceano. O chakra do coração (anahata) estará sendo exercitado, puxado a trabalhar. Quanto mais o chakra anahata trabalhar, mais desenvolvido ficará, maior será a intuição e mais intensas as emoções superiores.

O coração se desenvolve com o cultivo de emoções superiores. Quem cultiva emoções inferiores e negativas, desenvolverá o coração de forma negativa, seu chakra ficará parado ou irá girar cada vez mais ao contrário do que deveria. Seu pobre coração será uma porta aberta para egos cada vez mais pesados e perigosos. Em certos casos, egos de outras pessoas, vivas ou desencarnadas, obsessionam a pessoa, pois a mesma se tornou uma porta completamente aberta para os defeitos.

Se você tem a porta aberta para as emoções negativas, sugiro que comece a cultivar as emoções superiores de forma cada vez mais intensa e abandone as emoções inferiores.

As emoções são o segredo do avanço nas práticas de concentração e meditação. Por isso, segundo Sivananda, Patanjali recomenda que a pessoa se concentre naquilo que considera agradável e interessante. O V.M. Samael também afirma que a concentração é "atenção, plena natural e espontânea em algo que nos interessa, sem artifício de espécie alguma" (vide O Mistério do Áureo Florescer). De fato, a concentração em algo que nos interessa é a atenção naquilo que evoca emoções e prazer. Não há sentido em tentar concentrar-se em algo que não desperta interesse algum, o asno da mente não se atém àquilo.

Quando elegemos um tema como lakshya, de nada adianta tentarmos nos concentrar se não nos abrirmos para as emoções correspondentes. Quanto mais intensa for a emoção que liberarmos, mais a mente se prenderá ao tema e nele pensará longamente, esquecendo tudo o mais. Ao mesmo tempo, a visão espiritual e as emoções superiores estarão sendo postas em atividade e se desenvolverão.

Inicialmente pensamos. Depois o pensar se transforma em imaginar. Em seguida, o imaginar se transforma em perceber e sentir, os quais vão se aprofundando gradativamente.

Se você tiver alguns sonhos lúcidos com o seu lakshya, isto será perfeitamente normal e um sinal de avanço, mas não se contente com eles, prossiga.

Se quisermos nos concentrar no Senhor Jesus ou no Senhor Budha, não nos esqueçamos de buscar sentir as emoções que a prática irá evocar. Se quisermos nos concentrar na 9ª Sinfonia de Beethoven, não nos esqueçamos das emoções. As emoções nos prenderão àquilo que nos interessa. 

O desenvolvimento espiritual é o desenvolvimento do coração. E o desenvolvimento do coração é o desenvolvimento das emoções superiores. Sem as emoções, não existirão concentração, meditação e nem nada.

Nossa capacidade de sentir o superior está atrofiada. Passamos a vida gozando com o que é baixo, infernal, tenebroso e negativo. O caminho para reverter esse quadro nefasto é o cultivo do contrário. De nada adianta perder o tempo tentando reprimir as emoções negativas, melhor é substituí-las pelas emoções superiores.

Ao pensarmos nas características do objeto, convém tocar suas características levemente, sem esforços. Somente dar-se conta dos múltiplos e infinitos aspectos é suficiente. Fazer esforços para aprofundar a concentração é contra-indicado. Os pensamentos e imaginações devem fluir com a mesma leveza e naturalidade com fazem quando estamos distraidos com devaneios, com a diferença de que se dão conscientemente e não se desviam. A atenção será plena (sem desvios), natural e espontânea (sem esforços e sem conflitos com a mente).