sexta-feira, 30 de março de 2012

Sobre os referenciais teóricos que adotamos

As obras dos mestres Samael e Rabolú são o nosso principal referencial teórico. No entanto, convém fazer algumas aclarações.

Àqueles que apreciam os livros do V.M. Samael Aun Weor, alerto que há adulterações e falsificações impiedosas em algumas de suas obras, feitas por pessoas mal-intencionadas. 

O livro "Tratado de Medicina Oculta e Magia Prática" possui duas versões, sendo que as modificações da segunda versão, segundo o V.M. Rabolú, não foram introduzidas pelo Mestre, como as editoras alegam. A segunda versão deste livro está repleta de práticas de feitiçaria introduzidas por inimigos. A primeira versão, portanto, é a correta.

Há também alguns livros nos quais o yagué (ayahuasca ou ayawasca) e o peyote são citados em certas versões e excluídos em outras, conforme o gosto fanático do editor. O livro "A Montanha de Juratena" é um exemplo. Muita atenção nesse aspecto.

Além das adulterações descaradas, há ainda o caso de obras compiladas cujas fontes originais dos textos e os nomes dos organizadores não são citados, dando a entender ao leitor que se trata de uma nova obra do Mestre. Na verdade, são simplesmente textos retirados de outros livros de Samael e reunidos a gosto dos editores. O exemplo mais gritante é o livro "As Partes do Ser" que contém retalhos de "A Pistis Sophia Desvelada", " O Matrimônio Perfeito", "Sim há Inferno, Diabo e Karma" entre outros livros. Os editores simplesmente recortam alguns trechos de outros livros, juntam tudo e formam uma obra frankeinstein, enganando todo mundo. É claro que eles não dizem isso pra ninguém, mas basta você ler vários livros para perceber que os textos foram roubados.

Toda a obra do V.M. Samael Aun Weor é recomendada, desde que seja verdadeira. Outros livros que podem ajudar são:

Sivananda, "The Pratice of Brahmacharya":



Sivananda, outros livros:

http://www.dlshq.org/download/download.htm

Alice B. Stockham, "Karezza, Ethics of Marriage":


JOHN HUMPHREY NOYES, "MALE CONTINENCE", PUBLISHED BY THE ONEIDA COMMUNITY OFFICE OF ONEIDA CIRCULAR ONEIDA N. Y. 1872:

http://www.findthatfile.com/search-2712753-hPDF/download-documents-malecontinencefv.pdf.htm

Além das obras citadas acima, há ainda muito mais, porém não tenho tempo agora de citar todas. Citarei somente alguns autores e posteriormente acrescentarei mais:


  • Sócrates/Platão
  • Lobsang Rampa
  • Helena Blavatsky
  • Ane Besant
  • Rudolf Steiner
  • Charles Leadbeater
  • Eliphas Lévi
  • Arnold Krum Heller
  • Ouspensky
  • Gurdjieff
  • Milarepa (canções)
  • Tsong Kappa
  • Paracelso
  • Pitágoras




sábado, 24 de março de 2012

O estresse e o trabalho interior

À medida que o tempo passa, a humanidade robustece o Ego, seu desequilíbrio psico-físico aumenta e os seres humanos vão sendo cada vez mais afetados pelo estresse. Enfrentamos hoje uma epidemia mundial de estresse, motivo pelo qual é importante abordarmos esse assunto, que se relaciona diretamente com o nosso trabalho espiritual de meditação, morte do ego e equilíbrio dos centros da máquina (o corpo físico).

Ao contrário do que comumente se imagina, o estresse não resulta somente do trabalho e sim de tudo o que nos agride fisica emocionalmente.

Tipos de estresse

Há estresses agudos e crônicos, em graus variáveis. O estresse crônico costuma ser imperceptível e se apodera silenciosamente da pessoa. Pessoas alegres, calmas e aparentemente equilibradas podem estar sofrendo de estresse crônico e silencioso sem que ninguém perceba, nem mesmo elas. Nos casos de estresse crônico e sutil, a pessoa se dará conta somente quando aflorarem as somatizações (manifestações físicas do estresse), o que pode ocorrer em qualquer fase de sua vida. Alguém que nunca teve sinais de estresse pode apresentá-las de repente, em qualquer idade.

Existem também o estresse físico e o estresse emocional. O estresse físico resulta de agressões diretas ao corpo físico, por meio de excesso de esforço muscular, exposição a rigores climáticos, à alimentação deficiente, a inflamações e infecções, traumas mecânicos, falta de sono etc. O estresse emocional, por sua vez, é o resultado da somatória de todas as emoções negativas, presentes e passadas, acumuladas em nossa vida, incluindo emoções provenientes de traumas, decepções amorosas, traições etc. Tanto o estresse físico como o estresse emocional nos desequilibram quimica e energeticamente, fazendo com que o corpo trabalhe de forma desorganizada, e expressam-se através de diversos mecanismos físicos, tais como dores, arritmias cardíacas, queda na resistência imunológica, alergias etc. Toda doença existente possui alguma relação direta ou indireta com o estresse.

O estresse e os centros

O estresse emocional desequilibra o centro emocional. Este, desequilibrado, roubará energia dos demais centros. O mesmo processo acontece com os centros motor, intelectual, instintivo e sexual.

Podemos nos estressar de várias maneiras. Uma pessoa poderá se estressar sexualmente, por meio de excessos, e ficará impotente ou frígida. Outra poderá se estressar intelectualmente, estudando, discutindo e lendo em excesso, e se tornará confuso. Alguém que dorme pouco ou come em exagero, está estressando o centro instintivo. Em todos os casos, estará provocando desequilíbrio e doenças.

Estresse é sinônimo de desequilibrio dos centros.

O estresse das emoções negativas

Todas as emoções negativas provocam estresse emocional, mas há algumas que podem ser consideradas principais: medo, raiva, ódio, tristeza, irritação, inveja, impaciência. Emoções que nos fazem sofrer e desejos insatisfeitos elevam o nível do estresse.

Os egos, com suas emoções inferiores, vão destruindo o corpo físico aos poucos, desequilibrando os centros. A Morte do Ego é um meio de prolongarmos um pouco mais nossa estadia na Terra. Quem vai corrigindo as emoções inferiores e retirando os estressores emocionais de sua vida vai dando um alívio ao seu coração, o qual pode trabalhar de forma cada vez mais leve. Isso é o que interessa: estar com o coração leve.

Libertando-se do estresse

De nada adianta remediarmos os sintomas físicos de qualquer tipo de estresse se não removemos suas causas. O remediamento dos sintomas é útil em casos emergenciais mas não resolve o problema de forma definitiva. Enquanto as causas não forem removidas, o estresse estará sendo alimentado. Quem quer curar-se do estresse, deve remover as causas. Quem quer remover as causas do estresse, deve primeiro identificá-las, descobri-las em sua vida. Identificamos as causas por meio da reflexão. É muito útil termos um caderno para anotar as causas do nosso estresse. O que nos deixa nervosos, ansiosos, irritados ou com medo? Quais são os excessos que estamos cometendo?

Se você quer se livrar do estresse, o primeiro a fazer é identificar os agentes estressores. Separe um caderno e comece a listar todos os acontecimentos que provocam ira, raiva, medo, tristeza, ódio, inveja, preocupação etc. Tudo aquilo que provocar agitação ou mal estar deve ser incluído na lista, inclusive desejos compulsivos não satisfeitos. Inclua também os estressores físicos: trabalho, exercícios, fome, sede, falta de sono e outros similares. A lista pode ser aumentada diariamente, conforme você vai progredindo.

Há alguns agentes estressores dos quais estamos conscientes e outros dos quais não temos consciência alguma. Esses últimos ocasionam grandes prejuízos porque exercem seus efeitos na sombra, sorrateiramente, e não podem ser removidos porque não sabemos que estão lá. A lista tem a função de trazer à consciência os agentes estressores inconscientes, para que possamos operar sobre eles.

Alguns elementos da lista podem ser removidos de nossa vida imediatamente, outros podem ser diminuídos e outros necessitam ser interiormente resolvidos pela compreensão e morte dos egos relacionados.

Resignificando os acontecimentos estressantes

O estresse emocional é algo psicológico, interior. Um mesmo fato pode ser altamente estressante para uma pessoa e altamente relaxante para outra (ex. andar na floresta, entrar em um rio). Tudo depende do significado atribuído ao fato pela mente. Não podemos alterar o significado das coisas à força, pela mera repressão ou esforço para não sentirmos as emoções negativas.

Temos que afastar de nossa vida aquilo que causa estresse emocional. Estando atentos em nós mesmos, podemos prever muitas situações de intenso estresse emocional antes que aconteçam e evitá-las.

O equilíbrio dos centros requer que se tenha uma vida calma, desprovida de grandes emoções e agitações.

Certos agentes estressores não podem ser evitados mas podem ser resignificados. A resignificação de fato estressor é uma transformação psicológica, cujo primeiro passo é a observação de si mesmo, com o intuito de identificar os elementos psíquicos que se irritam, temem e sofrem. A morte dos “eus” que reagem diante das situações estressantes é imprescindível. Paralelamente, temos que aprender a não nos ocuparmos mentalmente com os problemas. Enquanto pensarmos em um problema, estaremos aprisionados ao mesmo. O que importa é nos libertarmos dos problemas interiormente. Quem está profundamente morto em si mesmo pode atravessar furacões e tempestades sem ser perturbado porque não permite que sua mente pense nas ameaças que o cercam, está interiormente livre do perigo.

A todo instante estamos nutrindo as emoções e pensamentos prejudiciais sem nos darmos conta. Quando deixamos de alimentá-los por meio de comportamentos sutis, os enfraquecemos. Enfraquecer e eliminar os egos que sofrem e desejam é resignificar os acontecimentos estressantes. Não devemos entrar em conflito com os egos e sim nos libertar, o que é diferente. Para tanto, é indispensável deixar de alimentá-los.

Aproveitando o tempo inteligentemente

Os compromissos, apesar de parecerem algo louvável, são poderosos agentes estressores. Quanto mais compromissos tenhamos, mais estressados ficaremos. O ideal é vivermos livres de compromissos, não assumi-los senão em alguns poucos casos realmente necessários. Os amigos, embora sejam importantes, podem nos lançar às costas muitos compromissos, tais como encontros, festas, passeios etc. Os compromissos são estressantes porque geram preocupações e roubam o tempo, encurtando-o.

Nosso tempo necessita ser bem aproveitado. Em nossa agenda, devem ter prioridade a meditação, o descanso e o sono. Em segundo plano devem vir as obrigações materiais fundamentais e indispensáveis, tais como o trabalho remunerado e outros indispensáveis. Necessitamos, ainda, de tempo para o trabalho voluntário pela humanidade e para o lazer. Logo, não nos sobra tempo para compromissos caprichosos.

Organizando os compromissos

Uma agenda de compromissos é indispensável. Alguns compromissos requerem vários dias para serem concluídos, outros requerem algumas horas. Em alguns casos, temos que separar um dia para várias tarefas menores, em outros, temos que separar vários dias ou até semanas para um única tarefa. É importante que os compromissos estejam agrupados de forma inteligente para facilitar sua realização e um melhor aproveitamento do tempo. Evitemos dividir uma grande tarefa de modo a realizá-la de forma “picada”, pois isso aumenta o estresse. Um trabalho que requer vários dias será altamente estressante se o realizarmos de forma picada, realizando um pouquinho hoje e mais um pouquinho na semana que vem. O agrupamente geográfico de tarefas curtas também ajuda a realizá-las de forma mais eficiente. Não agrupemos as tarefas de forma aleatória e sim de um modo racional.

O estresse no desejo

Por incrível que pareça, o desejo extremo também provoca estresse. Quando estamos prestes a satisfazer um desejo exageradamente intenso e brutal, o corpo manifesta sinais de estresse. Um desejo ou uma alegria extremos nos deixa agitados. O ideal é o equilibrio e a moderação.

Estresse e doenças psiquiátricas

O estresse pode se manifestar sob a forma de doenças emocionais e mentais. Ansiedade e depressão são formas de manifestação do estresse. Quando estamos com medo, tristes, apreensivos ou preocupados de forma incomum e exagerada, estamos sob intenso estresse.

Situações traumatizantes não resolvidas, ainda que esquecidas, continuam ativas como agentes estressores.

Corrigir as causas exteriores e interiores do estresse é de grande valia.

Estresse e pensamento

Os pensamentos provocam alterações somáticas, influenciam e modificam os funcionamento dos complexos sistemas bioquímicos e energéticos do corpo físico. Alterações corporais ocorrem quando pensamos em algo que nos atemoriza, nos enfurece ou nos excita sexualmente.

As alterações corporais provocadas pelos pensamentos são algumas vezes visíveis e outras vezes invisíveis. Existem muitas alterações imperceptíveis, mas nem por isso menos reais. Que alterações ocorrem no corpo físico quando pensamos em algo que nos dá medo, ira ou luxúria?

O conteúdo das imagens mentais relaciona-se diretamente com o par de opostos saúde/doença. Que alterações não estará provocando em seu corpo físico aquele que pensa constantemente no mal? E que alterações ou perturbações não estão sendo ocasionadas pelos pensamentos dos quais não temos consciência alguma?

Pelas razões expostas, é conveniente praticar a meditação todos os dias, várias vezes por dia.

Conclusão

Se queremos nos libertar do estresse para equilibrar os centros, temos que praticar o esquecimento, o despojamento, simplificar a vida ao máximo e limpá-la de emoções inferiores e de pensamentos negativos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Transformações fingidas e forçadas

Quem realmente elimina um desejo, não necessita fingir para si mesmo que não o tem.

Se o desejo morreu, não sinto nada. Se não sinto nada, o que bloquearei dentro de mim?

Se meu desejo está morto, contra o que devo resistir?

Se você satisfaz um desejo, ele se fortalece e te escraviza mais e mais. Se você o reprime, ele é represado e extravasa posteriormente à força, por qualquer caminho. No entanto, se você não se identifica, não o satisfaz e nem tampouco o reprime, pode observá-lo e detalhá-lo.

Quem reprime um eu está identificado com um eu oposto.

Deixamos de nos identificar com um defeito quando o separamos de nós, mediante a recordação de nós mesmos.

Observar um defeito é recebê-lo conscientemente.

Não se pode enxergar objetivamente um defeito se o depreciarmos ou o condenarmos antecipadamente.

Bloquear ou resistir a um defeito é evadir-se de estudá-lo e de observá-lo. Entregar-se à satisfação de um defeito é alimentá-lo e adormecer ainda mais a consciência.

A correta postura interior em relação aos desejos e baixos impulsos é aquela em que não os procuramos, não os satisfazemos e nem os consideramos como parte de nosso Ser, mas também não tentamos barrá-los, sufocá-los e nem fugimos deles quando aparecem.

Encarar um defeito de frente é deixar-se tocar conscientemente por ele sem temor algum. Fugir de um defeito é tentar segurá-lo à força e baní-lo de modo que nos seja impossível observá-lo e conhecê-lo.

Não podemos matar um inimigo se o afugentamos ou o expulsamos de nosso alcance.

O que nos leva a tentar banir um defeito de nossa presença, sem observá-lo e matá-lo, é o medo de sermos possuídos e perdermos o controle. O que nos faz temer a possessão e a perda do controle é o desconhecimento de que a consciência e o Ser enfraquecem o defeito.

A verdadeira fé não se cria com teorias, lógicas, pensamentos ou quaisquer trabalhos mentais. A fé se cria somente com a experiência. Pequenas experiências íntimas com o Ser Interno são acessíveis a qualquer um, a qualquer momento. Ex. peça para sua Mãe Divina te lembrar de algo realmente importante e ela o fará. Eis uma experiência interna pequena e acessível. Estreite a intimidade com Deus.

A verdadeira felicidade é a total ausência de sofrimento.

Não "force" as transformações, trabalhe corretamente e deixe que elas venham por si mesmas.

Transformações forçadas são transformações fingidas. Quem realmente se transforma não necessita forçar-se a nada e nem simular comportamentos ideais.

Não existem transformações forçadas. Transformações forçadas são transformações fingidas. Transformações fingidas são falsas transformações.

A transformação verdadeira dispensa o fingimento e os comportamentos forçados.

Na concentração, não force o silêncio mental, deixe que ele venha. Vivencie o relativo silêncio existente e deixe que ele se aprofunde. Não perca tempo tentando "forçar mais silêncio" para "ir além". Aprenda a esquecer.

O silêncio mental forçado não é verdadeiro. Lutar pelo falso silêncio é amarrar-se e estancar-se com as próprias amarras que se teceu.

O falseamento das energias dos centros

Pensar em comidas saborosas é algo similar a pensar em mulheres. Em ambos os casos desfrutamos de um prazer mental na ausência do deleite sensorial concreto. Em ambos os casos gastamos energia dos centros da máquina.

O prazer através da imaginação de uma sensorialidade objetivamente inexistente rouba energia dos centros e os desequilibra. Se imagino prazeres sensoriais degustativos, ao invés de saborear o alimento fisicamente, estou malgastando energias do centro instintivo. Se imagino prazeres sensoriais eróticos, ao invés de desfrutar das sensações reais proporcionadas por uma mulher real, estou malgastando as energias do centro sexual.

O curioso é que tal desgaste se dá através do pensamento, ou seja, o centro intelectual vampiriza as energias dos outros centros por meio do processo imaginativo.

A imaginação mecânica promove o falseamento da energia dos centros porque é um processo através do qual os mesmos são postos em atividade por meio de situações irreais, imaginárias. Ao serem postos em atividade por tal meio, suas energias são gastas intensamente, mas não são empregadas em atividades reais necessárias ao corpo físico. Os centros passam a ter uma sobrecarga extra, além do encargo de trabalho natural que já possuem com as necessidades reais de manutenção do corpo físico.

Se fico pensando em mulheres, desfrutando deste prazer mental, terei ereções. Meu órgão sexual entrará em atividade e começará a trabalhar, empregando suas energias sem que haja necessidade real de e sem estar realizando um ato sexual concreto e verdadeiro. Portanto, além do uso normal e cotidiano do aparelho sexual, estarei forçando-o a entrar em atividade sem que haja necessidade, além da conta, sobrecarregando-o. Estarei desrespeitando sua necessidade de repouso (se houver o vício da masturbação, será ainda pior). Além disso, e para piorar tudo, estarei também malgastando energias do centro intelectual, pois o estarei ocupando com tais pensamentos. Resultado: ao faltar energia ao centro intelectual, porque o desgastei, ele começará a roubar a energia do centro sexual, pois os pensamentos serão de tipo erótico, e, ao faltar a energia ao centro sexual, porque igualmente o desgastei, ele começará a usar a energia do centro intelectual, pois forcei sua atividade através do pensamento.

Sempre que colocamos algum centro em atividade, estamos utilizando sua energia. Após um certo tempo, esse centro dará sinais de cansaço e deve entrar em repouso. Caso não seja posto em repouso, começará a usar a energia do centro que estiver mais próximo, isto é, mais à mão. E o que estará mais à mão será aquele segundo centro que estiver em atividade diretamente relacionada ao primeiro (se estou pensando em sexo, ambos os centros estão em atividade interativa).

O ideal seria que os centros fossem usados somente até um nível que antecedesse ao cansaço. Evitar o cansaço, a sensação de estresse no centro, é o ideal. Colocar em repouso um centro após o uso, muito antes que o mesmo se estresse, evita o falseamento de suas energias.

Infelizmente, o Ego força os centros a trabalharem além do limite. A todo momento estamos pensando, sentindo e fazendo coisas inúteis, que somente servem para desgastar e falsear os centros da máquina. Utilizamos todos os centros em demasia, sem necessidade e sem sequer termos consciência disso. O desgaste dos centros acontecem sem que os vejamos, pois não praticamos a auto-observação. Vivemos distraídos e fascinados, não nos damos conta do que se passa conosco. Os centros entram em atividade e não os vemos.

Muitos processos orgánicos desnecessários acontecem sem serem vistos e porque o centro instintivo entra em ação sem que haja real necessidade. O mesmo vale para processos relacionados às emoções e aos demais centros. O Ego, ao atuar, força a ação dos mesmos.

É precisamente nos centros da máquina que iremos descobrir as diversas manifestações dos egos. Os detalhes estão nos centros e temos que aprender a observar os centros, contemplá-los conscientemente, sem reprimí-los e sem nos identificarmos, apenas compreendendo-os. Descobrir um detalhe é descobrir uma leve alteração ou manifestação em algum centro. Reprimir um detalhe é tentar "segurá-lo" enquanto nos mantemos identificados, ou seja, tentar amarrá-lo ao invés de observá-lo em ação. Quem imobiliza um centro à força, amarrando, pelo mero esforço, o "eu" ou detalhe que estiver se manifestando, não o verá em ação e não compreenderá nada. O que enfraquece um ego é a compreensão e não o mero esforço imobilizante, o qual não passa de uma forma de auto-engano.

O que interessa é dissolver os egos para que os centros trabalhem menos e possam descansar. Quem não morre em si mesmo, não dá uma trégua aos seus centros e destrói sua máquina orgânica, apressa o envelhecimento.

Já viram pessoas que envelhecem rapidamente? O envelhecimento precoce ocorre por uma atividade exagerada dos centros, a qual se deve ao domínio exagerado dos agregados psíquicos. Pessoas que não sabem lidar corretamente com o Ego sofrem todos os tipos de desgraças e precisam ser auxiliadas com urgência, ao invés de serem desprezadas e abandonadas. Temos que procurar em tais pessoas uma mínima abertura, por menor que seja, para lhes dar alguma orientação, alguma informação ou instrução que lhes seja útil. O ideal é acender nelas um impulso de se libertarem do despotismo dos desejos.

Quando o ego morre, deixa de sobrecarregar os centros, lhes permite descansar. Então os centros atuam somente o necessário, nem um miligrama a mais. Vocês já perceberam aqueles momentos em que a mente nos dá uma trégua momentânea e espontânea, por poucos segundos? Observem o alívio que se sente. Este é o alívio da ausência do peso do Ego sobre o centro intelectual. Já viram como acordam de manhã, bem descansados, depois de uma boa noite tranquila de sono? Essa é a sensação de alívio da ausência do peso do Ego sobre os centros, sobre o corpo físico. De nada adianta tentar forçar o alívio ou preservá-lo à força após nos levantarmos. O alívio resulta da compreensão.

Quando compreendemos um defeito, sentimos um grande alívio. É o alívio da ausência do peso que o defeito exercia sobre os centros. Na psicoterapia é muito comum e esperado que os pacientes se sintam aliviados à medida que reconheçam e compreendam as várias facetas de si mesmos, de seu Ego. Enquanto não se compreende um defeito, o mesmo exerce um peso sobre os centros. Imaginem a totalidade dos egos que possuímos! Quantas toneladas não estarão oprimindo nosso coração e pesando sobre nossa pobre máquina? Não obstante, os retrógrados materialistas acreditam que tudo isso seja bobagem, que o único peso preocupante seja o do chumbo ou o das sacolas de viagens...

No cotidiano, convém não fixar-se em uma só atividade por muito tempo. O ideal é dar pausas: ler um pouco, depois caminhar, depois ouvir música, depois praticar magia sexual, depois descansar, meditar, depois consertar a cerca quebrada, depois, contemplar um quadro etc. A fixação em uma só atividade por muito tempo desgastará e desequilibrirá os centros, nos deixando pesados ao invés de leves.

O momento em que a máquina desfruta do maior alívio são os momentos da meditação. Meditar é zerar os esforços e não acrescentar mais esforços aos já existentes. A meditação é uma prática paradoxal, pois os esforços que se realiza são negativos. Meditar é buscar o desligamento, por isso se relaxa profundamente e não se pode prescindir do sono. Concentrar-se é entregar-se a algo, acabar-se, e não colocar travas. Quem quer aprender a relaxar, concentrar-se e meditar, precisa entender tais práticas como uma entrega (consciente) e não como um desesperado esforço ansioso. Meditar não é forçar a barra e nem forçar contra nada. Meditar não é imobilizar os centros à força e sim dar-lhes um descanso.

Se alguém quiser guiar-se corretamente na meditação, a melhor descrição do que fazer seria: não fazer nada, esquecer, desligar-se, abandonar-se, dormir, entregar-se, sumir, acabar-se, desaparecer...conscientemente!

Um dos grandes equívocos nossos é acreditar que a meditação se consegue mediante o acréscimo do que fazer. Na verdade, o estado buscado já existe, temos somente que remover o que atrapalha e deixá-lo se expressar. Ao invés de acrescentarmos mais preocupações, empenhos etc. aos já existentes, fazemos o contrário: removemos os existentes, como faz o escultor que remove partes da pedra ou da madeira até que a estátua apareça. A estátua já existia anteriormente mas estava oculta! Acrescentar mais problemas aos já existentes é sobrecarregar ainda mais os centros. Quem transforma a meditação em problema não medita. Quando ficamos procurando o que fazer para meditar corretamente, estamos nos afastando da meditação e não nos aproximando.

Portanto, foram explicadas aqui duas medidas a tomar para equilibrar os centros: a morte do Ego e a meditação. A magia sexual, a terceira medida, não foi explicada neste texto.

Até logo!

Contemplação na concentração

Desenvolvemos a concentração quando aprendemos a contemplar. Aprender a contemplar é aprender a estudar algo, a observá-lo.

Há várias formas de observar. Podemos observar um objeto físico ou psíquico, estático ou móvel. Não é possível uma observação consciente sem concentração. A concentração é a própria observação, o próprio ato de observar. Se estou observando algo detidamente, sem deixar de observá-lo e sem desviar minha atenção, estou me concentrando.

Se contemplo um objeto material, exterior, estou focando a atenção e a percepção, mantendo-o em meu campo de consciência. Se o objeto material em questão for móvel (ex. as ondas do mar batendo nas rochas), poderei observar seus movimentos, acompanhá-lo para ver onde irá, em que resultará, não importando se o mesmo seja animado ou inanimado. Se o objeto for fixo, porém mutável, posso acompanhar suas mutações para descobrir em que resultarão, como às vezes fazemos com as mirações da ayahuasca. Se, entretanto, o objeto for imóvel e, além disso, não apresentar mutações perceptíveis, resta-nos somente analisar suas múltiplas características ou facetas, caso queiramos utilizá-lo como alvo de nossa concentração.

As múltiplas facetas de um objeto material fixo e imutável englobam seus detalhes anatômicos, funções, empregos, material constitutivo, entre outras. Dar-se conta de tais características, fazer-se consciente das mesmas, equivale a concentrar-se no objeto e tal tarefa pode nos ocupar por vários minutos. De todas as maneiras, trata-se de um trabalho perceptual, pois estamos nos ocupando sensorialmente com o objeto e não supra-sensorialmente.

Ocupar a atenção com um objeto exterior é ocupar-se sensorialmente, uma vez que o objeto é acessado pelos sentidos.

Podemos, ainda, nos ocuparmos com objetos internos, imaginais. Neste caso, estaremos exercitando a supra-sensorialidade. Se vocalizo um mantram mentalmente, estou exercitando a clariaudiência e a concentração. Se me concentro na imagem de uma cachoeira, estou exercitando a clarividência, embora aí exista também um menor emprego e ativação da clariaudiência. Em todo caso, contemplar uma imagem mental é trazer à consciência informações sobre o objeto correspondente.

Quando um objeto fere nossos olhos físicos, sua correspondente contraparte interna nos atinge supra-sensorialmente, criando uma imagem mental correspondente ao mesmo. Ao fecharmos os olhos, podemos prosseguir concentrados na imagem mental, desligando-nos dos sentidos físicos e apreendendo informações sobre a mesma, informações antes inconscientes. Assim, contemplar uma imagem interna é recebê-la supra-sensorialmente, compreendendo-a. A recepção compreensiva do conteúdo de uma imagem pode ser facilmente conseguida quando se aprende a observar as coisas discernindo em silêncio, sem o recurso da tagarelice interior.

Se experimentarmos observar um pássaro em ação por alguns minutos, constatamos que somos capazes de receber várias informações a respeito do mesmo sem necessidade de usar o palavreado interno. Podemos "sentir" sua cor, seu tamanho, seus movimentos etc. em silêncio. Somos capazes de perceber o pássaro sob vários aspectos ou perspectivas, de forma direta ,sem necessidade de raciocinarmos e nem sequer de analisarmos. Essa percepção direta é a contemplação. E assim como podemos contemplar um pássaro físico exterior, podemos igualmente contemplar um pássaro imaginativo ou o aspecto interior do pássaro. O pássaro que saltita aqui e ali à procura de alimento, bisbilhotando as folhas etc. existe fora de nós, mas também dentro de nós. Temos, em nosso interior, uma imagem do pássaro que pode ser igualmente recebida e observada pela consciência. Se a concentração for profunda e houver sonolência, será percebido um pássaro objetivo, com impacto realístico idêntico ao de um pássaro exterior ou até mais intenso (o que corrobora a afirmação de certos físicos de que as imagens do mundo exterior existem dentro de nós mesmos). A imagem interior corresponderá à realidade do pássaro exterior na mesma proporção em que nossa consciência estiver objetivada pela Morte do Eu. Quanto mais o Ego estiver vivo, tanto mais subjetiva será nossa percepção do pássaro (lembrando que o pássaro em si mesmo não é exterior e nem interior, pois transcende este par de opostos - o pássaro absoluto está além das percepções e conceitos).

Conclui-se, até aqui, que podemos observar objetos exteriores e interiores, fixos e móveis, mutáveis ou imutáveis (cuja mutação não pode ser percebida na escala espaço-temporal em que atua nossa consciência); que a partir da observação de um objeto exterior, podemos fechar os olhos e prosseguir observando-o interiormente, imaginativamente; e que a observação é um ato receptivo que pode ser realizado sob silêncio mental.

O principiante não consegue receber silenciosamente o objeto observado, necessita falar consigo mesmo interiormente, para capturar as características ou informações do objeto. Pode, entretanto, exercitar a receptividade silenciosa e desenvolvê-la rapidamente, caso comece a utilizar tal faculdade.

O poder de receber informações de forma silenciosa e exclusivamente perceptual é o estágio embrionário da faculdade conhecida como Percepção Instintiva das Verdades Cósmicas. Seu desenvolvimento não possui um limite conhecido. É uma faculdade da consciência.

Sobre perceber os objetos de desejo

Há pessoas que tentam eliminar as emoções negativas sem eliminar os pensamentos correspondentes. É uma tentativa absurda e contraditória.

Há uma relação direta entre o pensar e o sentir. Não é possível pensar em algo que seja significativo para nós sem sentirmos as emoções correspondentes.

Não é possível pensar em um inimigo e não sentir raiva ou ódio, não é possível pensar em uma mulher desejável e não sentir o desejo de possuí-la, não é possível pensar em um perigo e não sentir temor ou receio. Quem tenta dissolver as emoções negativas sem renunciar aos pensamentos correspondentes, está se auto-sabotando e agindo de forma contra-producente.

Os pensamentos evocam e fortificam emoções. Quanto mais pensamos em algo, mais emoções relacionadas àquilo desenvolvemos.

Portanto, os fatos exteriores que evocam as emoções negativas não devem existir em nossas mentes. Os problemas, inimigos, objetos de desejo ou aversão etc. não devem existir para nós, caso queiramos eliminar as emoções negativas correspondentes. Não devemos lembrar, falar, imaginar ou pensar em tais coisas. A mente deve ser controlada e direcionada, pois não podemos controlar as emoções diretamente, senão pelo controle da mente, dos sentidos e da morte do Ego.

Há certa analogia entre o pensar e o ver. Pensar em algo é vê-lo mentalmente, imaginativamente. Quanto imagino uma casa, a estou vendo dentro de minha mente. Disso resulta que o olhar é, também, uma forma de evocar emoções. Se me entretenho olhando para um perigo, estou fortificando emoções correspondentes, como o medo ou a preocupação. Se me entretenho olhando lindas mulheres nuas, estou evocando e fortificando a luxúria. Se me entretenho olhando algo que detesto, estou aumentando as emoções de aversão por aquilo.

Portanto, além de controlar a mente, temos também que aprender a controlar os sentidos. Isso significa que não devo ver (melhor é nem ouvir) aquilo que provoca as emoções inferiores que quero eliminar.

Conclusão: se quero eliminar uma emoção, não devo contemplar fisicamente e nem mentalmente os objetos que a provocam, devo retirá-los de minha percepção e de minha vida.

Não ocupar-se com luxúria, com mulheres e com sexo

Se você quer a castidade, os objetos de desejo não devem existir para você. Se você não suporta olhar para as belas mulheres sem desejo, retire-as completamente de sua vida, de sua percepção e dos seus pensamentos.

Não procure contato ou proximidade se não houver necessidade real de ajudá-las, pois isso é um detalhe de luxúria.

O segredo está na mente: não deixe que as mulheres desejáveis entrem e nem que estejam em sua mente. Trate-as bem, seja cortez e protetor quando necessário, mas não deixe que elas existam para você, enquanto mulheres desejáveis e mentalmente falando. Elas podem existir como ser humano, mas não como mulheres.

O problema não está fora, está dentro. Retire-o de dentro e não existirá. O primeiro passo está na mente: quanto mais pensar, pior ficará o problema. O segredo consiste em não ocupar-se com o mal, em desligar-se dele.

Quando nos apartamos de algo, as lembranças vão se apagando, sofrem atrofia e vem o esquecimento. A luxúria é uma má função que foi erroneamente desenvolvida e que precisamos atrofiar, enquanto a transmutação e o erotismo espiritual se desenvolvam.

Não ocupar-se com os problemas

Esse mesmo princípio vale para qualquer defeito. O medo da morte, das doenças e dos problemas, por exemplo, se fortificam à medida que neles pensamos e com eles nos ocupamos. Esse medo, em si, não modificará nada, mas nossa mente tende a crer que pensar nos problemas é necessário. A mente não compreende a inutilidade do pensar. Quando temos um problema, cremos que, se nele pensarmos, encontraremos a solução. Movidos por tal crença, disparamos a pensar sem parar e fortificamos várias emoções negativas, tais como medo, preocupações etc. Os pensamentos em torno dos problemas são obsessores.

É claro que há algumas situações nas quais devemos pensar de forma concentrada para buscar soluções. O que estou asseverando é que não adianta debater-se mentalmente contra o inevitável. Se um problema é definitivo e não possui solução, não adianta pensarmos, melhor é desviarmos a mente.

Quanto mais nos ocupamos com um problema, mais ele se torna monstruoso. Por isso é importante aprender a não pensar naquilo que nos preocupa. Se aquietamos a mente, as emoções loucas se aquietam. Quando a agitação cessa, muitas vezes a solução surge espontaneamente, depositada pelo Ser em nosso campo de consciência. A capacidade de encontrar soluções é maior quando a mente está calma.

Se o pensamento for muito teimoso e insistente, temos que nos perguntar: Qual a utilidade deste pensamento? Em que irá me ajudar? Então buscamos a resposta sinceramente e descobriremos que o mesmo é inútil.

Mesmo que o mal venha e bata às portas, ainda assim não devemos nele pensar. Temos que recebê-lo sem resistência, sem reações (psicologicamente falando). Mesmo que o fim esteja acontecendo e a destruição nos esteja tragando, ainda assim, pensar na mesma não irá melhorar a situação. Um verdadeiro adepto é capaz de atravessar a morte sem ocupar-se mentalmente com a mesma, sem se identificar e sem nela pensar.

O sofrimento está na resistência, em "ir contra". Quem aquieta sua mente e não pensa, não resiste, recebe, contempla e não sofre.

Vigiar a mente

Vigie a mente. Vigiar a mente é prestar atenção na cabeça, nos pensamentos. Não deixe que os pensamentos maus, sutis ou não, se instalem. Aprenda a concentrar os pensamentos nas coisas boas. Pratique a concentração do pensamento e da atenção.

Observando os detalhes nos centros

Não é muito fácil observar os detalhes do Ego em ação. Eles surgem de forma inesperada e, por causa de sua sutileza, passam sem serem notados. A natureza sutil dos detalhes os torna difíceis de serem enxergados, a menos que os observemos intencionalmente.

Nos cinco centros da máquina se processam sutis manifestações do Ego ao longo de todo o dia. Normalmente, não as vemos por serem manifestações pequenas (leves), o que nos leva a considerá-las sem importância.

A natureza sutil dos detalhes é o seu meio de disfarce. Entenda-se por "natureza sutil" o caráter leve, tênue e fraco de uma manifestação. Uma manifestação sutil é o oposto de uma manifestação grosseira, pesada, densa e facilmente visível. Como nosso sentido de auto-observação está atrofiado, enxergamos as manifestações do Ego somente quando são violentas e estão causando um grande estrago.

Dito de outra maneira, as manifestações sutis são as manifestações pequenas e as grosseiras são as manifestações grandes.

As manifestações leves acontecem centenas de vezes durante o dia. Temos o hábito de focar a atenção somente nas manifestaçõeos violentas e, ocupados com estas, não vemos as manifestações leves, as negligenciamos.

Uma manifestação leve quase não provoca mal estar algum, quase não é sentida. Não obstante, fornece alimento para as violentas manifestações de egos maiores.

Cada detalhe é um pequeno ego, uma pequena faceta. Vejamos exemplos: uma leve irritação com algo ou alguém, daquelas que quase não se sente, é um detalhe; uma leve excitação sexual, daquelas que quase não nos alteram, é outro detalhe.

Em todos os cinco centros ocorrem manifestações leves dos nossos defeitos.

No centro intelectual é comum que ocorram pensamentos que parecem desvinculados de qualquer defeito e aparentam ser inofensivos, mas que na verdade alimentam vários egos grosseiros e perigosos. Pequenas atuações do Ego neste centro surgem a todo momento durante o dia e não lhes damos importância, por nos parecerem bobagem.

No centro motor ocorrem, a todo momento, certos movimentos e atos que desprezamos por considerá-los inofensivos e não relacionados a defeito algum. Tais atuações na verdade estão fornecendo energia para egos perigosos e grosseiros. Movimentos rápidos, por exemplo, alimentam o defeito da pressa.

No centro emocional, os detalhes podem ser percebidos como pequenas flutuações nas emoções, leves alterações emocionais, tais como irritações, tristezas e empolgações sutis.

No centro instintivo, os veremos como sutis alterações nas funções biológicas do corpo físico (respiração, excreção, sono, alimentação etc.)

No centro sexual, os detalhes correspondem a sutis excitações, ereções e sensações morbosas na região correspondente, que normalmente não são percebidos.

Em qualquer caso, o detalhe será percebido como uma alteração leve no centro correspondente, jamais será uma manifestação violenta, pois o roubo de energia que realiza é pequeno.

Não devemos reprimir um detalhe. Melhor é observá-lo sem identificação e pedirmos por sua morte. O seu enfraquecimento será, então, espontâneo, desde que não voltemos a nos identificar com ele. Caso nos identifiquemos, o mesmo ressurgirá, ressucitará. A tática é: separar-se, observar e pedir.

Temos que aprender a diferenciar uma manifestação grosseira de uma manifestação sutil. Uma manifestação grosseira é violenta, é aquela contra a qual lutamos continuamente: o desejo bruto de fornicar, de agredir alguém, de comprar coisas inúteis, de comer em exagero. Essas manifestações são realmente perigosas. Uma manifestação sutil é leve, provoca pouca alteração e não representa um perigo imediato, embora forneça energia aos elementos psíquicos mais perigosos e detestáveis. O segredo da Morte está em eliminar as manifestações sutis. E o segredo de tal eliminação está na observação dos centros.

Quem não observa os centros, não percebe as alterações leves e é incapaz de eliminá-las.

O julgamento antecipado dos defeitos

Por mais incrível que possa parecer, o sentimento de culpa impede a essência de se libertar do defeito correspondente. O sentimento de culpa turva a observação, tornando-a tendenciosa. É por isso que temos que lutar contra o bem e contra o mal.

Se eu tenho, por determinado defeito ou pecado, sentimentos negativos, não serei capaz de compreendê-lo, ficarei estancado, pois tais sentimentos me impedirão de observá-lo com clareza, objetividade e imparcialidade.

Se alguém quiser compreender um defeito, deve ser capaz de observá-lo imparcialmente. Somente assim se fará consciente da verdadeira natureza do mesmo. O verdadeiro teor de um fenômeno qualquer, seja interior ou exterior, somente advém a nós se o observamos desapaixonadamente, sem idéias preconcebidas.

Interessa-nos captar o defeito tal qual é, o que não será possível se o condenarmos antecipadamente, se observarmos sob a perspectiva de que "não presta", "é ruim", "vergonhoso" ou algo assim. Por mais bonito e politicamente correto que possa parecer, o ato de condenar "coisas erradas" antes de conhecê-las bloqueia o seu conhecimento.

Uma coisa é supor ou acreditar, sem ter consciência alguma, que um comportamento é errado. Outra coisa é fazer-se consciente de que o mesmo é prejudicial. Você fala mal da luxúria mas...será que sabe realmente do que está falando? Você tem plena consciência de que a fornicação é prejudicial ou está somente repetindo o que ouviu de algum mestre? Você realmente sabe que ela é nociva ou somente acredita nisso porque te ensinaram? Pergunte a si mesmo e responda com a maior sinceridade que conseguir.

É tão prejudicial condenar um comportamento sem conhecê-lo quanto absolvê-lo em tais condições. Aquele que não experimentou não sabe nada e não pode atestar nada.

Faça um levantamento dos defeitos mais vergonhosos que você possui, aqueles que você não deixa ninguém saber (todo mundo os tem, te asseguro). Agora me responda: Você realmente tem uma experiência consciente com eles? Ou você simplesmente os considera maus, sem ter experimentado conscientemente tal maldade? Já os sentiu conscientemente em plena ação? Em seguida, analise-os e observe-os imparcialmente, sem condenação e nem justificativa antecipada alguma.

Despertar a consciência é uma questão de ter coragem de encarar a verdade sem sair correndo dela, de encarar o pecado sem tentar afugentá-lo. Não tenha medo, sua consciência e o seu Ser te protegerão. Alguém poderia condenar um réu antes de estudar seu caso, sem provas e sem nenhum embasamento? O que diríamos de uma pessoa que condenasse outra sem prova alguma, somente porque alguém a acusou? É exatamente isso o que fazemos com nós mesmos e por isso é que não nos compreendemos.

A chave para a Morte é a compreensão e a compreensâo não advém aos precipitados que se auto-condenam somente por gosto e costume. Outra coisa, muito diferente, seria condenarmos um defeito DEPOIS DE O TERMOS OBSERVADO, ANALISADO E JULGADO PROFUNDAMENTE.

Ginásios desperdiçados

Por estarmos adormecidos, deixamos de descobrir muitos detalhes ao não aproveitarmos corretamente o ginásio psicológico. Normalmente, nos identificamos com o ginásio e robustecemos ainda mais os egos ao invés de estudá-los. O ginásio é faca de dois gumes.

A todo momento, em relação com as pessoas e situações, devemos estar alertas, perceptivos e receptivos ao que estamos sentindo em relação aos fatos que nos acontecem. A pergunta-chave é: "O que estou sentindo agora, diante disto que está acontecendo?" Aí estão as facetas dos defeitos, por onde os mesmos se nutrem.

O ginásio psicológico é como um espelho que reflete o que somos. Por meio do ginásio, descobrimos o novo em nós.

O erro de conflitar

Um dos erros comuns que cometemos é acreditar que os egos enfraquecem por um mero esforço de vontade no sentido de não sentirmos o que sentimos. Basta um mero descuido e já estamos lá, tentando segurar e reprimir as emoções ao invés de observá-las.

Somos condicionados, durante a vida, a reprimir. Ninguém nos ensinou o caminho da observação e da Morte em Marcha. Acreditamos que reprimir enfraquece. Tememos o afloramento espontâneo dos defeitos porque cremos que ficaremos tomados, possessos (na verdade, isso somente acontece quando nos identificamos). Desconhecemos que a observação aliada à oração proporcionam alívio e detém os assaltos, não por mero bloqueio, mas por verdadeira assimilação e por autêntico enfraquecimento.

O caminho para enfraquecer os tormentos e tentações interiores é a capacidade de aceitá-los conscientemente e não o mero esforço bruto, feito de qualquer maneira, para contê-los.

Nos envolvemos em conflitos infindáveis com o Ego porque acreditamos que a Morte é conflito e não esquecimento. Conflitamos porque queremos "matar o inimigo", mas o inimigo não morre, simplesmente fica mais forte e ataca mais furiosamente, pois não temos o poder de matar nenhum defeito. O ser humano não tem o poder de dissolver um desejo ou impulso, tem somente o poder de ocultá-lo de si, empurrá-lo para outros níveis da mente (recalque) ou então de observá-lo, analisá-lo e compreendê-lo sem identificação. Somente a Mãe Divina tem o poder de desintegrar atomicamente os egos. Portanto, deixemos esta tarefa para Ela e não façamos esforços inúteis. Façamos a nossa parte: observar incansavelmente e pedir. O resto acontece.

A observação de si mesmo deve ser constante, sincera, desprovida de preconceitos e de condicionamentos. No início, a auto-observação é muito condicionada e viciosa. Com o avanço da prática, torna-se mais e mais abrangente, eficiente e livre. A faculdade da auto-observação se desenvolve com a prática constante.

Temos que tomar o cuidado de não transformar a auto-observação em problema ou obsessão. Observar-se é ser receptivo e não ansioso por ver algo.

Sobre o silêncio mental

No capítulo 3 do livro "A Revolução da Dialética", o V.M. Samael nos dá preciosas informações a respeito dos pensamentos que atrapalham a meditação. Informações sobre este mesmo tema também estão dispersas em outros capítulos do mesmo livro e em outras obras.

No capítulo em questão, intitulado "Mo Chao", nos é ensinado que a mente não se aquieta pela força e sim pela compreensão. Tentarei aprofundar alguns pontos do capítulo aqui. Não tratarei agora da concentração, da meditação. Estarei me referindo aos pensamentos invasivos que atrapalham tais práticas e insistentemente voltam mesmo quando nos desviamos deles e focamos a atenção em nosso lakhsya (o alvo da concentração).

Tentar aquietar a mente violentamente, arbitrariamente, origina conflito interior. A quietude da mente não resulta do conflito mas da aplicação do correto procedimento silenciador. Aquele que tenta silenciar os pensamentos pelo mero esforço bruto, está entrando em conflito com a mente e, havendo conflito, não haverá paz. Buscamos a paz mental e não o conflito com a mente. Não queremos um aumento dos conflitos interiores.

Buscamos a paz interior e o silêncio mental. O silêncio resulta espontaneamente da aplicação do procedimento correto e é possível somente quando o Ego se ausenta. O silêncio não resulta de um esforço repressor sobre os pensamentos, como muitos principiantes acreditam.

Normalmente, o primeiro impulso daquele que se dá conta da necessidade de acalmar os pensamentos é tentar amarrá-los arbitrariamente. Este é um procedimento equivocado porque é repressor. Reprimindo-se a mente não se consegue aquietá-la. O procedimento correto e silenciador é outro, totalmente distinto. O caminho para a quietude é completamente diferente da mera e arbitrária repressão.

Reiteradas vezes o V.M. nos diz que os pensamentos silenciam quando os compreendemos. E o que é compreender um pensamento? Compreender um pensamento é, entre outras coisas, compreender o seu conteúdo e suas metas.

Cada pensamento possui uma meta própria (carga de libido), sendo, portanto, tendencioso. Se analisarmos a meta de cada pensamento, vemos que aponta para um lado, para uma direção específica. Como a toda direção existe uma direção oposta, resulta então que o processar dos pensamentos é um batalhar de antîteses. Todo pensamento tem o seu contrário e o silêncio advém quando nos damos conta de ambos os lados.

Se estudarmos o conteúdo e as metas de um pensamento, chegaremos inevitavelmente à conclusão de que o mesmo, no fundo, é absolutamente desnecessário. O pensamento desaparece quando compreendemos sua inutilidade.

Conforme os pensamentos vão surgindo, devemos contemplá-los, empenhando-nos por compreendê-los. Compreender um pensamento não é raciocinar a respeito do mesmo, é simplesmente fazer-se consciente do que ele traz, do que contém, do que quer, do que almeja, do que deseja e muito mais. É recolher informações sobre o mesmo. Quanto mais informações se tenha, maior compreensão se conseguirá. Quando se compreende profundamente um pensamento, conclui-se que o mesmo é inútil, desnecessário. Neste momento, o pensamento nos abandona.

Ao invés de rechaçarmos o pensamento, temos que recebê-lo, porém sem identificação. Se ficarmos identificados com o pensamento, saboreando-o e curtindo-o, o fortificaremos ainda mais.

A postura diante dos pensamentos deve ser imparcial: nem os rechaçamos e nem nos identificamos. Temos que alcançar uma postura neutra, em que não os rejeitamos e nem os adotamos, simplesmente os observamos enquanto fluem e os vamos compreendendo.

Esta é a prática do pratyara, que conduz à total abstração dos sentidos, ao desligamento sensorial. Aplicar um pratyara é praticar a auto-observação sobre o centro intelectual.

Uma vez em postura correta (asana) e profundamente relaxados, passamos a contemplar os pensamentos e a nos fazermos conscientes de cada um. Os pensamentos passam em procissão, um após o outro. À medida que desfilam, simplesmente nos damos conta dos mesmos: em que estamos pensando? Após um pensamento passar, virá outro e depois outro, todos encadeados.

Os pensamentos formam cadeias, por associação. Se os vamos compreendendo, começam a surgir rupturas momentâneas em tais cadeias, até um momento em que o desfile das formas mentais se esgota.

O silêncio interior que buscamos é o esgotamento do processo racional e não a paralisação mental pela força.

O hábito de rechaçar e reprimir os pensamentos não conduz à compreensão e nem ao silêncio, simplesmente oculta e submerge a atividade mental nas profundidades do inconsciente. Melhor que isso é tomarmos consciência do que estamos pensando. Durante a prática, temos que descobrir em que é que estamos pensando, perguntar-nos: "Em que estou pensando agora? Em minha irmã? Em minha noiva? Em meu carro? Em meu trabalho?"

Saber em que se está pensando é fundamental para se conseguir alcançar a quietude.

Não se compreende algo quando se o rechaça. Quem quer compreender um pensamento rechaçando-o, está cometendo auto-sabotagem.

Todo pensamento é dualista, pois é tendencioso. Se é tendencioso, opta por um polo, por um lado de um par de opostos. Se penso em minha noiva, meu pensamento com certeza estará carregado de valor, positivo ou negativo. Pode ser que eu sinta raiva, ciúmes, saudades, desejo, orgulho ou vergonha. O que essa noiva está significando para mim neste momento? Seja qual for o sentimento embutido no pensamento, será uma polarização. E o seu contrário será o seu pólo oposto. À medida que compreendo um pólo, o ultrapasso e minha compreensão chega ao pólo oposto. Quando compreendo ambos os pólos, chego à síntese e me liberto da tendenciosidade. Então, o pensamento se esgota, se retira, pois o ego que o emitia se aquietou.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O que é "identificar-se"?

Os Veneráveis Mestres Samael e Rabolú nos falam constantemente sobre o problema da identificação. Ensinam que não devemos nos identificar com as coisas da vida e nem tampouco com os egos. É um tema que merece maior explicação pois muitas pessoas não o compreendem bem.

O que é "identificar-se com algo"? Temos que analisar a questão etimologicamente. A palavra "identificar" significa "encontrar". Portanto, "identificar-se" significa "encontrar-se" e "identificar-se com algo" significa "encontrar-se naquilo". Ora, "encontrar-se em algo" significa perder a noção da distinção entre sujeito e objeto, significa confundir-se com o objeto. Quando nos identificamos com alguma coisa, deixamos de perceber o que somos e não nos separamos do objeto da identificação. Quem está identificado, está unido. Quem não está identificado, está separado, dissociado. Identificar-se é misturar-se, confundir-se. Identificar-se é, também, entrar em sintonia, entrar na frequência, sintonizar-se, vibrar em consonância com algo.

Podemos nos identificar com objetos externos (pessoas, fatos, problemas, corpo físico, doenças etc.) ou com objetos internos (pensamentos e emoções), podemos nos identificar com objetos físicos ou psicológicos.

A identificação ocorre sempre pela fascinação. O que é fascinação? É o sono hipnótico da consciência. Fascinar-se é deixar-se hipnotizar, ficar deslumbrado, atraído irresistivelmente por algo a ponto de esquecer-se de si mesmo. Quando nos esquecemos de nós mesmos, nos identificamos com o objeto.

Nos identificamos com as coisas da vida porque nos deixamos fascinar. A fascinação e a identificação estão intimamente relacionadas mas não são a mesma coisa. A fascinação provém da força hipnótica emanada do órgão kundartiguador e que confere um caráter atraente e irresistível aos objetos. A identificação é a indistinção, a perda da noção de diferença entre o que somos e aquilo que nos fascina. A fascinação é o deslumbramento e a identificação é a indistinção. Ambos coexistem intimamente o tempo todo.

O meio de resistir à fascinação é a prática da recordação de si. A recordação de si rompe a identificação entre sujeito e objeto. Quando nos recordamos de nós mesmos, recuperamos a compreensão da diferença entre o que somos e o que é o objeto da fascinação. Quem está identificado, está obrigatoriamente esquecido de si mesmo, não se recorda da distinção. Recordar-se de si é romper os fios de fascinação que nos mantém unidos aos objetos.

Recordar-se de si não é recordar-se do Ego e sim recordar-se da Essência (e, por extensão, do Ser), é sentir o que temos de mais elevado dentro.

A recordação de si é indispensável para a auto-observação pois, se não nos recordamos de nós mesmos, não conseguimos nos dissociar dos fatos fascinantes para observá-los. Observar é contemplar, como poderíamos contemplar o que vai se processando dentro de nós se nos mantivéssemos distraídos, fascinados, com os fatos da vida ou com nossas emoções e pensamentos? Quem está distraído não está observando, a observação requer que não haja distração.

Passamos os dias fascinados e esquecidos de nós mesmos. Vemos algo interessante e deixamos que arraste nossa atenção para aquilo. Esse é o sono da consciência. Nosso percentual de essência livre está passivo, sujeito aos 97 por cento de Ego, devido à fascinação. Conforme aperfeiçoamos a prática da recordação de nós mesmos, vamos recolhendo os percentuais dispersos de essência livre para utilizá-los nas práticas de meditação e de Morte do Ego. Na meditação, os reunimos e exercitamos, para que se tornem mais resistentes, robustos e eficientes.

Podemos nos identificar com uma briga, com pessoas sexualmente atraentes, com alimentos saborosos, com roupas caras, com programas de televisão, com filmes etc. Podemos nos identificar também com nossos defeitos, com os pensamentos, com os desejos, com os impulsos, com lembranças, com fantasias, com medos etc. O ideal seria que nos separássemos de tudo isso e os percebêssemos de fora, com algo distinto de nós e alheio ao Ser.

Não estamos conscientes da maior parte das fascinações que sofremos. Percebemos, conscientemente, apenas uma pequena fração das identificações. Vivemos identificados com as coisas de dentro e de fora e não sabemos disso. Acreditamos, em nossa ingenuidade, que estamos despertos.

Quem se identifica com o Ego não pode eliminá-lo porque está lhe fornecendo energia. O Ego colhe energia dos centros da máquina por meio das identificações. Os detalhes do Ego são milhares de identificações pequenas e sutis, às quais não conferimos importância por nos parecerem inocentes, inofensivas e até necessárias.

Sintonizar-se com um defeito é algo parecido com sintonizar uma estação de rádio. Aquele que entra na frequência dos seus defeitos não consegue livrar-se dos nefastos resultados. Uma vez sintonizados, o defeito nos "prende" à sua forma de ver o mundo, nosso ponto de vista adquire um colorido específico que condiciona nossa consciência.

Tenho visto alguns psicólogos sugerirem às pessoas que se identifiquem "um pouco" com seus desejos, com o intuito de "conhecê-los melhor". A pessoa deveria "deixar-se atingir" pelos desejos sem deixar-se dominar por eles. O pressuposto equivocado nessa idéia é o de que é possível identificar-se sem perder a consciência, o que é totalmente falso. Remover a repressão não é mesmo que deixar-se tomar pelo desejo. 

Esses conceitos não devem nos confundir e nem perturbar nossa prática, destinam-se apenas a um melhor entendimento e visualização concreta do que é ensinado.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Ego é uma masmorra

O Ego é análogo a uma caverna prisional ou masmorra.

A Morte do Ego é parecida com o ato de sair de uma masmorra ou caverna prisional escura, húmida e fria. Dentro da caverna nos sentimos mal e quando saímos dela nos sentimos bem, porque há luz, pássaros, ar fresco, liberdade etc. Não podemos desfrutar a beleza de fora enquanto estivermos dentro da caverna. Quem está morto em si mesmo, está fora da luxúria, da ira, da cobiça etc. Quem está morrendo, está dando passos para fora da caverna.

Imaginar que se possa dissolver o Ego mantendo-se identificado com ele é tão absurdo quanto supor que alguém possa estar fisicamente livre sem sair da prisão. Quem está morrendo, passa a ver os atrativos da luxúria, da ira, do ódio etc. como algo estranho, que não lhe pertence, pois não se identifica com aquilo. As tentações atraem, mas aquele que está morrendo vê as tentações como algo que lhe é estranho e não como algo que lhe pertence. Ainda que se sinta atraído, verá as atrações como algo invasivo, algo que se intromete em sua vida e, à medida que avança na compreensão, cada vez mais se dissocia daquilo para não voltar. Neste sentido, a Morte é um abandono.

Imagino que um anjo ou uma hierarquia celestial talvez nos vejam com total estranhamento, horror e piedade, como criaturas nas quais eles não gostariam de se converter de modo algum. Eles estão fora da caverna.

Muitas pessoas querem eliminar o Ego sem abandonar o prazer da identificação. Estão agindo como se quisessem viver fora da caverna mas se recusassem a sair dela, estão agindo contraditoriamente.

A identificação causa um certo prazer: prazer de vingar-se quando sentimos ódio, prazer mórbido quando sentimos luxúria, prazer de ter dinheiro quando sentimos cobiça. O prazer resulta da identificação. Quem está identificado, não pode sair da caverna. Estar identificado, é estar dentro da caverna. A identificação aprisiona. Não é possível eliminar o Ego e ao mesmo tempo continuar desfrutando dos prazeres da luxúria, da cobiça, do ódio, da preguiça, da gula...

O Ego é algo sensorial, proporciona prazeres sensoriais. Manter-se desfrutando das sensações do Ego é fortificar as correntes que nos prendem à caverna.

Estamos presos à caverna do Ego quando nos identificamos com os processos psicológicos.

Se você não entrou em certas cavernas, sugiro que não entre, pois será difícil sair. Se você já entrou, sugiro que saia, pois isso e perfeitamente possível quando se conhece a forma.

Entrar em processo de identificação com pensamentos, sentimentos ou algo físico é entrar na masmorra.

Sofremos porque nos identificamos com os fatos desagradáveis.

Aquele que vai morrendo em si mesmo, vai deixando de se envolver com fatos tentadores ou perturbadores, passando a tratá-los como algo distinto de si mesmo, algo alheio, distante e que não lhe diz  respeito. Se apartará das tentações e problemas e os perceberá como algo distante. Ao ver as pessoas envolvidas em confusões, brigas, fornicações, orgias e festins, não se identificará e nem se misturará. Não sentirá mais curiosidade em conhecer ou experimentar as sensações provocadas por tais fatos. Dirá para si mesmo: "Não quero sentir o mesmo que eles estão sentindo e nem quero mais me recordar das sensações que se tem em tais situações".  Compreenderá, cada vez mais, que as pessoas estão em estado de alucinação e loucura, fascinadas pela mentira do mundo ilusório de maya. A identificação estará sendo rompida.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Fixar-se no trabalho de não alimentar

Aquilo que estimulamos e cultivamos em nossa alma, toma força e se desenvolve, seja bom ou mal.

Atos e pensamentos insuspeitados cultivam valores e tendências, virtuosos ou defeituosos.

Convém aplicar a auto-observação sob a perspectiva do reforço, perguntando-nos: "o que estou reforçando agora, com este ato, fala ou pensamento?". Quando nos mantemos em expectativa contínua a respeito do que podemos estar alimentando, descobrimos milhares de detalhes dos nossos defeitos. Todo defeito se alimenta pelos detalhes da conduta.

Quando pensamos em algo, visualizamos imagens na tela de nossa mente. As imagens visualizadas, quando nos identificamos, poderão reforçar desejos. Os pensamentos são a principal, mas não a única, forma de darmos energia aos egos.

Estarei reforçando um desejo se me entreter "curtindo" o prazer de contemplar a imagem física do objeto ou a imagem mental do objeto. Reforço a luxúria quando fico olhando para mulheres lindas e desejáveis, mas também quando penso nelas. Em ambos os casos há um certo prazer mórbido, uma sensação prazeirosa que vicia e nos torna impotentes.

Se fico pensando em determinada situação, identificado com as múltiplas imagens que desfilam em minha mente, reforçarei alguns defeitos relacionados àquilo. Se cultivo pensamentos a respeito de meu inimigo, reforçarei o ódio, a ira e outros defeitos aparentados.

Temos que nos fixar na compreensão de que o fundamental, na Morte do Ego, é suspender a nutrição. Quem medita em determinado defeito com o intuito de compreendê-lo, mas não deixa de alimentá-lo em outros momentos, está andando em círculos, não pode avançar, pois está sabotando o seu próprio trabalho.

As formas de alimentarmos um defeito são inúmeras, mas não as vemos todas porque são inconscientes. A auto-observação permite jogar luz nas trevas da inconsciência.

Podemos reforçar um defeito por meio de pensamentos, mas também por meio de falas, atitudes, movimentos, formas de vestir, olhares, tons de voz etc.

Vejamos um exemplo. Você estará reforçando a luxúria quando:

  1. contemplar as mulheres desejáveis;
  2. conversar maldosamente sobre sexo com um amigo;
  3. pensar em sexo;
  4. assistir filmes pornográficos;
  5. cultivar fetiches e fantasias sexuais.

Os fracassos no maithuna e na transmutação da energia resultam do cultivo anterior da luxúria, são o seu produto final. Tentar reverter o produto final sem modificar os fatos que o originam é infrutífero. Os sintomas servem para chegarmos às causas, assinalam a origem, mas não devemos nos ocupar com os sintomas e nem tentar revertê-los, temos que atuar sobre as causas (estou me referindo agora às causas de manifestação neste mundo tridimensional e não ao Eu-causa). Atuamos sobre as causas quando aplicamos a Morte em Marcha.

Mas para atuarmos sobre as causas temos primeiramente que descobri-las e as descobrimos por meio da auto-observação. Neste texto, causa é sinônimo de canal de alimentação, os canais de alimentação são as causas às quais estou me referindo.

Quando nos mantemos receptivos, percebemos se determinados atos ou pensamentos estão ou não reforçando algum defeito. Não basta simplesmente descobrir um defeito, temos que descobrir por onde o alimentamos, como o cultivamos.

Cultivamos o Ego sem nos darmos conta, pois vivemos distraídos com as coisas mundanas e não prestamos atenção em certos pormenores cruciais da nossa vida psicológica.

Sofremos muito com os diversos desejos, emoções negativas e defeitos mas, paradoxalmente e de forma absurda, os alimentamos a todo momento.

Há defeitos violentos, muito fortes, que nos sacodem e arrastam, parecem todo-poderosos. São defeitos que estão exageradamente arraigados em nossa personalidade porque foram alimentados de forma intensa e descomunal. De nada adianta nos debatermos, o indicado é suprimir a alimentação e aguardar o enfraquecimento.

Embora reprimir seja contra-indicado, temos que aprender a viver "fora do Ego" e não dentro dele. Vivemos dentro do Ego quando estamos identificados. Quando nos identificamos com o Ego, nos tornamos indistintos. Em tais situações, ou o satisfazemos ou o reprimimos. É, porém, uma ilusão acreditar que os desejos reprimidos não se satisfarão por canais alternativos. Em casos extremos, os desejos reprimidos se satisfarão através da somatização de doenças.

O trabalho com os canais de alimentação (que são os detalhes do Ego) é fundamental e não pode ser abandonado. Aquele que almeja morrer e abandona este trabalho, se desvia para os labirintos da confusão. Nos momentos de desorientação e tentação rigorosas, temos que nos recordar deste trabalho, que é o nosso guia fundamental.

Há pessoas sinceras que gastam o tempo correndo atrás dos seus próprios defeitos, sem se darem conta de que assim os estão fortalecendo.  Quem almeja se libertar dos próprios defeitos, deve deixar de alimentá-los, o que inclui não pensar nos mesmos, ainda que seja para condená-los e recriminá-los. Podemos pensar em um defeito de forma favorável ou desfavorável, para justificá-lo ou para condená-lo. Em ambos os casos estaremos identificados e o alimentaremos.