sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Impulso de variação

O impulso de variação (trocar de mulher constantemente, experimentar mulheres novas) difere do impulso copulatório em si mesmo. Não é o impulso de acasalar-se mas sim de experimentar sensações proporcionadas por mulheres desconhecidas. É uma espécie de "curiosidade sexual". Trata-se de um ego que necessita ser eliminado como todos os outros.

Alimentamos os defeitos diariamente

Alimentamos os defeitos a todo instante, sem nos darmos conta. Através de pensamentos, imaginações, falas, atitudes etc. reforçamos a nossa prisão interior.

Com uma simples frase, expressão facial, forma de andar ou se vestir, podemos estar fortificando algum defeito. O simples fato de imaginarmos uma mulher desejável proporciona, por exemplo, energia ao defeito da luxúria.

Se quisermos nossa liberação, o caminho a seguir é: não fortificar os defeitos de nenhuma forma.

É ilógico e absurdo tentar destruir um defeito ao mesmo tempo em que o alimentamos. Fortificar o inimigo do qual queremos nos livrar é um contra-senso.

Muitas pessoas lutam contra seus defeitos mas não vigiam os detalhes por meio dos quais os alimentam e reforçam. Fazem esforços em vão, fortificam o inimigo interior, como se pisassem no freio e no acelerador simultaneamente.

Somente com pensar, recordar ou mencionar algo, podemos estar alimentando defeitos correspondentes.
Quando queremos acabar com um defeito, temos que retirar de nossa vida tudo o que o alimente. Todos os canais de alimentação devem ser cortados, a começar pelos pensamentos. Nenhum pensamento que alimente o defeito deve ser deixado vivo. Além dos pensamentos, toda conduta e fala que o alimentem também devem ser eliminados. Dito em outros termos, TUDO o que se relacione, direta ou indiretamente, com o defeito que almejamos eliminar tem que ser cortado de nossa vida. Se algo for permitido, o defeito não morrerá.

Não poderei eliminar a luxúria de modo algum se manter conversas morbosas com meus amigos, se assistir filmes pornográficos ou ficar fantasiando sexo de várias maneiras. Não eliminarei o medo se ficar assistindo a filmes de terror, pensando no perigo, comentando sobre o perigo com as pessoas todo o tempo (o que difere de alertá-las). Um determinado ego pode colher energia e alimentar-se de diversas maneiras, por muitos canais, como fazem os capilares das raízes de uma árvore. A auto-observação consiste em descobrir os muitos canais por meio dos quais um defeito se alimenta, os quais estão escondidos em nossa vida, se processam na sombra, sem que os vejamos. Lançando a luz da auto-observação a todo instante, os descobrimos. Nisso consiste a descoberta de si mesmo, o auto-conhecimento e a compreensão dos defeitos.

Se, mesmo aplicando esta técnica de retirada dos “capilares”, o defeito que você quer eliminar não enfraqueceu, isso significa que você continua lhe fornecendo alimentos sem dar-se conta, que há muitos outros “capilares” que você não está vendo, ou seja, há muitos outros canais de alimentação escondidos em sua conduta.

A estratégia

A estratégia, em qualquer guerra, consiste em atacar o inimigo em seus pontos vulneráveis. Tentar vencer um inimigo atacando-o em seus pontos invulneráveis é falta de inteligência.
Na guerra contra o ego, as facetas sutis que lhe dão alimento a todo instante são os pontos vulneráveis a serem atacados. Enfrentá-lo frontalmente é certeza de fracasso por ir contra a estratégia.

Diferenciando os esforços

Estudantes gnósticos que confundem a verdadeira morte com o recalque giram em círculos por tempo indefinido, oscilando entre a sufocação dos desejos e o desenfreio. Por um tempo, controlam seus impulsos e, em seguida, os mesmos irrompem violentamente. Somente é possível sair deste círculo vicioso quando se compreende as diferenças entre a morte verdadeira e as várias simulações de morte. Na autêntica morte, a pessoa não realiza o esforço interior visando sufocação dos impulsos, típica do vício de recalcar desejos. O esforço interior correto corresponde principalmente a:

1. não identificar-se com os defeitos;

2. observar os detalhes dos eus em ação;

3. pedir por sua eliminação;

Além disso, há também empenho em manter a vigilância constante, em antecipar-se às obsessões, em não pensar e em descobrir se algum defeito está sendo reforçado (alimentado) por este ou aquele ato inocente.
Não faz parte do esforço correto a tentativa de segurar as emoções ou de controlá-las.
Para sabermos o quanto um "eu" está sendo enfraquecido, temos que deixar de tentar controlá-lo e, em um certo sentido, até deixá-lo meio "livre", para ser observado sem identificação.

Trabalhando nas causas

Sabemos que não devemos ejacular nosso precioso sêmen. Saber disso, contudo, não é suficiente para deter o compulsivo processo de ejaculação. Muito sofremos, com remorsos e medos, por não termos a verdadeira castidade.
Ocorre que tudo tem uma causa e não se pode deter a ejaculação (fornicação, masturbação e polução noturna) sem atingirmos suas causas. Quando perdemos o sêmen, esta triste perda se deve a processos interiores que ocorreram antes da perda, por baixo da nossa zona de percepção consciente. Talvez os tenhamos percebido superficialmente ou de forma vaga. Um defeito somente se "carrega" de força porque não aplicamos a morte, antes, sobre pensamentos, emoções e ações que o alimentam. O segredo é ir à causa. E onde está a causa? No "antes", nas manifestações que o antecedem. Sobre essas manifestações é que temos que direcionar o poder de fogo da Mãe Divina, e queimá-las sem recalque, apenas pela observação e oração.
Vigiar antes é o segredo.
Nós, principiante, não podemos ir conscientemente até o mundo das causas naturais, na sexta dimensão, para "desligar a tomada" que carrega os defeitos de energia, mas podemos, muito bem, remover as causas aqui no mundo tridimensional, que são os primeiros resultados (efeitos) físicos dessas causas que estão bem além, no mundo causal. No causal está a "causa causorum" e aqui estão as causas físicas. As causas físicas são efeito das causas que se encontram na sexta dimensão e, ao mesmo tempo, a origem da fortificação dos defeitos aqui.
O ato infeliz de ejacular deve, portanto, ser encarado como mero resultado de processos anteriores de fortificação, processos esses que se dão sem serem vistos claramente pela consciência, por ela não estar vigiando ativamente. Se você perde continuamente seu sêmen, saiba que essa perda resulta de processos psicológicos que você deveria ter observado em ação e que foi por não observá-los direito que isso está te acontecendo. Encare sua perda como resultado (efeito) de uma causa a ser conhecida. Qual causa? As manifestações dos detalhes. Vários detalhes se manifestaram através de você e você não os viu, não os observou e nem pediu pela dissolução. O resultado foi que de repente sentiu uma tremenda vontade de ejacular, ficou tomado por aquilo e não resistiu, obviamente. E como poderia ter resistido se deu alimento e forças ao inimigo?
Portanto, não fique se lamentando por fracassar, chorando ou duvidando de sua capacidade, da Gnosis ou dos Veneráveis Mestres. Há algo melhor para fazer: descubra o que te acontece antes de ficar louco de desejo. Caso se observe, verá que bem antes de ficar doido (minutos ou horas antes) você deixou que muitos pensamentos, frases, movimentos, lembranças, fantasias e emoções passassem em branco. Foi lá que você errou. Você negligenciou as causas, a origem. Corte um rio e a represa seca, arranque a tomada e maquinário se desliga. O ato de ejacular resulta de um erro de estratégia: tentar segurar o desejo ao invés de atacá-lo em suas origens. E onde estão as origens? Estão no cotidiano. Observe-as lá, procure-as e verá. São milhões de coisas aparentemente inocentes que te conduziram a isso. Tire-as de si e ficará livre dos seus efeitos nefastos. Não perca tempo fazendo esforços à toa, medindo forças com o gigante: acerte-o logo no ponto fraco. Não queira se mais forte que seu inimigo, seja mais astuto. Empregue toda a força que possui de maneira correta e verá os resultados interessantes que surgirão daí.
Sabemos que precisamos da castidade, não somente para tomar ayahuasca (se você for um gnóstico ayahuasqueiro, já que nem todos são) mas principalmente para fortificar o kundalini e o poder da Mãe Divina e do Cristo dentro de nós, aumentando a efetividade da morte do ego. Quanto mais casto formos, mais rapidamente o ego morrerá.
Pensemos na masturbação e nas poluções noturnas. Em ambos os casos, o sêmen é perdido porque a pessoa fantasia coisas "maravilhosas" com mulheres. Em que mulheres você pensou antes e durante o ato masturbatório? Com quais beldades você sonhou? O que imaginou estar fazendo com elas? Falarei claramente. Talvez você tenha imaginado sexo oral ou anal, múltiplas posições, rostos lindos, peitos redondos, peles lisas e depiladas, bocas gulosas e ávidas, lábios carnudos, traseiros empinados e loucuras. Com que mulheres você fantasia? Atrizes pornôs? Colegas de trabalho? Adolescentes? Sua vizinha? A esposa do seu amigo? Quem mais? Descubra, torne-se consciente disso e de tudo o mais que houver escondido aí no baú da sua mente.
Essas fantasias "maravilhosas" são, na verdade infernais, te fascinam e te arrastam pro fim. São fantasias que te tornam impotente sob todos os pontos de vista e acabam com a tua vida. Aprenda a enfraquecê-las em suas origens, antes que tomem força, e assim não ficará idiotizado.
Sócrates dizia que o vício da sensualidade deixava o homem estúpido. A experiência nos mostra que ele estava correto. Desta forma de estupidificação estão surgindo todas as aberrações que estamos vendo: pedofilia, zoofilia, necrofilia, coprofilia etc. e tudo ficará ainda pior, já que o humanóide está sempre insatisfeito e se lança desesperado em busca de novas sensações eróticas. Nessa busca infernal não há fim, é a queda de cabeça em um precipício sem fundo.
Pois bem, meu amigo, se você quer mudar, estou do seu lado e quero te ajudar. Se quer se livrar dessas maldições, descubra o que te acontece antes de ficar louco de desejo e remova tudo isso.
Você falha uma e outra vez, fracassa e cai novamente na fornicação ou na masturbação? Não importa! Continue pois, como disseram os Veneráveis Mestres, ninguém se ergue reto como um pinheirinho, o que importa não são as caídas mas sim a falta de coragem de nos levantarmos e continuar. O que importa é continuar, assim a experiência se acumula. Lembre-se: para o Espírito não há tempo, Ele é imortal.

Por que não avançamos na busca da castidade?

Nós, os aspirantes espiritualistas, temos sofrido muito com os defeitos, principalmente com a luxúria em suas muitas variações (adultério, fornicação, masturbação, promiscuidade etc.), às quais podem chegar até mesmo a perversões e aberrações. O vazio que se sente após as caídas é terrível e costuma ser acompanhado por medo e preocupação a respeito de nosso destino e futuro no campo espiritual.

Pensemos agora especificamente na luxúria. A luxúria, tal como costumamos concebê-la,isto é, como um "Eu" único ou defeito único, não existe. O que existem são milhões e milhões de facetas luxuriosas que se associam formando um gigantesco bloco composto por partes diminutas e ao qual chamamos de "defeito da luxúria". Por uma simples questão de comodidade e facilidade de expressão, dizemos "o eu da luxúria", mas em verdade não há tal coisa, não há um "eu da luxúria" e sim muitíssimos "eus da luxúria".

O motivo pelo qual não conseguimos nos livrar deste defeito terrível é exatamente este: porque o alimentamos a todo momento sem nos darmos conta. Reforçamos a luxúria ao longo de todo o dia através de pensamentos, falas, atitudes e olhares. Se nos observarmos= em plena relação com as pessoas, perceberemos atos, falas, olhares, pensamentos, movimentos etc. aparentemente inocentes mas que, em realidade, fortificam este defeito.

A interrelação com os semelhantes é imprescindível para que haja este descobrimento. Embora também possamos alimentar a luxúria sozinhos, através da imaginação morbosa, em contato com o sexo oposto muitas outras manifestações surgem e podem ser flagradas. É um erro, portanto, evitar o contato social. E é outro erro identificar-nos com as mulheres enquanto travamos o contato social. O ideal é: travar o contato social com mulheres sem nos identificarmos com elas para que possamos nos observar e descobrir as muitas facetas da luxúria em plena atividade. Se não for por este caminho, não conseguiremos nos livrar.

Outro erro consiste em tentar aplicar a Morte em Marcha nos defeitos já "carregados" (reforçados com energia), sem deixar de alimentá-los. Isso equivale a pisar no freio e no acelerador: por um lado os enfraquecemos mas por outro os reforçamos. Muitas pessoas sinceras aplicam a Morte nos desejos intensos, mas não prestam atenção nas muitas maneiras pelas quais os alimentam. Por exemplo: o estudante reforça a luxúria o dia todo e, à noite, tentar conter os impulsos fornicadores/ejaculatórios. Preocupam-se, sinceramente, em combater tais impulsos, mas não se preocupam em retirar os comportamentos que os reforçam. É por isso que não avançam.

A libertação da luxúria e a conquista da castidade resultam naturalmente da eliminação das pequenas facetas detectáveis no dia. Não é algo que se conquiste diretamente pela força, mas sim pela estratégia. A castidade é um resultado e não propriamente uma meta, pois a meta é enfraquecer o impulso sexual irrefletido e despótico. Não se preocupe, você não ficará eunuco e nem perderá o instinto ou potência, apenas irá adquirir maior controle sobre si mesmo e aumentará a margem do seu livre arbítrio nesse campo.

O fundamental é aprender a nos vermos enquanto estamos em contato com elas, em plena relação social com o sexo oposto. Na presença delas, evitemos os identificar e olhemos para nós mesmos, verificando se o que estamos fazendo ou dizendo, num dado momento, está ou não reforçando este nefasto defeito. Em outras palavras, temos que vigiar o que estamos fazendo, buscando em nosso comportamento as formas de reforço.

O que tenho feito, seguindo as diretrizes deixadas pelos V.M.s em seus livros, é o que explicarei a seguir.

Observando-me em plena presença de mulheres, costumo me perguntar: "Isto que estou fazendo agora, neste momento, está reforçando a luxúria ou não?". Faço a pergunta sinceramente e busco a resposta com mais sinceramente ainda através da observação direta, sem teorizar. Deixo a mente passiva, procuro não pensar e nem raciocinar a respeito, e vou observando e me dando conta. É claro que um principiante raciocinará um pouco, mas com a prática ele aprenderá que não precisa pensar na questão, bastando apenas olhar.

Essa indagação pode ser aplicada a qualquer outro defeito. Funciona com a ira, com a gula e com todos os outros egos. O que importa é vigiar, buscando detectar qualquer coisa que possa reforçar o defeito. Durante a vigilância, temos que buscar o que está por trás dos comportamentos, atos, diálogos, formas de se vestir etc.

Nossos comportamentos, por mais comuns que nos pareçam, podem ter consequências psicológicas. Temos que nos inquirir a respeito dessas consequências psicológicas do que fazemos. Nesse sentido, podemos dizer que nossa forma de agir, pensar e sentir constituem "causas" (no nível tridimensional) cujas consequências são a fortificação dos agregados psíquicos, defeitos ou complexos.

Suponhamos, por exemplo, que você esteja segurando um livro com a mão direita. Será que por trás deste ato há alguma intenção excusa escondida? Observe-se sinceramente. Caso você detecte alguma intenção secundária vinculada a algum defeito, você o estará alimentando.

Se quisermos eliminar a luxúria, nenhuma frase, pensamento ou expressão deve passar "em branco". Todas devem ser percebidas em flagrante e eliminadas no mesmo instante.

O trabalho de morte em marcha resolve o problema da compreensão, pois nos fornece um entendimento progressivamente mais profundo dos defeitos, e também impede que defeitos enfraquecidos ressucitem.

Todos temos, com certeza, muitas dificuldades nesse campo específico, por isso, sugiro a leitura do livro "A Prática do Brahmacharia", de Sri Swami Sivananda. É um livro com muitas orientações esclarecedoras e pode ser obtido aqui:




sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Eus bons e eus inofensivos

Entendo que os detalhes são os eus bons e os eus inofensivos, para os quais não damos importância por terem o caráter prejudicial sutil e de difícil detecção. Para detectá-los, necessitamos de "olho clínico", como disse o V.M.S. em "Dialética da Razão Objetiva". Tais eus muitas vezes não causam dano visível algum e, apesar disso, alimentam elementos psíquicos perigosos.

O caráter prejudicial dos detalhes é sutil, nos escapa à observação superficial. Por serem inofensivos em aparência, acreditamos que não sejam defeitos e não lhes damos importãncia. Damos-lhes livre curso por acharmos desnecessário dissolvê-los, já que não nos parecem prejudiciais.

Portanto, temos que observar nossos comportamentos inofensivos com o intuito de verificarmos se não alimentam defeitos.

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O Ego a ser observado não é somente aquela parte nossa que comete delitos, é tudo o que designamos por "Eu". Inclui tudo o que fazemos, dizemos, sentimos e pensamos, não se limitando àquilo que a moral e a cultura definiram como "errado" ou "feio". O Ego a ser compreendido vai muito além do que a cultura considera "imoral" ou impróprio.

Se não for assim, se a observação não romper com os limites da moral, não se chega aos fundamentos dos defeitos mais perigosos. Os defeitos mais prejudiciais alimentam-se a todo momento por meio de manifestações "inocentes" que são perfeitamente aceitáveis dos pontos de vista social, cultural e moral. Atos e pensamentos que acreditamos ser inofensivos e até benéficos podem estar nutrindo elementos psíquicos altamente prejudiciais e perigosos. O eu da fornicação, por exemplo, se alimenta a todo momento sem que o percebamos. O mesmo se dá com o eu do medo, da gula etc. Somente a observação rigorosa detecta as manifestações que os alimentam.

A sensação de que se está evitando o confronto

No trabalho da morte em marcha, podemos ser tomados pela sensação de que estamos evitando o confronto com o Ego ou de que estamos fugindo dele. Tal sensação procede do fato de que nos ocupamos exclusivamente com os detalhes que circundam o defeito e evitamos o confronto direto com o núcleo.

Quem é observado

Quando nos observamos, é importante não esquecermos que o "Ego" é nossa própria pessoa, embora não seja nossa essência, e corresponde a praticamente tudo o que nos proporciona a sensação de "Eu".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Eus que se reforçam

Aquele que reprime o Eu não consegue observar o enfraquecimento que
vai acompanhando as petições por sua morte.
Muitas vezes um defeito se fundamenta em valores aparentemente
distintos e até opostos à sua meta . Ex. uma forte excitação sexual
pode se fundamentar (ou ser reforçada) no medo ou até no ódio. Cada ego possui sua
lógica própria que necessitamos descobrir e compreender. É um
sentido ou lógica que costumam diferir do que entendemos por
coerência. Uma situação perigosa, por exemplo, poderá excitar
sexualmente algumas pessoas cujo defeito associe perigo ao valor
sexual do ato. Os exemplos e variações desta tendência são
infinitos.
Um desejo pode estar apoiado em outro com o qual não tenha nenhuma
relação aparente.

domingo, 15 de novembro de 2009

Compreendendo os prejuízos dos defeitos

Compreender um defeito é dar-se conta de sua ridicularia e de seu caráter absurdo. Sob estado de identificação, consideramos os defeitos úteis, benéficos e até indispensáveis, apesar de todos os seus efeitos destrutivos sobre nossa vida e nossa alma. Os prejuízos ficam excluídos do campo de nossa pobre e adormecida consciência, durante o estado de identificação. Identificados com os desejos e pensamentos, nos tornamos ignorantes a respeito dos danos ocasionados pelos defeitos. À medida que avançamos na compreensão, mediante a auto-observação rigorosa e a morte em marcha, vamos nos dando conta de quão ínúteis e perigosos são os egos.Identificar-se com um defeito equivale a distorcer a cognição, a perturbar o entendimento. O entendimento, sob a ótica dos egos, se torna enviesado, tendencioso e condicionado. Tal classe de entendimento nos leva a concluir que os agregados psíquicos são importantes.Uma pessoa obsessionada por um desejo ou sentimento negativo não pode ser considerada sã. Está louca, pois perdeu a capacidade de julgar com clareza. Por isso o V.M.S. diz que "sua consciência se processa em função do seu próprio embotelhamento". De fato, a consciência, ou inteligência, do adormecido se processa de modo condicionado, isto é, tendencioso, subjetivo e unilateral. Aquele que está obsessionado pela luxúria, inveja, ódio etc. acredita, em tal estado lamentável, que os pensamentos, impulsos, comportamentos e desejos que está tendo lhe trazem benefício, satisfação etc.Quando aprendemos a retirar as causas (detalhes) que originam as manifestações mais pesadas dos egos, aos poucos os vamos compreendendo e percebemos, de fato e não por simples associações intelectuais, seus prejuízos sobre a nossa vida.

Rompendo a cadeia de manifestações

Antes que um defeito "se carregue" (V.M.R.) sobre algo ou alguém (uma dama, por exemplo), outras manifestações, com menor gravidade, o antecederam e se encadearam em uma sequência que conduziu até aquele estado. A partir de manifestações sem gravidade alguma, originam-se outras manifestações, com gravidade maior. As várias manifestações, em sequência, formam uma cadeia cujo término é a manifestação do defeito propriamente dito (obsessão), cuja gravidade pode ser alta e do qual almejamos nos livrar. Um erro comum que nós, estudantes e aspirantes, cometemos consiste em não darmos importância às manifestações antecedentes e em tentar enfrentar o defeito "já carregado", isto é, já fortificado e em plena manifestação. Tal erro se deve à ausência de gravidade das manifestações comuns, do ponto de vista kármico. Como essas manifestações não nos parecem tão graves e não nos preocupam, não lhes damos importância e lhes damos curso livre. O resultado é, então, a fortificação dos defeitos considerados "perigosos" e nossa consequente impotência ao tentar enfrentá-los.Comportamentos que consideramos inocentes, inócuos e desprovidos de quaisquer relações com os defeitos propriamente ditos podem, na verdade, ser facetas pelas quais os mesmos se nutrem. A estratégia correta consiste em identificar essas múltiplas facetas, flagrando-as em plena manifestação. Ignorá-las e tentar enfrentar diretamente o defeito poderoso é um erro estratégico pois isso seria o mesmo que tentar enfrentar um inimigo sitiado que está recebendo munições e provisões diariamente. O que pensaríamos de um estrategista de guerra que quisesse tomar uma fortaleza, mas permitisse que seu inimigo recebesse provisões, armas e homens constantemente, não dando importância para tal fato por considerá-lo de "pouca gravidade"? Certamente, o consideraríamos estúpido. Ao permitir que armas, provisões e guerreiros entrassem constantemente na fortaleza, o desventurado estrategista estaria fortificando o inimigo que almejaria combater. Seus esforços seriam inúteis. E é exatamente isso o que muitos de nós fazemos quando queremos tomar posse de nossa fortaleza, isto é, de nossa casa interior. Tentamos desalojar os invasores, mas permitimos que eles recebam reforços.Uma coisa é a gravidade kármica de um ato. Outra coisa, completamente distinta, é a estratégia para dissolver um defeito. Atos sem nenhuma gravidade kármica aparente podem ser o caminho para fortificação e manifestação de atos de altíssima gravidade. Tentar reprimir os atos graves, quando já estão "carregados" de energia, é anti-estratégico. O que se deve fazer é despotenciá-los ou, melhor ainda, evitar que se "carreguem", dissolvendo os comportamentos inocentes que os energizam.Evitamos que um defeito altamente prejudicial e perigoso se carregue com energia quando dissolvemos os atos inocentes e inócuos que lhe abrem caminho. É sobre tais atos que a auto-observação deve se dar rigorosamente.Tudo aquilo que fazemos, pensamos e sentimos deve ser vigiado rigorosamente. Entendo que nos comportamentos inócuos está a chave. Comportamentos inócuos podem consistir em canais de reforço energético que fortificam comportamentos perigosos e indesejáveis. E tais canais são insuspeitados, motivo pelo qual os V.M.s os qualificam acertadamente como "sutis". Por isso dizem que "o mal se refina". Os comportamentos inócuos, isto é, aparentemente inocentes, devem ser alvo de um escrutínio rigorosamente sincero que nos permita descobrir se os mesmos fortificam comportamentos perigosos. Por "comportamento", estou me referindo à manifestação do ego em todos os cinco centros, pois quem não o observa em todos os cinco centro não descobre nada ou descobre muito pouco.Dissolvendo os comportamentos inócuos condutores de reforço, rompemos a cadeia de manifestações que vai abrindo passagem para a invasão dos defeitos perigosos.Um exemplo específico ajudaria muito aqui. O desejo violento de um homem por uma mulher (ou por todas as mulheres bonitas que lhe passem na frente!) possui um núcleo, constituido pelo desejo de fornicar propriamente dito, e algo que poderíamos comparar a uma "periferia", constituída por múltiplas manifestações, aparentemente não luxuriosas ou pouco luxuriosas, que energizam o núcleo. Os psicólogos chamam a este conjunto de "complexo", por ser um amplo sistema, ou de "agregado psíquico", por constituir um agregado de energias. Embora pareçam não causar prejuízo algum, as manifestações não luxuriosas estão voltadas para o núcleo e para ele conduzem suas forças, robustecendo-o cada vez mais. Debater-se contra o núcleo é uma perda de tempo porque, ao fazê-lo, deixamos de nos ocupar com a periferia, que é por onde realmente fluem as forças que o robustecem. No caso específico da luxúria, que é o nosso exemplo, do núcleo poderiam fazer parte: o desejo de copular, de beijar, de pegar nos cabelos e também tudo aquilo que a imaginação morbosa for capaz de conceber. Da periferia poderiam fazer parte: atos amistosos, elogios, gentilezas e tudo o que, aparentemente, for desprovido de sentido luxurioso, mas que se revelam voltados para a luxúria quando examinados mais de perto. A gama destes últimos comportamentos é quase infinita. O interessante é que os mesmos não opõem muita resistência ao poder da Mãe Divina, sendo rapidamente incinerados por Ela, às vezes imediatamente. Em alguns casos, entretanto, requerem um fogo mais poderoso: a petição durante o maithuna.
A morte de um defeito é, portanto, a resultante natural (e não forçada) da adoção de uma linha de trabalho correta. É por isso que se diz que morrer não é reprimir. Como posso reprimir aquilo que está morrendo? Se algo está morrendo, não se faz necessário reprimir.
Imaginemos que você, leitor, esteja agora mesmo com uma mulher para fornicar. Como as coisas chegaram até este ponto? Se você revisar os acontecimentos, verá que houve uma sequência de atos que se associaram no tempo, um após o outro, até você chegar ao deplorável ponto em que está. Se retroceder bastante, constatará que os "primeiros passos" que o conduziram a esta situação eram desprovidos de caráter delituoso ou luxurioso. Os atos, pensamentos e sentimentos vão se sucedendo e se articulando em uma corrente temporal, até culminarem no problema propriamente dito. Evitamos o problema evitando os fatos que o antecedem, cortando o mal pela raiz.

domingo, 8 de novembro de 2009

Morte do Ego - recomendações

Reagindo aos primeiros pensamentos

Na morte em marcha, corta-se a ação do defeito ao primeiro pensamento, sentimento ou ação sutil, não dando-lhe tempo de apoderar-se de nós.
Corta-se a ação do defeito pela súplica e não pelo mero "esforço para deixar de sentir o que se está sentindo", como todo mundo pensa e apregoa por aí. O defeito tem sua ação interrompida pela força atuante da Mãe Divina e não pelo emprego direto de nossa (débil) vontade no sentido de não desejar, não pensar ou não agir. O emprego da vontade nesse sentido apenas se destina ao uso dos percentuais livres de essência nos âmbitos em que se tenha livre arbítrio. Não há lógica em tentar fazer o uso do livre arbítrio (capacidade de não fazer, não pensar ou não sentir) em circunstâncias dentro das quais há condicionamento. Neste último caso, o mais sensato é empenhar-se primeiramente em adquirir a liberdade interior, para somente então fazer uso da mesma.
Aquele que tenta reprimir seus defeitos, moldando-se à força bruta, está tentando desfrutar de uma liberdade que em realidade não possui. É correto moldar-se, porém mediante a estratégia correta e não mediante esforços equivocados.
Especificamente, a vigilância sobre os pensamentos é indispensável, visto que "a mente é a guarida do desejo" (não me lembro a fonte desta citação).

Sobre "não começar"

Se realmente vigiarmos os nossos pensamentos, podemos prolongar por tempo indefinido os raros momentos de paz interior e pureza espontâneas.
Um dos segredos, na morte dos defeitos, é "não começar": não começar a pensar, não começar falar e não começar a fazer as besteiras.
Na morte do ego, um dos segredos fundamentais é esse de "não começar": não começar a pensar e não começar a fazer o que não se deve. Sempre que "começamos", não conseguimos mais nos livrar daquilo que acordamos. É mais fácil evitar dar a partida do que parar o carro a cem quilômetros por hora.
Corte todas as formas de alimentação do desejo que você quer eliminar. Toda lembrança, toda fala, todo ato, todo olhar, tudo! Morra! Que aquilo não exista mais para você!
Nos casos mais graves, você deve mesmo evitar totalmente a presença e a proximidade do objeto desejado. Isso não é fugir do enfrentamento e nem reprimir. É descobrir canais de alimentação que antes eram inconscientes, é encontrar formas inconscientes de nutrir o defeito e removê-las.
Corte absolutamente tudo e nos conte os resultados. Preste atenção nos detalhes pequenos do seu comportamento, formas disfarçadas e sutis de nutrir defeitos.

Ver e não teorizar

Olhemos para nós mesmos e não pensemos sobre nós mesmos. Se não enxergarmos nada, que não preenchamos a lacuna cognitiva com elocubrações e teorizações a respeito do ego.
Observar as emoções é tentar enxergar seus conteúdos e não racionalizar ou teorizar sobre os mesmos. As conclusões devem advir a posteriori.

Evitar ginásios insuportáveis

Convém evitar o contato com ginásios que não suportamos. Há graus e graus de dificuldade nos distintos ginásios. Ginásios que não suportamos atualmente devem ser encarados somente no futuro, quando estivermos preparados. Portanto: evitemos ginásios extremos.
Não procuremos ginásios difíceis: deixemos que as hierarquias e as partes internas nos guiem para eles.

Não enveredar pelos caminhos do erro

Fracassamos porque enveredamos diariamente pelos caminhos propostos pelos egos (pensamentos e imaginação mecânica). E enveredamos por tais caminhos porque subestimamos os perigos psíquicos. Acreditamos que pequenos erros não fazem mal.

Intenções por trás dos atos

Todo grande defeito se alimenta por comportamentos que parecem ser inocentes e aparentam não ter nenhuma relação com ele. Atos aparentemente desprovidos de qualquer caráter delituoso podem se revelar como meio de nutrição de defeitos quando suas intenções são melhor investigadas.
Um mesmo ato poderá estar ou não alimentando um defeito, tudo dependerá da intenção oculta com que é realizado. Os atos que reforçam os egos são os atos facilitadores de sua satisfação. Qualquer ato que facilite a realização das metas de um ego o estará fortificando, ainda que de forma não intencional. O trabalho consiste em encontrar esses atos facilitadores (os "detalhes" do V.M.R.) e eliminá-los, não com o esforço repressor, mas sim com a força da Mãe Divina.
Os defeitos se fortificam pela satisfação. Quanto mais satisfeitos, mais fortes se tornam e mais nos tiranizam. Qualquer ato, por mais "bobo" que seja, pode estar facilitando ou conduzindo à satisfação de um defeito e precisa ser dissolvido enquanto vai sendo observado.
A pessoa que passa a remover os detalhes pode ter a sensação de que está "fugindo" ou "evitando se confrontar" com os defeitos. Tal idéia é equivocada e tem sua origem nos mecanismos repressores da cultura, os quais nos levam a tentar nos opor aos desejos (enfrentar "em bruto", como diria o V.M.R.). Na verdade, a pessoa que se ocupa em descobrir e remover os detalhes está conhecendo o defeito grande pouco a pouco, já que tais detalhes são as múltiplas facetas do ego que alimentam.

Identificando sutis manifestações do Ego

Ações insuspeitadas podem estar alimentando defeitos, daí a necessidade de observarmos o que fazemos.
A vigilância rigorosa sobre os atos permite-nos descobrir se os mesmos estão alimentando algum elemento psíquico indesejável.
Cada ato que tenhamos pode ou não conduzir ao reforço de um agregado psíquico. Temos que tomar consciência dos atos que reforçam defeitos. Os vários atos relacionados a um defeito são as múltiplas facetas deste mesmo defeito.
Discernimos se um ato é ou não faceta de um defeito pelas metas, intenções, emoções e pensamentos que o acompanham. Para onde aquele ato aponta? Quais são os seus resultados? Se os resultados de um ato forem a satisfação de um ego, podemos concluir que o mesmo é um de seus detalhes. Além disso, as emoções e pensamentos que acompanham um ato também podem denunciar seu caráter egóico.
Durante o dia, temos milhares de pequenos atos inconscientes que nutrem defeitos dos quais temos consciência de que existem. De modo que não basta ter consciência da existência de um defeito: temos que tomar consciência dos múltiplos atos que o reforçam, de seus múltiplos detalhes ou facetas.
Trabalhar com os detalhes é trabalhar com as causas, no nível tridimensional, da manifestação dos defeitos. No nível físico, um defeito leva à manifestação de outros, em uma sequência cujo encadeamento necessita ser conscientemente percebido.
A auto-observação, ao realizar sobre todos os cinco centros, e não apenas sobre um ou outro, permite-nos vigiar nossos atos e descobrir emoções, pensamentos e reações instintivas que os acompanham. Permite-nos ainda descobrir como reagimos perante as circunstâncias em todos os cinco centros.

Outras recomendações:

Contemplar-se, vigiar.
Reagir com oração (e não com tentativas de sufocar os desejos).
Refinar a observação ao extremo.
Buscar o pequeno, o sutil. Ser detalhista.
Orar todas as vezes que as sutis manifestações voltem.
Não permitir que as manifestações cresçam. Não deixar que se alimentem e nem que tomem força. Impedí-las de se arraigarem em nossa personalidade. Cortá-las tão logo comecem, assim que principiem a brotar.
Evitar que role a primeira pedra, para que não ocorram avalanches.
Não dar asas aos pensamentos e nem à imaginação mecânica.

Reprimir não é eliminar e é desnecessário

Quando se trabalha com a oração e a dissociação (não-identificação), a repressão dos desejos se torna desnecessária porque a Mâe Divina corta a ação dos defeitos, sem necessidade de que o reprimamos. Reprimir é, portanto, um sintoma de que a prática da morte não está correta. Se você necessita se reprimir e resistir aos seus desejos, isso indica que sua prática de Morte está errada e necessita ser corrigida.

Quando o V.M.S. e o V.M.R. usam as expressões "combater os defeitos", "estar em alerta contra si mesmo", "disciplinar-se", "não alimentar os defeitos", "matar o desejo e a sombra do desejo" etc. não estão se referindo a nenhuma forma de repressão e sim ao trabalho de não nos identificarmos e de apelar ao poder da Mãe Divina. Os V.M.s jamais ensinaram que o estudante deveria resistir aos desejos e sim que deveriam enfraquecê-los e matá-los por meio do poder da Mãe Divina. A tarefa de enfraquecer e matar não é nossa, pertence à Mãe Divina. Fazer esforços para "não sentir o que se sente" é tentar usurpar a função dEla. Suspeito que os gnósticos entenderam a morte do ego de forma errônea neste pormenor.

Quando deixamos de nos reprimir e observamos a nós mesmos (em nossos centros) como a um sujeito estranho, os egos começam a ser percebidos aos montes. E se pedimos à Mãe Divina, mantendo a recordação de nós mesmos e evitando a identificação com esses defeitos, vemos que rapidamente eles perdem força como por um passe de mágica, sem que necessitemos fazer mais nada. Nenhum esforço para reprimí-los é necessário pois a Mãe toma a dianteira e os mata. Os defeitos gradualmente perdem força, se enfraquecem por si mesmos sob a atuação dEla.

Embora necessários para quem não conhece a dissolução do Ego, os mecanismos repressivos atrapalham a prática da Morte.

Entendamos que o Ego a ser morto e´a nossa própria pessoa, com tudo o que nos é querido. Esta pessoa , que nos é tão cara, é múltipla e se manifesta através dos cinco centros da máquina. A transformação virá quando observarmos esta pessoa em ação, admitindo e aceitando aquilo que resistimos em admitir. Ex. um homem pode resistir teimosamente em admitir para si mesmo que possui medo de algo por ser o medo uma característica feminina e, portanto, algo vergonhoso. Quando for assaltado pelo medo, tal homem tentará sufocá-lo dentro de si, tentará resistir ao sentimento invasivo e sofrerá. Mas, se tiver coragem de admitir este sentimento indesejável, poderá imediatamente observá-lo sem identificar-se e pedir por sua morte. O resultado será um alívio que se aprofundará se ele insistir nessa prática. Uma parte dele mesmo terá sido morta, isto é, transformada pois a morte é a transformação.

Aquele que reprime seus defeitos não crê que sua Mãe Divina os está desintegrando. Se peço e tenho fé, não tenho necessidade de recalcar nada. Ao contrário: removo minhas resistências ao desejo e observo seu progressivo enfraquecimento e diminuição á medida em que suplico por sua morte.

Remover a resistência ao desejo não é o mesmo que identificar-se. Remover a resistência é tão somente não opor ao desejo um contra-desejo (o desejo de não desejar).

Aquele que remove a resistência e, ao mesmo tempo, não se identifica, protege-se da obsessão. Aquele que remove a resistência e se identifica, torna-se incapaz de livrar-se do desejo. Observar, não se identificar e orar são peças fundamentais na Morte do Ego.

A identificação fortifica o defeito, escravizando-nos mais e mais.

Os mecanismos de repressão consistem em se fazer um esforço de vontade para não desejar quando se está desejando. É uma tentativa de não sentir o que se está sentindo. Indica desconfiança em relação ao poder da Mãe Divina. Aqueles que reprimem sentimentos e desejos costumam sentir um aperto ou sensação de mal estar no peito. Impulsos reprimidos geram doenças, pois os egos recalcados não desistem de buscar suas passagens para manifestação.

Os mecanismos de repressão foram desenvolvidos por nossa cultura ocidental como forma de conter os efeitos destrutivos dos desejos que conflitam com os valores morais e regras de conduta. Entretanto, tais valores e regras também são outras formas de desejo. Os mecanismos de repressão são forjados por eus bons. São úteis para quem não trabalha na Morte e prejudiciais para quem a realiza, por não permitirem a observação dos defeitos em ação.

Se não permito a manifestação de um defeito, como irei observar sua manifestação? E se não observo sua manifestação, como irei compreendê-lo?

É correto cortar a ação de um ego mediante a não-identificação e à oração. É incorreto tentar cortar-lhe a ação mediante um esforço de resistência ou simples tentativa de "não sentir nada". Temos que diferenciar ambas as coisas. Resistir aos defeitos foi o que sempre fizemos até hoje, sem resultado algum para a Morte. Temos que ir além da resistência inútil. Pedir, observar, orar e romper com a identificação não são o mesmo que resistir e não exigem nenhum tipo de recalque.

Importante: temos que refinar a observação e cortar a ação dos defeitos muito antes que aumentem sua ação sobre nós e nos obsessionem, temos que nos antecipar às obsessões, observando-nos de instante à instante.

Esclarecimento adicional

Como deve ter ficado claro, por "reprimir" devemos entender: sufocar, bloquear, simplesmente tentar não sentir, "forçar a barra" contra as próprias emoções. O desbloqueio à repressão a que nos referimos é o desbloqueio emocional. O bloqueio a ser removido é o bloqueio das emoções e não a relutância em cometer atos. É importante que isso fique claro. Evitar reprimir não é satisfazer o desejo, pois isso nos escraviza ainda mais, é somente remover o bloqueio das emoções, para que possams vê-las com mais clareza.

Este ponto tem gerado muita confusão entre os estudantes do gnosticismo. Entendo que o auto-controle por meio da vontade somente pode e deve ser exercido nos campos em que já se conquistou o livre arbitrio, sendo uma perda total de tempo tentar exercê-lo nos campos em que ainda não se o conquistou. Neste último caso, o poder da vontade deve ser empregado de outra maneira.

Deixemos as tarefas do enfraquecimento progressivo e da morte dos defeitos com a Mâe Divina e nos ocupemos unicamente com a observação e súplica. O defeito não morre por nosso próprio esforço, mas pela atuação de um poder superior a nós. Nos limitemos a cumprir bem nossa parte: observar, encontrar, compreender, pedir com fé, sem dúvida. Deixemos para a Mãe o esforço para deter os "eus".

A verdadeira morte do Ego não é o aumento dos conflitos internos, mas sim sua diminuição. Morrer não é agredir a si mesmo, nem violentar as próprias emoções e nem entrar em conflito com os desejos.

Reprimir é bloquear, não reprimir é desbloquear. O desbloqueio não deve servir de desculpa para nos identificarmos e nem para satisfazer e alimentar os desejos.

Não reprimir significa simplesmente desbloquear as emoções para observá-las, não significa satisfazer os desejos, nem fazer o que dá vontade, sem freios.

Deixe a força avassaladora do instinto em seu curso, não se ocupe com ela, não tente revertê-la. Ocupe-se com a tarefa de retirar-lhe o alimento.
Você deseja algo proibido e moralmente reprovável? Não se ocupe com esse desejo em si, deixe-o de lado e se ocupe com seus detalhes ou facetas. Observe as formas sutis de manifestação desse desejo, as coisas pequenas que você faz, pensa, sente e que dão força ao defeito em questão. Não reprima as manifestações sutis, observe-as, descubra-as e ore pela eliminação. Ao mesmo tempo, mantenha-os separados de si mesmo e não se identifique. Delegue o trabalho da morte dos elementos descobertos a uma força maior.

Esforço correto que evita um erro

Nós, gnósticos, cometemos um erro: tentar atrelar o ensinamento sobre a morte do ego às idéias preconcebidas que nos foram inculcadas pela educação religiosa na infância, particularmente no que se refere a "tentar não sentir" o que se sente. Diante dos impulsos violentos dos egos, nos acostumamos a fazer esforços para "tentar não sentir" o desejo.
A educação religiosa teve sua utilidade em seu tempo, porém, quando adentramos a um ensinamento revolucionário, a mesma passa a ser um estorvo, como um barco após atravessarmos o rio: não faz sentido continuarmos presos ao barco após realizarmos a travessia.
A principal consequência negativa dos inúteis e equivocados esforços para "não sentir" o que se sente são as neuroses e desvios comportamentais. Uma vez represada, a libido não transmutada (não transformada) não deixará de existir, forçará passagem por outros caminhos originando doenças físicas e psíquicas.
Não é muito fácil clarificar o que pretendo aqui. Estou afirmando que o ato de reprimir os desejos é tão prejudicial quanto o ato de dar-lhe livre curso. Quando nos entregamos ao desenfreio hedonista, os desejos se fortificam e aumentam progressivamente seu poder sobre nós. Por outro lado, quando os reprimimos, eles forçam passagem, geram problemas emocionais ou, subitamente, nos fazem "descontar o tempo perdido". Precisamos então de outro caminho, outra estratégia, outra linha de ação.
O emprego equivocado da vontade (esforço incorreto), resultará em fracasso. Na morte do ego, temos que aplicar a disciplina, a vontade, a determinação, o rigor e o superesforço da forma correta. Basicamente, temos que aplicá-los da seguinte maneira: 1) para evitar a identificação com os defeitos; 2) para nos observarmos com o maior detalhamento e sinceridade possíveis e 3) para orar, pedindo a Morte à Mãe Divina.
Aquele que reprime os defeitos, tentando "não sentir" o que sente, sufocando os seus sentimentos, demonstra com tal atitude que não confia no poder da Mãe Divina para a desintegração. As intenções podem ser boas, mas os efeitos são desastrosos. Está correto tentar cortar a ação do defeito taõ logo o detectamos, mas tal interrupção é feita pela atuação da Mãe Divina dentro de nós e não por um simples esforço de vontade. Entendo que tentar barrar a ação dos defeitos por meio da vontade, e não por meio da oração, é um esforço equivocado, ainda que bem intencionado. Logo, necessitamos corrigir este equívoco.
O erro não está em tentar cortar a ação do defeito tão logo a percebemos. Está em tentar fazê-lo de uma forma errônea: reprimindo. Substituamos a repressão pela oração e observemos os resultados.
Reprimir um defeito é tentar sufocá-lo, é fazer um esforço para não sentir ou para não desejar, é opor a um desejo o desejo de não desejar. Por trás dos mecanismos de repressão estão egos. Ex. um ego pode desejar não ter luxúria ou livrar-se da fornicação por medo de suas consequências físicas e espirituais.
A verdadeira morte é outra coisa, não é uma simples sufocação de desejos. É uma transformação real das forças que fluem interiormente, uma transmutação dos defeitos em virtudes, dos desejos em liberdade (livre-arbítrio interior).
Separar-se (não identificar-se), observar e orar são três elementos fundamentais para a Morte.
Obviamente, a aplicação desses três elementos que acabo de apontar não deve tardar. A auto-observação deve ser minuciosa, detalhista, em busca de manifestações sutis. À primeira manifestação detectada, temos que orar por sua eliminação e aguardar. Não há porque sermos negligentes e relapsos. O relapso não corta a ação dos defeitos mediante a oração e permite que intensifiquem o poder sobre sua personalidade. Quanto antes cortarmos a ação de um ego, melhor. Porém, temos que fazê-lo mediante a oração e não mediante o esforço repressivo.
Aquele que confia no sagrado poder destruidor da Mãe Divina, ora e aguarda confiante, enquanto contempla sua divina ação dissolucionante sobre o elemento indesejável. Desenvolverá a fé por experiência direta e a dúvida terá cada vez menos espaço dentro de si.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Samael e Rabolu: aprofundamentos

1. Sobre os Jinas

Não são necessários muitos pré-requisitos para se sair em jinas:

“Segui experimentando por mi cuenta, y descobri que para transportarse uno con cuerpo fisico en estado de Jinas, sólo se necessita una mínima cantidad de sueño y mucha fé.” (Tratado de Medicina Oculta, 1952, cap. intitulado “La Maestra Litelantes – Las Fuerzas Harpocratianas – El Huevo Orfico y Los Estados de Jinas”)

Para sairmos em jinas, a mente deve estar em silêncio, quieta. O processo dos pensamentos deve ser detido, ainda que, no princípio, superficialmente. As imagens “sonhativas” (oníricas) que surgem à aproximação do sono (madorna) devem ser apartadas da mente:

Sucede que durante el estado de transición entre la vigilia y el sueño, surgen imágenes ensoñativas. El discípulo debe rechazar dichas imágenes, porque si no lo hace se quedará abstraído en ellas y se dormirá.” (Tratado de Medicina Oculta, 1952, cap. V, intitulado “Hombres y tierras de jinas”)

(...)Deseche de su imaginación toda classe de imagenes ensoñativas y mentales. (...)Concéntrese unica y exclusivamente en el processo del sueño.” (Tratado de Medicina Oculta, 1952, cap. intitulado “Salones de Magia Negra en los Cementerios)

A concentração vem, portanto, após limpar a mente de múltiplas imagens e não antes.

2. Chacras

A vocalização desperta os chacras do corpo físico e não do corpo astral:

“El cuerpo físico también tiene chacras (vórtices) que son los que despiertan con la vocalización; los del astral despiertan através del fuego.” (p.1)(V.M. Rabolú, Sobre La Enseñanza Gnóstica: Seleción de Conferências del V.M. Rabolú, tercera edición, novembro de 2008, [on line] disponível: http://MuertedelosDefectosyDesdoblamientoAstral.es.tl )

3. Outros

Uma coisa é ter experiência, que é algo definitivo por haver porções de consciência desperta, e outra coisa é ter somente a consciência de que se está desenvolvendo no mundo astral (id, p.2).

Cenas luxuriosas oníricas luxuriosas são demonstrações de como estamos fisicamente . Através de tais cenas nos fazem ver o nosso estado (ibid, p.3)

Não devemos pedir a outros mestres, mas somente ao nosso Íntimo (ibid, p. 4)

Pode-se ir à Igreja Gnóstica sem corpo astral solar, somente com o corpo de desejos como instrumento momentâneo da essência (ibid, pp. 5-6)

Conhece-se a autenticidade da experiência por meio da intuição (id, p.6)

No desdobramento astral, a concentração deve ser mais aguçada quando se sente a preguiça porque é neste momento em que se perde a consciência (ibid, p. 6)

O discernimento deve ser praticado quando vejamos coisas “raras” (estranhas?) e deve se nortear pelas seguintes dúvidas: “Por que estou aqui neste lugar?” “Por que estou vendo tal objeto raro?” (ibid, p. 10)

Agarrar-se a qualquer objeto que esteja por perto é uma efetiva maneira de evitar que emoções intensas nos tragam de volta ao corpo físico (id, p. 10-11)


Sobre os elementais ou espíritos da natureza

Inspirado em "Tratado de Medicina Oculta e Magia Prática"

As múltiplas vocações dos elementais vegetais

As plantas contém segredos para cura de doenças, defesa contra inimigos, proteção contra feitiçarias, controle do clima, interferência em fenômenos naturais e sociais etc.
Os elementais das plantas são mais poderosos do que os elementais animais por não fornicarem e podem interferir magicamente na mundo físico e alterá-lo. Cada planta expressa um poder específico da Mãe Natureza. O segredo de seu emprego pelo mago consiste em descobrir qual é a planta que pode ser utilizada para um fim específico e qual é o ritual que lhe corresponde. O conhecimento a respeito das vocações das plantas e de seus respectivos rituais constitui uma ciência hermética, totalmente distinta da ciência profana (a palavra "ciência" não é sinônimo de academicismo e implica em conhecimento sistematizado, inclusive em termos de comprovação). É um conjunto de conhecimentos de vastidão infinita, protegido pelos guardiães da humanidade desde passados antiquíssimos. O mau uso desta ciência implica em violação da Lei Divina e constitui a magia negra. A magia negra é o uso das forças mágicas para fins egoístas, ainda que sejam bons e elevados em aparência.
Para não violarmos a Grande Lei, temos que rogar ao nosso Pai Ìntimo para que atue, oficie e também para que ordene ao nosso Intercessor Elemental para que realize o ritual correspondente às plantas que formos utilizar. O Intercessor Elemental conhece todos os rituais existentes porque é uma parte de nós, nossa parte vegetal. Trata-se de uma parte do Ser que criamos no passado, quando fomos vegetais. Ele não atende ao ego, motivo pelo qual não adianta lhe ordenar ou perdir a ritualização, mas atende ao Íntimo e o obedece prontamente.
O intercessor elemental contém todo o conhecimento das plantas e, quando dissolvemos o ego, o absorvemos em nós. Então conhecemos todos os rituais e funções dos vegetais, para que servem e que doenças curam, sem necessidade de ler nenhum livro.
Para os adormecidos, as curas/adoecimento são as manifestações mais imediatamente palpáveis e visíveis das vocações dos vegetais. Quando uma planta cura ou adoece alguém que a ingeriu, o que está se passando é que seu respectivo espírito elemental está atuando na matéria física da pessoa. O elemental, uma vez dentro do corpo, promove alterações energético-físico-químico-biológicas, ou seja, atua sobre a energia e, por extensão, sobre a matéria. O efeito de um extrato de uma planta sobre um grupo de células, visto por um cientista através de um microscópio em um laboratório, não é mais que a atuação física do elemental.
Os elementais atuam do espírito para a matéria, ou seja, de dentro para fora. Quando curam o corpo físico de alguém, estão curando as causas psíquicas que originaram a doença. Toda matéria física tem um assento metafísico (interno ou psíquico), que corresponde uma forma mais sutil de matéria, comumente designada sob o termo "energia". Por tal motivo, toda doença tem uma origem psíquica, mesmo aquelas que não o aparentam.
Mas os elementais não atuam apenas quando partes das plantas são ingeridas. Eles podem atuar à distância e não somente sobre os tecidos vivos, mas também sobre a mente das pessoas e até sobre os fenômenos naturais. Podem provocar chuvas, ventos, incêndios etc. desde que se conheça suas vocações específicas e se saiba como manipulá-los.

Informações adicionais fornecidas por Dora van Gelder, discípula clarividente e enteada de Leadbeater:

Sílfides

Sílfides reagem de acordo com nossos sentimentos. Se quisermos impor-lhes algo, adotando um estado interior de exigência (como querer-ia um cético para admitir sua existência), elas não correspondem. Mas se perceber que os sentimentos motivadores são de brincadeiras inocentes, elas correspondem modelando as nuvens em várias formas. Gostam de saber que crianças se divertem com as figuras que criam no céu.

Origens das sílfides

Sílfides são salamandras e ninfas que evoluiram.

Salamandras

Salamandras evocam correntes emocionais intensas e apaixonantes, as quais são normais para elas mas podem nos prejudicar. Não são más mas são perigosas devido ao nosso estado psicológico negativo.

Como ver esses seres

Os elementais devem ser procurados além da transparência do ar, com o terceiro olho e com o canto dos olhos físicos. A luz a ser buscada é tênue e mais sutil que a luz comum.
Esses seres trabalham com fluxos energéticos, que para eles são partículas sólidas e formam estruturas palpáveis.
A matéria componente do corpo das fadas (éter) é ligeiramente mais sutil que o hidrogênio.
A visão física é complemento para se ver as fadas.
As percepções da glândula pituitária se somam às percepções dos olhos físicos e, sob um ponto de vista alterado ou foco específico, revela as formas vivas do Éter.
Aquilo que fisicamente é visto como parte da natureza, incluindo o espectro luminoso visível, torna-se parte de formas discerníveis sob a percepção de luzes sutis e sob alterações nos pontos de vista ou focos que isolam formas pelos pensamentos.
Os elementos sutis constituem estruturas orgânicas em outros níveis de matéria (leia-se Capra).

Vida em pedras

A estrutura fisico-químico de uma pedra é a parte física de sua estrutura orgânica, complementada pela parte energética.

Corpos físicos dos elementais

Salamandras, ninfas e sílfides podem ter corpos físicos vegetais ou animais.


Pensamentos: não reprimir e nem estimular

É tão errado criar conflito com os pensamentos, tentando silenciá-los à força, quanto estimulá-los.
O verdadeiro silêncio encontra-se em um estado intermediário, no qual não damos asas ao devaneio e nem tampouco tentamos forçar os pensamentos a se calarem: simplesmente os esquecemos até onde for possível por estarmos com a atenção no objeto de nossa concentração.

Vigilância mental e silêncio interior

A vigilância no centro intelectual almeja a paz e o esquecimento. Uma vez que estejamos vigiando a mente, os pensamentos que invadem adentram ao nosso campo de consciência e os vemos.

A inutilidade da atividade mental

Damos asas a tantos pensamentos porque os consideramos importantes. Quando compreendemos a inutilidade de um pensamento, por nos questionarmos sinceramente a respeito, a mente sossega espontaneamente e o pensamento nos deixa. Se um homem se questiona ("para que serve este pensamento que me assalta agora?") e busca sinceramente a resposta, compreenderá que não necessita tanto assim dos pensamentos como crê.
A esmagadora maioria dos pensamentos que nos assaltam durante o dia são inúteis e somente atrapalham. Ainda assim, os consideramos importantes, por pura ignorância. É por isso que não nos livramos da mente.

Silêncio mental na auto-observação

Na auto-observação e na morte em marcha também pratica-se o silêncio. Um único pensamento é suficiente para desencadear todo um processo de obsessão, de forma análoga ao efeito borboleta.
Mantendo o silêncio mental, nos observamos, à espera de alguma alteração no movimento, nos sentimentos, nos pensamento, na parte instintiva ou na parte sexual, que denuncie a aproximação de um eu. Em silêncio mental vigiamos os pensamentos e os demais centros. Em silêncio mental observamos o Eu. Em silêncio mental oramos e pedimos.
O observador interior (a essência) deve estar quieto enquanto contempla.

Castidade e silêncio mental

Limpar a mente constantemente é o principal meio de se alcançar a castidade.
Silêncio mental é imprescindível durante a prática da magia sexual.
Aprenda a ter e a manter ereções unicamente por excitações físicas, sem recorrer às fantasias eróticas. Se apelar à imaginação morbosa, sua fisiologia neuro-sexual ficará dependente da mesma para obter ereção e sentir excitação.

Dicas:

Não forçar o silêncio. Deixar que ele se instale. Aproveitar o pouco silêncio espontâneo que se alcançou, permitindo-o estabelecer-se.
Não conflitar com os pensamentos e nem tampouco estimulá-los.
Tentar aquietar os pensamentos com violência é dar-lhes importância.

Aprendizagem gradativa da vigilância

O fato de não conseguirmos vigiar todos os centros de uma só vez não significa que estejamos fracassando na prática da auto-observação pois aprendemos a realizá-la aos poucos.
Os principiantes iniciam vigiando um ou outro centro separadamente (preferencialmente o intelectual, por uma questão estratégica) e aos poucos sua consciência se aprimora e amadurece, aprendendo a vigiar mais de um centro ao mesmo tempo.
Aprendemos primeiro a vigilância no centro intelectual (vide "A Necessidade de Mudar a nossa Forma de Pensar"). Após tê-la exercitado bem, podemos começar a vigiar o centro emocional e depois os outros. A meta é ser capaz de vigiar todos os cinco centros.
Não se trata de dividir a atenção consciente, mas de por a atenção em si mesmo tendo as alterações que ocorrem nos centros como parâmetro.

Um erro comum: pedir sem nada perceber

Suplicar pela morte dos defeitos aleatoriamente é um erro. A morte não é um processo mecânico mas sim consciente. A vigilância dos centros é consciente e a súplica se sucede à constatação indubitável da presença de algum elemento indesejável. Não é um ato mecânico, repetitivo, que se efetua em intervalos regulares de tempos.
Pedir por pedir, aleatoriamente, sem que nada tenha se manifestado em nenhum centro é mecanizar a prática e inutilizá-la.
O Ego tende a mecanizar tudo, até a prática da auto-observação.

Vigiando o que vem antes

Se você não resistiu a um desejo e cometeu um ato que não gostaria de ter cometido (por ex. ejaculou seu precioso sêmen, seja fornicando ou se masturbando) isso ocorreu por você não ter matado o defeito correspondente bem antes que se tornasse um desejo obsessivo. Você alimentou o defeito, sem o perceber, com atos e pensamentos sutis, desprovidos de qualquer traço delituoso aparente.

Se fizer uma retrospectiva, poderá comprovar que muito antes de sentir o desejo propriamente dito, muitos pensamentos e ações inocente, porém de alguma forma relacionadas ao defeito em questão, te acometeram. Se você lhes aplicasse a morte em marcha nas primeiras fases de manifestação, a situação não teria evoluído na direção em que se desenvolveu.

É muito mais fácil eliminar um pensamento/ato inocente do que eliminar um ato fortemente motivado por desejo. Por tal razão a morte em marcha deve ser aplicada a todo momento, em qualquer traço psicológico que de algum modo alimente algum defeito. Agir assim é atingir o Ego em pontos estratégicos, ferindo-o de morte. Não queira medir forças com a legião, combatendo-a "em bruto", como diz o V.M.R. Se Davi houvesse tentado medir forças contra Golias, teria sido esmagado. Atinja a "têmpora" do Ego, seu ponto fraco e vital: os sutis canais de alimentação.

Muito antes de um desejo poderoso nos invadir, inocentes e sutis traços comportamentais, principalmente pensamentos, o alimentaram. Vigie-os, portanto. Eles são os detalhes do qual nos fala o V.M.R.

Quando, por descuido, já estamos identificados (invadidos ou obsessionados), temos que descobrir qual foi o detalhe que abriu as portas para tal estado:

"P - Porém, se a gente se identifica, por exemplo, deu-nos ira e nos identificamos, qualquer coisa...

V.M. - Temos que olhar o detalhe. Por que foi que lhe deu ira? No momento em que você sentiu esse impulso, aí mesmo deve apelar à Mãe Divina. Aí se corta a ação. Não se chega aos extremos." (V.M. Rabolú, p.140)

Se, em um dado momento, nos encontramos completamento perdidos de nós mesmos, identificados e dominados por um ego, é porque, momentos antes, permitimos que algum detalhe sutil se apoderasse de nossa máquina. O detalhe, ao invadir-nos, abriu as portas para outros egos mais poderosos, culminando na identificação plena com um defeito prejudicial.

Por regra, o ideal é antecipar-se, por meio da morte dos detalhes, a tais obsessões, o que consegue mediante uma observação rigorosa que capte o princípio das manifestações:

" P - Porém, existem eus muito fortes, por exemplo, o da ira, que nos podem sacudir.

V.M. - É que, olhe, a ira, vamos a um exemplo. Eu digo uma palavra ferina que incomodou a você. Tem um princípio. Foi por uma frase minha, ou uma ação minha que você se desgostou. Se você está alerta em si mesmo, quando você sente este desgosto, apele duma vez à Mãe Divina aí. Então não há nenhum problema.

P - O problema é não fazê-lo?

V.M. - Não fazê-lo, é claro. Se nesses momentos em que disse essa frase ou fui e fiz algo que não agradou a você, que se vê a ira, aí mesmo apelar à Mãe Divina, instantaneamente, já. Evita-se o problema com os demais, e tudo, e vai morrendo.

P - Para isso necessita-se estar sempre alerta.

V.M. - É que para poder trabalhar com estes detalhes, tem que se estar alerta em si mesmo, a nós não fica tempo de estar olhando o que o outro está fazendo. Se estamos aqui nesta reunião, como pode haver milhares numa reunião destas, nós não nos devemos identificar com as pessoas, senão sempre estar pondo cuidado em si mesmo, para ver que agregado está se manifestando nesses momentos. Não se descuidar de si; do contrário, perde-se o tempo.” (V.M. Rabolú, p. 147)

O princípio de cada manifestação egóica não será captado se não estivermos em alerta rigoroso, porém espontâneo. Nosso erro comum consiste em deixar que tais manifestações passem sem nada fazermos. Ao invés de agirmos logo de início, permitimos que as mesmas colham energia, se fortifiquem e nos dominem. É assim que nos tornamos escravos dos egos. A chave está no princípio das manifestações, no pequeno e insignificante começo. Temos que “bater” nos egos assim que eles comecem a brotar. A passividade resulta em posterior impotência.

Note-se que, em momento algum, o V.M. recomenda que se tente recalcar ou reprimir os detalhes. Ao contrário, a recomendação é que se o observe rigorosamente e se ore à primeira aproximação. Obviamente, observar e orar diferem de observar e reprimir.

Esse trabalho vale para todos os centros e não somente para um dos centros.

Referência:

V.M. Rabolú. A Águia Rebelde. São Paulo: Movimento Gnóstico Cristão Universal do Brasil na Nova Ordem, 1995.

A Morte em Marcha em outros autores

O V.M. Samael diz em várias passagens dos livros que devemos nos observar e morrer de instante a instante, a cada momento e a cada detalhe. Eis a Morte em Marcha.

Ao ensinar que os súcubus e íncubus e outras larvas e elementários somente podem ser arrojados mediante a oração e a manutenção de um pensamento puro, Paracelso está ensinando a Morte em Marcha.

Blavatsky afirma que o discípulo não deve permitir que nem sequer a sombra dos desejos se aproximem dele, o que não é outra coisa senão a mesma Morte em Marcha.
Em "A Doutrina Secreta", podemos ler:

"Não creias que a luxúria possa ser aniquilada se satisfeita ou saciada, pois isso é uma abominação inspirada por Mâra. É nutrindo o vício que ele cresce e se robustece, tal como a lagarta engorda no coração da flor." (versículo 76)

Em outras palavras, não devemos alimentar os defeitos.

Jesus ensinou os discípulos a vigiarem e orarem sem cessar, para que não entrassem em tentação. Vigiar é observar-se e orar é suplicar. Trata-se, igualmente, da Morte em Marcha.

Em um manuscrito original dos essênios exposto em São Paulo, certa vez eu li:

"Não permita Deus que Satã se apodere da minha mente".

É claro que o manuscrito se referia à Morte em Marcha.

A Morte em Marcha não é uma invencionice caprichosa do V.M. Rabolú. É uma técnica milenar usada para manter a mente limpa (e também os demais centros da máquina) a todo instante. O conceito e a nomenclatura podem ser novos, mas o conteúdo não. A morte do ego sempre veio por este caminho e não por outro.

Na Bíblia, a Morte em Marcha está claramente representada pela luta de Davi contra Golias. Davi representa a essência e Golias representa o Ego. Não podemos enfrentar Golias diretamente, "em bruto", como supõem muitos. Por ser muito mais poderoso, qualquer confronto direto nos levará à derrota. Temos que atingir Golias em seu ponto fraco: os inocentes canais de alimentação. Davi acertou o gigante na têmpora, isto é, no ponto vulnerável, e o gigante caiu de uma vez.

Assim é também com os defeitos. Imagine um defeito ou desejo poderíssimo, um ego que realmente te domina e te arrasta, contra o qual você é impotente e não pode resistir. Pois bem, você não pode resistir-lhe, porque ele é muito mais poderoso. Então acerte-o no ponto fraco. O Golias se fortifica a todo momento, sem que você perceba. Você lhe dá vida e não se dá conta. Atitudes simples, que parecem totalmente inocentes e desprovidas de maldade, levam nutrição ao gigante e o mantém vivo. Dissolva tais atitudes mediante a vigilância e a oração, ao invés de reprimí-las. Faça como Davi: não espere que o gigante te agarre, não deixe que o desejo invada sua mente. Antecipe-se ao desejo, dissolva seus detalhes antes que ele chegue e tome conta de tudo. Seja o primeiro a golpear, ataque primeiro, antes que o Gigante te pegue. Aprenda, como ensinou Blavatsky, a perceber a aproximação da sombra, muito antes da chegada do monstro hediondo que a origina. Não permita que as sombras te engulam, reaja muito antes. Perceba os primeiros traços de aproximação minutos ou até mesmo horas antes do Golias chegar e destruir tudo. Mantenha-se longe do monstro e o acerte nas têmporas quantas vezes forem necessárias.

Os indícios de aproximação são os pequenos detalhes. Reprimí-los é perder o tempo: melhor é orar pela eliminação e aguardar, observando os mesmos perderem força. Se resistir aos desejos fosse um meio verdadeiro de eliminação, todas as pessoas seriam liberadas, já que é somente isso que todo mundo aprende a fazer desde que nasce.

A situação dos ascetas religiosos e espiritualistas é dolorosa. Lutam bravamente contra os desejos sem nenhum resultado e alguns chegam mesmo a piorar com o tempo, até a degeneração total. Isso mostra que suas técnicas de ascese não funcionam. Se mudassem e aplicassem Morte em Marcha, ao invés das inúteis tentativas de resistir aos desejos e de controlá-los, conseguiriam os resultdos que tanto almejam. Mas para tanto seria necessário mudar a estratégia, renúnciar ao controle e à denúncia, sem entregar-se ao desenfreio. Orar e confiar que a Mãe Divina irá atuar.

Se um homem necessita resistir a um desejo, isso indica que o desejo é muito poderoso. Ora, se é poderoso, é porque não está enfraquecido, não está ferido. É absurdo supor que alguém que esteja realmente dissolvendo um defeito necessite resistir-lhe. Se a Mãe Divina está dissolvendo o desejo, porque haveria necessidade de resistir? Que necessidade há de estabelecer diques ou barreiras contra um inimigo que está sendo morto? É algo absurdo e ilógico.

Generalizações indevidas dos velhacos do intelecto

Acreditam os velhacos do intelecto que toda concepção religiosa se fundamenta em crenças, carecendo de experimentação e de comprovação. Esta idéia perpassa todos os seus discursos, é um pressuposto constante.
Quando muito, tentam explicar a experiência espiritual em termos químicos, biológicos e psiquiátricos, reduzindo-a, como se isso resolvesse o problema o problema lógico que evocam. O verdadeiro teor dessas experiências não lhes interessa e eles preferem iludir-se com suas explicações superficiais, visto que as mesmas se encaixam perfeitamente em seus entendimentos deficientes.
É comum que generalizem a partir das concepções católico-protestantes, considerando que todas as experiências místicas sejam semelhantes. E evitam a todo custo se debruçar sobre este ponto.
A idéia de "alucinação" é uma ferramenta que lhes é muito útil nesses casos, visto que serve para acobertar problemas lógicos que, de outra forma, teriam que ser encarados.
Em suma, para reforçar a crença de que toda experiência espiritual é falsa e carece de fundamentos comprobatórios, os velhacos evocam a idéia de que as mesmas são meras fantasias criadas pela mente, nas quais o experienciante passa a acreditar. É claro que não assume isso, mas tal pressuposto é visível para qualquer um que analise com cuidado seus discursos. Para defender a tese de que toda experiência mística é um conjunto de crenças, eles se valem da idéia de "alucinação".

O discernimento intuitivo de que se está em astral

Nos primeiros momentos em que discernimos que estamos em astral, podemos ainda ser assaltados por dúvidas a respeito deste mesmo fato. A materialidade do mundo astral pode nos fazer duvidar de sua astralidade, ou seja, podemos duvidar do fato de que estamos em astral porque vemos à nossa frente um mundo material como o mundo físico. Trata-se de um ceticismo prejudicial.
A certeza de estarmos em um mundo paralelo, extra-físico, não nos advém somente por associações intelectuais, embora o raciocínio nesse mundo possa ser perfeitamente articulado, mas também por uma via intuitiva.
O discernimento intuitivo me parece ser muito facilitado após a constatação de que o mundo astral é um mundo não-físico, porém real e material.

Cobiçar virtudes

Cobiçar virtudes é uma ínútil perda de tempo, além de provocar neuroses.
Quanto mais alguém cobiça uma virtude, mais se afasta da mesma por um mecanismo de represamento da libido (desejo) contrária. A verdadeira virtude está além da dualidade.
O ego que cobiça uma virtude está por trás da recalque de egos contrários. Cobiçar virtudes é um defeito.
Os egos possuem antípodas (egos contrários) que cobiçam seu extermínio por motivos egoístas: controle total da máquina. O ego pode inclusive realizar (mecanicamente) a auto-observação e até pedir pela morte.
Os estudantes gnósticos que se viciam em cobiçar desesperadamente a castidade se tornam adúlteros, masturbadores e fornicários. Tal cobiça deturpa a prática da morte, enganando aquele que intenciona praticá-la. Então o ato de recalcar (reprimir) os desejos substitui a prática verdadeira, desviando e atrazando a pessoa em seu trabalho interior, fazendo-a perder muito tempo e até a existência inteira.

Atribuir a morte à Mãe Divina

É um erro acreditar que sozinhos podemos realizar a morte do ego. Na morte, nosso papel se limita a observar detalhadamente, estudar, compreender. Além disso, somente nos cabe pedir. Quem realiza a morte de fato é a Mãe Divina.
Em lugar de resistir ao desejo, deixemos sua dissolução com a Mãe Divina. A morte é atribuição dEla e não nossa. Apelemos ao seu poder, considernado-a como algo completamente distinto do nosso Eu e que atua de forma independente de nós mesmos, ainda que seja uma parte derivada do nosso próprio Ser.
Entendamos que a realização da morte é uma meta da Mãe Divina, que cabe a ela dissolver o ego. Deixemos a morte com Ela, a nós cabe a observação e compreensão.
O V.M. Samael diz que quando descobrimos um defeito devemos apelar à Mãe Divina sem demora, ou seja, imediatamente. Se você estiver obsessionado por um eu, separe-se dele, observe-o e peça por sua dissolução. Então você o verá enfraquecendo aos poucos. Não creia que somente através da compreensão poderá se livrar dos defeitos, das obsessões e tormentos interiores.
Concebamos a Mãe Divina como uma força atuante, totalmente distinta do ego, da mente e da personalidade, e também como algo que não é a essência, mas a chispa por trás dela. Nos relacionemos com Ela e aprendamos a amá-La.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O eixo central da luxúria

Há um eixo central na luxúria: o gozo da sensação do esperma em contato com os canais nervosos do aparelho sexual. Sobre a prazer originado de tal sensação se baseia todo e qualquer ato da fornicação.
Um fornicário é alguém que goza sentindo o sêmen fluir pelos canais nervosos de seu aparelho sexual até a ejaculação. Um luxurioso é alguém que está apegado a este prazer. O apego a tal sensação constitui o eixo central da luxúria, sendo secundárias todas as formas restantes de apego ao feminino. Se o removêssemos, a luxúria perderia todo o seu sentido. Os prazeres sensoriais proporcionados pelas formas femininas, pela delicadeza, pelo perfume, pela voz doce e pelas feições delicadas, embora sejam muito fortes, são secundários em relação ao prazer do ato ejaculatório em si.
Tornar-se casto é dissolver o eixo central da luxúria, sua manifestação ou raiz principal, e também suas manifestações secundárias. Dissolvemos o eixo central cortando os sutis canais de nutrição que lhe levam energia e o fortificam. As armas são auto-observação detalhista e oração contínua. Tanto o eixo central quanto as manifestações secundárias necessitam ser enfraquecidos até a morte.
Ao percorrer o caminho para fora do corpo, o sêmen contata canais nervosos no aparelho sexual. Este contato satura os nervos com a refinadíssima energia seminal. É esta energia que proporciona o prazer orgásmico, o qual é totalmente animal. É ela também que proporciona o prazer espiritual sentido na coluna daqueles que transmutam sua energia. Há, portanto, dois tipos de prazer: o espiritual e o animal. Um é experimentado quando a energia sobe e entra no corpo. O outro é sentido quando a energia desce e sai. O primeiro revigora e regenera o homem, o segundo o enfraquece e o degenera.
Os viciados na sexualidade animal (a maioria de nós, seres humanos) se condicionam desesperadamente à sensação da energia percorrendo o caminho animal: para baixo e para fora. Se quisermos inverter nosso funcionamento, teremos que compreender e dissolver o apego a tais sensações, incluindo todas as lembranças, imaginações etc.
Quando a energia percorre o caminho animal, proporciona prazer intenso e rápido, sentido em uma parte localizada e específica da anatomia: o órgão sexual. Este prazer se deve ao caráter divino da energia, que neste caso está sendo desperdiçada para passar por um processo involucionante que se concluirá quando a mesma for ejaculada. Ao ser ejaculada, a energia sexual sofre uma involução.
A energia sexual deve ser transmutada dentro do organismo humano e não fora dele, mas isso não será possível enquanto o homem se manter apegado aos prazeres do trajeto involucionante do sêmen. O apego ao prazer da intensa, porém breve, sensação do sêmen em contato com os nervos durante sua saída do corpo físico deve ser sacrificado sem piedade.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Repressão: um erro a ser evitado

Temos um problema filosófico difícil. Por um lado, entregar-se à satisfação dos impulsos é o mais rápido caminho para a perdição. Por outro, resistir à satisfação é o mais rápido caminho para a somatização de doenças e para a dissociação neurótica. Qual seria a solução? Uma terceira via, normalmente desconsiderada: a transformação do impulso em neutralidade. Há que se entender claramente este ponto para se evitar confusões que poderiam resultar em desvios nefastos.

Um incauto poderia concluir que defendemos a satisfação dos desejos como forma de dissolvê-los. Tal idéia nos parece absurda pois a satisfação os fortifica, ao invés de enfraquecê-los. A satisfação ocorre via identificação e afasta o defeito somente temporariamente, tornando-o ainda mais despótico em momentos seguintes.

Aquele que remove os mecanismos de repressão do ego cairá sob seu domínio, caso não lance mão imediatamente de outras armas para contê-lo de forma eficiente. Importa entender que não estamos sugerindo a entrega ao desenfreio dos desejos sob a desculpa de observá-los. Estamos propondo a substituição do mecanismo repressivo por meios realmente funcionais de transmutação do desejo em neutralidade (liberdade da alma). Os meios consistem, primeiramente, em manter-se alerta em tempo integral para não nutrir os defeitos e, secundariamente (isto é, quando falhamos na adoção do primeiro), na ruptura da identificação com o elemento obsessor. Em ambos os casos, a observação de si e a oração às partes superiores do Ser são imprescindíveis.

Propomos, portanto, a substituição da repressão por um meio muito mais eficiente para a transformação e o resultante domínio de si.

É uma perda total de tempo analisar e refletir sobre um defeito se o estamos reforçando no dia a dia. Importa, então, encontrar os caminhos insuspeitados pelos quais os reforçamos, para assim dissolvê-los. A mera recordação de um impulso compulsivo leva-lhe energia e resulta posteriormente em obsessão.

Combate-se a obsessão combatendo-se os comportamentos que a nutrem. De nada adianta debater-se uma vez que esteja instalada se logo em seguida a reforçarmos novamente. O caminho começa, portanto, pelo cuidado em não as alimentarmos (daí a auto-observação e a morte em marcha). No entanto, aqueles que estão tomados por um agregado psíquico devem também dispor de um meio que lhes permita sair de tão horrível estado. Aqui entra em ação a auto-reflexão, a qual somente será funcional se a pessoa não voltar a nutrir o defeito obsessor tão logo se veja livre dele. É desnecessário dizer que somente a Mãe Divina tem o poder de dissolver o elemento obsessor, transformando-o o em virtude. Não menciono isto todo o tempo para não ser repetitivo, mas o leitor deve considerar que estamos pressupondo o apelo à Ela todo o tempo.

Relacionar-se com a Mãe Divina é uma questão de amá-la,assim como a outras partes do Ser. O amor a Deus é fundamental para a evolução espiritual. Temos que chegar a amar a Deus mais do que ao mundo, ao corpo e a nós mesmos, somente assim nos unimos a Ele para sempre. Em nosso atual estado, amamos muito mais ao mundo, à matéria, do que ao Ser.

Aceitação

Temos que trabalhar a aceitação da realidade. Não adianta nos pressionarmos contra aquilo que somos. Ao invés disso, é melhor nos compreendermos. Há uma diferença entre compreender o ego para dissolvê-lo e tentar sufocá-lo.

Eus bons

A tentativa de sufocação dos defeitos (recalque) é realizada por eus bons que cobiçam virtudes. São esses eus que originam neuroses através da auto-cobrança, auto-pressionamento, auto-condenação, auto-depreciação e auto-exigência. Os eus bons são, portanto, extremamente perigosos e podem ocasionar doenças. Por trás da virtude aparente de tais eus podem existir objetivos egoístas. A morte deve também se efetuar sobre tais elementos daninhos.

Delegar à Mãe Divina

Deixemos a responsabilidade da morte com a Mãe Divina. Façamos a nossa parte: vigiar e orar.

Essas palavras do V.M. Samael ilustram bem a idéia deste post sobre o vício de resistir aos desejos e tentar reprimi-los:

"A resistência é a força opositora. A resistência é a arma secreta do ego.

A resistência é a força psíquica do Ego, que se opõe à que tomemos consciência de todos os nossos defeitos psicológicos.

Com a resistência, o Ego tende a sair pela tangente, postulando desculpas para calar ou tapar o erro.

Por causa da resistência, os sonhos tornam-se difíceis de interpretar e o conhecimento que se quer ter sobre si mesmo torna-se nebuloso.

A resistência atua como um mecanismo de defesa, que trata de omitir erros psicológicos desagradáveis, para que não se tenha consciência deles e se continue na escravidão psicológica.

Mas, na realidade e de verdade, tenho de declarar que existem mecanismos para vencer a resistência e são os seguintes:

1- Reconhecê-la.
2- Defini-la.
3- Compreendê-la.
4- Trabalhar sobre ela.
5- Vencê-la e desintegrá-la por meio da super-dinâmica sexual.

Mas o Ego lutará durante a análise de resistência para que não sejam descobertas suas falácias, o que põe em perigo o domínio que ele tem sobre a nossa mente.

Nos momentos de luta com o Ego, há que apelar a um poder superior à mente: o fogo da serpente Kundalini dos hindus."

(Samael Aun Weor - A Revolução da Dialética, cap. 4)

A questão da resistência ao ego é da maior importância. Muitos estudantes adquirem o vício de simplesmente resistir aos desejos ao invés de estudá-los. Tentam, por meio do simples esforço sem critério, “não sentir o desejo”. Esta é uma forma de auto-agressão, de um equivocado esforço contra si mesmo, cujos resultados são as neuroses e doenças emocionais mais graves. Esse não é o caminho da morte do ego.

Ao invés de perdermos o tempo nos auto-agredindo com esforços indevidos e com o inútil hábito de resistir aos desejos, é melhor nos separarmos dos defeitos, observá-los em ação e suplicar por sua morte à Mãe Divina.

O mecanismo da resistência ao desejo está ligado à culpa e a culpa está relacionada com o medo. Diante do temor das consequências da satisfação de um desejo avassalador que não é aceito socialmente, a pessoa imediatamente faz esforços para sufocá-lo, bloqueá-lo, pois não conhece a didática para correta para a sua morte. A pessoa que não conhece a didática da Morte está à mercê dos defeitos.

Há em qualquer um de nós (inclunido os moralistas politicamente corretos que vivem criticando o próximo ao invés de criticarem a si mesmos) egos perigosíssimos, que podem destruir completamente a nossa vida e a vida de outras pessoas. São desejos intensos que podem nos levar a cometer crimes, atos socialmente reprováveis e punidos com medidas cruéis e severas. Diante de um tal perigo, é normal que as pessoas optem pelo caminho mais curto da repressão ou recalque, aperfeiçoando sua capacidade de simplesmente resistir e sufocar as paixões e emoções.

No entanto, o hábito de resistir aos defeitos é também um defeito, corresponde a uma forma encontrada pelo ego para evitar ser alvo da análise consciente. Se prestarmos atenção, veremos que, quando resistimos a um desejo, não fazemos mais nada, não o observamos e nem tampouco pedimos. Como poderíamos observar aquilo que banimos da nossa vista? Resistir a um desejo é “empurrá-lo para dentro”, de volta ao inconsciente, retirando-o de nosso campo de visão, expulsando-o do campo da consciência.

Expulsar um desejo do campo de visão não é matá-lo. O inimigo continua vivo e ativo dentro de nós, agora por baixo de nossa zona de auto-percepção consciente, não sendo captado pela auto-observação. Se eu expulso meu inimigo do meu campo de visão, jamais poderei estudá-lo e compreendê-lo. Não se mata um defeito através de resistências. A resistência é a opção por um pólo em detrimento do outro, é a opção por um desejo, socialmente aceitável e louvável, em detrimento de outro desejo, socialmente reprovável e condenável.

Ocorre, entretanto, que o ego jamais poderá matar o ego. De nada adianta optar por um pólo (um desejo) porque o outro pólo (o desejo contrário), continuará existindo. Muitos religiosos contemporâneos, desesperados para se livrarem do pecado, optam por pela via nefasta da resistência e vemos como eles sofrem, tentando resistir aos desejos e sendo por eles atormentados durante toda a vida, chegando algumas vezes a cometerem aberrações.

Se você faz muitas “coisas feias” e tem uma grande besta escondida no armário, não perca o seu tempo se sentindo culpado por tais monstruosidades. Isso nada tem a ver com o verdadeiro arrependimento (se fosse arrependimento verdadeiro, você nunca voltaria a fazer aquilo) e é, na verdade, um mecanismo dos egos para te enganarem e continuarem existindo. Aproveite o seu tempo observando e pedindo para a Divina Mãe a morte dos milhares de detalhes. Observe os resultados, você verá que as coisas mudam. Lembre-se que o trabalho de Morte é Ela quem realiza e não você, mero mortal do lodo da terra.

A Morte é tarefa da Mãe Divina. Devemos deixar essa tarefa com Ela e não tentar usurpá-la. Nos mantenhamos em nosso posto, no posto que nos corresponde, e façamos a nossa parte.

A Mãe Divina é o apoio e a arma do estudando, do neófito. Sem Ela, nenhum progresso é possível na Morte do Ego. Aquele que quer morrer deve apoiar-se na Mãe Divina. Não apoiar-se nEla, não rogar-Lhe, é ser ingrato.

O ato de delegar a morte de um defeito à Mãe Divina é o único ato que pode substituir o vício da resistência. Tentar a morte por si só, sozinho, é começar fracassando.

Os mecanismos de resistência são defeitos que devem ter seus detalhes observados e eliminados. Devem ser tratados como quaisquer outros defeitos.

Os mecanismos de resistência são muito queridos pelas pessoas que tiveram uma educação dentro das religiões confessionais. Se não forem compreendidos e dissolvidos, a Morte não avança. As pessoas temem eliminar seus mecanismos de resistência, pois acreditam que, se o fizessem, se tornariam vulneráveis a possessões. O medo é injustificado, pois a invasão violenta de paixões apenas ocorrerá se a pessoa optar pelo pólo contrário (buscando satisfazer o desejo contido) e não é, de modo algum, isso o que estamos defendendo. Não defendemos a opção por nenhum dos lados: nem pelo lado da resistência e nem tampouco pelo lado contrário à resistência, que é o da satisfação do desejo ao qual se resiste. Propomos uma terceira via: renunciar à batalha de opostos, esquecer o processo de opção, e nos ocuparmos em observar receptivamente, sem emitir juízos, conceitos, condenações ou absolvições apriorísticas. Quem alimenta um desejo está tão equivocado quanto quem resiste a ele. Em ambos os casos, o ego sobrevive.

Devemos dar tempo ao tempo e não nos pressionarmos para resistir. Quem reprime não observa. Se eu reprimo alguém, como poderei observá-lo em ação?

Dialogando com a mente

As dúvidas que surgem durante a meditação

Durante a meditação, surgem dúvidas na mente, relacionadas com os mais variados assuntos. Estão ligadas a problemas cotidianos que enfrentamos, a desejos que queremos satisfazer etc. As dúvidas estimulam o raciocínio com o intuito de compreender o problema ao qual se referem e assim resolvê-las.

A tendência comum do praticante novato é identificar-se com tais dúvidas, desviando-se da concentração, ou rejeitá-las sem compreender seu conteúdo (reprimí-las) criando um conflito. Ambas as coisas estancam a prática e a fazem retroceder. Obtemos o avanço quando não rejeitamos e nem tampouco nos identificamos com as dúvidas, mas as dissecamos e compreendemos seu conteúdo.

Compreender o conteúdo de uma dúvida é descobrir o que contém, ou seja, é tomarmos consciência do que a consiste. Em que consiste esta dúvida que me assalta neste momento? A que se refere esta dúvida? O que há nela? De que se trata?

Não basta apenas auto-inquirir, temos que buscar a resposta. A resposta já existe dentro de nós mesmos, na própria dúvida. A própria dúvida traz seu conteúdo e o expõe à nossa consciência ao se manifestar na mente. Fazer-se consciente desse conteúdo é o indicado. Não é criando um conflito que a superamos, mas sim "dissecando-a para ver o que escondem de real", como disse o V.M.Samael:

"Durante a meditação, devemos dialogar com a mente. Se alguma dúvida surge, temos de fazer a dissecação dessa dúvida. Quando uma dúvida foi devidamente estudada, quando a dissecamos, não deixa em nossa memória rastro algum, desaparece. Mas quando uma dúvida persiste, quando pretendemos combatê-la incessantemente, forma-se o conflito. Toda dúvida é um obstáculo para a meditação. Mas não será rejeitando as dúvidas que iremos eliminá-las. Ao contrário, é fazendo a sua dissecação para ver o que é que escondem de real." (V.M. Samael Aun Weor, A Revolução da Dialética, cap. 16)


Não avançamos na viagem da meditação se não transcendermos as dúvidas:

"Qualquer dúvida que persiste na mente converte-se numa trava para a meditação." (idem)

À medida em que as dúvidas vão sendo ultrapassadas, a prática vai se aprofundando. Uma dúvida é transformada "em pó" quando é compreendida, mas resiste fortemente quando é simplesmente rejeitada sem compreensão:

"Temos que analisá-la, esquadrinhá-la, reduzi-la a pó... Não será combatendo-a, mas sim abrindo-a com o bisturi da autocrítica, fazendo uma rigorosa e implacável dissecação, que iremos descobrir o que havia nela de importante, o que havia nela de real e o que havia de irreal. Assim, as dúvidas, às vezes, servem para esclarecer conceitos. Quando alguém elimina uma dúvida mediante uma análise rigorosa, quando a disseca, descobre alguma verdade. De tal verdade vem algo mais profundo, mais sabedoria, mais experiência." (ibidem)

Analisá-la é transformá-la em objeto de escrutínio, em alvo de compreensão. Nos ocupamos com ela apenas enquanto existir, mas a largamos tão logo se aquiete por ter sido compreendida. Abrí-la com o bisturi da auto-crítica é questionar-se a respeito. Quando nos questionamos acerca do conteúdo de uma dúvida, e buscamos sinceramente a resposta ao nosso questionamento, a estamos abrindo para que revele o que há dentro. Descobrimos que traz algo de real mesclado a algo de irreal. Este trabalho cognitivo a elimina por meio da transformação. A dúvida se transforma em experiência e nos deixa em paz para prosseguir.

Auto-crítica é o auto-questionamento, a postura crítica em relação a si mesmo. Uma postura crítica é uma postura ativa, em que não se aceita passivamente idéias dadas. A auto-crítica é um bisturi porque nos permite duvidar das próprias convicções, de crenças ancestrais e de paradigmas, abrindo-os para verificar o que escondem. Aplicada às dúvidas interferentes, tem o saudável resultado de transformá-las "em pó", isto é, em nada, no vazio e no silêncio.

O diálogo com a mente

Quando a mente não se aquieta e insiste com alguns pensamentos, temos que dialogar com ela. Temos que interrogá-la sinceramente e deixar que fale. Interrogar sinceramente é perguntar tentando buscar a resposta em nós mesmos, sem evasivas ou justificativas. Trata-se de um auto-diálogo em que somos o inquiridor e a mente é tratada como o sujeito estranho a ser inquirido, embora esteja dentro de nós e seja uma parte de nós (mas não o Real Ser e sim um veículo). Quando interrogamos sinceramente a mente, a resposta para a pergunta surge do inconsciente, pois ali jazia antes do ato da interrogação. Todos temos conhecimento inconsciente, para o bem ou para o mal,e é este conhecimento que fornece a resposta.

Interrogar a mente é o indicado quando ela insiste com algum palavrório inútil. A indagação é referente ao conteúdo do pensamento insistente.

"Elabora-se a sabedoria à base da experimentação direta, na própria experimentação, à base da meditação profunda. Há vezes em que precisamos, repito, dialogar com a mente, porque muitas vezes queremos que a mente fique quieta, fique em silêncio, e ela insiste em suas tolices, em seu palavrório inútil, em continuar a luta das antíteses. É quando se faz necessário interrogar a mente: 'Muito bem, mente, mas o que é que queres? Me responda!' Se a meditação for profunda, poderá surgir em nós alguma representação. Nessa figura, nessa representação, nessa imagem, está a resposta. Temos então de dialogar com a mente e fazê-la ver a realidade das coisas, fazê-la ver que sua resposta está errada, fazê-la ver que suas preocupações são inúteis e que os motivos pelos quais se agita também são inúteis. Por fim, a mente fica quieta e em silêncio." (ibidem)

A mente deve compreender que seu falatório é inutil. O trecho acima me recorda o que disse o V.M.Samael certa vez em uma entrevista, quando o interrogaram a respeito de como silenciar um pensamento que estivesse atrapalhando a meditação. Sua resposta foi: "Compreendendo a inutilidade deste pensamento". É exatamente o mesmo que está sendo dito agora.

Ocorre que nossa cultura mentalista nos ensinou que os pensamentos são importantes e úteis. Tal crença arraigada nos leva a dar extrema importância às bobagens que pensamos. Dos milhões de pensamentos que temos em um dia, menos de 1 por cento servem para alguma coisa. Por considerá-los importantes, os alimentamos e os mantemos ativos o tempo todo. É esta inutilidade que necessitamos compreender durante a meditação.

Quando interrogamos a mente, somos o sujeito que pergunta e somos também o elemento que fornece a resposta. Entretanto, elemento que fornece a resposta deve ser tratado como um sujeito estranho, como algo que não é o Ser: um estranho dentro de nós que, não obstante, é nós mesmos. Há, portanto, uma dissociação. A resposta não virá se não a buscarmos. Qualquer pessoa pode realizar a experiência de dialogar consigo mesma, buscando dentro de si respostas pertinentes a questões pessoais. Um pessoa dividida entre dois amores poderá se perguntar: qual das duas pessoas me agrada mais? Em seguida, ela mesma, se tiver ser perguntado sinceramente, descobrirá a resposta. A resposta já existia dentro dela e ela simplesmente tomou consciência. Entendo que é a este tipo de indagação a que se refere o V.M., porém direcionadas às dúvidas que surgem e aos pensamentos mais renitentes, que insistem e não nos deixam continuar a prática.

Quando dialogamos conosco a respeito de uma dúvida, ela normalmente nos deixa após ser compreendida. Mas há casos em que a mente insiste em pensar, por considerar tais pensamentos importantes. É a inutilidade deste processo que precisa ser compreendida para que a mente silencie. É assim que adentramos ao nosso mundo interior.

Caso ainda assim a atividade mental persista, temos que interrogar a mente ainda mais profundamente, com mais força:

"Mas se notamos que a iluminação ainda não surge, que ainda persiste em nós o estado caótico, a confusão incoerente do palavrório incessante com sua luta de opostos, temos que chamar de novo a atenção mente, interrogando-a: O que queres, mente? O que estás procurando? Por que não me deixas em paz? Há que falar claro e dialogar com a mente, como se ela fosse um sujeito estranho, já que ela não é o Ser. Temos de tratá-la como se fosse uma pessoa estranha. Temos de recriminá-la e de repreendê-la." (ibidem)

É óbvio que os pensamentos, embora inúteis, possuem suas metas. A atividade mental tem seus objetivos, equivocadamente considerados úteis e importantes. É a essas metas que se referem as perguntas do tipo: "O que queres, mente? O que estás procurando?" Quanto mais enérgica e incisiva for a pergunta em sua sinceridade, tanto mais profundamente nos chegará a resposta. A resposta não nos chega por um passivo ato de mágica, mas nos cai se nos tornamos receptivos a ela, como no mencionao exemplo da pessoa dividida entre dois amores. A própria pessoa que está meditando sabe quais são as metas (inúteis) do seu pensamento insistente, de sua mente, mas não se torna plenamente consciente delas até o momento que se auto-questiona.

Sintetizemos, então. 1) Quando os pensamentos interferem, os dissecamos pela auto-crítica; 2) Quanto mais teimosa for a insistência da mente, mais enérgica deve ser a auto-indagação; 3) A auto-indagação deve girar em torno do conteúdo das dúvidas e das intenções da mente pensante; 4) A dúvida nos deixa e a mente silencia quando compreende o caráter inútil de sua atividade.

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Quando estamos pensando, não compreendemos a inutilidade dos pensamentos. A mente pensa tanto porque crê que os múltiplos pensamentos são importantes e úteis.

Há situações em que é importante pensar de forma concentrada, quando não se possui outras faculdades superiores ao intelecto (ex. quando temos que encontrar a solução para um problema grave e urgente), mas, via de regra, o pensar disperso e desatento não nos traz vantagem alguma.

Quando tomados por pensamentos insistentes, podemos atenuá-los em grande medida se nos questionarmos com toda a sinceridade: Para que servem estes pensamentos? Quais são as suas utilidades? Em que podem me ajudar a resolver o problema que me incomoda? Se buscarmos as respostas com toda a sinceridade, chegaremos à conclusão de que os pensamentos são, não só desnecessários, mas também um estorvo prejudicial. Estas perguntas, quando dirigidas para a própria mente, terminam por convencê-la de que seus pensamentos são inúteis. O motivo básico pelo qual pensamos tanto é este: nossa mente (uma parte de nós, mas que não é o Ser e nem a Essência ou Alma) acredita que os pensamentos são importantes.

Paralelamente a tais perguntas, podemos também aplicar a dualidade: recordarmos ou pensarmos em algo que torna o pensamento em algo sem importância, alterando seu significado (ex. se estamos pensando em dinheiro para comprar um lindo carro, nos recordarmos de que iremos morrer fisicamente um dia). Assim como certas situações alteram o significado de outras, certos pensamentos também alteram o significado de outros pensamentos. Quando opomos a um pensamento um outro pensamento oposto, que o inutilize, podemos descartar ambos.

De modo que há dois procedimentos para aquietar pensamentos:

  1. questionar-se sinceramente a respeito de suas importâncias (questionar a própria mente);
  2. opor aos pensamentos outros pensamentos opostos que os anulem.