Gostamos de nos entreter prestando atenção naquilo que desejamos, detestamos, tememos ou simplesmente naquilo que nos altera ou perturba. Trata-se de um vício de má utilização dos sentidos. Temos que exercitar o controle dos sentidos. Permanecer vendo, ouvindo e percebendo aquilo que não presta é escravizar-se voluntariamente pelo mal.
Existem egos visíveis e egos ocultos. Há uma parte de nós que enxergamos e da qual temos consciência, porém há outras partes do Eu que não alcançamos enxergar e nem sequer suspeitamos que existem. Apesar de não serem percebidas conscientemente, a parte oculta do Ego está ativa, atua. O ego oculto atua na escuridão, sem ser visto, e em várias dimensões, não somente no mundo físico. Portanto, temos defeitos que atuam no mundo físico, nos centros da máquina, sem que o saibamos. São muitos os pensamentos, emoções, movimentos e ações que temos mas desconhecemos. Não percebemos a totalidade do que somos e do fazemos neste mundo e nem, muito menos, nos mundos paralelos.
Não estamos conscientes da maior parte dos nossos defeitos, mas tal inconsciência não os impede de atuar livremente, de se alimentarem e colherem energia. Estamos constantemente criando e alimentando defeitos sem nos darmos conta.
A alimentação dos egos acontece por meio da identificação (fascinação). A identificação ocorre por via sensorial e extra-sensorial. Quando contemplamos fisicamente um objeto de desejo, estamos alimentando o desejo por via sensorial. Quando contemplamos mentalmente um objeto de desejo, estamos fortificando o desejo por via extra-sensorial (a extra-sensorialidade existe de forma germinal em todos os seres humanos).
Perceber o objeto de desejo é alimentar o desejo, perceber o objeto do ódio é alimentar o ódio, perceber o objeto do medo é alimentar o medo.
Quando se tem o Ego vivo, não é possível olhar para uma linda mulher desejável sem desejá-la, não é possível olhar para o inimigo sem detestá-lo, não é possível olhar para o perigo sem sentir medo. Similarmente, não é possível pensar em tais objetos sem sentir as emoções correspondentes. Quem tenta eliminar os defeitos sem renunciar aos pensamentos que lhes correspondem, está se partindo, se despedaçando interiormente, pois fortifica o inimigo e ao mesmo tempo faz esforços para matá-lo. A pessoa, em tal caso, faz dois esforços contrários, que se anulam: esforço para matar e esforço para dar vida. A infeliz pessoa girará em círculos por tempo indefinido, a não ser que se dê conta do equívoco e se defina em uma única direção, em um único objetivo.
Por meio da auto-observação no ginásio psicológico, vamos descobrindo novas manifestações do Ego, antes desconhecidas. Cada manifestação descoberta é uma forma de alimentação, antes insuspeitada. Ao descobri-la e a eliminarmos, por meio da oração (Morte em Marcha), nos tornamos capazes de descobrir novas manifestações, ainda ocultas. Deste modo, descobrimos sucessivas manifestações dos egos e, portanto, sucessivas formas de alimentação dos mesmos. Como a manifestação se dá por meio da identificação, podemos dizer que a manifestação é a própria alimentação dos "eus". O "eus" se nutrem durante as manifestações. Descobrir uma manifestação é descobrir um canal de alimentação.
A todo momento os egos estão se nutrindo, colhendo energia de nosso corpo. Não percebemos o processo porque não nos mantemos receptivos ao mesmo. E não nos mantemos receptivos porque vivemos distraídos com os objetos do desejo.
O Ego é algo sensorial, busca as sensações. Qualquer ego se fundamenta nas sensações. O controle dos sentidos é indispensável pois os objetos exteriores provocam emoções negativas. Se me distraio percebendo os objetos evocadores das emoções inferiores, as fortifico e me torno mais e mais escravizado.
Contemplar os objetos evocadores das emoções causa um certo prazer mórbido. Isso vale para o medo, o ódio, a ira, a cobiça, a luxúria e tantos outros egos. Quando controlamos os sentidos, experimentamos um grande avanço.
O ginásio psicológico é faca de dois gumes: pode ser usado para enfraquecer os defeitos ou para fortificá-los. Quem se identifica, fortifica.
Conforme avançamos, vamos despertando consciência e nos tornando mais conscientes nos mundos parelelos. Então, praticamos a auto-observação durante os sonhos e descobrimos que também ali, nos outros mundos, temos o hábito de alimentar os defeitos. Também ali, nos envolvemos com os egos, tentamos controlá-los, nos identificamos, nos amarramos e perdemos tempo. Ao tomarmos consciência, temos a chance de superar aos poucos o problema. É assim que vamos despertando nos vários mundos.
Inconscientemente, olhamos para as mulheres, para alimentos saborosos, para pessoas antipáticas, ouvimos vozes e sons etc. Tudo isso alimenta vários defeitos sem que nos demos conta.
Quando olhamos para nós mesmos e não vemos defeito algum, isso não significa que os egos não estejam atuando ou que a Morte tenha terminado, significa somente que os defeitos estão agindo fora do alcance de nossa consciência.
A auto-observação é para descobrir o novo. Controlar os sentidos, deixar de perceber os objetos que provocam emoções negativas, não é renunciar ao novo, não é esconder-se e nem enganar-se. É resolver um problema para ocupar-se com outros problemas que virão a ser detectados, pois há outras atuações do sentidos a serem descobertas. Aí reside um equívoco, pois muitas pessoas imaginam que devem cultivar a percepção dos objetos do desejo para descobrir os egos que evocam. Na verdade, tal cultivo prende a pessoa em um círculo vicioso, no qual ela fortifica os egos ao mesmo tempo em que tenta observá-los e compreendê-los. Se não resolvemos os problemas atuais, não podemos nos ocupar com problemas futuros.
A crença de que podemos "olhar sem nos identificarmos" com os objetos que desejamos é absurda. Se desejamos e olhamos, nos identificamos, obrigatoriamente. Somente quem está realmente morto pode olhar sem identificar-se. Quem está vivo, forçosamente se identifica.
Portanto, o Morrer equivale a ir retirando de nossa vida todas formas de identificação. E retirar as identificações é descobri-las e orar pela Morte. Eliminar um "eu" é eliminar uma forma de identificação.
Muitas formas de alimentação do Ego (detalhes) se apresentam sob uma aparência inofensiva e até virtuosa. Atitudes inocentes, desprovidas de qualquer sentido delituoso, podem estar nutrindo algum defeito. Atos comuns do dia a dia podem ser canais de nutrição dos defeitos. Mediante a auto-observação sincera e criteriosa, vamos aos poucos discernindo.
Sobre contemplar o objeto de desejo mentalmente e perceptualmente
Se não devemos contemplar mentalmente o objeto de desejos, porque
desencadeia uma manifestação incontrolável do desejo correspondente, é muito
claro que não devemos também contemplá-lo fisicamente, pois o efeito será o
mesmo.
Pensar em algo é contemplar mentalmente. Pensar na imagem de uma linda
mulher nua satisfazendo nossas fantasias sexuais é o mesmo que ver uma linda
mulher fazendo o mesmo. Pensar é ver na tela da mente.
Se fico contemplando objetos de desejo, estou fortificando o desejo do
mesmo modo que se neles pensasse.
Não contemple o objeto dos desejos fisicamente e nem mentalmente. Ainda que contemplemos o objeto dos desejos com os olhos físicos, o estaremos fazendo através de alguma forma mental.
A luxúria possui inevitavelmente um caráter imaginativo ou mental e se reforça pelos pensamentos e imaginações. É pela contemplação de imagens que a luxúria colhe força e se arraiga em nossa personalidade. Sempre que contemplamos um objeto de desejo, o desejo se torna mais forte.
Quando imaginamos cenas eróticas, mulheres lindas, estamos contemplando o objeto de desejo mentalmente. Quando observamos as mesmas cenas no mundo físico, com os olhos físicos, o estamos fazendo fisicamente. Em ambos os casos, estamos fortificando a prisão da luxúria. A contemplação das imagens desejáveis, seja fisicamente ou imaginativamente, é o caminho para a escravização.
Desejar algo corresponde a uma forma de entender e de perceber aquilo que desejamos. A forma de entender corresponde a um entendimento viciado, tendencioso. Quanto mais fortificamos o entendimento vicioso, mais fortificamos o desejo em nós.
O entendimento vicioso (equivocado) é reforçado por ações em todos os demais centros (que não o intelectual). As ações e reações mínimas de cada instante estão reforçando as equivocadas formas de perceber e compreender. Como resultado, desejamos o objeto por imaginarmos e acreditarmos milhares de coisas absurdas a respeito. Quando um homem deseja uma mulher, não a enxerga de forma objetiva, tal como é, mas sim através da lente da luxúria. O prisma do desejo o cega e todas as consequências indesejáveis de um relacionamento se tornam empalidecidas, apagadas. Quando removemos a lente luxuriosa, enxergamos o ser feminino com objetividade, sem exageros favoráveis ou desfavoráveis.
O prisma do desejo é como uma lente colorida: se olhamos o mundo com uma lente vermelha ou azul, as cores dos objetos mudam. Sob a lente da luxúria, o mundo se torna repleto de erotismo e sensualidade, cada mulher passando a ser avaliada segundo seu potencial para o sexo. As mulheres se dividem entre as sexualmente desejáveis e as indesejáveis. O luxurioso não enxerga mais nada na vida. A Morte do Ego, no entanto, reverte tal situação miserável.
Não contemple o objeto dos desejos fisicamente e nem mentalmente. Ainda que contemplemos o objeto dos desejos com os olhos físicos, o estaremos fazendo através de alguma forma mental.
A luxúria possui inevitavelmente um caráter imaginativo ou mental e se reforça pelos pensamentos e imaginações. É pela contemplação de imagens que a luxúria colhe força e se arraiga em nossa personalidade. Sempre que contemplamos um objeto de desejo, o desejo se torna mais forte.
Quando imaginamos cenas eróticas, mulheres lindas, estamos contemplando o objeto de desejo mentalmente. Quando observamos as mesmas cenas no mundo físico, com os olhos físicos, o estamos fazendo fisicamente. Em ambos os casos, estamos fortificando a prisão da luxúria. A contemplação das imagens desejáveis, seja fisicamente ou imaginativamente, é o caminho para a escravização.
Desejar algo corresponde a uma forma de entender e de perceber aquilo que desejamos. A forma de entender corresponde a um entendimento viciado, tendencioso. Quanto mais fortificamos o entendimento vicioso, mais fortificamos o desejo em nós.
O entendimento vicioso (equivocado) é reforçado por ações em todos os demais centros (que não o intelectual). As ações e reações mínimas de cada instante estão reforçando as equivocadas formas de perceber e compreender. Como resultado, desejamos o objeto por imaginarmos e acreditarmos milhares de coisas absurdas a respeito. Quando um homem deseja uma mulher, não a enxerga de forma objetiva, tal como é, mas sim através da lente da luxúria. O prisma do desejo o cega e todas as consequências indesejáveis de um relacionamento se tornam empalidecidas, apagadas. Quando removemos a lente luxuriosa, enxergamos o ser feminino com objetividade, sem exageros favoráveis ou desfavoráveis.
O prisma do desejo é como uma lente colorida: se olhamos o mundo com uma lente vermelha ou azul, as cores dos objetos mudam. Sob a lente da luxúria, o mundo se torna repleto de erotismo e sensualidade, cada mulher passando a ser avaliada segundo seu potencial para o sexo. As mulheres se dividem entre as sexualmente desejáveis e as indesejáveis. O luxurioso não enxerga mais nada na vida. A Morte do Ego, no entanto, reverte tal situação miserável.