quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Concentração: quando faltam pensamentos sobre o lakshya

(Ampliação ao final)

Quando tentamos direcionar o fluxo do pensamento em torno de um único tema, nos deparamos com o problema da inibição. O fluxo mental fica inibido quando tentamos direcioná-lo, os pensamentos não fluem. Este é um dos obstáculos no desenvolvimento da concentração.

Se queremos realmente "viajar" conscientemente dentro do tema que nos interessa, necessitamos soltar as amarras do pensamento, do contrário, não haverá desligamento completo de tudo o mais. No entanto, quando nos concentramos, pensamentos sobre o lakshya nos faltam, ao mesmo tempo em que pensamentos sobre o que não nos interessa aparecem aos montes. A mente se recusa a pensar naquilo que escolhemos, sabotando nossa prática como um asno teimoso que de repente empaca e deixa de caminhar. A mente quer pensar em seus temas, suas bobagens, e se recusa a pensar no que escolhemos. O asno teimoso quer andar por seus próprios caminhos, dispersos e sem metas, recusando-se a seguir pelo caminho que necessitamos.

No devaneio, ao contrário, a mente não experimenta empecilhos em seu fluxo, mas também não vai por onde queremos. O asno não se fixa em nenhuma direção, troca constantemente de tema, mariposeia e não se aprofunda em nada. O pensamento disperso é superficial, toca em cada tema somente de leve, sem aprofundar-se em nenhum, pois não se dá à continuidade e nem ao prologamento. 

Fazer a mente fluir dentro do lakshya é uma dificuldade. A mente flui somente enquanto lhe damos alguns empurrões, mas em seguida empaca, deixa de pensar no objeto e tenta desviar-se para outras coisas. 

No fundo, há um impulso volitivo por trás da teimosia da mente: gostamos de pensar naquilo que é desejável. Se nos pusermos a tentar concentrá-la em imagens pornográficas ou em desgraças que nos afetaram ao longo da vida, a mente prontamente aceitará (embora isso não seja recomendável e tenha efeitos destrutivos sobre nós), mas se tratarmos de concentrá-la no que é superior, ela resistirá. "Para baixo todo santo ajuda", diz o ditado. É muito fácil usar a concentração para o que não presta, mas é difícil direcioná-la para o alto. O asno quer teimosamente seguir os velhos sanskaras aos quais está acostumado, sente-se bem neles.

A mente se concentra e flui facilmente naquilo que não presta porque os pensamentos correspondentes são prazeirosos. É prazeiroso pensar em coisas mundanas: em vingança, em comidas, em pornografia etc. Em contrapartida, o asno empaca e não quer caminhar quando o lakshya é algo sublime e espiritual.

Uma forma de superar essa teimosia mental é escolhermos como alvo de nossa concentração a solução de algum problema no qual valha a pena pensar. Relaxamos, nos concentramos buscando a solução até que ela "nos caia", sob a forma de um insight ou uma revelação. Perguntas relacionadas ao tema ("como resolver isso?) podem ser usadas sob a forma de um koan. Tudo o mais deve ser esquecido e abandonado. É importante focar naquilo que queremos (a solução) e não naquilo que nos incomoda (o problema) pois, uma vez que uma idéia prevaleça na mente de forma completa, o corpo físico reagirá em consonância com a mesma. Se o problema tomar conta da mente, o corpo reagirá com estresse, mas se a solução tomar conta, o corpo reagirá com alívio.

Existem infinitas coisas para se pensar sobre o lakshya, mas a mente não quer saber delas. Ela prefere saborear seus próprios objetos e temas.

Quando concentramos a atenção em um lakshya exterior animado (ex. o comportamento de um esquilo), não experimentamos tal teimosia, porque o lakshya é externo a nós e continua a se movimentar e a agir de forma independente de nossa observação. Mas quando fechamos os olhos e tentamos concentrar o pensamento em um lakshya interno, experimentamos a resistência.

Até o momento, não vejo outra solução além de dar pequenos empurrões no asno para que ele continue a pensar no que queremos. Sivananda aconselha que tentemos inicialmente concentrar o pensamento em algo que nos interessa muito, pois isso desobstruirá o fluxo mental (haverá uma junção entre nossa meta e um sanskara específico da mente). No entanto, há que se ter cuidado pois, se escolhermos como lakshya algo que pode nos prejudicar espiritualmente, não conseguiremos nos livrar dos nefastos resultados. Se eu me entreter pensando detidamente em alguma fantasia sexual, serei escravizado por tal fantasia e não serei capaz de preservar meu virya. De todas as maneiras, quando mais interesse o objeto despertar em nós, mais facilmente conseguiremos pensar nele.

Sivananda aconselha que, inicialmente, nos concentremos em um tema bem amplo, como o céu, o oceano ou uma cordilheira. Assim, fica mais difícil que faltem os pensamentos sobre o lakshya. Sempre há muito o que pensar sobre um tema amplo. Duas coisas ainda podem ajudar nos casos em que faltam pensamentos sobre o lakshya: manter a mente focada mesmo assim, à espera de insights a respeito, e fazer perguntas a si mesmo sobre o tema. Como as perguntas que podem ser feitas sobre algo são infinitas, ajudam a dar "empurrões" no asno da mente. Questionar-se a respeito do objeto é uma forma de continuarmos pensando nele quando nenhum pensamento a respeito nos ocorre. São infinitos os questionamentos que podemos realizar sobre um dado tema. Escolher um tema amplo, manter-se focado mesmo sem que nada nos ocorra e perguntar-se infinitamente sobre aquilo são, portanto, meios de transcender a interrupção do fluxo mental desejado.

Suponhamos que você (ou eu ou qualquer outra pessoa) esteja procurando se concentrar em um coco. Não se limite a explorar somente o interior do coco, sua constituição e estrutura, inclua também as infinitas cenas da vida em que um coco pode estar presente e pelas quais pode passar. Você pode imaginar, por exemplo, o coco caindo na areia da praia, enchendo-se de areia, estragando-se, abrindo, ficando cheio da água da chuva e de insetos, moleques brincando de jogar o coco para longe, as ondas o arrastando e o devolvendo, um cachorro o mordendo para estimular os dentes e outras infinitas situações. Assim, você abrirá um veio em que as possibilidades imaginativas não se esgotam. Se você não consegue imaginar as cenas organizadas coerentemente de forma temporal (desde o nascimento da fruta até a sua destruição total), não importa: contente-se em explorar tudo o que for possível, com a máxima profundidade e até onde alcançar. Imagine tudo o que você consiga sobre o coco. Com o desenvolver das práticas, você organizará os processos antes imaginados de forma desorganizada. O que interessa é criar uma espécie de "devaneio consciente e prolongado" em que o coco esteja continuamente presente, de um modo ou de outro. Cenas não intencionais, espontâneas, mas que não se desviem do tema, assim como sonhos, lúcidos ou não, a respeito do assunto, são produto da prática e indicam que os resultados estão começando a aparecer.

Não raciocine analisando se as cenas estão ou não se desviando do propósito, aprenda a simplesmente acompanhar a cena sem receio de que haja desvios, deixe que as cenas fluam. Não se recorde, não se ocupe e nem se preocupe com o desvios, esqueça-os, não os procure. O que interessa não são os desvios e sim o lakshya, não são os erros e sim o acerto. Quando você se perceber desviado, simplesmente volte ao tema e continue.

Pela Lei das Associações, a mente tentará trazer outras cenas relacionadas ao objeto, das quais ele próprio estará ausente. Vejamos um exemplo: você está imaginando uma cena em que um coco está sendo vendido e, repentinamente, passa a imaginar coisas sobre o vendedor ao invés de acompanhar o que aconteceu com a fruta ao ser adquirida pelo cliente. Nesse caso, a imaginação foi transferida de um objeto (o coco) para outro objeto relacionado (o vendedor), tal como ocorre no pensamento comum desconcentrado ou imaginação mecânica. É a Lei das Associações que provoca os desvios da imaginação e nos faz cair na atividade mental comum. A Lei das Associações faz com que a imaginação passe de um tema a outro tema relacionado, formando uma corrente de temas que se prolonga infinitamente, fascinando e adormecendo a consciência. O pensar em muitos temas provoca excesso de atividade mental e nos afasta do nosso objetivo, que é reduzir os pensamentos para, no final, escaparmos da mente. Aconteça o que acontecer, observe e acompanhe o seu objeto e não outras coisas.

A domesticação do asno da mente é algo progressivo, não adianta ter pressa. A cada dia amansamos mais o asno, até o momento em que se torne obediente.

Não force sua mente a pensar sobre o lakshya, simplesmente focalize-a no objeto e deixe que o pensamento surja e flua. Se forçar, terá dores de cabeça. Ao invés de forçar, prefira conferir bastante importância ao objeto e nenhuma importância a outras coisas. Não brigue com os pensamentos indesejáveis, vire-lhes as costas. Confira importância e valor ao que interessa. Pratique a concentração repetidamente em um mesmo tema durante vários dias, até que não seja mais preciso "procurar" idéias sobre ele. Quando somos principiantes na prática da concentração, a mente não flui continuamente, constantemente falha e se desvia.

Conscientemente, estamos em contato muito limitado com a realidade, porém, inconscientemente, estamos em contato com o Todo. Isso significa que estamos em contato com a intimidade dos objetos sem o saber. Temos conhecimento armazenado no inconsciente mas não sabemos disso. É nesse sentido que Sócrates afirmava que "conhecer é recordar".

Nós, seres humanos, não somos somente aquilo que percebemos de nós mesmos, somos muito mais do que achamos que somos.

Mediante a concentração e a meditação, o conhecimento oculto em nós mesmos se manifesta à consciência. Então nos damos conta de que sabíamos mais sobre o objeto do que acreditávamos inicialmente.

Ampliação em 12/12/2013

Quando você estiver tentando pensar em um tema e os pensamentos esgotarem, não fique se pressionando para ir além e nem forçando a mente para encontrar mais o que pensar a respeito. Simplesmente conclua sua prática, troque de tema ou volte mais tarde. Forçar a mente não adianta e somente dá dores de cabeça. A  prática constante, ao longo do tempo, irá gradativamente "abrir o tema" e revelar coisas novas a respeito. Se um tema se tornou "batido" ou "enjoativo", não insista, adote outro tema e prossiga sua prática. É importante ter regularidade nos lakshyas, não ficar trocando à toa, mas também é importante não forçar violentamente o entendimento.

O fluir do pensamento concentrado deve ser algo leve e agradável.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O sono na meditação

"Em certa ocasião, escutamos dos lábios de um swami hindu uma exótica afirmação.

Aquele mestre explicou diante do auditório a necessidade da Hatha−Yoga como indispensável para alcançar as alturas do Samadhi. O yogue disse que muitas pessoas não haviam conseguido nada na Meditação interna, apesar de seus longos esforços e treinamentos diários. O swami conceituava que essa classe de fracassos se deve à exclusão da Hatha−Yoga.

Nós francamente discordamos desta afirmação do venerável swami. Aqueles que depois de 10 ou 20 anos não conseguiram a iluminação com a prática da meditação interna, devem buscar a causa na falta de sono.

É imprescindível combinar a meditação com o sono."

Samael Aun Weor em Kundalini Yoga ou O Livro Amarelo, cap. XI.

domingo, 20 de outubro de 2013

Primeiras Experiências Clarividentes e Clariaudientes

(Extraído de Kundalini Yoga ou O Livro Amarelo, Cap. XII − V. M. Samael Aun Weor)

Se o yogue persevera na meditação interna, se é constante, tenaz, infinitamente paciente, depois de certo tempo aparecem as primeiras percepções clarividentes.

No princípio, apenas pontos luminosos, depois aparecem rostos, quadros da natureza, objetos como em sonhos, naqueles instantes de transição que há entre a vigília e o sono. As primeiras percepções clarividentes despertam o entusiasmo do discípulo.

Essas percepções demonstram−lhe que seus poderes internos estão entrando em atividade.

É necessário que o estudante não se canse. Necessita−se muitíssima paciência. O desenvolvimento dos poderes internos é algo muito difícil. Realmente, são muitos os estudantes que começam, mas são poucos os que têm a paciência do santo Jó. Os impacientes não conseguem dar um só passo no caminho da Realização. Esta classe de práticas esotéricas é para pessoas muito tenazes e pacientes.

Na Índia sagrada dos Vedas, os yogues praticam a meditação interna quatro vezes por dia. Em nosso mundo ocidental, devido à preocupação pelo viver diário e ao duro batalhar pela existência, só se pode praticar a meditação uma vez por dia. Só isso é o suficiente. O importante é praticar diariamente, sem faltar um só dia. A repetição incessante, contínua, tenaz, põe, afinal, os chacras a girar, e, depois de algum tempo, iniciam−se as primeiras percepções clarividentes e clariaudientes.

As manchas luminosas, os quadros de luz, as figuras vivas, o soar de sinos, as vozes de pessoas ou de animais, etc., indicam com segurança que o estudante está progredindo no desenvolvimento dos seus poderes internos. Todas essas percepções aparecem nos instantes em que, submerso em profunda meditação, encontra−se adormecido.

Muitíssimas espécies de luz começam a surgir com a prática da meditação interna. No princípio, o devoto percebe luzes brancas e muito brilhantes. Essas luzes correspondem ao Olho da Sabedoria, o qual se acha situado entre as sobrancelhas. As luzes brancas, amarelas, vermelhas, azuis, verdes, assim como os relâmpagos, o sol, a lua, as estrelas, as chispas, as chamas, etc., são partículas formadas de elementos supra−sensíveis.

Quando aparecem pequenas bolinhas luminosas, resplandecendo com as cores branca e vermelha, é sinal absolutamente seguro de que estamos progredindo na prática da concentração do pensamento.

Chegará o momento em que o devoto conseguirá ver os Anjos, os Arcanjos, Tronos, Potestades, Virtudes, etc., etc. O estudante costuma ver, entre sonhos e também durante a meditação, grandiosos templos, rios, vales, montanhas, belos jardins encantados, etc.

Costumam apresentar−se, durante as práticas de meditação, certas estranhas sensações que às vezes enchem de medo o devoto. Uma dessas sensações é uma corrente elétrica no chacra do cóccix.

Também no Lótus das Mil Pétalas, situado na parte superior do cérebro, costumam sentir−se certas sensações elétricas. O devoto deve vencer o medo, se quiser progredir no desenvolvimento dos seus poderes internos.

Algumas pessoas têm estas visões em poucos dias de práticas. Outras pessoas começam a ter as primeiras visões depois de seis meses de exercícios diários.

No primeiro período de treinamento diário, apenas nos relacionamos com os seres do plano astral.

No segundo período de exercitamento esotérico, relacionamo−nos com seres do plano mental. No terceiro período, relacionamo−nos com seres do mundo puramente espiritual. Então, começamos realmente a converter−nos em competentes investigadores dos Mundos Superiores.

O devoto que começou a ter as primeiras percepções dos Mundos Superiores, deve ser, no princípio, como um jardim selado com sete selos. Aqueles, que andam contando aos outros tudo o que vêem e ouvem, fracassam nesses estudos pois as portas dos Mundos Superiores se fecham para eles.

Um dos perigos mais graves que assalta o devoto é a vaidade. Muitos estudantes se enchem de vaidade e orgulho quando começam a perceber a realidade dos mundos supra−sensíveis e então se qualificam de MESTRES. E, sem terem alcançado o pleno desenvolvimento dos seus poderes internos, começam a julgar os outros erroneamente, fundamentados nas suas percepções clarividentes incompletas.

O resultado desse proceder equivocado é que o devoto lança então muito Karma em suas costas, porque se converte em caluniador do próximo e enche o mundo de lágrimas e de dor.

O estudante que teve as primeiras percepções clarividentes, deve ser como um jardim selado com sete selos, até que seu MESTRE interno o inicie nos GRANDES MISTÉRIOS e lhe dê ordem para falar.

Outro dos graves erros que assaltam a todos aqueles que se submetem à disciplina esotérica é depreciar a IMAGINAÇÃO. Nós aprendemos que a imaginação é o translúcido, o espelho da alma, a divina clarividência. Para o devoto, imaginar é ver.

Quando o chacra frontal começa a girar, as imagens que vêm ao translúcido tornam−se brilhantes, resplandecentes, luminosas.

O devoto deve distinguir entre a IMAGINAÇÃO e a FANTASIA. A imaginação é positiva. A fantasia é negativa, prejudicial, daninha para a mente, pois pode conduzir−nos às alucinações e à loucura.

Todos aqueles que quiserem despertar a clarividência, desprezando a IMAGINAÇÃO, cairão no mesmo absurdo daqueles que quiserem praticar a meditação com absoluta ausência de sono. Essas pessoas fracassam no desenvolvimento dos seus poderes internos. Essas pessoas violam as leis naturais, e o resultado inevitável é o insucesso (grifo meu) [Ou seja, tentar meditar sem dormir e sem o recurso da imaginação é um equívoco].

IMAGINAÇÃO, INSPIRAÇÃO e INTUIÇÃO são os três caminhos obrigatórios da Iniciação.
Primeiro, aparecem as imagens internas, depois, conhecemos o significado dessas imagens e, por último, penetramos num mundo puramente espiritual.

Todo clarividente necessita de Iniciação. A clarividência sem a Iniciação Esotérica conduz o estudante ao mundo do delito. É necessário receber a Iniciação Cósmica.

Se um clarividente penetrar no subconsciente da natureza, poderá ler, ali, todo o passado da Terra e das suas raças. Ali encontrará também os seus seres mais queridos.

Poderá ver, por exemplo, a sua esposa amada, casada com outros homens ou talvez até adulterando. Se o clarividente não tem Iniciação, confundirá o passado com o presente e caluniará sua esposa; então, dirá: "ela é infiel, é adúltera, pois sou clarividente e a estou vendo nos mundos internos em pleno adultério". No subconsciente da natureza existem as lembranças das nossas reencarnações passadas.

Se um clarividente penetra no infraconsciente da Natureza, encontrará ali todas as maldades da espécie humana. No infraconsciente da Natureza vive o Satã de todo ser humano. Se o clarividente não recebeu a Iniciação, pode cair então na calúnia, porque nos infernos infraconscientes da natureza vive o Satã dos Santos (O Eu Psicológico).

O clarividente sem Iniciação verá ali o Satã dos santos revivendo incessantemente todos os crimes e maldades que eles cometeram em remotíssimas reencarnações, antes de serem Santos. Porém, o clarividente inexperiente, sem Iniciação, não saberia distinguir realmente entre o passado e o presente. Entre o Satã de um homem e o Ser Verdadeiro de um homem. O resultado seria a calúnia. O clarividente inexperto diria: "Esse homem, que se crê santo, é um assassino, ou um ladrão, ou um terrível mago negro, porque eu, com a minha clarividência, assim o estou vendo". Isso é precisamente o que se chama calúnia. Muitos clarividentes degeneram horrivelmente em caluniadores. Um dos mais graves perigos da calúnia é o homicídio.

O homem ciumento, desconfiado, etc. encontrará, no infraconsciente da natureza, todas as suas dúvidas e suspeitas convertidas em realidade. Então, caluniará sua esposa, seus amigos, seus vizinhos, os Mestres, dizendo: "Como vêm, eu tinha razão nas minhas dúvidas. Meu amigo é um ladrão, ou um mago negro, ou um assassino; minha esposa está adulterando com fulano de tal, assim como eu suspeitava; minha clarividência não falha, eu não me engano, etc.

O pobre homem, devido à falta de Iniciação, não teria capacidade de análise suficiente  para se dar conta de que penetrou no infraconsciente da Natureza, onde vivem as próprias criações mentais.
Considerando todos esses perigos, é importante que os estudantes esoteristas não lancem juízos sobre as pessoas. "Não julgueis para que não sejais julgados".

O devoto deve ser como um jardim selado, e com sete selos. Aquele que já tem as primeiras percepções clarividentes e clariaudientes é ainda um clarividente inexperto e, se não souber calar, converter−se−á em um caluniador das pessoas. Só os grandes Iniciados clarividentes não se equivocam. Rama, Krishna, Buda, Jesus Cristo, Hermes, etc., foram verdadeiros clarividentes infalíveis, oniscientes.

sábado, 19 de outubro de 2013

Canção de Milarepa para Lady Paldarboom

Tópicos: clareza, mente natureza, estabilidade.
Fonte: http://www.unfetteredmind.org/milarepas-song-to-lady-paldarboom
Tradução livre

“Então ela disse: ‘Caro professor, não tenho feito nada para me preparar para a próxima vida. Agora eu vou fazê-lo. Por favor,  partindo de sua grande compaixão, cuide de mim e me dê instrução à meditação.’

Milarepa estava encantado e respondeu: ‘Se você praticar o Dharma, sinceramente, na minha tradição, você não precisa mudar seu nome. A pessoa desperta com uma cabeça cheia de cabelos. Você não tem que cortar o cabelo ou fazer outras alterações.’

Ele cantou esta música com quatro exemplos e cinco pontos sobre a meditação e a prática da mente:

‘Ah , Lady Paldarboom
Afortunada e dedicada estudante,

Tome o céu como um exemplo,
Pratique sem qualquer senso de limite ou posição [meu entendimento: esqueça onde e em que posição você está].

Tome o sol e a lua como exemplos ,
Pratique sem qualquer senso de clareza ou distorção [não se preocupe se está confusa ou entendendo].

Tome esta montanha como um exemplo,
Pratique sem qualquer sentido de movimento ou mudança [não se preocupe em ficar imóvel ou se mexer].

Tome o grande oceano como exemplo,
Pratique sem qualquer senso de profundidade ou superfície [não se preocupe se sua prática se aprofundou ou ainda está superficial].

Para revelar a mente,
Pratique sem qualquer dúvida ou hesitação [não se amarre em preocupações sobre a prática e nem fique vacilando].’

Mostrando-lhe como se sentar e dirigir sua mente, ele a colocou em prática.
Ela teve boas experiências em sua meditação e apresentou esta canção
para afastar dúvidas e impedimentos:

‘Ah , precioso Senhor,
Expressão perfeita da forma desperta,

Fui feliz praticando com o céu,
Mas um pouco inquieta a respeito de trazer nuvens para a prática.
Por favor, me dê instruções sobre a prática com nuvens.

Fui feliz praticando com o sol e a lua,
Mas um pouco desconfortável em trazer estrelas e planetas na prática.
Por favor, me dê instruções sobre a prática com estrelas e planetas.

Fui feliz com ao praticar com a montanha,
Mas um pouco inquieta ao trazer grama e árvores.
Por favor, me dê instruções sobre a prática com grama e árvores.

Fui feliz praticando com o oceano,
Mas um pouco incomodada ao trazer ondas para a prática.
Por favor, me dê instruções sobre a prática com ondas.

Fui feliz em praticar com a mente,
Mas um pouco desconfortável em trazer pensamentos à prática.
Por favor, me dê instruções sobre a prática com os pensamentos.”

Milarepa achou que sua prática foi produtiva e ficou encantado.
Em resposta ao seu pedido, ele cantou essa canção sobre a remoção
impedimentos e melhoramento da prática:

‘Ah, Lady Paldarboom,
Ouça , afortunada e devotada estudante.

Se você está feliz praticando com o céu,
As nuvens são criações mágicas do céu.
Seja o próprio céu .

Se você está feliz praticando com o sol e a lua,
Planetas e estrelas são as criações mágicas deles.
Seja o sol e a lua.

Se você está feliz praticando com a montanha,
Grama e árvores são criações mágicas da montanha.
Seja a própria montanha.

Se você está feliz praticando com o oceano,
As ondas são criações mágicas do oceano.
Seja o próprio oceano.

Se você está feliz praticando com a mente,
Os pensamentos são criações mágicas da mente.
Seja a própria mente.’

Quando ela praticou com essas instruções, ela chegou a uma
clara compreensão da natureza do ser puro. Mais tarde, ela
foi para o reino das dakinis em seu próprio corpo, acompanhada pelos
sons dos címbalos.”

(Extraído do capítulo de As Cem Mil Canções de Milarepa que
descreve seu encontro com a Lady Paldarboom.)

[Eis o meu entendimento pessoal: Milarepa, na primeira parte do poema, instrui a garota a praticar sem preocupações com o êxito da própria prática que realiza, isto é, sem preocupar-se com certos detalhes, pois tal preocupação, e não os detalhes em si, se transformam em obstáculos. Ele a instrui a perder o senso de lugar, posição, profundidade, entendimento, clareza, movimentação, ou seja, a se libertar desses pares de opostos: aqui e ali, mover-se e ficar imóvel, superficialidade e profundidade, clareza e confusão. Por mais bem intencionadas que seja, essas preocupações nos prendem e travam o avanço da prática.

Ao praticar, a aluna se confundiu e hesitou em trazer para a prática certos elementos que lhe pareceram estranhos ao lakshya, mas na verdade não eram. A orientação de Milarepa foi: seja o próprio objeto em que medita. Segundo minha interpretação, a garota supôs que havia se desviado da prática, mas na verdade estava praticando corretamente e não havia se desviado, pois as nuvens são parte do céu, assim como gramas e árvores são partes da montanha. Ela não havia se desviado dos lakshyas!]

domingo, 22 de setembro de 2013

A meditação nas crises de ansiedade

Que este texto alcance você que está dele necessitando.

Nos dias atuais, a ansiedade se tornou uma doença emocional muito comum.

A ansiedade é algo que pode atrapalhar muito o praticante de meditação e até nos estancar na Morte do Ego. Por isso, vamos agora estudá-la um pouco. A questão será tratada do ponto de vista espiritual e não do ponto de vista médico. As informações que seguem não se destinam a substituir as receitas e nem os tratamentos da medicina convencional, são somente uma outra abordagem do problema.

Crises de ansiedade são, basicamente, o resultado emocional de vários problemas que a pessoa atravessou na vida. Todas as experiências vulnerabilizantes se somam em torno de um medo terrível, normalmente o medo de morrer. A pessoa se sente vulnerável e na iminência de falecer. Isso é a ansiedade: um monstro que nasce da somatória dos problemas emocionais que tenhamos. O religiosos não estão totalmente errados quando dizem que se trata de um demônio que entra no corpo da pessoa. 

Coisas ruins que fizemos aos outros (e nos deixaram apreensivos a respeito de represálias e consequências) e coisas ruins que nos fizeram, ao longo de toda a vida, ficam gravadas subconscientemente e provocam efeitos somáticos. Os efeitos somáticos são manifestações desses egos no centro instintivo.

Medos reprimidos ao longo da vida, que não se expressaram na forma de choro, gritos ou outros caminhos de expressão, extravasam por uma via somática.

Os fármacos inibem os efeitos somáticos mas, como não trabalham as causas (que são internas e psíquicas), os represam. São úteis e importantes em situações de emergência, mas não atingem a “causa causorum”. Os processos orgânicos, químicos, não são a causa última da ansiedade e sim sua causa “horizontal”. A causalidade última pode ser encontrada na linha vertical: em outras dimensões, são brutais egos invasores. Em outras palavras, a ansiedade vem de cima para baixo, desde a quinta dimensão até o mundo físico. O segredo da cura está em dissolver os egos que a ocasionam. Afastá-los já promove uma boa melhora.

Consciência limitada

A maior parte do conteúdo provocador das crises de ansiedade é inconsciente, o que significa que a pessoa não sabe, não enxerga, o que está lhe causando o estresse emocional. A pessoa enxerga somente seus efeitos somáticos, enquanto os egos causadores permanecem obscuros.

Em busca das causas da ansiedade, podemos regredir até a infância, pois foi lá que se iniciou a formação da personalidade, que é o veículo de manifestação dos egos. Em meditação, podemos regredir até a vida intra-uterina e além, chegando às passadas existências.

A ansiedade nunca é causada por um só ego ou por uma única experiência traumática, mas por um conjunto e, devido à Lei de Recorrência, tem sua última e mais distante origem em existências anteriores.

São muitos os fatores inconscientes que podem provocar o mal da ansiedade. Em alguns casos, a amígdala pode permanecer ligada sem que a pessoa perceba a menor emoção negativa desagradável e se queixe somente dos efeitos somáticos. Em tais casos, as emoções negativas estão muito subterrâneas, inconscientes. A pessoa olha para si mesma e não percebe o medo, a apreensão e o seu sobressalto, mas eles estão ali atuando, de forma completamente inconsciente. 

Erros

São erros que o doente comete: tentar reprimir ou controlar as emoções negativas da ansiedade ao invés de compreendê-las para abandoná-las, tentar reverter os sintomas da ansiedade pelo mero esforço de vontade, checar constantemente como está o seu estado, evitando esquecer a ansiedade, prestar atenção nos sintomas, fazendo com que eles aumentem.

É também um erro manter-se dentro de situações ameaçadoras e vulnerabilizantes quando se pode abandoná-las, bem como debater-se contra o medo, ocupando-se com ele ao invés de abandoná-lo.

Todos esses erros são formas de alimentar a ansiedade.

Ansiedade e morte do ego

Como qualquer ego, a ansiedade está viva porque a alimentamos por meio da identificação. O primeiro passo para livrar-se é não alimentá-la, enfraquecendo-a "de fome".

Alimentamos a ansiedade (os egos que temem a morte, doenças e outros afins) por meio de pensamentos, falas, recordações, lembranças, constantes checagens de nosso estado etc. Temos que retirar a ansiedade de nosso pensamento. Além disso, temos que descobrir e retirar de nossa vida as situações que a nutrem. 

Situações que a nutrem

A ansiedade atrai a consciência e a prende a si, por meio da força hipnótica e fascinatória. A atenção do ansioso está fixa no problema, permanece a maior parte do tempo focada no mal. Os sintomas emocionais, mentais e somáticos se tornam alvo do interesse quase ininterrupto. A pessoa se debate, tentando se livrar, mas não consegue. As mínimas alterações no corpo disparam o medo e o medo de sentir mais medo se transforma em um circulo vicioso que se auto-alimenta.

Todas as situações que nos façam sentir medo, principalmente o medo de morrer e de adoecer, estão alimentando a ansiedade. Devemos descobri-las, extirpá-las de nossas vidas e, depois disso, nem sequer tomar consciência de que existam, abandoná-las. 

Não devemos pensar no mal, na morte, nas desgraças e nas doenças, nem mesmo quando eles estão passando por nós. Eles devem passar "ao largo", como uma passeata que passa pela rua e vai embora.

O hábito de pensar constantemente na ansiedade a nutre. O simples fato de recordar sua existência pode desencadear uma crise.

Por meio da auto-observação e auto-reflexão, devemos descobrir quando e por onde estamos alimentando a ansiedade. O medo de morrer de uma forma específica, núcleo do problema, se alimenta a todo momento sem que o doente se dê conta. O próprio doente nutre o problema que o afeta. Crenças envolvidas e pensamentos compulsivos devem ser descobertos.

É importante compreender que o medo, em si, não tem a utilidade que alguns psicólogos atribuem. Se o medo for dissolvido conscientemente, a pessoa não deixará de ter consciência das consequências dos atos desastrosos. A crença de que o medo é útil e importante o reforça. Temos que chegar à compreensão de que o medo é inútil e prejudicial. Quando meditamos bastante e nos desligamos de tudo, inclusive do corpo físico, esta compreensão "nos cai".

Quem sofre de neurose cardíaca (a atual síndrome do pânico) alimenta seu problema ao prestar atenção nos ritmos cardíacos. A menor alteração é motivo para a pessoa acreditar que irá morrer em seguida. No entanto, a ansiedade pode se manifestar também sob outras formas, nas quais a mente e a percepção podem se fixar teimosamente sobre outros sintomas corporais. Qualquer que seja o caso, temos que alcançar o vairagya sobre o corpo físico, isto é, o desinteresse e o esquecimento, enquanto estivermos meditando.

Lutar e debater-se contra o medo ou a apreensão em si não adianta nada. Melhor é substituí-los, reforçando pensamentos e percepções distintos. Quanto mais alimento dermos ao monstro do medo, mais o reforçaremos. É bom que cada detalhe ou faceta do agregado psíquico seja descoberto e eliminado, mediante a Morte em Marcha.

Não devemos nos ocupar mentalmente com o mal, nem mesmo quando ele está nos acometendo. Cada vez que nos ocupamos com o mal, o alimentamos mentalmente. Há pessoas que morrem felizes, porque em vida desenvolveram a capacidade de não se ocupar mentalmente com a morte e nem com as doenças. Isso é o que buscamos.

A ansiedade costuma ter vários objetos externos desencadeadores, problemas da vida que nos afetam de modo especial. Alguns são muito afetados emocionalmente por doenças, outros por preocupações financeiras, outros por questões jurídicas. Seja qual for a causa externa do mal, devemos nos ocupar o menos possível com elas. O verdadeiro desenvolvimento espiritual requer renúncia e sem a transformação da vida a ansiedade não pode ser deixada para trás.

Alívio pela meditação

Para obter alívio das crises por meio da meditação, podemos fazer o seguinte:

1) deitar-nos ou sentar-nos para meditar;

2) abrir mão do controle dos sintomas;

3) desviar a atenção dos sintomas somáticos, focando a atenção no lakshya (objeto da concentração), que NÃO DEVE SER UM ÓRGÃO, SINTOMA CORPORAL O QUALQUER COISA QUE SEJA MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO;

4) praticar a respiração abdominal por alguns instantes, sem esquecer de relaxar a barriga;

5) concentrar completamente a mente e a atenção em algo que nos afaste da ansiedade, em algo distinto ou até oposto àquilo que nos deixa apreensivos. Podemos nos concentrar no chiado anahata (som intracraniano) e aumentá-lo ou então concentrar-nos em algum outro lakshya que arrebate nossa atenção e percepção do problema. É importante que o lakshya seja algo que nos acalme e retire completamente a atenção daquilo que nos afeta.

É claro que você NÃO deve se concentrar em algo que te deixe tenso, nervoso, excitado, agitado ou sobressaltado, pois, se fizer isso, o tiro sairá pela culatra.

Se os sintomas se intensificarem ao deitarmos, devemos praticar a meditação sentados. Se, mesmo sentados, os sintomas se intensificam, devemos nos levantar, fazer qualquer outra coisa que nos acalme, e retornar dali há pouco. Se você estiver dependente de remédios, não deve retirá-los subitamente. Vá praticando enquanto o médico avalia o seu estado e decide se deve ou não diminuir as doses.

O que importa é desviar a mente e a percepção do objeto que causa desespero, focando-os em algo mais elevado e que proporcione tranquilidade. Quanto mais desviados estivermos, menos atingidos seremos pelas crises. Dissociar-se dos pensamentos e emoções negativos, ao invés de tentar reprimi-los ou controlá-los, é o mais recomendável: abandoná-los, substituí-los.

Na ansiedade, a mente e a atenção são violentamente atraídos e sequestrados para o problema que a pessoa teme, seja uma doença ou qualquer outro (isso varia conforme os casos). No caso da neurose cardíaca, por exemplo, o doente fixa sua atenção involuntariamente no coração e não consegue deixar de prestar atenção ali, por mais que se esforce. Ao prestar atenção no funcionamento do coração, seu medo se acentua e os batimentos se aceleram. O ritmo acelerado invade o seu campo de consciência e ali permanece sem ter sido chamado, pois a atenção foi sequestrada para o problema.

Quando sua atenção for sequestrada por algo maligno, não tente arrancá-la à força. Ao invés disso, empenhe-se em prestar cada vez mais atenção em algo superior e positivo que lhe faça bem. O mesmo vale para os pensamentos intrusivos e teimosos. A situação pode ser melhorada se a pessoa deixar de brigar com a mente doente, ao mesmo tempo em que confere mais atenção e importância ao lakshya que escolheu voluntariamente. Dissocie sua consciência dos elementos atrativos que a sequestram (os problemas) conferindo mais valor e importância ao lakshya. O lakshya serve para desviar a atenção e os pensamentos daquilo que prejudica, desde que você lhe dê mais importância do que aquilo que te distrai e te arrasta. A capacidade de prestar atenção em algo se desenvolverá com a prática. Não pense que você irá se libertar completamente logo no início das práticas, o que você experimentará são melhoras gradativas de intensidade variável. A concentração, que é a capacidade de prestar atenção e pensar em algo que escolhemos, esquecendo e nos desligando de tudo o mais, irá deter o processo da ansiedade e do pânico pois, se você não pensa e não percebe algo, aquilo não existe para você.

Uma pessoa que aceite completamente a morte (desencarnação) mediante a meditação, como o fazem alguns iogues e monges no Oriente, terá um grau de ansiedade zero e será completamente imune ao medo. Poucos alcançam tal grau de desprendimento. Quem compreende o caráter ilusório da vida e da morte não tem mais o que temer, pois as ameaças foram dissolvidas dentro de sua mente. Meditar é, entre outras coisas, modificar o funcionamento mental.

Quanto mais nos ocupamos com a ansiedade, tentando reprimi-la, mais a alimentamos e fortificamos. Em relação às emoções e pensamentos negativos, o ideal é sermos neutros: nem a favor e nem contra. Se formos a favor, caimos no hedonismo e nos identificamos. Se formos contra, os reprimimos e represamos, não suportando os seus ataques. Buscamos a terceira via: a não-identificação, a dissociação e eliminação.

Quem tem a concentração bem desenvolvida, pode rapidamente sair das crises pela simples focalização da mente e da atenção sobre algum lakhsya calmante, bom e interessante. O desvio da atenção rompe a corrente de identificação que alimenta a ansiedade e proporciona alívio. Quanto mais nos esquecermos dos sintomas, menos iremos nutri-los. A concentração é um poderoso antídoto não só para a ansiedade, mas também para compulsões e outros problemas psicológicos. Quando você estiver desesperado com o desejo de cometer algo que não deve, experimente concentrar-se em outra coisa e sentirá um alívio.

Entrando na ansiedade

Se você estiver bem desenvolvido na meditação, tendo grande capacidade de desviar sua mente, suas percepções e sua atenção dos sintomas de pânico e ansiedade, pode tentar meditar em sua doença para compreender suas causas, mas não deve fazer isso caso ainda se sinta vulnerável. Uma pessoa, ao tentar meditar na ansiedade em busca das causas, pode ter sua atenção sequestrada pelos sintomas e ficar presa a eles.

Não é muito fácil penetrar no núcleo da ansiedade. Há uma certa resistência do psiquismo. Tal resistência indica que os egos envolvidos perderão força se forem compreendidos.

O doente inicialmente não consegue penetrar na raiz da ansiedade para compreendê-la. Seu entendimento fica confuso e desnorteado. Os egos da ansiedade não se permitem ser vistos e resistem ao processo de conscientização, confundindo o entendimento do doente a respeito do que se passa. 

Para penetrar e explorar o processo da ansiedade, necessitamos transformá-la em objeto de uma reflexão profunda e sincera, buscando suas causas (os agentes causadores do medo), que são muitas. O ideal é transformá-la em objeto da concentração e meditação (sem, no entanto, nos concentrarmos nos sintomas somáticos, pois isso os faria aumentar).

As causas do medo podem ser muitas e variam de uma pessoa para outra. Alguns temem sofrer dor física, outros temem a condenação do inferno, outros temem as privações dos prazeres da vida ou a ausência dos entes queridos. Há uma raiz comum a todos os medos: a sensação de que se vai perder a posição confortável à qual se está acostumado. 

O doente deve buscar as causas particulares do seu medo, passeando, por meio da reflexão, pelos motivos que o fazem temer (sem, no entanto, ocupar-se com o objeto do medo). Não é possível vencer a ansiedade sem vencer o medo da morte que, em última instância, é a essência de todos os medos. E não se vence os medos pelo mero esforço no sentido de sufocá-los ou fazê-los retroceder. A palavra "vencer", aqui, não tem o significado de opor-se a algo até forçá-lo a retroceder. Também não possui o significado de envolver-se com alguma coisa e lutar com aquilo.

Se o medo não existisse, não existiria a ansiedade. A ansiedade é ocasionada por uma soma de agregados psíquicos que obsessionam o doente.

Existe o risco de, ao tentarmos compreender nossa própria ansiedade, provocarmos ou intensificarmos uma crise. Caso isso ocorra, o melhor é não insistir e mudar de lakshya. Se a tentativa de penetrar a ansiedade com a reflexão piora o nosso estado, isso significa que temos que buscar outro caminho, pelo menos no atual estágio de nosso desenvolvimento espiritual. O recomendável, é adotarmos como lakshya um tema oposto, ou seja, um tema que faça com que nos sintamos emocionalmente bem e profundamente desligados do mal. A concentração e a meditação podem nos desligar completamente da ansiedade, cortando sua alimentação pelo tempo em que estivermos meditando.

Conclusão

O segredo imediato está em ser capaz de desligar-se daquilo que provoca preocupação, medo e pânico. O objeto causador do desespero deve deixar de existir para nós, o que conseguimos quando reforçamos e alimentamos a atenção e o pensamento em temas "bons".  A erradicação absoluta (pois todo ser humano tem uma ansiedade relativa) viria com a aceitação da morte do corpo físico, mas essa aceitação não vem assim porque sim, de graça e de repente. Para alcançá-la, há dois caminhos que devem ser combinados: morte dos egos que se ocupam com o problema da desencarnação e meditação visando desligar-se do problema da desencarnação. Não se pode avançar em nenhum dos dois caminhos sem a prática do brahmacharya (castidade e transmutação sexual) e de vairagya (esquecimento pelo desligamento e desinteresse).

O desvio da atenção mediante a concentração é altamente efetivo, mas permite somente uma libertação temporária da ansiedade. A cura definitiva e absoluta será possível somente se os egos causadores forem compreendidos e dissolvidos, o que é um trabalho lento e prolongado, por serem os mesmos profundos e inconscientes. Uma coisa é escapar temporariamente do ataque violento desses egos pesados, outra coisa é libertar-se deles pela Morte Mística para sempre. É de certa valia anotar em um caderno os elementos estressores que nos assolam emocionalmente, tanto os passados como os presentes, assim teremos uma melhor visualização para o auto-conhecimento, porém não devemos ficar pensando neles.

Apesar de ser um procedimento de efeito temporário, a concentração é de grande importância e não pode ser dispensada. A concentração permite que o foco da consciência seja retirado daquilo que provoca os sentimentos de terror, pânico e desespero que caracterizam a ansiedade.

Para maior aprofundamento, recomendo fortemente que você leia dois livros de Sri Swami Sivananda: "Concentração e Meditação" e "A Conquista do Medo". São imprescindíveis. Recomendo também o estudo das canções do santo iogue Milarepa.

Ampliação em 22/09/2013

A ansiedade pode ser comparada a um animal que busca se alimentar a todo momento. Esse animal se alimenta com pensamentos, recordações, imaginações, palavras, conversas e tudo o mais  que esteja ao seu alcance. Observe e descubra como você está alimentando o seu monstro da ansiedade. Como e quando você lhe dá comida? Praticamente qualquer coisa pode ser transformada em ameaça pelo monstro da ansiedade, a quantidade de perigos que ele vê é imensa. Esse animal ou monstro psicológico possui autonomia, é um ego vivo. O ego da ansiedade junta peças, combina partes de um quebra-cabeças para formar e robustecer a doença. Descubra em que o ego da ansiedade fica prestando atenção o tempo todo, o que ele procura constantemente, quais são os seus temores etc.

Ampliação em 15/10/2013

Você está ligado aos problemas pelos pensamentos. Ao desligar-se de todos os pensamentos, você está também abandonando os problemas do mundo, inclusive aqueles que te deixam ansioso.

Ao atingir o pensamento único e desligar-se de todos os demais pensamentos existentes, você estará atravessando o tempestuoso oceano da vida e deixando para trás todas as preocupações, sofrimentos e ocupações. Ao concentrar-se, você se desliga, esquece e abandona o mal, tanto dentro como fora de si mesmo.

Ampliação em 20/10/2013

A ansiedade é análoga ao fenômeno acústico da microfonia (estude a respeito). Na microfonia, o som que sai dos amplificadores entra novamente pelo microfone e sofre nova ampliação, criando um ciclo de ruídos que se auto-alimenta e se repete. Similarmente, os primeiros sintomas somáticos da ansiedade são percebidos pelo doente e intensificam sua preocupação. A preocupação intensificada agrava os sintomas, que são novamente percebidos e intensificam novamente a preocupação, criando um ciclo de estados negativos físicos e emocionais que se auto-alimentam.

Quem tem uma concentração desenvolvida, consegue cortar o círculo ao deixar de prestar atenção e de pensar nos sintomas, concentrando a mente e a atenção em um objeto distinto.

Ampliação em 24/11/2013

As emoções inferiores da ansiedade podem ser aliviadas pelo desenvolvimento das emoções superiores. O ansioso está tomado por emoções ruins e negativas, contra a sua vontade, e necessita desenvolver o centro emocional superior. Para desenvolvê-lo, é necessário sentir emoções sublimes, sáttwicas, com intensidade crescente.

Quando você meditar, procure sentir todas as emoções correspondentes ao tema em que medita. Assim você desenvolve o centro emocional superior. Procure meditar em temas sáttwicos até ficar completamente saturado por emoções superiores.

Ampliação em 26/11/2013

As dicas que seguem são para o dia a dia e não para os momentos em que estiverem ocorrendo as sessões de meditação. No dia a dia, ao invés de ficar observando os sintomas somáticos, procure observar as causas das crises. Por "causas das crises" refiro-me aqui aos fatos externos que as desencadeiam. 

Os fatos da vida podem  apresentam impactos fortes ou tênues no psiquismo, tudo depende da personalidade de cada um. Uma simples barata pode causar extrema apreensão em algumas pessoas e pouca ou nenhuma reação em outras. Aquele que quer enfraquecer o monstro do temor necessita observar e descobrir não as causas de intenso impacto emocional amedrontador (pois essas já estão visíveis e não necessitam ser observadas ou descobertas) mas as causas cujo impacto é sutil e fugidio, que costumam escapar à observação. Elas existem aos milhares e começam a ser vistas quando desviamos a atenção dos sintomas para as causas dos sintomas. 

As causas do temor correspondem a todos os acontecimentos externos que provocam apreensão, receio, são os fatos amedrontadores. Não se identifique e nem se prenda as causas do temor, apenas tome ciência, aplique a Morte em Marcha e as descarte, esqueça. Se elas reaparecerem, repita o processo.

Procure ir descobrindo e se desvencilhando de tudo aquilo que provoca apreensão. Não queira "enfrentar os perigos para ver se o medo passa." O temor não desaparece com o simples enfrentamento e sim com a atrofia dos sanskaras do medo. Mantenha-se em auto-observação e, quando perceber-se apreensivo, procure descobrir em relação a que você está apreensivo. Torne-se consciente do que provoca a apreensão e o descarte em seguida. Para esquecermos algo ao qual estamos inconscientemente presos, é preciso primeiramente tomar consciência de sua existência.

Ampliação em 27/11/2014

A ansiedade pode também ser entendida como uma invasão por pensamentos negativos e prejudiciais, os quais, por sua vez, provocam uma invasão por emoções igualmente destrutivas, tais como a tristeza, a angústia ou o medo.

Normalmente, a pessoa invadida luta desesperadamente contra as emoções e pensamentos obsessores sem sucesso. O mais indicado, em tais situações, é operar pela substituição: reforçar emoções superiores, deixando-se preencher pelas mesmas. 

As emoções superiores nos preenchem quando abrimos as portas e alimentamos os pensamentos e percepções que lhes correspondem. Há uma estreita relação entre as emoções e os pensamentos. Sentimos de acordo com o que pensamos.

Assim, direcionando o pensamento e a imaginação, durante as práticas de concentração e meditação, podemos provocar estados interiores elevados, O trabalho consiste em pensar naquilo que nos faz bem e nos deixa em paz, procurando sentir profundamente as emoções que tais pensamentos evocam em nosso interior. Se você se deixar preencher por emoções e imaginações superiores, não haverá espaço para sentimentos ruins em seu coração.

Há várias práticas imaginativas e mantrams ensinados pelos Veneráveis Mestres que produzem estados interiores elevados, favoráveis e benéficos. Uma delas é a prática com a Deusa Kakini, ensinada pelo V.M. Samael:

"PRÁTICA PARA DESENVOLVER OS PODERES DO CÁRDIAS
O  devoto deve concentrar-se em seu coração, imaginando existirem ali raios e trovões, nuvens que voam perdendo-se no acaso, impulsionadas por fortes furacões. O gnóstico deve imaginar inúmeras águias voando pelo espaço infinito, que está dentro, bem no âmago, de seu coração.
Imagine também os bosques profundos da natureza, cheios de sol e vida, o canto dos pássaros e o silvo doce e aprazível dos grilos do bosque.
Adormeça o discípulo imaginando tudo isso. Imagine ainda existir no bosque um trono de ouro onde assenta-se a Deusa KAKINI, uma mulher muito divina. Durma o gnóstico meditando em tudo isso.  
Pratique uma hora diária. Se praticar duas ou mais horas diárias tanto melhor. A prática pode ser feita sobre uma cômoda poltrona, deitado no chão ou na cama, com os braços e as pernas abertas em forma de estrela de cinco pontas. Deve se combinar o sono com a meditação. Deve- se ter muita paciência. Só com paciência infinita conseguem-se  essas maravilhosas faculdades do Cárdias. Os impacientes, aqueles que querem tudo rapidamente, que não sabem perseverar por toda vida, melhor seria que desistissem porque não servem. Os poderes não se conseguem brincando. Tudo custa a ganhar e nada se consegue de graça."
    

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Sobre os múltiplos universos paralelos e dimensões

A velocidade da luz não é a maior existente e em a maior possível

A despeito do que os físicos alcançaram calcular, existem velocidades acima da velocidade da luz. A velocidade da luz é a maior conhecida, mas não é a maior velocidade existente e nem a maior velocidade possível. Acima da velocidade da luz se dão os fenômenos que escapam à percepção humana comum e, portanto, dos cinco sentidos, que são o fundamento de toda lógica sobre a qual se baseiam os cálculos dos cientistas materialistas.

Obviamente, os cálculos matemáticos se baseiam na lógica. E a lógica que os baseia é extraída dos sentidos, principalmente da visão. É, portanto, a partir da percepção comum que os físicos concluíram que a velocidade da luz não pode ser superada. Entretanto, acima da velocidade da luz abre-se, para a visão espiritual, um abismo infinito de universos paralelos ou Eons (Aeons). A descrição que realizarei a seguir parte do pressuposto de que a escala de velocidades possíveis é infinita, tanto para cima como para baixo (alta e baixa velocidade) e não termina na velocidade da luz, como todo mundo gosta de afirmar, indo muito além deste limite até se perder na infinitude além.

Relatividade do tempo-espaço e os multiversos

A relatividade do tempo-espaço indica a multiplicidade das formas de se perceber distâncias, velocidades e períodos. Em outras palavras, sob certas perspectivas, o distante, o lento e o grande podem se tornar o perto, o veloz e pequeno. Longas distâncias se transformam em curtos trajetos quando enfocadas sob determinados pontos de vista. E os pontos de vista são estados de consciência. As câmeras em alta velocidade provam isso de forma irrefutável, para desespero dos resistentes. Se o tempo e o espaço fossem constantes e absolutos, os movimentos das asas de um beija-flor não seriam captados com riqueza de detalhes por câmeras de alta precisão e velocidade.

As várias escalas de espaço-tempo coexistem e se interpenetram, formando múltiplos universos paralelos. O macro e o micro se interpenetram mutuamente sem se confundirem.

Os multiversos dos físicos são os mesmos universos paralelos dos espiritualistas e os "outros mundos" das culturas religiosas e xamânicas. Contudo, os primeiros não os conhecem muito e conjeturam fantasiosamente sobre seus conteúdos por falta de experiência e de contato diretos, enquanto os segundos muitas vezes são capazes de neles penetrar conscientemente.

A não-localidade do elétron e as dimensões extra-físicas

A possibilidade das micro-partículas estarem simultaneamente em vários pontos indica a existência de uma dimensão em que o tempo-espaço conhecido não existe, sendo substituído por outra escala espaço-temporal. Somente a existência de outra(s) dimensão(ões) poderia explicar como algo passa daqui para ali sem passar pelos espaços intermediários ou está aqui e ali simultaneamente, sem que partes suas estejam no meio dos dois pontos em que o objeto inteiro pode ser encontrado, tal como se verifica em experimentos controlados em laboratório. Se partículas elementares apresentam superposições de múltiplos estados simultâneos, por que os objetos macroscópicos, que não deixam de ser constituídos por essas mesmas partículas, não poderiam apresentá-los igualmente? 

"No mundo quântico, uma partícula elementar, ou um conjunto delas, pode existir em uma superposição de dois ou mais estados possíveis. Um elétron, por exemplo, pode estar em uma superposição de diferentes posições, velocidades e orientações de spin. Ainda que não se possa medir quaisquer dessas propriedades com precisão, em qualquer instante, é possível obter um resultado bem definido - somente um dos elementos da superposição e não uma combinação deles. Nunca vemos objetos macroscópicos em superposições. O problema da medição se resume em uma única questão: como e por que o mundo único da nossa experiência emerge da multiplicidade de alternativas possíveis no mundo quântico superposto?" (Byrne, s/d.)

O mundo da nossa experiência não é necessariamente a única realidade possível

Stephen Hawking

As teorias de Stephen Hawking sobre o surgimento do universo não são mais lógicas, mais realistas ou menos fantasiosas que quaisquer explicações mitológicas e esotéricas. A diferença é que estas são analógicas e simbólicas, enquanto aquela não. Não sei porque todo mundo aclama os produtos da imaginação deste cientista e depreciam as descrições dos Mestres do Esoterismo.

Avanços científicos e espiritualidade

Quanto mais a ciência da matéria por excelência (a física) avança no conhecimento do mundo material, tanto mais se aproxima da concepção espiritualista de realidade. Quando a física chegar aos confins da matéria, estará no limiar do mundo físico, adentrando aos domínios do mundo espiritual. O mundo espiritual começa no nível subatômico.

Os materialistas estão em um beco sem saída, já que constataram que a matéria, tal como sempre a entenderam, não existe.

Os universos paralelos dos fenômenos ultra-velozes

Qualquer um sabe que acontecimentos muito velozes não podem ser percebidos a olho nu, assim como acontecimentos de amplitude espacial muitíssimo pequena.

Fenômenos muito velozes escapam completamente à percepção comum. Quando as câmeras atingirem a capacidade de capturar fenômenos a velocidades próximas à da luz ou acima dela, no futuro, um mundo novo e cheio de vida começará a se descortinar.

Existe um universo ultra-rápido, invisível e infinito, que escapa completamente à consciência comum. A gama de acontecimentos ultra-velozes preenche distâncias e períodos curtos e longos, formando múltiplos universos paralelos.

Se uma bala ultrapassasse a velocidade da luz, ela passaria através do nosso corpo sem nos ferir. Suas partículas pertenceriam a uma escala espaço-temporal distinta ou, em termos mais simples, a outro mundo.

O universo paralelo dos acontecimentos muito lentos

Se um corpo excessivamente rápido não existe para mim, sendo imperceptível em relação à minha pessoa, então minha pessoa, em relação ao mencionado corpo, também lhe será invisível, caso este corpo seja um ser dotado de algum tipo de consciência.

Imaginemos a bala de revólver. Ela me é invisível por ser muito veloz, mas eu também serei invisível em relação a um hipotético ser que esteja montado sobre esta bala, uma vez que ele passará por mim muito rapidamente. Se eu estiver caminhando ao lado de uma ferrovia e um trem me ultrapassar na velocidade da luz, serei invisível para os passageiros por ser muito mais lento que eles. Minha baixíssima velocidade me tornará invisível e me colocará em outro mundo paralelo, em outra escala espaço-temporal. Isso significa que a lentidão, e não somente a rapidez, pode ser um fator que promove a invisibilidade e até a inexistência de um objeto em um determinado lugar e momento.

Não existe imobilidade absoluta, como costumamos acreditar. O zero absoluto no campo da velocidade é algo inexistente. Por mais imóvel que nos pareça um corpo, ainda assim estará em movimento em relação a algo muito mais lento que não estejamos vendo.

Ora, se algo é muito rápido em relação a mim, então é lógico que serei muito lento em relação a este corpo veloz. Do mesmo modo, nós, que nos acreditamos fixos ou lentos, estamos nos movendo muito velozmente em relação a universos cuja velocidade para nós é inconcebivelmente lenta.

O erro de muitas pessoas consiste em imaginar que objetos que lhes parecem em repouso tenham velocidade nula e que nada pode se mover mais lentamente que aquilo que consideram "em repouso". Em relação a seres de um universo ultralento (infra-dimensões), nos movemos a velocidades altíssimas.

Assim como porções infinitamente gigantescas de espaço não podem ser percebidas pela consciência humana comum, os fatos que se dão em velocidades ultra-lentas também não o podem.

A percepção comum do ser humano não pode abarcar fenômenos imensos, pois os mesmos lhe escapam por sua amplitude. É por isso que a Terra nos parece plana e fixa em relação ao Sol e à Lua. Ora, como o infinitamente lento corresponde, comumente, à escala espaço-temporal do infinitamente gigantesco, resulta então que acontecimentos que se dão em tal escala nos são imperceptíveis.

Ainda que certos objetos nos pareçam parados (ex. um prato fixo sobre uma mesa), eles na verdade estão se movendo em relação a algo, como, por exemplo, a outros corpos celestes, em relação aos quais talvez também estejamos nos movendo. Além disso, suas micro-partículas se movem no interior dos seus átomos. É tudo isso que os torna visíveis e palpáveis ao nosso tato. Caso suas partículas ou todo o objeto se movessem a velocidades muito mais lentas ou rápidas que aquelas que correspondem à nossa escala de percepção, os mesmos nos seriam invisíveis e, o mais interessante, impalpáveis.

Não deve ser muito difícil entender que, se um objeto se move velozmente em relação a mim, isso significa que me movimento lentamente em relação a ele. Similarmente, se eu me movimento velozmente em relação a outro objeto, o mesmo estará se movendo lentamente em relação a mim, talvez tão lentamente que não sejamos visíveis um ao outro. Se a diferença de velocidade entre dois seres é exageradamente grande, eles não são mutuamente perceptíveis. Portanto, a lentidão, e não somente a rapidez, é um fator que oculta a existência de seres e mundos. A velocidade dos corpos e das partículas define a escala espaço-temporal em que atua nossa consciência.

Podemos dizer que os mundos altamente velozes estão "acima" do mundo tridimensional e que os mundos infinitamente lentos estão "abaixo". Por isso os chamamos "infra-dimensões" e "supra-dimensões", respectivamente.

A impalpabilidade dos corpos dos univeros paralelos se deve às suas altíssimas ou baixíssimas velocidades. Acontecimentos em velocidades muito abaixo daquela que corresponde ao mundo em que nos movemos, simplesmente não existem para nós, mas existem por si mesmos e, no caso de serem criaturas viventes de um outro mundo, para si mesmos.

No caso dos acontecimentos pertencentes ao âmbito do infinitamente lento, entendo que correspondem às infra-dimensões, sendo as partículas correspondentes muito mais pesadas que as partículas do mundo que comumente percebemos.

Velocidades e dimensões

A existência de distintas e infinitas escalas de velocidade torna possível a existência de outras dimensões além das três conhecidas. Isso vale tanto para as partículas componentes dos corpos como para os corpos inteiros, os quais compõem corpos maiores.

Acontecimentos velozes que abarcam amplas porções de espaço

O mais interessante, a meu ver, são os acontecimentos hiper-rápidos que cobrem grandes distâncias. Ali, precisamente, suponho que se revelarão os grandiosos acontecimentos que os videntes religiosos descreveram. Não me refiro somente a corpos que se movem rapidamente em relação a outros corpos, mas também, e principalmente, a corpos que vibram muito rapidamente no nível de suas partículas, ainda que não se desloquem rapidamente em relação a nós.

São esses os corpos e seres acessados nas visões da ayahuasca, na meditação e nos estados místicos verdadeiros, não alucinatórios.

O mundo das partículas sutis

Partículas infinitamente pequenas, muitas das quais ainda desconhecidas para os cientistas atuais, arranjam-se de modo a constituir formas pertencentes aos universos paralelos ao físico. Podemos dizer que tais partículas são, em relação a este universo em que vivemos, sutis e o compenetram perfeitamente sem que suas formas se confundam com as dele. Um objeto constituído por tais partículas será espiritual (extra-físico) e poderá penetrar um objeto físico sem afetá-lo ou ser por ele afetado. A conhecida impermeabilidade entre objetos de matéria tridimensional torna-se permeabilidade quando um objeto pertence a este universo e o outro pertence a um universo distinto, porém paralelo.

Aquilo que convencionalmente chamamos de "átomo" (não divisível) na verdade não existe, pois não há partícula que seja indivisível. O que se convencionou chamar de átomo, na verdade, é um amplo espaço composto por partículas infinitamente menores, as quais, por sua vez, são compostas por partículas ainda menores, em um abismo incomensurável rumo ao infinitamente pequeno e, obviamente, ao infinitamente veloz.

A palpabilidade ou impermeabilidade dos corpos é dada pela proximidade das escalas de espaço-tempo de suas partículas componentes. Se, entre ambas as escalas, a diferença for muito alta, ambos serão intocáveis, impalpáveis um para o outro. Um objeto somente existirá para o outro se ambos existirem em escalas próximas, isto é, dentro de um mesmo universo.

No abismo subatômico, as velocidades são inconcebivelmente altíssimas e escapam ao alcance dos cálculos de qualquer cientista que se norteie pelos parâmetros que regem os fenômenos no mundo sensível. Tais partículas ínfimas não apenas permeiam e atravessam livremente, por suas dimensões infinitamente menores, aquilo que se convencionou chamar de "átomos", como também, por suas altíssimas velocidades, inexistem nas dimensões que lhes correspondem.

No interior do átomo há espaço de sobra para as micro-partículas dos corpos espirituais. Além disso, essas partículas espirituais ou sutis vibram ou se movem tão velozmente que simplesmente "não existem" para aqueles átomos, apenas influenciando-os "à distância", ou seja, de um universo para outro que lhe é paralelo.

A relatividade do espaço

A distância é uma ilusão da mente e não existe no mundo real. Dois objetos que nos parecem separados por um espaço, em um nível profundo de realidade, estão unidos.

Se a distância entre dois objetos existisse objetivamente, não poderia ser encurtada com o aumento da velocidade e seria sempre a mesma. A distância entre dois pontos poderá ser maior ou menor, consoante a escala espaço-temporal em que se vive ou à velocidade com que se desloca de um a outro.

Uma pessoa poderá transformar dois pontos distantes em pontos muito próximos, caso se desloque a grandes velocidades. Caso dê um salto e passe a viver na escala do seu Espírito, os pontos distantes lhes serão vizinhos.

Consideramos que São Paulo e Tóquio estão distantes porque estamos quase divorciados do nosso Ser.

O Ser tem o poder de transitar por diversas escalas de espaço e de tempo, de acordo com sua vontade. No mundo do Espírito, o passado pode ainda estar acontecendo e o futuro já ter chegado, ambos irmanados em um agora contínuo.

Nossa pobre consciência sofre, aprisionada em uma pequeníssima fração da Grande Realidade. Vivemos e nos movemos em uma parcela relativa do Todo. As distâncias que consideramos longas somente possuem sentido dentro da relatividade em que estamos aprisionados. Se nos libertássemos, poderíamos vivenciar o distante no aqui e o futuro no agora.

O mundo das relatividades não é o mundo verdadeiro, é o mundo das ilusões, dos pontos de vista.

Se o espaço e o tempo fossem absolutos, não poderiam ser alterados pela velocidade. Mas a verdade é que podem ser alterados pela velocidade. Quando estamos atrasados, pedimos ao motorista para que aumente a velocidade. Um lugar será ou não distante de outro em dependência da velocidade de deslocamento de que dispusermos.

Referência:

BYRNE, Peter. Multiverso: Os Vários Mundos do Atormentado Hugg Everett. pp. 14-21. In: Scientific American Brasil, Fronteiras da Física 3 (edição especial). São Paulo: Ediouro Duetto Editorial Ltda, s/d. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Concentração: utilizando o centro emocional

Por que é tão fácil ficarmos tomados por um mal pensamento e tão difícil fazer o mesmo com um pensamento sublime? Porque os pensamentos maus são carregados de conteúdo emocional. Se levado às últimas consequências, o cultivo de um pensamento mau afeta todos os centros e até o metabolismo do corpo físico se torna direcionado àquele objetivo. Isso significa que, se quisermos inverter o processo psicológico para cima, temos que procurar sentir as emoções superiores correspondentes ao pensamento sublime que estamos tentando cultivar por meio da concentração. Não basta somente empenhar-nos em manter certas imagens na cabeça: temos que permitir que as emoções superiores correspondentes nos invadam e que o pensamento sublime nos arrebate e atinja todos os centros da máquina. 

Se você escolheu como tema de sua concentração a Mãe Divina, o Ìntimo, o Cristo ou um mantram, por exemplo, não basta somente tentar imaginá-los, é necessário ir muito além e buscar sentir as emoções superiores correspondentes. É assim que vamos nos abrindo para as influências superiores e cooperando com o Alto.

O processo de concentrar a mente em algo superior é análogo ao processo em que ela é arrebatada pelas coisas inferiores mundanas e negativas, com a diferença de que é um processo consciente e ocorre no sentido inverso. É o direcionamento intencional da mente para cima, para o que é espiritual, com o intuito de posteriormente descartar até mesmo a mente (como um barco que serve para atravessar um grande lago mas não pode ser mantido às costas depois da travessia). A mente é como uma arma e pode ser direcionada para o bem ou para o mal. Quando pensamos em coisas mundanas, materiais, a condicionamos a pensar assim cada vez mais. Os maus pensamentos formam sanskaras, sinapses específicas, que vão sendo reforçadas a cada repetição e direcionam os demais centros para objetivos malignos, fazendo com que as pessoas se "desenvolvam" no mal, ao longo das várias existências, até se transformarem em asuras (demônios). Em outras palavras: elas cultivam o Ego (seus defeitos e desejos) por meio do pensamento até níveis imensuráveis. 

Por outro lado, se aprendermos a mudar o curso da mente, cultivando pensamentos elevados durante as práticas de concentração/meditação, podemos inverter o nosso destino espiritual, por pior que seja o nosso estado atual. Portanto, não faz sentido algum ficarmos nos lamentando por nossos pecados e erros, pois isso os atrai, melhor é esquecê-los e praticar o amor a Deus por meio da concentração e da meditação, até que todos os nossos centros fiquem direcionados para o Espírito.

Todos somos asuras, se não desenvolvidos, pelo menos em estado embrionário. Por outro lado, somos também devas e suras (deuses) em estado igualmente germinal, em semente. O que iremos cultivar dentro de nós?

Para que o pensamento sublime atinja a emoção e desenvolva as emoções superiores, temos que prestar atenção no que sentimos diante de uma imagem superior. Qual é a emoção que o mantram "Om" ou qualquer mantram sagrado provoca em nosso coração quando o estamos recitando? Que emoção sentimos quando nos concentramos e contemplamos uma imagem da Mãe Divina? São essas emoções que temos que cultivar, desenvolver, para que elas nos arrastem, nos arrebatem para cima. 

domingo, 4 de agosto de 2013

Etapas didáticas da meditação

Uma prática completa de meditação possui várias fases, desde a postura até a meditação propriamente dita. Após a meditação, ainda temos outros estágios mais profundos que não podem ser descritos por meio de palavras das línguas ocidentais.

Antes de mais nada, você deve escolher o tema (lakshya) em que irá meditar e uma postura ideal (asana) para fazê-lo. É claro que o ideal são temas sátwicos (sagrados e espirituais), mas podemos começar com temas mais concretos para compreender melhor como se realiza uma concentração. Um tema que nos faça bem e no qual pensemos com certa facilidade poderá servir.

A postura ideal deve, em primeiro lugar, permitir que você respire sem problemas, mesmo nos estágios mais avançados, quando você estiver bem longe do corpo e dos sentidos. Uma postura que não permite que o corpo respire com facilidade em sono profundo irá atrapalhar e estancar a prática, pois o praticante terá que interromper e retornar ao estado comum para ajustar a posição da cabeça, do pescoço ou algo assim. Em segundo lugar, a postura não deve permitir incômodos, tais como dores ou circulação sanguínea obstruída. Um braço, uma perna ou o pescoço mal posicionados poderão apresentar dor ou dormência, o que irá atrapalhar. Podemos meditar sentados ou deitados, o que importa é termos uma boa posição que não incomode quando o relaxamento atingir níveis bem profundos. Meditar não é muito diferente de dormir, embora seja algo consciente. Particularmente, acho muito estranha essa idéia de dissociar meditação de sono e de concebê-los como coisas contrárias e incompatíveis. Quem realmente sabe meditar, dorme e descansa enquanto medita sem problema algum, na verdade dorme mais profundamente.

Uma vez escolhida a postura ideal, devemos iniciar o trabalho de relaxar os músculos. Para tanto, temos que tomar consciência das tensões musculares que possuímos e descartá-las. Começando pelos pés, vamos descobrindo e afrouxando tensões de todo o corpo, abandonando-as. Como começamos a prestar atenção específica, podemos também sentir algumas dores que antes não estavam sendo percebidas e isso é normal. 

Nesta fase, muitos sentem comichões, coceiras e vontade de se mexer. O motivo é que a pessoa está pondo a atenção nesses processos ao invés de direcioná-la às tensões musculares. Quando a pessoa se volta completamente para o relaxamento, os pruridos desaparecem.

Na etapa do relaxamento utilizamos nosso poder de concentrar a atenção, porém não entramos ainda na etapa da concentração propriamente dita. O que se passa é que direcionamos nossa atenção ao corpo, aos músculos, e vamos nos tornando conscientes de nossas tensões. Não podemos negligenciar esta etapa, pois a mesma, quando concluída, irá nos liberar da identificação com o corpo físico.  O que importa é chegarmos a um relaxamento profundo, a uma libertação das tensões. 

Se ocorrerem algumas percepções alteradas durante o relaxamento, não se assuste, pois isso é normal. Sensações de formigamento e impossibilidade de mover-se são comuns, sendo na verdade manifestações do sono biológico. Caso ocorram, não se importe e aprofunde ainda mais o relaxamento. É possível que você comece a sentir um princípio de ananda (felicidade espiritual) 

Uma vez que tenhamos conseguido um relaxamento razoável, passamos agora à etapa de nos desligarmos dos pensamentos. Como a mente está em ebulição, convém tomarmos consciência dos pensamentos que vão desfilando em nossa mente, "rotulando-os" à medida que passam. Não devemos nos identificar com os pensamentos e isso significa que temos que ser neutros, nem contra e nem a favor dos mesmos, simplesmente observá-los de fora, sem compromisso algum. Tanto aquele que se detém com os maus pensamentos, lutando com eles para silenciá-los, como aquele que gosta e "curte" os maus pensamentos, se divertindo em saboreá-los, está preso eles e não pode abandoná-los. O trabalho de observar os pensamentos vai retirando a consciência dos cinco sentidos e concentrando-a nos processos internos. Aqui principia o que se chama "pratyahara", que é o desligamento dos indryas (sentidos externos) e o direcionamento da consciência para dentro, para o mundo interior, que na verdade é o outro mundo.

Quando o pratyahara está bem estabelecido, o praticante já desligou seus cinco sentidos externos comuns: ele não ouve, não vê e não sente mais o mundo físico e, às vezes, nem mesmo o corpo físico. É aqui que algumas vezes somos assaltados pela paralisia do sono e podemos começar a ter percepções alteradas e incomuns. Normalmente, o praticante sente muito medo, crê que está morrendo e não vai além desta etapa. São percepções alteradas comuns nesta fase: estar paralisado e não conseguir mover-se, ver com os olhos fechados, ouvir sons estranhos, ter a sensação de que o corpo está em outra posição, achar que se está em outro lugar, ter flashes de cenas da infância, recordar-se de traumas e perdas, lembrar-se de algo que atemorizante, sentir-se flutuando etc. Se você quiser ir além de uma prática superficial, terá que  manter-se neutro e indiferente em relação a todas essas percepções, como fez o Buddha Gautama embaixo da Árvore, e deixá-las todas para trás. Você deve ir atrás de sua meta e não perseguir mais nada.

O próximo passo é começar a pensar e prestar atenção (com os olhos fechados) no alvo ou objeto de concentração (lakshya). Embora o poder de concentrar a atenção já fosse empregado desde a etapa do relaxamento, é agora que a concentração mais plena, tanto da atenção e da percepção como do pensamento, se faz mais necessária. O lakshya adequado é aquele que nos eleva, no qual pensamos com certa facilidade e profundidade. Um tema negativo e carregado, embora seja um alvo fácil para concentração, certamente nos levará para baixo ao invés de nos deixar sátwicos e provocará experiências ruins, sonhos maus e pesadelos oriundos de pensamentos malignos. Temos que apartar a mente de todo o mal, não levar a mente ao que prejudica. 

Ao pensarmos no lakshya, não necessitamos articular os pensamentos através de palavras mentais, podemos simplesmente utilizar a imaginação para visualizar processos, sem o recurso da conversa interior. Se você emitir um mantram mentalmente, esse "som" pronunciado internamente será o seu pensamento único e você poderá ouvi-lo com a clariaudiência incipiente que todo ser humano possui. Se você imaginar uma cachoeira, as imagens e sons internos da cachoeiras são mais que suficientes e você não precisará conceituar e nem conversar consigo mesmo, mentalmente, sobre a cachoeira. O que importa é que a imaginação flua. Com o fluir da imaginação, vem a reflexão serena e silenciosa sobre o tema.

Muitas interferências mentais podem ocorrer para tentar nos desviar nessa etapa. Imagens de lindas mulheres, de problemas familiares, de compromissos, de perigos, de ameaças, de doenças etc. tentam absorver nossa atenção e nos desviar da meta. Se continuamos focados no que nos interessa, atravessaremos essa fase e cada vez mais a concentração se aprofundará. Então só restarão imaginações referentes ao tema em que estamos meditando e nada mais. Teremos nos libertado de todos os demais pensamentos.

Quando a mente fica completamente tomada pelo pensamento em algo, termina experienciando diretamente aquilo em que pensa. Quando isso ocorre, há uma perda temporária de identidade (pois estamos começando a sair da mente e do Ego) e isso nos assusta, principalmente no começo.

Quando a concentração está perfeita, tendo todos os demais pensamentos sido deixados para trás, estamos na fase denominada Dharana. Em uma perfeita Dharana, não há percepção do mundo físico, do corpo e nem de nada mais que não seja o objeto de concentração, mas ainda não saímos da mente.

Sabemos que nosso propósito, ao meditar, é sairmos da mente. Sair da mente é deixar os pensamentos para trás, esquecê-los, nos desligarmos deles. Em Dharana, ainda resta um pensamento único, que apresenta vários sub-pensamentos, todos dentro do mesmo tema. A mente ainda está nos prendendo, como uma corda amarrada ao pé de um pássaro. Se quisermos ir além e descobrir o que há além daquele pensamento, temos que abandoná-lo.

O pensamento restante, por mais concentrado que esteja, ainda não é a realidade. Esse pensamento único pode realizar prodígios, produzir insights, revelações, soluções, pode afetar até o funcionamento do corpo físico, mas ainda não é a realidade sobre o tema. A realidade está além de qualquer pensamento. Todo pensamento é parcial, polarizado e possui seu contrário. Para abandonar o pensamento restante, temos que encontrar seu pólo oposto e confrontar ambos, transcendendo a dualidade e compreendendo que ambos são um. Ao compreendermos o caráter ilusório do pensamento que havia sobrado, nos libertamos da mente e caímos em Dhyana, que é a meditação propriamente dita. 

Em Dhyana, compreendemos a realidade sobre o objeto da meditação, a qual está além da mente, de conceitos, de idéias, de opiniões, de pontos de vista, de raciocínios etc. porém esta mesma realidade possui níveis e níveis infinitamente mais profundos, os quais são acessados somente em estágios posteriores ao da meditação. Em Dhyana há reflexão pura, sem conceitos, o que nos permite experimentar os primeiros aspectos da Realidade.