sábado, 29 de setembro de 2012

Morte do Ego: descobrindo as causas horizontais


Em nossa vida, fatos indesejáveis e destrutivos repetem-se incessantemente, atormentando-nos. Os fatos indesejáveis resultam de múltiplas causas, combinadas e sequenciadas em diversos níveis horizontais: algo que fazemos agora desdobra-se em um efeito daqui há pouco, que se desdobra novamente e assim por diante. Tudo o que fazemos tem múltiplas e prolongadas consequências, tanto internamente como externamente.

Um ato impulsivo qualquer se origina, horizontalmente, de outros atos cometidos, os quais se originam de outros que, por sua vez, se originaram de outros e assim sucessivamente. Os atos formam cadeias de eventos sucessivos. 

Vejamos um exemplo. Alguém que tenha brigado em um bar, primeiramente se desentendeu com o rival, mas antes de se desentender já havia cometido inúmeros atos que o levaram àquela situação. A pessoa originou sua própria tragédia de inúmeras e insuspeitadas maneiras. Se jamais houvesse frequentado bares, não teria conhecido o inimigo. Se não houvesse conhecido o inimigo, não teria entrado em conflito. Portanto, sua desgraça começou a se gestar muito antes do acontecimento trágico em si. Se detalharmos ainda mais as causas, descobriremos um sem número de frases, posturas, olhares, pensamentos, movimentos, deslocamentos, caminhadas etc. que originaram e nutriram aquela situação até o dia fatídico. A briga foi o resultado indesejável da combinação de múltiplos fatos anteriores. 

Quando removemos de nossa vida as situações que conduzem a um resultado indesejável, o resultado deixa de acontecer.

Em grande medida, nós mesmos somos os autores de nossas desgraças, mas não nos damos conta.

Cometer um delito é como caminhar por uma estrada rumo a um grande perigo, quanto mais caminhamos em direção àquele objetivo, mais difícil é retornar, quanto mais longe, mais fácil. Melhor é não dar os primeiros passos naquela direção.

Não é tão fácil deter a fornicação, mas não é tão difícil manter-se distante da mulherada. A fornicação, uma vez provocada, dificilmente retrocederá. Aprendemos o Morrer quando aprendemos a evitar as situações que desencadeiam os atos que queremos eliminar de nós mesmos. O que importa é antecipar-se à compulsão, agir antes. 

Na Morte, ao invés de nos ocuparmos com tolas tentativas de fazer retroceder resultados desastrosos, trabalhamos sobre as causas desses resultados. Investigamos as sequências causais até onde nosso entendimento alcance e as eliminamos. Então o monstro invencível tomba.

As causas dos atos compulsivos devem ser buscadas na mente (pensamentos, lembranças, raciocínios, imaginações e fantasias) e nos movimentos (tudo o que fazemos e dizemos). Um ato, fala ou pensamento inofensivos podem ter desdobramentos desastrosos. Esses são os "detalhes" ou fonte de alimentação dos defeitos.

O desejo se torna despótico quando tentamos combatê-lo diretamente, ao invés de irmos aos fatores que o nutrem, às suas causas.

Quando queremos nos livrar de um vício, temos que nos afastar de tudo o que esteja a ele relacionado. Tudo o que lembre ou conduza ao vício tem que ser removido. Mas, para remover os fatores do vício, temos primeiramente que descobri-los.

Por trás de cada pequeno e inofensivo ato, fala ou pensamento que conduz a uma posterior situação de satisfação do desejo há um pequeno ego. Temos, portanto, milhares de pequenos elementos psíquicos que convergem rumo à satisfação de um dado desejo poderoso e violento. Um desejo violento não atua sozinho, mas por intermédio ou facilitação de inúmeros desejos menores, sutis e quase imperceptíveis.

Um homem que fique andando com mulheres, marcando encontros, correspondendo-se, que tenha uma agenda cheia de números de telefones de parceiras, que assista a filmes pornográficos, que frequente danceterias, boates, prostíbulos, que mantenha conversas luxuriosas com amigos, que aprecie se distrair com pensamentos morbosos etc. jamais conseguirá livrar-se do vício da fornicação por uma simples razão: o estará nutrindo com tais atos. Os referidos atos são as causas (horizontais) do seu vício. E cada ato possuirá uma causa vertical ou interior: um ego respectivo. O mesmo princípio vale para quaisquer outros defeitos que tenhamos: a ira, o medo, a preguiça, a gula e muitos outros.

Portanto, aprendamos a evitar aquilo que nos levará a situações das quais não poderemos retornar. Aí está uma das chaves para a Morte.