Estar em auto-observação é simplesmente estar receptivo a si mesmo, ao que se sente, se pensa e se faz no presente. Estar receptivo é não ter resistências, é ser capaz de contemplar o que se passa, sem tentar “congelar” os processos.
É comum que, durante a auto-observação, tentemos interferir nas manifestações do Ego, repelindo-as por as considerarmos perigosas ou prejudiciais. O ato de repeli-las impede sua clara percepção.
Reprimir é um ato automático, resultante de muitos condicionamentos passados, aplicados por aqueles que se desesperam diante das ameaças de seu próprio psiquismo. Apesar da boa intenção, o ato de reprimir não resulta em enfraquecimento do desejo.
Em auto-observação, temos que permitir que os defeitos passem, que cheguem e partam, que tomem o seu rumo. Somente assim os compreenderemos.
Não devemos nos identificar com os defeitos e nem tampouco bloqueá-los, temos que simplesmente observá-los. Quem se identifica com os defeitos os fortifica. Quem tenta bloqueá-los, os represa. Quem quer enfraquecê-los, deve aprender a contemplá-los de forma objetiva, sem adotar uma postura favorável e nem contrária. O enfraquecimento resulta da compreensão, não da satisfação e nem tampouco da repressão.
Quem satisfaz o defeito está identificado, assim como quem resiste. Ambos os extremos são prejudiciais.
Uma coisa é condenar um defeito a posteriori, concluindo algo após tê-lo observado. Outra coisa é condenar um defeito a priori, tirando conclusões precipitadas.
Se você se observar com cuidado, verá que reage continuamente a fatos externos aparentemente sem importância. Em tais reações sutis se escondem os detalhes ou facetas do Ego que necessita compreender. Observar as pequenas reações é a chave para trazer à consciência as partes ocultas do iceberg do Ego.
De nada adianta tentar enfraquecer um desejo se não removemos seus sutis canais de alimentação.
Fazer-se consciente de algo é dar-se conta do que antes não era percebido. Não nos tornamos conscientes das partes ocultas dos defeitos se não as observamos em ação. As porções ocultas do Ego não estão inativas, estão em atividade, atuam no dia a dia, apesar de não as percebermos. E não as percebemos porque o holofote de nossa consciência não está direcionado aos detalhes, não está focado nas manifestações pequenas, evocadas pelos fatos sutis e sem importância do cotidiano.
A chave para a Morte não é reprimir e nem satisfazer, é observar o desimportante, os detalhes.
Se somos sacudidos por manifestações violentas e brutais, é simplesmente porque anteriormente permitimos que manifestações sutis, tênues e leves tomassem corpo e se fortificassem. O fato está indicando que nossa consciência não detectou as manifestações sutis correspondentes ao desejo violento. Nelas está a chave para derrubarmos o inimigo. De nada adianta tentar derrubar o gigante, melhor é prestar atenção em suas vias de alimentação. Sejamos como o Leão que, ao invés de olhar para a madeira que foi lançada, como faz o cão, procura imediatamente quem a lançou. Não corramos atrás da madeira.
As pessoas temem estar receptivas ao Ego, acreditam que ficarão tomadas e perderão o controle. Na verdade, a perda do controle sobrevém quando nos identificamos ou quando reprimimos.