quarta-feira, 7 de abril de 2010

Como a mente sabota a Morte e a meditação

A mente é como uma tela de televisão ou de cinema. Por esta tela da mente, passam sucessivas imagens ou cenas. O desenrolar das cenas segue rumos nem sempre coerentes. De uma cena, passa-se à outra, e à outra, e à outra...e assim sucessivamente, em uma procissão sem fim.
As cenas que passam na tela da mente são os pensamentos, lembranças e imaginações mecânicas ou fantasias. São infinitas imagens, fixas ou móveis, através das quais alimentamos os egos. Trata-se de manifestações dos egos no centro intelectual.
Como somos animais racionais, temos que colocar especial atenção no centro intelectual. Não é possível dissolver o ego se negligenciarmos a Morte neste centro. De nada adianta tentar manter-se casto quando se permite que na tela da mente permaneçam imagens de mulheres, sexo e delícias eróticas. O trabalho da Morte começa pela mente e termina na mente, apesar de também ter necessariamente que passar pelos outros centros.
Quando as imagens mentais desfilam sob o controle do ego, temos o que se chama imaginação mecânica. Trata-se de um tipo de imaginação involuntária, que ocorre sem participação consciente. São cenas que os Egos projetam e sobre as quais desfrutam e deleitam. O deleite do Ego sobre tais cenas se dá por meio da identificação. Identificar-se com as imagens mentais é um grande erro, pois fortifica os desejos.
Há também a tagarelice interior, composta por sons internos, vozes, e não por imagens. As vozes da tagarelice podem ser a nossa própria voz ou de outras pessoas, em situações hipotéticas passadas ou futuras ou em situações reais mescladas a situações possíveis. Tagarelice interior e fantasia se associam no processo de fortificação dos defeitos.
Por trás das imagens e falas mentais estão os Egos. O conteúdo da cenas indica qual é o desejo que está se fortificando.
A guarida dos desejos está na mente. O desejo é sentido intensamente no centro emocional, mas o fundo sobre o qual se embasa está no centro intelectual. Quando se mata o pensamento, se torna muito mais fácil matar o desejo em seguida. Quanto mais se pensa em um desejo ou problema, pior se torna a situação interior. Quantidade de imagens mentais explode na cabeça, somos invadidos e não sabemos como sair da situação. A chave é: calar a mente, não pensar.
Para que a mente não atrapalhe, temos que ter um foco de atenção. Se estivermos andando, trabalhando etc. o foco será a nossa pessoa (auto-observação e morte em marcha). Contudo, se estivermos meditando ou formos nos deitar, o foco poderá ser um Koan, um mantram ou um trabalho de imaginação consciente.
A imaginação consciente é diferente da imaginação mecânica. Nela escolhemos voluntariamente um objeto, algo para imaginar. Então fixamos a atenção nesta imagem, até enxergá-la nitidamente com os "olhos espirituais" (clarividência - todo mundo tem um pouco de clarividência que pode ser ativada momentaneamente com esta prática). Ao enxergá-la, então podemos começar a penetrar o objeto da imagem e acompanhar algumas revelações que vão ocorrendo através da imagem, escolhendo conscientemente por onde iremos penetrá-la. As revelações vão aparecendo e vamos aprofundando o processo. Se estivermos concentrados na imagem da chama de uma vela, podemos penetrar nessa chama representada em nossa imaginação, para ver o que se revela. Se for uma planta, podemos entrar na imagem da planta, como faziam Jacob Boheme e Goethe, descobrindo o que havia dentro desta imagem. O resultado será um desdobramento astral ou até uma viagem mais além. O trabalho de penetrar a imagem não tem necessariamente um fim, podendo haver penetrações sucessivas e cada vez mais profundas, até um nível em que há não haja espaço algum para nenhuma atividade mental. Ao ultrapassá-lo, já estamos na meditação, mergulhados na realidade. Quando se atinge tais alturas, o corpo está em sono profundo e o cérebro em ondas Theta e Delta. Há outros níveis além, e os hindus e tibetanos os designam por distintos nomes. Mas não vamos nos afastar tanto para "cima do telhado", já que somos todos principiantes e nem sequer sabemos nos concentrar direito.
Quando focamos a atenção em uma imagem, a mente lança múltiplas imagens distintas (pensamentos) para nos atrair a atenção. Se nos deixamos distrair, nos desviamos de nosso objetivo. Se nos ocupamos com tais imagens, tentando silenciá-las à força, criamos um conflito e igualmente nos desviamos. O indicado é manter-se focado no objeto e, no caso da insistência ser muita, silenciarmos o pensamento perturbador descobrindo o seu conteúdo. O que é que contém este pensamento insistente? De que se trata? Que imagens contém, o que almeja etc. Assim, com uma breve compreensão, ele deixa de nos perturbar e podemos descartá-lo. Importa, especificamente em tais casos, compreender a inutilidade do pensamento persistente, perguntando-nos com máxima sinceridade: para que serve este pensamento, neste momento? Qual a sua importância? A mente considera seus pensamentos importantes e temos que fazê-la compreender que o pensamento que insiste em perturbar não serve para nada.
Importa entender, aqui, que a mente é o nosso grande inimigo, o qual sabota implacavelmente o trabalho da morte e as práticas da meditação, sem trégua. Podemos considerar a mente como sinônimo do Ego, já que, em nosso estado, quase não dispomos de mente pura e límpida. Sempre que quisermos escapar momentaneamente do Ego, na meditação, ou quisermos matar alguns defeitos, a mente estará interferindo para impedir.
Se quisermos triunfar, a prática da meditação deve ser realizada várias vezes por dia e a Morte em Marcha em tempo integral. Se não for assim, fracassamos.

Um comentário:

  1. A minha duvida entra na seguinte questão, antigamente fazia esforços incorretos, usava a força contra o pensamento. Conseguia, 3 dias, 3 semanas, 3 meses, contava as vezes que fracassava, mas somava as vezes que conseguia, querendo sempre aumentar a ausência do ego, mas percebendo meu erro de esforço hoje eu faço o seguinte, quando me vem um pensamento luxurioso por exemplo, eu rapidamente o detecto mas sem analiza-lo, sei que é luxurioso devido seus efeitos, desvio meu pensamento penso em Deus e faço minha oração para expulsar, destruir, e dar me força, e também compreensão e arrependimento. Porém percebo que são varios egos diferente em uma mesma causa, eles aparecem do nada, e sempre quando faço isso eles somem, quando eu questiono, faço alguma perguntaou mesmo tento observa-los sem me identificar, eu não consigo definir nada eles simplesmente somem, e isso ultimamente tem sido de forma automatica, não somente o ego mas a morte do ego em si, aparece a imagem minha mente rapidamente diz 'é o ego' então me distâncio, nem quero analisa-lo, sei que é ego pelos efeitos prejudiciais , da luxuria por exemplo, acontece em frações de segundos, ja faço a suplica peço força e o mesmo some. Me distâncio, não tem sido tal tortuoso como da primeira vez. Não consigo observa-los, como antes, antes conseguia obsersar muita coisa e até escrever.

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