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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Evitando a nutrição dos defeitos

Contemplar uma imagem luxuriosa sempre irá fortificar a luxúria, não importa se a imagem esteja em nossa mente, em uma revista, na tela de um computador ou seja a imagem de uma mulher real, que esteja ao vivo e a cores em nossa frente.

Quando contemplamos a imagem do corpo de uma linda mulher, esteja nua ou vestida, com decotes e pernas à mostra ou não, sentimos algo agradável, uma espécie de prazer morboso. Esta sensação agradável confere a crença de que o desejo é algo benéfico, a despeito de todos os prejuízos que possa causar, e que vale a pena pagar o preço correspondente para desfrutar da satisfação.

O ego que deseja acredita que o desejo é bom e não compreende seus prejuízos. Corresponde a um entendimento condicionado, parcial e tendencioso, que nos afasta da realidade. A realidade estaria na síntese, mas a síntese não é acessível ao ego desejante. À medida que a compreensão se aprofunda, outros aspectos da realidade, excluídos pelo elemento psíquico que deseja, são apreendidos e o significado atribuído ao objeto se transforma.

Podemos compreender o desejo e podemos compreender o objeto do desejo. Compreender o desejo é, principalmente, compreender seus equívocos, o aspecto absurdo do seu ponto de vista. Compreendendo o desejo, tornamos a compreensão do objeto do desejo mais exata. Se tentarmos somente compreender o objeto do desejo sem compreender o próprio desejo, esbarraremos na limitação de entendimento imposta por este último.

Refletir sobre o objeto pode ser útil em certos casos, mas não resulta na morte do elemento que o deseja. Se queremos a Morte, temos que compreender o desejo em si.

Quando se diz "compreender um defeito", "compreender um ego" ou "compreender um desejo" se está referindo ao trabalho de entender o modus operandi do mesmo, isto é, como o mesmo atua em nossa vida. Tal compreensão nos leva, inevitavelmente, à compreensão dos equívocos contidos no seu ponto de vista. Quando se compreende o quanto equivocado é o ponto de vista de um ego, pode-se dizer que o mesmo foi compreendido. Portanto, temos que chegar a compreender que "este 'eu' pensa assim e assim, e age deste e daquela forma".

A todo momento estão se manifestando os detalhes ou facetas dos desejos, mas não os observamos, seja por negligência ou por falta de orientação. As manifestações corriqueiras, comuns e tênues, fortificam o ponto de vista equivocado do desejo de uma forma espantosa e não lhes damos a importância devida, motivo pelo qual não conseguimos nos livrar dos seus efeitos posteriores. Somos escravos do desejo porque os alimentamos continuamente, durante todo o dia.

A sensação prazeirosa que se tem ao contemplar a imagem do corpo de uma mulher é dada pelo roubo da energia nos centros e consiste no próprio processo de nutrição e fortificação do desejo. O aspirante, então, se depara com um dilema: se contempla, torna-se ainda mais escravo; se não contempla, reprime e prossegue sendo devorado pelo desejo. Em ambos, os casos, a falha está na identificação. Tanto o estudante que reprime como o que alimenta estão identificados. Um saboreia, identificado, a sensação prazeirosa e nutre o desejo. O outro tenta bloquear, também identificado, o desejo. Nenhum dos dois se separa do desejo e nem do objeto para compreendê-los de forma objetiva.

Se prossigo contemplando morbidamente a beleza corporal feminina, não estou interrrompendo a alimentação do desejo. Mas se simplesmente desvio o olhar, sem romper com a identificação, também não a estarei interrompendo, pois a imagem mental prosseguirá dentro de mim e contemplar uma imagem mental é alimentar do mesmo modo.

Tanto faz se a imagem contemplada é mental, virtual ou física. O ato de identificar-se com a imagem é o ato de nutrir o desejo. E, sempre que a contemplamos, nos identificamos.

Se não sou capaz de contemplar a imagem sem me identificar, então não devo contemplá-la, pelo menos enquanto não houver conquistado tal capacidade. Mas se tenho total capacidade de contemplá-la sem identificação alguma (e estou absolutamente certo de não estar caindo em nenhum auto-engano), então posso contemplá-la sem problemas. O problema não está em contemplar ou não, mas em se identificar ou não. Você saberá se está identificado se sentir alguma forma de prazer erótico ao ver a imagem.

Entendo que nós, os principiantes, não devemos ficar contemplando os corpos das mulheres pois, ao fazê-lo, estamos fortificando as amarras das quais queremos nos libertar. Sob este ponto de vista, descobrir e eliminar detalhes inclui descobrir e eliminar formas insuspeitadas de contemplar as mulheres com luxúria. Contemplar sob a desculpa de que se vai "estudar o desejo" equivale a cair em uma auto-armadilha, no auto-engano.

Quem quer morrer deve retirar de si e de sua vida tudo o que alimente o desejo. É nesse sentido que devemos nos observar de instante a instante, não somente em relação ao desejo pelas mulheres, mas em relação a todos os desejos. Mas não se entenda o "retirar" como mero recalque sem ruptura com a identificação. Retirar, aqui, significa morrer de fato e quem mata é a Mãe Divina.

Não somente pelos pensamentos e emoções, mas também pelas atitudes está vivo o ego. Temos muitas atitudes que sustentam os desejos e nem sequer as notamos. Nossas falas, movimentos e outras coisas mais estão a todo momento fornecendo energia ao desejo. A auto-observação deve descobrir esses meios, pelos quais o Ego se fortifica.

Pensar no desejo não adianta, melhor é observar por onde o mesmo se alimenta. A mente silenciosa é um requisito para a observação e para o discernimento.

Se um fato qualquer provoca um golpe emotivo ou libidinoso, não adianta tentar revertê-lo à força, melhor é não identificar-se e, ao mesmo tempo, orar rogando a Morte. Separar-se da sensação morbosa, enquanto ela prossegue, e pedir pela morte do elemento correspondente é o correto. Então podemos ver o seu enfraquecimento progressivo. Se isso não for feito, então estaremos permitindo que o desejo recolha energia dos nossos centros, se fortifique e nos escravize ainda mais.

Cortar toda a alimentação, enfraquecê-lo e matá-lo "de fome"! Este é. o procedimento. A nutrição é a própria vida do defeito.

A forma de nutrir um defeito pode variar de uma pessoa para outra. Uma pessoa poderá alimentar um defeito principalmente pelas palavras, outra pelos olhares e assim por diante.

Elimina-se qualquer defeito sempre do mesmo modo: cortando sua alimentação e matando-o "de fome". É sobre as formas de alimentação que deve incidir a auto-observação. Elas são muitas e se processam inconscientemente. Estão em nossa vida, ainda que não as vejamos por falta de consciência.

De nada adianta passar horas analisando um ego se o estamos alimentando a todo momento. Quem analisa e observa seus egos e continua a alimentá-los, sob o pretexto de "não reprimi-los" é como um cachorro que corre atrás da própria cauda. Quando nutrimos um ego, criamos e acrescentamos-lhe detalhes novos, que não existiam antes. Observar algo ao qual se esteja a todo instante acrescentando algo novo equivale a nunca terminar de compreendê-lo e é, também, cair em um círculo vicioso.

Mudar os costumes e ser outro

O que seria de um ente maligno, perverso e cruel que se transformasse em um santo? Penso que seus costumes seriam trocados completamente e ele, se realmente abandonasse o mal, passaria para o outro lado.

Obviamente, tal ente, agora regenerado, deveria expiar seu karma por meio do sofrimento e de boas ações. Se ele cobrisse o mundo com suas boas ações, inevitavelmente deixaria de ser quem foi e seria outro. Onde estaria o antigo criminoso? Não existiria mais! As pessoas o procurariam, mas não o encontrariam.

Nunca é tarde demais para se deixar o mal. Por pior que tenhamos sido, podemos inverter os caminhos e trilhar em direção oposta. A estrada da vida pode ser trilhada para cima ou para baixo.

Dizem os V.V.M.M. Samael e Rabolú que Judas se dedica a instruir e resgatar almas do Abismo. Esta é uma prova de que é possível a regeneração mesmo em estágios avançados de degeneração. O V.M.Samael relata que os demônios Belzebu e Astaroth se arrependeram de seus caminhos malignos e buscaram a regeneração (Astaroth, para piorar, era o demônio da luxúria). Tais ensinamentos deveriam animar os estudantes pessimistas: se Astaroth e Belzebu foram aceitos na luz e trilharam a dissolução do Ego, se Judas tem discípulos no Abismo, por que nós, pessoas comuns, não poderíamos nos recuperar?

Nós, estudantes e aspirantes, temos sido muito pessimistas espiritualmente. Temos cristalizado crenças na impossibilidade do avanço espiritual, crenças sem fundamento algum e que podem nos estancar por toda uma existência.

O pessimismo é uma espécie de praga,que se arraiga na mente inconsciente e invalida todos os esforços de auto-superação.

Por piores que tenhamos sidos, por mais fornicários, depravados, mentirosos e cruéis, podemos perfeitamente nos converter em algo diferente se mudarmos nossos atos e costumes.

Se modifico minhas atitudes, deixo de ser aquele de antes e me transformo em outro, em alguém novo. Mas é preciso ação.

Antes de mais nada, temos que ter cuidado para não estagnarmos nos terríveis alertas e advertências dos mestres a respeito dos efeitos kármicos das más condutas. Tais alertas visam apenas orientar e auxiliar o estudante, jamais aprisioná-lo no medo. Pode dar-se o caso de um estudante tornar-se apavorado com tais alertas e cair imobilizado no pessimismo. Então, há que se trabalhar esses eus negativistas.

Uma prostituta pode regenerar-se, um homossexual (desde que realmente o queira), pode regenerar-se, um promíscuo pode regenerar-se.

Um caso particularmente grave parece ser o dos antigos gnósticos que não conseguiram a castidade e, em segredo, dão vazão aos seus vários impulsos luxuriosos. Esses irmãos sofrem muito, sentem vergonha e medo das consequências. Mas mesmo eles estão em melhores condições do que estavam Astaroth, Belzebu e os discípulos Judas no Abismo. Então, por que perdermos o tempo com prejuízos do passado? Por que nos mantermos aprisionados lá, naquilo que fizemos de ruim no passado, ao invés de nos ocuparmos com atos benevolentes no presente? E por que esperar para amanhã, se já podemos tomar as atitudes agora?

Quando acreditamos inconscientemente que já estamos condenados, fazemos esforços inúteis. Parece-me que muito estudantes caíram nesta armadilha. O discurso gnóstico muitas vezes deixa transparecer esse pessimismo. A ênfase é posta nas dificuldades e nos fracassos, não nas possibilidades e nos sucessos. E as repercursões inconscientes fazem seus estragos.

Por diversas razões, entre as quais, talvez, não permitir que o estudantado caísse na negligência, o V.M. Samael não aprofundou muito os aspectos otimistas do ensinamento. Ele pôs ênfase nos alertas e advertências, por uma questão de necessidade, e o estudantado se deixou levar pelo pessimismo, estagnando-se na idéia de que tudo é muito difícil ou impossível. Nossa mente negativista nos deixa quase insensíveis às mensagens de ânimo e força dos mestres. É como se eles nos dessem tais mensagens somente com o intuito de nos consolar e estivessem, na verdade, maquiando a terrível realidade. No fundo, a maioria de nós acredita que não há mais salvação e que a ascensão espiritual é impossível.

No entanto, há também uma parte dentro de nós que nos impulsiona, que nos diz que, sim, é possível revolucionar-se. Sem esta parte, há muito teríamos desistido de nossa revolução. Temos que dar-lhe voz, cultivá-la e alimentá-la mediante as práticas que nos dêem comprovações.

Que tenhamos sido fornicários, e daí? Deixemos de sê-lo. Que tenhamos adulterado, não importa! Paremos de adulterar. Que tenhamos sido promíscuos, não faz mal! Sejamos agora castos. E se não somos capazes de sê-lo agora, seremos daqui há pouco, desde que realmente comecemos a mudar e não esperemos que se opere alguma mágica em nossa vida.

Algumas pessoas esperam que uma mudança mágica se opere em suas vidas, em seus sentimentos e pensamentos, para então adotar novas atitudes. Esta é outra armadilha do Ego. Não temos que deixar as práticas e a nova conduta para amanhã. Temos que implementá-las agora.

Se eu ficar esperando o dia em que não sentir mais luxúria para praticar o arcano e deixar de adulterar, ficarei esperando eternamente sem resultado. Se quero mudar minha vida, tenho que implementar as mudanças já. Se não sou capaz de suprimir um ato em si, sou pelo menos capaz de retirar de minha vida tudo o que recorde tal ato.

A Morte do Ego não é um conflito, é a própria ausência dos conflitos. Não morreremos mediante conflitos íntimos e sim mediante a compreensão. Se não consigo compreender um desejo aqui, posso compreender uma de suas facetas ali. O que importa é ir avançando e retirando tudo o que esteja relacionado a ele.

Tudo o que nos recorde um desejo e a ele nossa mente relacione atua como forma de nutrição. Tudo o que nossa mente relacionar com a fornicação estará alimentando o defeito da fornicação. Tudo o que nos faz lembrar da lascívia, da luxúria é uma forma de nutri-la. Não é possível libertar-se de um defeito se não cortarmos os seus detalhes.

Sobre fingir virtudes

Quem realmente elimina um desejo, não necessita fingir que não o tem.

Se o desejo morreu, não sinto nada. Se não sinto nada, o que bloquearei dentro de mim?

Se meu desejo está morto, contra o que devo resistir?

Se você satisfaz um desejo, ele se fortalece e te escraviza mais e mais. Se você o reprime, ele é represado e extravasa posteriormente à força por qualquer caminho. Se você não se identifica, não o satisfaz e nem tampouco o reprime.

Quem reprime um eu está identificado com um eu oposto.

Não nos identificamos com um defeito quando o separamos de nós, mediante a recordação de nós mesmos,

Observar um defeito é recebê-lo conscientemente.

Não se pode enxergar objetivamente um defeito se o depreciarmos ou o condenarmos antecipadamente.

Bloquear ou resistir a um defeito é evadir-se de estudá-lo e observá-lo. Entregar-se à satisfação de um defeito é alimentá-lo e adormecer ainda mais a consciência.

A correta postura interior em relação aos baixos desejos é aquela em que não os procuramos, não os satisfazemos e nem os consideramos como parte de nosso Ser, mas também não tentamos barrá-los, sufocá-los e nem fugimos deles quando aparecem.

Encarar um defeito de frente é deixar-se tocar conscientemente por ele sem temor algum. Fugir de um defeito é tentar segurá-lo à força e baní-lo de modo que nos seja impossível observá-lo e conhecê-lo.

Não podemos matar um inimigo se o afugentamos ou o expulsamos de nosso alcance.

O que nos leva a tentar banir um defeito de nossa presença, sem observá-lo e matá-lo, é o medo de sermos possuídos e perdermos o controle. O que nos faz temer a possessão e a perda do controle é o desconhecimento de que a consciência e o Ser enfraquecem o defeito.

A verdadeira fé não se cria com teorias, lógicas, pensamentos ou quaisquer trabalhos mentais. A fé se cria somente com a experiência.

Pequenas experiências íntimas com o Ser Interno são acessíveis a qualquer um, a qualquer momento. Peça para sua Mãe Divina te lembrar de algo realmente importante e ela o fará.

A verdadeira felicidade é a total ausência de sofrimento.

Não "force" as transformações, trabalhe corretamente e deixe que elas venham por sim mesmas.

Transformações forçadas são transformações fingidas. Quem realmente se transforma não necessita forçar-se a nada.

Não existem transformações forçadas. Transformações forçadas são transformações fingidas. Transformações fingidas são falsas transformações.

A transformação verdadeira dispensa o fingimento e os comportamentos forçados.

Na concentração, não force o silêncio mental, deixe que ele venha. Vivencie o relativo silêncio existente e deixe que ele se aprofunde. Não perca tempo tentando "forçar mais silêncio" para "ir além". Aprenda a esquecer.

O silêncio mental forçado não é verdadeiro. Lutar pelo falso silêncio é amarrar-se e estancar-se com as próprias amarras que se teceu.

Equilibrando os centros

Pensar em comidas saborosas é algo similar a pensar em mulheres. Em ambos os casos desfrutamos de um prazer mental na ausência do deleite sensorial concreto. Em ambos os casos gastamos energia dos centros da máquina.

O prazer através da imaginação de uma sensorialidade objetivamente inexistente rouba energia dos centros e os desequilibra. Se imagino prazeres sensoriais degustativos, ao invés de saborear o alimento fisicamente, estou malgastando energias do centro instintivo. Se imagino prazeres sensoriais eróticos, ao invés de desfrutar das sensações reais proporcionadas por uma mulher real, estou malgastando as energias do centro sexual.

O curioso é que tal desgaste se dá através do pensamento, ou seja, o centro intelectual vampiriza as energias dos outros centros por meio do processo imaginativo.

A imaginação mecânica promove o falseamento da energia dos centros porque é um processo através do qual os mesmos são postos em atividade por meio de situações irreais, imaginárias. Ao serem postos em atividade por tal meio, suas energias são gastas intensamente, mas não são empregadas em atividades reais necessárias ao corpo físico. Os centros passam a ter uma sobrecarga extra, além do encargo de trabalho natural que já possuem com as necessidades reais de manutenção do corpo físico.

Se fico pensando em mulheres, desfrutando deste prazer mental, terei ereções. Meu órgão sexual entrará em atividade e começará a trabalhar, empregando suas energias sem que haja necessidade real de e sem estar realizando um ato sexual concreto e verdadeiro. Portanto, além do uso normal e cotidiano do aparelho sexual, estarei forçando-o a entrar em atividade sem que haja necessidade, além da conta, sobrecarregando-o. Estarei desrespeitando sua necessidade de repouso (se houver o vício da masturbação, será ainda pior). Além disso, e para piorar tudo, estarei também malgastando energias do centro intelectual, pois o estarei ocupando com tais pensamentos. Resultado: ao faltar energia ao centro intelectual, porque o desgastei, ele começará a roubar a energia do centro sexual, pois os pensamentos serão de tipo erótico, e, ao faltar a energia ao centro sexual, porque igualmente o desgastei, ele começará a usar a energia do centro intelectual, pois forcei sua atividade através do pensamento.

Sempre que colocamos algum centro em atividade, estamos utilizando sua energia. Após um certo tempo, esse centro dará sinais de cansaço e deve entrar em repouso. Caso não seja posto em repouso, começará a usar a energia do centro que estiver mais próximo, isto é, mais à mão. E o que estará mais à mão será aquele segundo centro que estiver em atividade diretamente relacionada ao primeiro (se estou pensando em sexo, ambos os centros estão em atividade interativa).

O ideal seria que os centros fossem usados somente até um nível que antecedesse ao cansaço. Evitar o cansaço, a sensação de estresse no centro, é o ideal. Colocar em repouso um centro após o uso, muito antes que o mesmo se estresse, evita o falseamento de suas energias.

Infelizmente, o Ego força os centros a trabalharem além do limite. A todo momento estamos pensando, sentindo e fazendo coisas inúteis, que somente servem para desgastar e falsear os centros da máquina. Utilizamos todos os centros em demasia, sem necessidade e sem sequer termos consciência disso. O desgaste dos centros acontecem sem que os vejamos, pois não praticamos a auto-observação. Vivemos distraídos e fascinados, não nos damos conta do que se passa conosco. Os centros entram em atividade e não os vemos.

Muitos processos orgánicos desnecessários acontecem sem serem vistos e porque o centro instintivo entra em ação sem que haja real necessidade. O mesmo vale para processos relacionados às emoções e aos demais centros. O Ego, ao atuar, força a ação dos mesmos.

É precisamente nos centros da máquina que iremos descobrir as diversas manifestações dos egos. Os detalhes estão nos centros e temos que aprender a observar os centros, contemplá-los conscientemente, sem reprimí-los e sem nos identificarmos, apenas compreendendo-os. Descobrir um detalhe é descobrir uma leve alteração ou manifestação em algum centro. Reprimir um detalhe é tentar "segurá-lo" enquanto nos mantemos identificados, ou seja, tentar amarrá-lo ao invés de observá-lo em ação. Quem imobiliza um centro à força, amarrando, pelo mero esforço, o "eu" ou detalhe que estiver se manifestando, não o verá em ação e não compreenderá nada. O que enfraquece um ego é a compreensão e não o mero esforço imobilizante, o qual não passa de uma forma de auto-engano.

O que interessa é dissolver os egos para que os centros trabalhem menos e possam descansar. Quem não morre em si mesmo, não dá uma trégua aos seus centros e destrói sua máquina orgânica, apressa o envelhecimento.

Já viram pessoas que envelhecem rapidamente? O envelhecimento precoce ocorre por uma atividade exagerada dos centros, a qual se deve ao domínio exagerado dos agregados psíquicos. Pessoas que não sabem lidar corretamente com o Ego sofrem todos os tipos de desgraças e precisam ser auxiliadas com urgência, ao invés de serem desprezadas e abandonadas. Temos que procurar em tais pessoas uma mínima abertura, por menor que seja, para lhes dar alguma orientação, alguma informação ou instrução que lhes seja útil. O ideal é acender nelas um impulso de se libertarem do despotismo dos desejos.

Quando o ego morre, deixa de sobrecarregar os centros, lhes permite descansar. Então os centros atuam somente o necessário, nem um miligrama a mais. Vocês já perceberam aqueles momentos em que a mente nos dá uma trégua momentânea e espontânea, por poucos segundos? Observem o alívio que se sente. Este é o alívio da ausência do peso do Ego sobre o centro intelectual. Já viram como acordam de manhã, bem descansados, depois de uma boa noite tranquila de sono? Essa é a sensação de alívio da ausência do peso do Ego sobre os centros, sobre o corpo físico. De nada adianta tentar forçar o alívio ou preservá-lo à força após nos levantarmos. O alívio resulta da compreensão.

Quando compreendemos um defeito, sentimos um grande alívio. É o alívio da ausência do peso que o defeito exercia sobre os centros. Na psicoterapia é muito comum e esperado que os pacientes se sintam aliviados à medida que reconheçam e compreendam as várias facetas de si mesmos, de seu Ego. Enquanto não se compreende um defeito, o mesmo exerce um peso sobre os centros. Imaginem a totalidade dos egos que possuímos! Quantas toneladas não estarão oprimindo nosso coração e pesando sobre nossa pobre máquina? Não obstante, os retrógrados materialistas acreditam que tudo isso seja bobagem, que o único peso preocupante seja o do chumbo ou o das sacolas de viagens...

No cotidiano, convém não fixar-se em uma só atividade por muito tempo. O ideal é dar pausas: ler um pouco, depois caminhar, depois ouvir música, depois praticar magia sexual, depois descansar, meditar, depois consertar a cerca quebrada, depois, contemplar um quadro etc. A fixação em uma só atividade por muito tempo desgastará e desequilibrirá os centros, nos deixando pesados ao invés de leves.

O momento em que a máquina desfruta do maior alívio são os momentos da meditação. Meditar é zerar os esforços e não acrescentar mais esforços aos já existentes. A meditação é uma prática paradoxal, pois os esforços que se realiza são negativos. Meditar é buscar o desligamento, por isso se relaxa profundamente e não se pode prescindir do sono. Concentrar-se é entregar-se a algo, acabar-se, e não colocar travas. Quem quer aprender a relaxar, concentrar-se e meditar, precisa entender tais práticas como uma entrega (consciente) e não como um desesperado esforço ansioso. Meditar não é forçar a barra e nem forçar contra nada. Meditar não é imobilizar os centros à força e sim dar-lhes um descanso.

Se alguém quiser guiar-se corretamente na meditação, a melhor descrição do que fazer seria: não fazer nada, esquecer, desligar-se, abandonar-se, dormir, entregar-se, sumir, acabar-se, desaparecer...conscientemente!

Um dos grandes equívocos nossos é acreditar que a meditação se consegue mediante o acréscimo do que fazer. Na verdade, o estado buscado já existe, temos somente que remover o que atrapalha e deixá-lo se expressar. Ao invés de acrescentarmos mais preocupações, empenhos etc. aos já existentes, fazemos o contrário: removemos os existentes, como faz o escultor que remove partes da pedra ou da madeira até que a estátua apareça. A estátua já existia anteriormente mas estava oculta! Acrescentar mais problemas aos já existentes é sobrecarregar ainda mais os centros. Quem transforma a meditação em problema não medita. Quando ficamos procurando o que fazer para meditar corretamente, estamos nos afastando da meditação e não nos aproximando.

Portanto, foram explicadas aqui duas medidas a tomar para equilibrar os centros: a morte do Ego e a meditação. A magia sexual, a terceira medida, não foi explicada neste texto.

Até logo!

Desenvolvendo a contemplação

Desenvolvemos a concentração quando aprendemos a contemplar. Aprender a contemplar é aprender a estudar algo, a observá-lo.

Há várias formas de observar. Podemos observar um objeto físico ou psíquico, estático ou móvel. Não é possível uma observação consciente sem concentração. A concentração é a própria observação, o próprio ato de observar. Se estou observando algo detidamente, sem deixar de observá-lo e sem desviar minha atenção, estou me concentrando.

Se contemplo um objeto material, exterior, estou focando a atenção e a percepção, mantendo-o em meu campo de consciência. Se o objeto material em questão for móvel (ex. as ondas do mar batendo nas rochas), poderei observar seus movimentos, acompanhá-lo para ver onde irá, em que resultará, não importando se o mesmo seja animado ou inanimado. Se o objeto for fixo, porém mutável, posso acompanhar suas mutações para descobrir em que resultarão, como às vezes fazemos com as mirações da ayahuasca. Se, entretanto, o objeto for imóvel e, além disso, não apresentar mutações perceptíveis, resta-nos somente analisar suas múltiplas características ou facetas inerentes, caso queiramos utilizá-lo como alvo de nossa concentração.

As múltiplas facetas de um objeto material fixo e imutável englobam seus detalhes anatômicos, funções, empregos, material constitutivo, entre outras. Dar-se conta de tais características, fazer-se consciente das mesmas, equivale a concentrar-se no objeto e tal tarefa pode nos ocupar por vários minutos. De todas as maneiras, trata-se de um trabalho perceptual, pois estamos nos ocupando sensorialmente com o objeto e não supra-sensorialmente.

Ocupar a atenção com um objeto exterior é ocupar-se sensorialmente, uma vez que o objeto é acessado pelos sentidos.

Podemos, ainda, nos ocuparmos com objetos internos, imaginais. Neste caso, estaremos exercitando a supra-sensorialidade. Se vocalizo um mantram mentalmente, estou exercitando a clariaudiência e a concentração. Se me concentro na imagem de uma cachoeira, estou exercitando a clarividência, embora aí exista também um menor emprego e ativação da clariaudiência. Em todo caso, contemplar uma imagem mental é trazer à consciência informações sobre o objeto correspondente.

Quando um objeto fere nossos olhos físicos, sua correspondente contraparte interna nos atinge supra-sensorialmente, criando uma imagem mental correspondente ao mesmo. Ao fecharmos os olhos, podemos prosseguir concentrados na imagem mental, desligando-nos dos sentidos físicos e apreendendo informações sobre a mesma, informações antes inconscientes. Assim, contemplar uma imagem interna é recebê-la supra-sensorialmente, compreendendo-a. A recepção compreensiva do conteúdo de uma imagem pode ser facilmente conseguida quando se aprende a observar as coisas discernindo em silêncio, sem o recurso da tagarelice interior.

Se experimentarmos observar um pássaro em ação por alguns minutos, constatamos que somos capazes de receber várias informações a respeito do mesmo sem necessidade de usar o palavreado interno. Podemos "sentir" sua cor, seu tamanho, seus movimentos etc. em silêncio. Somos capazes de perceber o pássaro sob vários aspectos ou perspectivas, de forma direta ,sem necessidade de raciocinarmos e nem sequer de analisarmos. Essa percepção direta é a contemplação. E assim como podemos contemplar um pássaro físico exterior, podemos igualmente contemplar um pássaro imaginativo ou o aspecto interior do pássaro. O pássaro que saltita aqui e ali à procura de alimento, bisbilhotando as folhas etc. existe fora de nós, mas existe também dentro de nós, sob a forma de uma imagem interior. Temos, em nosso interior, uma imagem do pássaro que pode ser recebida e observada pela consciência. Se a concentração for profunda e houver sonolência, o pássaro interior será percebido objetivamente e com um impacto realístico idêntico ao de um pássaro exterior ou até mais intenso (o que corrobora a afirmação de certos físicos de que as imagens do mundo exterior existem dentro de nós mesmos). A imagem interior corresponderá à realidade do pássaro exterior na mesma proporção em que nossa consciência estiver objetivada pela Morte do Eu. Quanto mais o Ego estiver vivo, tanto mais subjetiva será nossa percepção do pássaro (lembrando que o pássaro em si mesmo não é exterior e nem interior, pois transcende este par de opostos - o pássaro absoluto está além das percepções e conceitos).

Conclui-se, até aqui, que podemos observar objetos exteriores e interiores, fixos e móveis, mutáveis ou imutáveis (cuja mutação não pode ser percebida na escala espaço-temporal em que atua nossa consciência); que a partir da observação de um objeto exterior, podemos fechar os olhos e prosseguir observando-o interiormente, imaginativamente; e que a observação é um ato receptivo que pode ser realizado sob silêncio mental.

O principiante não consegue receber silenciosamente o objeto observado, necessita falar consigo mesmo interiormente, para capturar as características ou informações do objeto. Pode, entretanto, exercitar a receptividade silenciosa e desenvolvê-la rapidamente, caso comece a utilizar tal faculdade.

O poder de receber informações de forma silenciosa e exclusivamente perceptual é o estágio embrionário da faculdade conhecida como Percepção Instintiva das Verdades Cósmicas. Seu desenvolvimento não possui um limite conhecido. É uma faculdade da consciência.

Para ser contemplado, um objeto qualquer necessita ser acessado pela consciência, seja por via sensorial ou supra-sensorial. A contemplação por via sensorial objetiva a atenção mas não exercita os sentidos internos. Se quisermos exercitar os chakras e desenvolver os sentidos internos, temos que usá-los e os usamos quando contemplamos um objeto supra-sensorialmente.

A contemplação supra-sensorial requer desligamento das faculdades sensoriais, o que se consegue por meio do sono. O sono é o caminho através do qual ocorre o desligamento dos sentidos e a imersão da consciência nos mundos internos, os quais existem paralelamente ao físico.

Afastando as lembranças

Escute-me, você que luta para libertar sua alma das amarras do desejo: nos frágeis momentos em que sua alma está pura e livre, ela repousa sobre a palma gigantesca da mão do Budha. Basta um simples pensamento ou recordação para que você caia dali e volte novamente à escuridão do desejo.

Quem quer libertar-se de um desejo tem que descobrir quais são os elementos que constantemente o evocam em sua vida e erradicá-los de si mesmo. Tudo aquilo que, de modo direto ou indireto, se relacione com o desejo tem que ser retirado, dissolvido.

A morte de um desejo perigoso (altamente prejudicial) requer que afastemos de nossas mentes e de nossas vidas tudo o que esteja a ele relacionado. Qualquer elemento levemente vinculado a um desejo atua como um agente de recordação que evoca lembranças adormecidas.

O candidato que almeja livrar-se de um determinado desejo, precisa retirar de si e de sua vida tudo o que possa lembrar esse mesmo desejo, tudo o que o trouxer à recordação, pois tais elementos são sua nutrição e sua própria vida.

O afastamento corresponde ao trabalho de descobrir e dissolver inúmeros "detalhes" (V.M. Rabolú) do desejo, sem reprimi-los. A morte dos detalhes está inserida no próprio ato de apartar-se. Os detalhes correspondem a tudo aquilo que nossa mente possa associar ao desejo, direta ou indiretamente.

Uma pessoa poderia tentar apartar-se dos agentes evocadores mediante a mera repressão e este seria um procedimento equivocado. Propomos que o afastamento seja por meio da observação, descoberta, oração e morte, jamais do mero recalque. Os múltiplos elementos que recordam e evocam um desejo são seus detalhes e necessitam ser dissolvidos e não meramente reprimidos.

Quando tudo o que recorda um desejo é erradicado de nossas vidas, o mesmo deixa de existir em nós.

Limpar a vida de tudo o que se relacione com um defeito ou desejo não é evadir-se de confrontá-lo, como pode parecer à primeira vista. É, antes, afrontá-lo diretamente para retirar-lhe a fonte de vida. A fonte de vida de um desejo são os vários elementos que o recordam e a ele se associam.

Um erro a ser evitado, no trabalho de Morte, é o de estimular um desejo (identificando-se) enquanto se tenta estudá-lo mediante a observação. Trata-se de uma armadilha na qual se enfraquece e se fortifica o desejo simultaneamente. Quem quer libertar-se não pode se deixar enganar desta maneira. O desbloqueio e a não-repressão aos quais sempre nos referimos diferem totalmente do ato de identificar-se com um impulso, estimulá-lo e fortificá-lo. Propomos a Morte (do Ego) e não a vida.

O trabalho exigido é o de, primeiramente, afastar de si, mediante o livre arbítrio (vontade), os elementos que constantemente evocam o desejo e, secundariamente, dissolver as resistências encontradas no caminho, mediante a Morte em Marcha.

Suponhamos que alguém queira se libertar do pernicioso vício da fornicação. Tal pessoa não terá êxito se apenas ocupar-se em eliminar o ato da fornicação em si, negligenciando os outros elementos que a recordem, evoquem ou estejam, de algum modo, a ela relacionados. Tais elementos (características psicológicas e comportamentais) são a nutrição e a própria vida do destrutivo vício. A libertação da pobre alma viciada somente será um fato se forem erradicadas da personalidade (mediante a Morte) TODAS as lembranças, fantasias, pensamentos, falas, hábitos, olhares, movimentos, formas de vestir, leituras, diversões, piadas, brincadeiras, conversas etc. que estejam relacionados ao vício de um ou outro modo. E tal limpeza não é questão de mera repressão, mas sim de observação, descoberta e oração.

Uma vez descoberto e eliminado um detalhe, não devemos, de modo algum, tornar a cometer novamente o pequeno ato que lhe correspondia ou perderemos o pequeno avanço conquistado.

Há um inimigo principal (o desejo em si) e há inimigos secundários que lhe dão força e o alimentam. Os inimigos secundários correspondem a tudo aquilo que possa recordar o desejo, a começar pelos pensamentos.

Portanto, mudamos as atitudes, utilizando a pequena margem de livre arbítrio (vontade descondicionada ou liberdade comportamental) que possuímos e dissolvemos as resistências encontradas no caminho por meio da Morte em Marcha. Não tentamos simplesmente atravessar as resistências à força: as observamos, pedimos e constatamos os resultados.

Sempre que alguém tenta mudar sua conduta, depara-se com as resistências do Ego, sejam detalhes ou desejos principais. Quando, em tais situações, observamos e oramos pela Morte, somos presenteados com muitas constatações.

A primeira e fundamental mudança a ser efetuada é na cabeça, na mente. Um mero pensamento ou lembrança é mais que suficiente para acender um desejo. À mudança na forma de pensar devem seguir-se mudanças em outras esferas da vida.

Morrer é esquecer. De nada adianta tentarmos mudar nossas ações se continuamos evocando o desejo através do pensamento. E os pensamentos não são erradicados pelo mero conflito repressivo.

Para ser mais claro: se você está querendo se libertar de um desejo nefasto qualquer, tem que começar por afastar toda lembrança e retirar de si tudo o que possa recordá-lo. Todo comportamento que, de um modo ou de outro, apresentar alguma relação com o desejo em questão, tem que ser abandonado. Empenhe-se em retirar de sua vida, mediante a Morte, tudo o que possa levá-lo de volta às garras do vício e verá que os resultados serão bons.

Sobre esses múltiplos canais de alimentação e agentes de recordação deve incidir a auto-observação. São centenas e milhares os elementos associados a um desejo e que evocame sua recordação. Se não os observarmos em nós mesmos, jamais os descobriremos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Satisfazer os detalhes do Ego é dar passos equivocados

Eliminar os detalhes do Ego é como caminhar por uma vasta região desconhecida. Vamos prestando atenção no caminho e evitando as trilhas que possam nos conduzir para lugares que não queremos. Cada ato realizado, cada atitude tomada, apresenta múltiplas e infinitas consequências. A um ato se seguem muitos fatos, externos e internos. Identificar-se com uma pequena manifestação do Ego, satisfazê-la, equivale a entrar por um caminho que resultará em alguma forma de escravização. Morrer é caminhar rumo à liberdade da alma e enveredar por caminhos que conduzem à escravidão é errar o curso.

A região desconhecida por onde caminhamos é vasta, infinita e obscura, mas o Sol está no horizonte. O único ponto de orientação que temos é o Sol, é para lá que queremos ir. Se erramos o caminho, entramos na escuridão.

Cada pensamento, desejo, impulso, atitude apresenta resultados interiores, em uma sequência encadeada. Quando eliminamos um detalhe do Ego, interrompemos uma cadeia. Quando suprimo um ato, deixando de fazer algo, suprimo também as consequências que seriam provocadas, e deixo de enveredar por aquele caminho.

Há muitos atos equivocados na escuridão, inconscientes, dos quais não suspeitamos a existência. Temos que descobri-los para não enveredar pelos que caminhos que lhes correspondem.

Evitar os caminhos para os quais nos arrastam os detalhes do Ego não é evadir-se do confronto, pois o confronto se dá na encruzilhada.

Se, por engano, trilhamos longamente um caminho equivocado e estamos escravizados na escuridão, resta-nos ainda a possibilidade de encontrar outro caminho que nos leve novamente à luz. À medida que caminhamos corretamente, a escravização diminui de intensidade e é assim que podemos saber se estamos indo pelo caminho certo.
Os atos do nosso dia a dia são caminhos. Alguns nos conduzem à escuridão, nos escravizam mais ainda, outros nos levam à libertação. Temos que aprender a discernir antes, pois o Morrer equivale a antecipar-se, eliminando os fatos psicológicos e comportamentais que antecedem e resultam em problemas maiores.

O problema está em começar, em dar o primeiro passo. Temos que aprender a não começar: não começar a fazer as besteiras, a cometer as diabruras. O primeiro passo para cada diabrura é a satisfação de um detalhe. Evitamos o primeiro passo, não pela repressão, mas pela verdadeira Morte.

Observemo-nos e descubramos, no dia a dia, quais são os primeiros passos que sempre damos para a fortificação dos defeitos que nos escravizam. Essas iniciativas são muitas, manifestam-se aos milhares, como formigas, e não as vemos. Estão em nossa fala, em nossos olhares, em nossos sorrisos, em nossa forma de vestir, naquilo que sentimos diante de acontecimentos "bobos" e, aparentemente, sem significância, em nossas reações emocionais ao que nos rodeia, ao que presenciamos, em nossos pensamentos etc.

Um relativo silêncio mental faz-se necessário quando queremos descobrir as facetas sutis em nosso comportamento. Se ficarmos pensando, nada veremos de interessante, nada novo descobriremos, veremos somente os nossos próprios pensamentos, além de fortificar muitos defeitos por esta via.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Como o Ego desgasta os centros da máquina humana

O corpo físico humano viveria indefinidamente e não ficaria desgastado e nem tampouco envelheceria se não existissem agentes extressores físicos e psicológicos. O ego e os impactos destrutivos do mundo físico provocam o desgaste e envelhecimento do corpo.

Nossos egos provocam utilização excessiva de cada um dos cinco centros inferiores e a subutilização dos centros superiores. Os “eus” provocam pensamentos, emoções, movimentos, atividades sexuais e instintivas de forma exagerada e intensa, sobrecarregando cada um do cinco centros.

Ao sobrecarregar os centros, pelo excesso de atividade, os mesmos ficam carentes de energia para trabalhar e manter máquina, o que os leva a “roubar” a energia de outros centros que estejam disponíveis. Deste modo, uma pessoa pode desenvolver um desequilíbrio emocional mesmo sem desgastar diretamente seu centro com baixas emoções, ou seja, mesmo que não seja um tipo passional que aprecie intensas emoções inferiores, uma pessoa pode apresentar complicações de saúde relacionadas com o desgaste do respectivo centro.

É importante analisar como o Ego (ou egos, no plural) atua para desgastar cada centro e provocar um desequilíbrio geral na máquina.

O uso prolongado e também o uso intenso de um único centro resulta em sobrecarga e desgaste. O que deve ser evitado, caso queiramos nos equilibrar, é o desgaste. Evitamos o desgaste quando não usamos um determinado centro por muito tempo e nem de forma muito intensa, o que se consegue à medida que o Ego vai morrendo, pois é o Ego o agente destruidor dos centros, são os nossos defeitos que nos levam a agir de forma exagerada e a cometer excessos.

O Ego pode nos levar a tecer exaustivas análises, raciocínios, discussões, cálculos, estudos, leituras, teorizações e, com isso, “queimar” a energia do centro intelectual. Ao se ver com carência de energia, o centro do pensamento irá roubar energia de outro centro, geralmente o sexual. Portanto, temos que evitar o uso excessivo da mente. O ideal é pensar o mínimo necessário, mantendo a cabeça leve e fresca.

Ao mesmo tempo, o Ego pode provocar intensas emoções inferiores (emoções negativas): preocupações, medos, sofrimentos, paixões e muitas outras formas de emoção. Todo defeito possui uma manifestação emocional e, ao atuar sobre o centro emocional, provoca o seu desgaste, seja pela intensidade das emoções que ocasiona, seja pela duração do tempo e da freqüência que as mesmas perduram. Quem vive o tempo todo curtindo, cultivando e saboreando emoções inferiores, está desgastando o seu centro emocional. São exemplos de emoções inferiores todas as emoções provocadas pelo Ego, tais como o ódio, a raiva, a ira, a vingança, o medo, a tristeza, os ciúmes, o apaixonamento, o amor emocional (inferior), as emoções da fornicação, da masturbação, as emoções dos jogos, das touradas, dos filmes de ação etc. São tantas que não seria possível enumerar todas aqui. Eliminando-se o ego, elimina-se tais emoções. Por meio da Morte, damos um descanso ao coração e equilibramos o centro emocional. O equilíbrio deste centro não é questão de simplesmente “pararmos as emoções” e sim de morrer. Não basta simplesmente tentar “ser frio”. O recalque das emoções não as elimina e não reequilibra o centro.

Se nos observarmos com cuidado, descobriremos que estamos continuamente pensando e sentindo inutilmente. Os pensamentos ocorrem em nossa cabeça e as emoções no coração e é aí onde temos que descobri-los, observá-los e pedir por sua eliminação. Boa parte dos problemas que temos decorre do desequilíbrio destes dois centros.

O centro intelectual é o centro da mente, da atividade mental. A mente é como um asno teimoso e não adianta entrar em conflito com ela. Se quisermos silenciar a mente, temos que conhecer o procedimento correto. Entrar em conflito e tentar silenciar a mente à força é inútil e prejudicial. O correto é observar e compreender o que se está pensando. O pratyahara do Raja Yoga conduz a uma atenuação do pensar excessivo. Compreendemos os pensamentos quando os contemplamos conscientemente e nos damos conta do que estamos pensando. Tratar de perceber conscientemente os próprios pensamentos, observando-os ao invés de reprimi-los, é muito interessante (é uma prática que se pode realizar na meditação, após o relaxamento e antes da concentração). Os pensamentos surgem em procissão na mente e, quando contemplados conscientemente, aos poucos vão se esgotando. O que nos interessa é isso: esgotar os pensamentos. Se os pensamentos invadem e interferem quando estamos tentando nos concentrar em nossas tarefas diárias, temos que perceber a interferência ou nem sequer nos daremos conta de que nos distraímos. Não devemos procurar os pensamentos e nem estimulá-los, mas quando eles interferem temos que percebê-los ou permaneceremos distraídos. Para tanto, não necessitamos de uma grande análise, mas somente de uma percepção direta apurada, relacionada com o teor do pensamento, com seu conteúdo: que pensamento é este que entrou na minha frente agora? Trata-se somente de perceber e não de raciocinar a respeito. Aplicar o pratyahara não é procurar os pensamentos, ir atrás deles e nem ficar se recordando dos mesmos. É tão somente dar-se conta dos pensamentos que nos invadem, quando isso acontece. Se estamos conscientes do que estamos fazendo, concentrados no que nos interessa, não há motivo algum para nos recordarmos dos pensamentos. O que queremos é o esquecimento, a quietude mental, e não a recordação dos pensamentos.

É claro que, se estou dirigindo um carro ou realizando um trabalho perigoso ou delicado, não posso me desligar desligar das percepções sensoriais para me por a contemplar meus pensamentos, isso seria absurdo e perigoso. Porém, se não perceber meus desvios de atenção, não serei capaz de recolocá-la no objeto que me interessa no momento, no aqui e no agora. Quem não percebe os desvios de atenção (os pensamentos intrusos), se distrai e pode até se acidentar fisicamente.

Temos que cultivar, no dia a dia, a calmaria mental. Não estou dizendo que um principiante como nós deva viver em êxtase contínuo, mas sim que temos que minimizar a atividade mental o quanto pudermos no dia a dia para nos tornarmos mais lúcidos. Para tanto, basta nos concentrarmos naquilo que estamos fazendo agora, no presente. Procedendo assim, se algum pensamento intruso aparecer, o perceberemos. Perceber a intromissão de um pensamento, dar-se conta da distração, é algo análogo à prática do pratyahara, embora não tenha a mesma profundidade, porque não podemos desligar os sentidos físicos no dia a dia, durante o trabalho ou na rua.

Se a mente, que se manifesta fisicamente pelo centro intelectual, é como um asno teimoso, o centro emocional é como um elefante louco. Não é fácil acalmar este elefante. O ideal é praticar a Morte em Marcha constantemente, para não permitir que o elefante enlouqueça. Mas se, por motivos que alheios à nossa capacidade, o elefante saiu do controle, então convém apelar para alguns procedimentos apaziguadores. Um meio é acalmar o centro motor, por meio do relaxamento, e o centro intelectual, por meio do pratyahara. Outro meio é substituir as emoções inferiores pelas emoções superiores. Pode ser que, em casos extremos, precisemos tomar algumas plantas calmantes, para ajudar. É claro que a combinação de todos esses procedimentos pode ser muito útil em casos graves.

Simplesmente reprimir as emoções, tentando “não sentir nada”, costuma ser o pior dos caminhos. O elefante louco não se deixa controlar e se torna cada vez mais furioso. O que se requer é estratégia. Antes de tudo, temos que sentir conscientemente as emoções. Tentar não sentir as emoções e ao mesmo tempo querer compreendê-las é um contra-senso. Quem quer se livrar de uma emoção ruim deve senti-la conscientemente e não tentar fazê-la retroceder pela força, assim de qualquer maneira e violentamente. Assim como a mente, as emoções reagem às tentativas de controle arbitrário.

Além de desgastar os centros intelectual e emocional, o ego desgasta o centro motor com movimentações musculares intensas, desnecessárias, prolongadas e freqüentes. Excessos de exercícios físicos, de trabalhos braçais e de esforço muscular desgastam o centro do movimento. O relaxamento dos músculos permite o descanso do centro motor. Pessoas tensas e que se movimentam desnecessariamente e sem parar, estão abusando deste centro. Trabalhadores, dançarinos e atletas que cometem excessos estão igualmente caindo no abuso. O ideal é desenvolver qualitativamente as capacidades motrizes, sem desgastes.

Há ainda o desgaste do centro instintivo pelo Ego, o qual me parece ser o centro de acesso mais difícil à auto-observação. O desgaste do centro instintivo se verifica por excesso de processos corporais indispensáveis à sobrevivência e à manutenção da vida. O ego provocará o desgaste deste centro ao provocar exageradamente processos digestivos (comendo muito), impedir o descanso e recuperação (dormindo pouco), processos excretores, processos de regeneração (ingerindo substâncias prejudiciais) e todos os processos corporais relacionados com a manutenção da vida biológica.

E, por último (ou talvez em primeiro lugar) temos o desgaste do centro sexual, o qual provavelmente é algo muito claro para todo mundo. A atividade sexual excessiva, tão comum e incentivada hoje em dia, sob todas as suas formas, provoca este desgaste. Toda vez que sentimos uma excitação morbosa na parte sexual, estamos utilizando a energia deste centro. Se o utilizarmos em demasia, “queimaremos o seu combustível”. Após um orgasmo, podemos perceber certa sensação mórbida de vazio. Tal sensação assinala falta de energia neste centro.

O problema não é o uso, mas sim o abuso de cada um dos referidos centros. Os centros existem para serem usados. O erro está somente em usá-los em demasia, seja por fazê-los trabalhar por longas horas seguidas, seja por fazê-los trabalhar de forma intensa, seja por fazê-los trabalhar com uma freqüência exagerada.

Uma primeira forma de reequilibrarmos os centros é descansar o suficiente. Quem não dorme, não descansa e não abaixa o seu metabolismo, está usando os centros em excesso. Por tal razão, é indispensável aprender a meditar e a dormir profundamente. Temos que sair do corpo para que os centros descansem. O Ego deve ir para a quinta dimensão e deixar o corpo físico temporariamente para que haja recuperação.

Uma segunda, mas não menos importante, maneira de reequilibrarmos os centros é aprender a usá-los somente o necessário, para o que for necessário e não mais que o necessário. Temos que usar os centros levemente, aprender a economizar energia, viver na leveza, dentro do possível. É importante não usar um único centro por muito tempo (ex. ler, discutir ou exercitar-se por várias horas seguidas) e nem obrigá-los a trabalhar de forma pesada, mais do que suportamos. O ideal é trocar continuamente de centro: caminhar um pouco, depois ouvir uma música, depois alimentar-se, depois pintar um quadro, depois trabalhar, depois estudar etc. Aprender a variar o uso dos centros é de suma importância: usa-se cada centro por tempo não muito longo e então passa-se a usar outro centro, isto é, adota-se outra atividade distinta, que ponha outro centro em funcionamento.

Temos que evitar o cansaço. O cansaço é um indicador de desgaste.

Não é demais lembrar novamente que o desgaste de um centro específico pode provocar o desgaste de outro centro que não é muito usado. Um atleta poderá desequilibrar seu centro sexual ao abusar dos movimentos, pois seu centro motor irá roubar do centro sexual a energia que lhe faltar. E o centro sexual poderá roubar a energia do centro emocional, desequilibrando este centro e assim por diante. Os centros, quando sobrecarregados, passam a utilizar a energia de outros centros e provocam uma desordem total no organismo.

Portanto, se você não é emotivo, não pense que, por tal motivo, você está livre do desequilíbrio emocional ou, se você é sedentário, que está livre do desequilíbrio do centro motor. Quem quer equilibrar-se, deve eliminar o desgaste excessivo de todos os centros e isso não será possível sem a Morte, pois são os egos que provocam atuações excessivas.

Outro ponto que merece nossa atenção é o desgaste inconsciente. Podemos usar os centros sem nos darmos conta. Nossos comportamentos inconscientes também desgastam os centros. Pensamentos de luxúria que passam sem serem notados não deixam de usar a energia dos centros intelectual e sexual. Todo ego, ao atuar, utiliza as energias dos centros, ainda que não os estejamos observando. O fato de um dado comportamento ser inconsciente não significa que o mesmo não esteja consumindo energia. Não somente os comportamentos conscientes, mas também os comportamentos inconscientes necessitam da energia dos centros para se processarem. A Morte do Ego, ao trazer à consciência e promover a eliminação de comportamentos prejudiciais, abusivos e desnecessários que antes se processavam inconscientemente, permite deter tais desgastes.

Sentindo conscientemente

Sentir algo conscientemente é também uma forma de conhecer. Sentir uma emoção conscientemente é o caminho para conhecê-la.

Quando sinto conscientemente uma brisa, estou conhecendo as sensações que ela provoca em meu corpo. Posso conhecer, também, as emoções que a brisa evoca em meu coração pois, quando sinto conscientemente uma emoção, a estou conhecendo.

Sentir algo conscientemente é permitir que aquilo nos chegue à consciência pela via do coração.

O conhecer não vem somente pelo pensar, como supõe a educação acadêmica formal. O pensar nos leva a conclusões, mas o sentir também nos leva a conclusões. Posso chegar a conclusões por meio de associações lógicas de idéias ou por meio do saborear consciente de minhas emoções.

Quando sinto que a presença de uma pessoa me causa mal estar, não estou conhecendo a pessoa em si, mas estou conhecendo a emoção que tal pessoa provoca em mim.

O conhecimento das emoções não resulta de meras especulações teóricas e associações entre pensamentos. Se quero conhecer e compreender minhas emoções, tenho que senti-las conscientemente. Sentir conscientemente uma emoção é algo semelhante a senti-la de propósito, intencionalmente, ainda que sem identificação.

Quando estamos identificados com uma emoção, a sentimos inconscientemente, mas, quando não nos identificamos, podemos senti-la conscientemente. Quando sinto conscientemente uma emoção, identifico (mas não me identifico com) seu teor qualitativo.

O teor qualitativo de uma emoção não pode ser definido e nem descrito com exatidão, pois escapa à linguagem e ao intelecto. Mas pode perfeitamente ser saboreado pela consciência, o que se consegue quando a mesma é sentida de forma consciente.

O problema das emoções e sentimentos obsessivos pode ser aliviado mediante o sentir consciente (mas isso não é tudo, pois a superação requer que se deixe de alimentá-las a todo instante).

Em outros termos, sentir as emoções conscientemente é praticar a auto-observação no centro emocional. Ilógico, absurdo, desproposial e sem sentido seria tentar observar as próprias emoções enquanto se as bloqueia, como alguns estudantes gnósticos tentam fazer. Não poderei observar e compreender os movimentos de um dançarino ou o comportamento de um pássaro se o imobilizo. Do mesmo modo, não poderei capturar o sentido (teor qualitativo) de uma emoção se a bloqueio.

Compreender as emoções difere de compreender os pensamentos. Compreendemos os pensamentos quando observamos o que se passa dentro de nossa cabeça (como se faz durante o pratyahara) e compreendemos as emoções quando observamos o que se passa no coração. Por "observar" entenda-se: receber conscientemente, sem rejeição.

Temos sido condicionados, desde a infância, a tentar imobilizar as emoções que consideramos ruins. O resultado é que praticamos muitos recalques inconscientemente. A cultura ocidental é a cultura do recalque cultivado há milênios, daí a oscilação constante entre o moralismo e o hedonismo. Precisamos transcender este par de opostos.

Nossa consciência pode perceber o que se passa no mundo que nos rodeia e o que se passa em nós. Quando praticamos a auto-observação, estamos "recebendo o ego na consciência", ou seja, recebendo nossa pessoa, quem somos, de forma aberta, para investigá-la e conhecê-la. Observar-se é receber os próprios pensamentos, os próprios movimentos e as próprias emoções. Quando nos recusamos a receber uma emoção conscientemente, ela se torna obsessiva ou extravasa por meio de doenças psicossomáticas. Se queremos a tranquilidade emocional, temos que aprender a "sentir o que estamos sentindo", sentir conscientemente. A serenidade assombrosa dos Budas não é algo que se consegue simplesmente querendo. Não basta somente querer e nem tentar ser calmo. A serenidade dos Budas resulta de um longo trabalho ao longo de existências. Forçar ou fingir serenidade é perigoso e prejudicial. A verdadeira serenidade não é forçada.

Sentir conscientemente uma emoção é senti-la na consciência, não é identificar-se com ela, para desfrutar do seu sabor, nem evocá-la em sua ausência e nem tampouco procurá-la quando não está nos molestando. Quando nos identificamos com uma emoção, a fortalecemos mais e mais e nos tornamos ainda mais escravizados. Há que se diferenciar o sentir consciente do sentir identificado. Sentir conscientemente é "sentir o que se está sentindo".

Sentir as emoções conscientemente não é o mesmo que estar alimentando-as a todo instante por meio da identificação, nem ficar todo o tempo lembrando daquela emoção, nem procurá-la quando estiver ausente e nem tampouco provocá-la quando não estiver nos molestando. O sentir consciente não é entrar na frequência das emoções negativas, dos desejos, medos e tristezas, não é sintonizar-se com o Ego. É algo distinto: percebê-lo em ação, dar-se conta.

O sentir consciente se aplica às emoções invasivas e compulsivas, que já estão fazendo estrago e das quais não podemos escapar (ex. o nervosismo em uma discussão que já está sendo travada).

Temos que identificar a emoção, mas não nos identificarmos com ela. Identificar uma emoção difere de identificar-se com a emoção. Identificar uma emoção é discernir qual é a emoção que está no assaltando. Identificar-se com a emoção é misturar-se com a emoção, encontrar-se na emoção, confundir-se com a emoção, considerar que a emoção não é algo alheio, estranho à consciência e ao Ser.

Enquanto percebemos conscientemente uma emoção que nos invadiu (porque anteriormente a alimentamos e lhe demos espaço), é claro que temos que orar à Mãe Divina para que a mesma seja dissolvida. O ideal, entretanto, é não permitir que as coisas cheguem a esse ponto, atuando bem antes sobre a manifestação do ego correspondente. Observando-nos, descobriremos pequenas e sutis reações emocionais a todo instante, no dia a dia. Se as sentirmos conscientemente e orarmos, elas são dissolvidas ali mesmo e não abrirão as portas para outras emoções mais violentas. Mas, se nos identificamos previamente, por descuido, e já estamos invadidos, não há remédio além de observá-las, orar e contemplar os resultados. A aplicação da dualidade aos pensamentos insistentes que as acompanham também é de grande ajuda.

domingo, 11 de setembro de 2011

Para onde vão as pessoas quando sonham

Ninguém negaria que todos os seres humanos dormem e sonham.

Certamente, há algo mais além do corpo físico das pessoas, pois é sabido que temos emoções, pensamentos e percebemos. Quem, dentro do sonho, atua? Quem anda, fala e vivencia as cenas dos sonhos? Não pode ser o corpo físico, pois o mesmo não entra no sonho, permanece na cama, adormecido. Há, portanto, algo mais que necessita se definido e elucidado. Quem sente, fala e experiencia o sonho de forma direta? Qual porção da pessoa? Qual é a parte da pessoa que adentra ao sonho, enquanto o corpo físico permanece desfalecido?

Se estou sonhando que escalo uma montanha, certamente meu corpo físico não estará escalando a montanha com a qual estou sonhando, pois estará deitado. Quem, em mim, então, estará escalando a montanha? Quem, dentro de mim? Qual parte de mim?

Se não existisse nada além do corpo físico, o ser humano não poderia sonhar.

Todas as pessoas dormem e sonham. Se todas as pessoas sonham, todas as pessoas viajam para dentro de si mesmas, para as regiões do inconsciente.

Se todas pessoas que dormem e sonham viajam para as regiões do inconsciente, então nós e as pessoas que amamos também viajamos para lá.

Porém, onde se encontra tal região do inconsciente? Em que parte do universo estão as pessoas enquanto sonham. Onde se encontra o mundo dos sonhos?

O mundo dos sonhos não se encontra em nenhum local físico do planeta, em nenhum país. Não se encontra ao leste, ao oeste, ao norte e nem ao sul, porém continua existindo, pois sonhamos. Onde está?

O mundo dos sonhos não é visível fisicamente e não se encontra parte alguma do universo visível. Então, somente pode haver uma explicação: o mundo dos sonhos é um mundo real, porém invisível e intangível para o corpo físico, mas não para a parte de mim que experimenta o sonho diretamente. E onde se encontra? Dentro do ser humano e paralelamente ao mundo físico sensível, em um multiverso imediatamente próximo a este. O mundo dos sonhos está na quinta dimensão do Planeta.

Quando sonho, caio para dentro de mim mesmo e, quando outras pessoas sonham, fazem o mesmo, caem para dentro de si mesmas. O mundo dos sonhos é o mundo interior e psíquico da Terra.

Assim como cada pessoa possui um mundo interior e psíquico, o nosso planeta também o possui. É para lá que vamos quando dormimos e sonhamos. Nos sonhos, contatamos as pessoas que também estão dormindo mas, como não temos consciência, não nos damos conta do processo.

Sobre não pensar em perigos inevitáveis

Há uma crença corrente de que, para enfrentar problemas e perigos, temos sempre que neles pensar. Isso é algo questionável.

Obviamente, em certas situações, pode ser útil raciocinar para encontrar a solução. Mas há situações em que a solução já foi encontrada ou é impossível e, ainda assim, nossa mente insiste em tentar imaginar soluções.

Se, mesmo sem ter (outra) solução para um problema, eu insisto em procurá-la, estou procurando algo inexistente. Tal insistência indica que não estou aceitando a realidade e indica, também, que não acredito que a solução, se existir, possa chegar por vias não racionais (ex. maçã de Newton e outras sincronicidades). A insistência teimosa em pensar em um problema, grave ou não, contra toda possibilidade de solução, assinala confiança cega e extrema na faculdade racional. Isso não significa, entretanto, que nunca se possa procurar soluções raciocinando e nem que sempre seja útil renunciar ao intelecto.

Vemos, então, que pensar às vezes é bom e às vezes é ruim.

Quando há um problema ou perigo onipotente, contra o qual é inútil lutar, a solução mais sábia é a aceitação. Porém, os centros emocional e intelectual reagem furiosamente e se debatem contra o inevitável. No fundo, está o Ego reacionando contra a realidade, por medos ou por desejos intensos. A mente é como um asno teimoso, que esperneia sem parar, e o centro emocional é como um elefante louco.

Se queremos que os centros intelectual e emocional se acalmem, temos que aprender primeiramente a não pensar nos perigos e problemas inevitáveis. Desviar o pensamento daquilo que nos ameaça é uma faculdade a ser obtida por meio do desenvolvimento da concentração.

Se me detenho pensando em um perigo inevitável, emoções negativas vão crescendo dentro de mim, fazendo o problema assumir um significado cada vez mais monstruoso.

Pensemos na morte (desencarnação), por exemplo. Se refletirmos um pouco, veremos que a morte, em si mesma, não é algo terrível, é simplesmente um processo natural a mais, ao lado do nascimento e do crescimento. Os animais e as plantas incessantemente morrem, as rochas, planetas, estrelas e galáxias são constantemente destruídos no céu. No entanto, nossa mente não aceita tal processo natural e luta para escapar. O motivo é o significado desesperador e monstruoso atribuído à morte, o qual é algo completamente psicológico, interior. O significado sombrio da morte é algo atribuído por nós e não existe por si mesmo, inerentemente ao processo de destruição. Em outras palavras: se nossa mente lhe atribuísse um significado oposto, todos teríamos pressa em morrer e seriam necessárias leis para impedir que as pessoas apressassem a morte.

Tememos a morte e sofremos ante sua aproximação porque nos condicionamos a nela pensar como algo ruim. E tal condicionamento está longe de ser mera questão de opção e livre arbítrio. Não tememos a morte porque queremos, a tememos porque estamos condicionados. Ainda que queiramos pensar nela de outro modo, os pensamentos sombrios voltam, pois são valores vivos e autônomos dentro de nós.

Se queremos ser capazes de enfrentar ameaças e perigos sem nos perturbarmos, temos que primeiramente aprender a não pensar neles, mesmo estando dentro e diante deles. E isso não se consegue pelo mero esforço intenso, mas pelo esforço estratégico correto e intenso. Não conseguirá esta capacidade aquele que simplesmente se expor ao perigo e tentar não pensar. Há que se conquistá-la gradualmente, dissolvendo todos os detalhes do medo que afloram no cotidiano. Toda dificuldade, perigo, ameaça tem que ser usada como ginásio psicológico para se estudar os detalhes e facetas do medo, da sensação de sentir-se vulnerável. Quem simplesmente se expõe a perigos e tenta nada pensar e nada sentir, está reprimindo o Ego e, cedo ou tarde, a corda irá arrebentar.

Seria muito interessante atingirmos um estado de serenidade como o do Buda diante das ameaças de Mara, mas isso não se consegue pelo mero esforço bruto. A serenidade dos mestres resulta de longo trabalho de Morte do Ego ao longo de toda a vida. Se quisermos este estado, teremos que trilhar este caminho.

Nós, pessoas normais, temos uma relativa e pequena capacidade de não pensar em problemas menores, menos ameaçadores. Se tivermos que enfrentar ameaças terríveis, podemos apelar aos seguintes recursos:

1) oração (conectando-nos às nossas Partes Internas obtemos força);
2) relaxamento (acalmando o centro motor, facilitamos a calmaria dos centros emocional e intelectual);
3) emoções superiores (colocando o centro emocional para trabalhar de forma oposta);
4) reflexão na dualidade (todo pensamento insistente possui um pensamento contrário que o anula);

Creio que os quatro pontos acima merecem maior aprofundamento, mas pretendo fazê-lo em outra oportunidade.

Até logo

sábado, 3 de setembro de 2011

Em que consiste a concentração nos koans

Um koan é um problema insolúvel que propomos à mente, para que ela encontre a solução. Por "propor" um problema à mente entenda-se: quebrar a cabeça para solucioná-lo através do pensamento.

Quando nos concentramos em um koan, o koan escolhido passa a ser o objeto de nossa concentração. Nosso pensamento, poder analítico, reflexão e racionalização são focados no problema, na tentativa de resolvê-lo.

Concentrados no koan, buscamos a resposta. Buscar a resposta de um koan é pensar no problema proposto, procurando solucioná-lo, até que nos convençamos completamente que a mente e os pensamentos, mesmo que concentrados, não podem resolver tal problema.

Quando nossa parte mental se convence de que não pode resolver o problema, isto é, que a via racional não dá conta do mesmo, ela se aquieta e se retira, deixando a consciência, temporariamente, pura e livre.

O pensamento único que se tem quando se está concentrado em um koan é o pensamento a respeito do problema proposto. A solução está além deste pensamento único e concentrado.

Qualquer problema insolúvel da vida pode funcionar como koan e não somente os koans propostos pelos sábios chineses e tibetanos. Enigmas científicos, filosóficos ou problemas insolúveis do cotidiano também podem ser usados como koans.